Aquecimento global mais uma vez em discussãoNegociações para o período pós-Kyoto recomeçam em Bonn, mas as expectativas de um acordo amplo são pequenas após o fracasso da Conferência de Copenhague. Reunião é preparatória para o encontro de Cancún, em dezembro.
Começou nesta segunda-feira (31/05) e vai até o dia 11 de junho uma nova rodada de negociações das Nações Unidas sobre o combate às mudanças climáticas, na cidade de Bonn, na Alemanha. O evento, que conta com a presença de 185 países, é preparatório para o encontro de dezembro, em Cancún, no México. Mas a expectativa por um acordo amplo não é alta, depois do fracasso do encontro de Copenhague, seis meses atrás.
O principal objetivo das negociações conduzidas pela Convenção do Clima das Nações Unidas (UNFCCC) é chegar a um novo texto, para substituir o Protocolo de Kyoto, que vale só até 2012.
O holandês Yvo de Boer, chefe da UNFCCC, admitiu que é improvável que qualquer acordo seja assinado até o fim de 2011. De Boer encaminhou sua renúncia depois do fracasso da Conferência do Clima de Copenhague, que terminou em frustração geral, apenas com promessas vagas de corte nas emissões de gás carbônico.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Yvo de Boer diz não acreditar num acordo ainda este anoNa Dinamarca, líderes de 194 países deveriam ter acertado um acordo com força de lei para o período pós-2012. No entanto, tudo que eles conseguiram foi um compromisso de redução dos gases que causam o efeito estufa e uma promessa de ajuda aos países em desenvolvimento no combate às mudanças climáticas.
Negociação dura
No primeiro dia, o encontro de Bonn já deu um exemplo de quão difícil será agradar a todos os envolvidos. Venezuela, Cuba e Bolívia disseram que não poderiam iniciar negociações com base no novo texto por ele dar muita ênfase ao documento de Copenhague, por eles rejeitado.
Já os Estados Unidos alegaram que o novo texto não teria sido feito para servir de base para as negociações. A África do Sul reclamou que ele exige demais dos países em desenvolvimento.
Numa entrevista coletiva em Bonn, De Boer não se mostrou nada otimista em relação às possibilidades de se chegar a um consenso até o fim do ano.
"É extremamente improvável que tenhamos um acordo com força de lei em Cancún", disse a principal autoridade da ONU para mudanças climáticas. "Eu acho que principalmente os países em desenvolvimento vão querer ver o que um acordo exigiria deles antes de fazê-lo ter força de lei."
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Christiana Figueres será a nova chefe da UNFCCCNo mês passado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou a costa-riquenha Christiana Figueres para substituir De Boer a partir de 1º de julho de 2010. Analistas avaliam que ela enfatizará o desenvolvimento de tecnologias verdes em detrimento de metas obrigatórias de cortes na emissão de gases.
O encontro de Bonn tem como objetivo destravar os impasses existentes. O chamado Acordo de Copenhague estabelece uma meta voluntária de limitar o aquecimento em 2 graus Celsius. Ele foi acertado por cerca de vinte líderes mundiais, nas horas finais do encontro.
Para mostrar que o acordo tem credibilidade – e trazer de volta a confiança no projeto como um todo – os países em desenvolvimento estão agora cobrando dos industrializados que cumpram suas promessas de apoio financeiro.
Crise econômica é um empecilho
No Acordo de Copenhague, a União Europeia, os Estados Unidos, o Japão e outros países ricos ofereceram cerca de 30 bilhões de euros de ajuda para o período de 2010 a 2012, valor que subiria para 100 bilhões de dólares anuais até 2020.
Com a crise financeira na zona do euro, a União Europeia está revendo sua meta inicial de cortar unilateralmente em 30% sua emissão de gás carbônico até 2020 – em relação ao índice de 1990. A meta seria uma forma de estimular atitudes semelhantes nos países em desenvolvimento.
Connie Hedegaard, comissária da UE para mudanças climáticas, disse na semana passada que "claramente não há condições" de se atingir esta meta. Anteriormente, a UE tinha proposto mudar sua meta de 20% para 30% se outros países a acompanhassem como parte do novo acordo climático. Um estudo apresentado pela comissária estima que isso custaria 81 bilhões de euros.
"É claro que agora não é uma hora fácil para se discutir dinheiro que sai dos cofres públicos", disse Hedegaard.
França e Alemanha – as duas maiores economias da UE – pediram a outros membros da União Europeia que tratem este assunto com muito cuidado.
Tudo tem sua hora
Grupos ambientalistas, como o WWF, vêm tentando movimentar as conversações emperradas.
"Copenhague fracassou em produzir o acordo de que o mundo precisa, mas alcançou importantes progressos em alguns aspectos", disse Regine Guenther, responsável por política climática do WWF. As negociações de Bonn deveriam focar estes pontos, disse Guenther, e concluí-los na próxima conferência do clima no México.
De acordo com o WWF, os delegados em Bonn poderiam resolver questões como finanças, desmatamento e transferência de tecnologia até Cancún e deixar para acertar um tratado global em 2011 na África do Sul.
"O progresso nestas áreas mostraria que a comunidade internacional continua trabalhando com seriedade em prol do novo acordo. O primeiro compromisso do Protocolo de Kyoto vence em 2012. Na África do Sul, no máximo, tem de ser definida a sequência do acordo", acrescentou Guenther.
TM/rtr/afp/dpa
Revisão: Alexandre Schossler
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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