Publicado em fevereiro 14, 2011 por HC
[EcoDebate] As grandes crises comportam grandes decisões. Há decisões que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.
A situação atual é a de um doente ao qual o médico diz: ou você controla suas altas taxas de colesterol e sua pressão ou vai enfrentar o pior. Você escolhe.
A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, sempre garantindo a subida do PIB nacional e mundial, ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro de pouco as reações do sistema-Terra que já deu sinais claros de estresse global. Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível mas improvável, o que significaria o fim da espécie humana. Receamos isto sim, como muitos cientistas advertem, por uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima que, rapidamente, dizimaria muitíssimas espécies e colocaria sob grande risco a nossa civilização.
Isso não é uma fantasia sinistra. Já o relatório do IPPC de 2001 acenava para esta eventualidade. O relatório da U.S. National Academy of Sciences de 2002 afirmava “que recentes evidências científicas apontam para a presença de uma acelerada e vasta mudança climática; o novo paradigma de uma abrupta mudança no sistema climático está bem estabelecida pela pesquisa já há 10 anos, no entanto, este conhecimento é pouco difundido e parcamente tomado em conta pelos analistas sociais”. Richard Alley, presidente da U.S. National Academy of Sciences Committee on Abrupt Climate Change com seu grupo comprovou que, ao sair da última idade do gelo, há 11 mil anos, o clima da Terra subiu 9 graus em apenas 10 anos (dados em R.W.Miller, Global Climate Disruption and Social Justice, N.Y 2010). Se isso ocorrer consosco estaríamos enfrentando uma hecatombe ambiental e social de conseqüências dramáticas.
O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e a seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozóica e a ecozóica.
Na tecnozóica se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecno-ciência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez todos os recursos, especialmente em benefício para as minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los. O sintoma mais claro desta sua incapacidade é a febre que tomou conta do Planeta.
Na ecozóica se considera a Terra dentro da evolução. Por mais de 13,7 bilhões de anos o universo existe e está em expansão, empurrado pela insondável energia de fundo e pelas quatro interações que sustentam e alimentam cada coisa. Ele constitui um processo unitário, diverso e complexo que produziu as grandes estrelas vermelhas, as galáxias, o nosso Sol, os planetas e nossa Terra. Gerou também as primeiras células vivas, os organismos multicelulares, a proliferação da fauna e da flora, a autoconsciência humana pela qual nos sentimos parte do Todo e responsáveis pelo Planeta. Todo este processo envolve a Terra até o momento atual. Respeitado em sua dinâmica, ele permite a Terra manter sua vitalidade e seu equilíbriio.
O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozóica com os riscos que encerra e aqueles que assumiram a ecozóica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.
Se não fizermos esta passagem dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Mudança climática deve piorar desigualdade de renda no país
Por Nilbberth Silva - nilbberth.silva@usp.br
Publicado em 12/agosto/2010
Editoria : Meio ambiente
Nordeste e centro-oeste perdem com mudança na agricultura. Sudeste ganhaAté 2020, as transformações que a agricultura do Brasil deve sofre com as mudanças climáticas vão contribuir para diminuir o produto interno bruto (PIB) em 0,29% e piorar a desigualdade de renda. É o que mostra uma simulação feita pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pelo economista Gustavo de Moraes.
Recalculando o PIB: precificar e valorizar a natureza, artigo de José Eustáquio Diniz Alves /// ECODEBATE
Durante muito tempo (e ainda hoje) o mundo buscou o crescimento econômico a qualquer custo. A idéia do desenvolvimentismo virou programa eleitoral de políticos que sempre ressaltam os benefícios, mas não contabilizam adequadamente os seus malefícios. Tradicionalmente, o grau de desenvolvimento se mede pela estrutura e o valor do Produto Interno Bruto (PIB). A contabilidade nacional calcula o PIB pela soma do preço de todos os bens e serviços (em termos de valor agregado) produzidos em um determinado território.
Todo o alumínio ou o cimento produzido no país entra no cálculo do PIB, porém a poluição gerada por estas atividades industriais não são contabilizadas. Bens superfluos como os diversos tipos de bebidas alcoólicas, assim como suas propagandas machistas, entram com valor positivo no PIB, embora estas bebidas sejam responsáveis por grande parte das mortes em decorrência da violência interpessoal ou em choques de veículos no país. Em geral, governos em nível local, estadual e nacional comemoram os empregos e impostos gerados por uma fábrica de cerveja ou aguardente, mas não contabilizam nas contas nacionais as vidas subtraídas decorrentes da cirrose, das brigas de bar, da violência sexual e doméstica e dos acidentes de trânsito.
Por exemplo, entra no PIB como investimento os recursos gastos por uma firma ou pessoa física quando desmata (e queima) uma grande área de Cerrado, Mata Atlântica ou Floresta Amazônica para plantar pasto e criar gado. Também entra e faz crescer o PIB os bens produzidos na atividade pecuária como o leite, a carne, o couro, etc. Contudo, a perda da cobertura vegetal e da capacidade de retenção de CO2, a redução da biodiversidade e a poluição gerada pela emissão de diversos gases de efeito estufa, como o metano, não são contabilizados no PIB. A contabilidade macroeconômica permite a indesejada equação: mais economia = menos natureza.
Todos os exemplos acima servem para mostrar que o PIB – tal como ele é contabilizado oficialmente no mundo todo – não é uma boa medida de desenvolvimento, especialmente quando se considera o desenvolvimento humano e sustentável. Por isto, cresce o movimento para se criar um sistema de preços para defender a natureza e eliminar a poluição, o acumulo de gases de efeito estufa e a degradação ambiental. É possível se criar um sistema de preços que aponte para a redução do consumo surpefluo e do uso insustentável dos recursos naturais.
Transformações culturais são sempre necessárias. Mas as mudanças acontecem de forma mais rápida quando se mexe no bolso das pessoas. Taxar a carne bovina pelo desmatamento provocado pela pecuária, pelo gas metano liberado pelo gado e seus efeitos sobre o aquecimento global, em geral, tem resultados mais efetivos do que uma campanha em favor do vegetarianismo. Taxar a gasolina e os derivados do petróleo, direcionando os recursos para energias alternativas, apresenta resultados mais diretos do que campanhas educacionais, embora estas sejam inquestionavelmente necessárias.
O atual sistema de preços que serve de base para o cálculo do PIB não registra adequadamente o impacto ambiental das ações econômicas. O custo de quilowatt/hora de uma usina termoelétrica que queima carvão ou petróleo é menor que o custo do quilowatt/hora da energia eólica, quando não se contabiliza a poluição. Assim, pela lógica do mercado, o aproveitamento da força dos ventos – que é uma alternativa renovável e limpa – será deixado de lado e os investimentos serão feitos na energia fóssil que é não-renovável, suja e poluidora.
Mas se o custo da tonelada de gás carbônico emitido for precificado e incorporado no valor final dos bens e serviços as decisões de investimento serão reconsideradas. Se o custo da poluição dos gases de fonte fóssil queimada pelos automóveis forem precificados haverá estimulo para o uso de fontes alternativas e limpas de energia e desincentivo para comprar carros, especialmente aqueles caros, pesados e de alto consumo. Quando se compra um produto se paga um valor monetário pelos fatores de produção embutidos, mas não se paga o custo não monetário das emissões de CO2 equivalente geradas pelo mesmo.
Precificar e valorizar a natureza, taxando a poluição e a degradação ambiental, pode até ter algum efeito negativo no PIB, mas, sem dúvida, teria um efeito muito positivo para o meio ambiente. Neste sentido, não faria mal se registrar nas Contas Nacionais que uma floresta nativa (isto é, com toda a sua biodiversidade) tem mais valor que uma mesma área de pastagem ou uma floresta replandada uniformemente. No curto prazo, precificar a natureza significa reduzir o ritmo de crescimento econômico das atividades poluidoras e estimular as atividades verdes e limpas para evitar um desastre ambiental incontrolável que pode acontecer em um futuro próximo se nada for feito.
José Eustáquio Diniz Alves, colaborador e articulista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
Todo o alumínio ou o cimento produzido no país entra no cálculo do PIB, porém a poluição gerada por estas atividades industriais não são contabilizadas. Bens superfluos como os diversos tipos de bebidas alcoólicas, assim como suas propagandas machistas, entram com valor positivo no PIB, embora estas bebidas sejam responsáveis por grande parte das mortes em decorrência da violência interpessoal ou em choques de veículos no país. Em geral, governos em nível local, estadual e nacional comemoram os empregos e impostos gerados por uma fábrica de cerveja ou aguardente, mas não contabilizam nas contas nacionais as vidas subtraídas decorrentes da cirrose, das brigas de bar, da violência sexual e doméstica e dos acidentes de trânsito.
Por exemplo, entra no PIB como investimento os recursos gastos por uma firma ou pessoa física quando desmata (e queima) uma grande área de Cerrado, Mata Atlântica ou Floresta Amazônica para plantar pasto e criar gado. Também entra e faz crescer o PIB os bens produzidos na atividade pecuária como o leite, a carne, o couro, etc. Contudo, a perda da cobertura vegetal e da capacidade de retenção de CO2, a redução da biodiversidade e a poluição gerada pela emissão de diversos gases de efeito estufa, como o metano, não são contabilizados no PIB. A contabilidade macroeconômica permite a indesejada equação: mais economia = menos natureza.
Todos os exemplos acima servem para mostrar que o PIB – tal como ele é contabilizado oficialmente no mundo todo – não é uma boa medida de desenvolvimento, especialmente quando se considera o desenvolvimento humano e sustentável. Por isto, cresce o movimento para se criar um sistema de preços para defender a natureza e eliminar a poluição, o acumulo de gases de efeito estufa e a degradação ambiental. É possível se criar um sistema de preços que aponte para a redução do consumo surpefluo e do uso insustentável dos recursos naturais.
Transformações culturais são sempre necessárias. Mas as mudanças acontecem de forma mais rápida quando se mexe no bolso das pessoas. Taxar a carne bovina pelo desmatamento provocado pela pecuária, pelo gas metano liberado pelo gado e seus efeitos sobre o aquecimento global, em geral, tem resultados mais efetivos do que uma campanha em favor do vegetarianismo. Taxar a gasolina e os derivados do petróleo, direcionando os recursos para energias alternativas, apresenta resultados mais diretos do que campanhas educacionais, embora estas sejam inquestionavelmente necessárias.
O atual sistema de preços que serve de base para o cálculo do PIB não registra adequadamente o impacto ambiental das ações econômicas. O custo de quilowatt/hora de uma usina termoelétrica que queima carvão ou petróleo é menor que o custo do quilowatt/hora da energia eólica, quando não se contabiliza a poluição. Assim, pela lógica do mercado, o aproveitamento da força dos ventos – que é uma alternativa renovável e limpa – será deixado de lado e os investimentos serão feitos na energia fóssil que é não-renovável, suja e poluidora.
Mas se o custo da tonelada de gás carbônico emitido for precificado e incorporado no valor final dos bens e serviços as decisões de investimento serão reconsideradas. Se o custo da poluição dos gases de fonte fóssil queimada pelos automóveis forem precificados haverá estimulo para o uso de fontes alternativas e limpas de energia e desincentivo para comprar carros, especialmente aqueles caros, pesados e de alto consumo. Quando se compra um produto se paga um valor monetário pelos fatores de produção embutidos, mas não se paga o custo não monetário das emissões de CO2 equivalente geradas pelo mesmo.
Precificar e valorizar a natureza, taxando a poluição e a degradação ambiental, pode até ter algum efeito negativo no PIB, mas, sem dúvida, teria um efeito muito positivo para o meio ambiente. Neste sentido, não faria mal se registrar nas Contas Nacionais que uma floresta nativa (isto é, com toda a sua biodiversidade) tem mais valor que uma mesma área de pastagem ou uma floresta replandada uniformemente. No curto prazo, precificar a natureza significa reduzir o ritmo de crescimento econômico das atividades poluidoras e estimular as atividades verdes e limpas para evitar um desastre ambiental incontrolável que pode acontecer em um futuro próximo se nada for feito.
José Eustáquio Diniz Alves, colaborador e articulista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br
Goldman Sachs vê crescimento de 6,4% do Brasil em 2010 /// Reuters
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Goldman Sachs elevou a projeção de crescimento do Brasil para 6,4 por cento em 2010 ante previsão anterior de 5,8 por cento, de acordo com o economista-chefe da instituição, Jim O'Neill.
"Na sexta-feira, recebi um texto do Paulo Leme (economista do Goldman para mercados emergentes) e ele disse que queria revisar a nossa previsão para 6,4 por cento. Essa é a segunda mudança de projeção. Ele já me deve três jantares. No último outono, eu já falava em 7 por cento", afirmou O'Neill, no seminário "Uma agenda para os Brics".
O economista foi quem cunhou a sigla Bric, formada por Brasil, Rússia, Índia e China.
Na visão de O'Neill, o mundo hoje tem dois pilares: os Estados Unidos e os países do Bric. E, para, ele, o bloco, principalmente a China, tem um papel importante de compensar a perda de capacidade norte-americana de consumo e produção provocada pela crise.
De acordo com o economista, o Goldman estima crescimento de 11,4 por cento para a China, expansão de 8,2 por cento para a Índia e avanço de 4,5 por cento para a Rússia em 2010.
No mesmo evento, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou que não dúvidas de que o Brasil se encontra numa forte recuperação econômica, mas colocou dúvidas sobre a sustentabilidade do patamar de expansão.
"Fiquei satisfeito em ouvir essa projeção e tendo a achar que é possível que se chegue lá", disse a jornalistas. "Se isso é sustentável são outros quinhentos. Ano passado foi de crescimento nulo e é natural que este ano seja mais alto."
Fraga defendeu uma elevação na taxa de investimento e de poupança para que o país possa crescer a níveis mais elevados. "Precisamos investir a 23, 25 por cento do PIB. Isso vai exigir poupança, financiamento e capital de risco. É razoável esperar por isso daqui a cinco anos", afirmou.
O ex-presidente do BC acha que investimentos mais fortes em educação também poderiam ajudar o Brasil a alcançar um novo patamar de crescimento.
CÂMBIO CHINÊS
O'Neill e Fraga minimizaram as preocupações das economias desenvolvidas com o câmbio chinês e afirmaram que o iuan vai se valorizar naturalmente nos próximos anos. O'Neil relatou que passou alguns dias na China para conhecer melhor a economia local e concluiu que a moeda chinesa, depois de uma valorização de 20 por cento nos últimos cinco anos, chegou perto do valor justo.
"Não ajuda nada quando Bruxelas ou Washington fazem tanto ruído sobre a taxa de câmbio da China. Ela deve ser vista como boa para o povo chinês e não para ajudar Obama ou Bruxelas", alfinetou na palestra.
Fraga destacou que a China deve buscar ao longo do tempo fortalecer sua moeda e deixar de ter apenas como referência o dólar. "Em algum momento vai ser interesse deles deixar a moeda se fortalecer", disse.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
"Na sexta-feira, recebi um texto do Paulo Leme (economista do Goldman para mercados emergentes) e ele disse que queria revisar a nossa previsão para 6,4 por cento. Essa é a segunda mudança de projeção. Ele já me deve três jantares. No último outono, eu já falava em 7 por cento", afirmou O'Neill, no seminário "Uma agenda para os Brics".
O economista foi quem cunhou a sigla Bric, formada por Brasil, Rússia, Índia e China.
Na visão de O'Neill, o mundo hoje tem dois pilares: os Estados Unidos e os países do Bric. E, para, ele, o bloco, principalmente a China, tem um papel importante de compensar a perda de capacidade norte-americana de consumo e produção provocada pela crise.
De acordo com o economista, o Goldman estima crescimento de 11,4 por cento para a China, expansão de 8,2 por cento para a Índia e avanço de 4,5 por cento para a Rússia em 2010.
No mesmo evento, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga afirmou que não dúvidas de que o Brasil se encontra numa forte recuperação econômica, mas colocou dúvidas sobre a sustentabilidade do patamar de expansão.
"Fiquei satisfeito em ouvir essa projeção e tendo a achar que é possível que se chegue lá", disse a jornalistas. "Se isso é sustentável são outros quinhentos. Ano passado foi de crescimento nulo e é natural que este ano seja mais alto."
Fraga defendeu uma elevação na taxa de investimento e de poupança para que o país possa crescer a níveis mais elevados. "Precisamos investir a 23, 25 por cento do PIB. Isso vai exigir poupança, financiamento e capital de risco. É razoável esperar por isso daqui a cinco anos", afirmou.
O ex-presidente do BC acha que investimentos mais fortes em educação também poderiam ajudar o Brasil a alcançar um novo patamar de crescimento.
CÂMBIO CHINÊS
O'Neill e Fraga minimizaram as preocupações das economias desenvolvidas com o câmbio chinês e afirmaram que o iuan vai se valorizar naturalmente nos próximos anos. O'Neil relatou que passou alguns dias na China para conhecer melhor a economia local e concluiu que a moeda chinesa, depois de uma valorização de 20 por cento nos últimos cinco anos, chegou perto do valor justo.
"Não ajuda nada quando Bruxelas ou Washington fazem tanto ruído sobre a taxa de câmbio da China. Ela deve ser vista como boa para o povo chinês e não para ajudar Obama ou Bruxelas", alfinetou na palestra.
Fraga destacou que a China deve buscar ao longo do tempo fortalecer sua moeda e deixar de ter apenas como referência o dólar. "Em algum momento vai ser interesse deles deixar a moeda se fortalecer", disse.
(Por Rodrigo Viga Gaier)
Eduardo Giannetti defende que PIB e sistema de preços levem em conta critérios verdes, como poluição e desmatamento///O Globo
Entrevista: Eduardo Giannetti defende que se contabilize um PIB verde
Economista de formação e professor do Instituto de Estudos e Pesquisas (Inesp), o mineiro Eduardo Giannetti, 52 anos, está convencido de que o modo convencional como os países medem sua economia está totalmente anacrônico. Não só a forma com que “contabilizamos a economia”, mas o sistema de preços vigentes também deixa a desejar no tocante aos impactos ambientais. Defensor de um PIB verde e observador atento da Conferência do Clima (COP-15), Giannetti, autor de livros premiados, resume, em bom português, por que as decisões importantes foram adiadas para a COP-16: “É que o ideal para cada país é que todos façam esforço, menos ele”. Entrevista de Liana Melo, no O Globo.
O GLOBO: O senhor virou um crítico feroz do PIB. Por quê?
EDUARDO GIANNETTI: Tanto o sistema de preço como a forma com que contabilizamos os fatos em economia deixam a desejar no tocante ao impacto ambiental. Se uma comunidade tem acesso a água potável com a mesma facilidade com que consome o ar que respira, isso não entra nas contas nacionais. A água ainda é considerada um bem livre, como o ar que respiramos.
O GLOBO: Como assim?
GIANNETTI: Vamos supor que uma comunidade, ao se desenvolver, polui todas as fontes de água potável e passa, por isso, a ser obrigada a engarrafar água e distribuí-la. O PIB desSe país vai aumentar, no lugar de diminuir. Tudo porque algo que não era transacionado pelo mercado e que não passava pelo sistema de preços passou a ser contabilizado. Por essa lógica econômica, quando todos nós tivermos que carregar nosso tubinho de oxigênio para respirar, a sociedade, pelo registro puramente monetário, vai ter ficado mais rica. Este método de medição ficou anacrônico.
O GLOBO: O senhor poderia dar um exemplo desse anacronismo do PIB, no caso brasileiro?
GIANNETTI: Se derrubamos nossa floresta para vender madeira no mercado internacional, o PIB brasileiro vai dar um salto fantástico. Só que, ao optarmos por esse caminho, estamos empobrecendo as gerações futuras de uma forma irreparável, porque alguma coisa que era um patrimônio e tinha um valor permanente foi usada no presente para gerar um riqueza passageira. É mais ou menos como vender a prata da família para janta fora.
O GLOBO: O senhor também considera o sistema de preços caduco?
GIANNETTI: Claro, ele padece de alguns defeitos gravíssimos. O sistema de preços não registra o impacto ambiental das ações humanas. Basta compararmos o custo de geração de energia em uma usina eólica com uma termoelétrica: US$ 0,17 contra US$ 0,03 o quilowatt/hora. Nesse custo monetário não está embutido o valor real da poluição provocada por uma termoelétrica, daí porque a comparação é inadequada.
O GLOBO: Então a tonelada de gás carbônico gerada deveria ser precificada?
GIANNETTI: É preciso mudar o sistema de preços, porque ele só capta o custo monetário das atividades econômicas. O impacto ambiental não é contabilizado. O sistema de preços capta apenas uma parcela do custo, que é a monetária.
O GLOBO: No lugar de precificar o custo do CO2, embutir um imposto no preço final do produto não seria uma alternativa?
GIANNETTI: Estou convencido de que só teremos uma mudança estrutural nas decisões de investimento e nas de consumo à medida que o impacto ambiental for incorporado aos produtos, na forma de preço e não de imposto voluntário. As pessoas se declaram preocupadas com o aquecimento global, mas quando se fala em pagar voluntariamente, ninguém quer pagar a conta. Quando compramos uma passagem aérea, pagamos um valor monetário pelos fatores de produção embutidos: equipamento, serviço, combustível. Mas não pagamos o custo não monetário das emissões de CO2 equivalente geradas pela viagem.
O GLOBO: Um dos motivos de a COP-15 não ter avançado é porque ninguém quer pagar a conta?
GIANNETTI: Exatamente isso. O ideal para cada país é que todos façam esforço, menos ele. O grande complicador é a ação coletiva internacional, que se resume a como distribuir os custos da redução de CO2 equivalente entre os países.
O GLOBO: O Protocolo de Kioto expira em 2012, e o resultado não é dos mais alvissareiros. Por quê?
GIANNETTI – O Protocolo de Kioto revelou-se um acordo com uma série de problemas. Alguns dos países signatários, como a Espanha, não fizeram nada. Os espanhóis aumentaram suas emissões de CO2 equivalente após a assinatura do acordo, enquanto os Estados Unidos, que nem sequer são signatários, avançaram mais que a Espanha. Ficou claro que precisamos ter mecanismos para garantir o cumprimento do acordo e evitar que alguns países exportem suas indústrias sujas para os países em desenvolvimento.
O GLOBO: Dono da maior floresta tropical do mundo, o senhor considera que o Brasil tem uma posição relevante nas negociações internacionais sobre clima?
GIANNETTI – Os três grandes atores são a China, os Estados Unidos e a União Europeia. Os três juntos representam mais de 60% das emissões globais. O Brasil responde por 4,5%. A grande peculiaridade do Brasil é sua matriz energética, que é limpa, mas, em compensação, estamos destruindo nossa floresta. Já está comprovado que investir na prevenção do desmatamento é mais barato do que mitigar os impactos provovacos pelo desmatamento.
O GLOBO: Somos o maior exportador de carne do mundo, e a pecuária é apontada como um das grandes responsáveis por parte significativa do desmatamento. É possível fechar essa conta?
GIANNETTI – A emissão de gases-estufa do rebanho mundial supera a da frota automobilística. A Organização para a Agricultura e a Alimentação, órgão das Nações Unidas, a FAO, já previu que o consumo mundial de carne vai dobrar de 229 milhões de toneladas, em 2001, para 465 milhões em 2050. E o de leite vai subir de 580 milhão de toneladas para 1 bilhão nos próximos 40 anos. O meio ambiente não vai aceitar esse desaforo. A única forma de fechar essa conta é fazer como a Nova Zelândia, que está investindo em novas tecnologias. A situação do país é muito parecida com a do Brasil, porque também tem um rebanho grande e exporta para a União Europeia.
O GLOBO: O senhor acha que o governo está atento às questões ambientais?
GIANNETTI: Tendo a crer que a gravidade ambiental ainda não foi incorporada no processo decisório. As decisões são compartimentadas. Fica o Ministério do Meio Ambiente restringindo de um lado e a área econômica tentando atropelar. No lugar de ter uma postura integrada, há setores do governo remando para lados opostos.
O GLOBO: O senhor se considera uma pessoa pessimista?
GIANNETTI: O que me preocupa no Brasil é a combinação da nossa história com a nossa geografia. Geograficamente, fomos premiados com um patrimônio ambiental único. Só que nossa história é pautada pelo imediatismo. Faz parte da nossa formação histórico-cultural essa incapacidade de agir no presente tendo em vista o futuro e o longo prazo. Um dia de sol no planeta, pelo que ele tem de luz e calor, vale mais do que todas as reservas de petróleo no mundo. Esse dia de sol nos é dado gratuitamente e a economia não computa esse bem. Os sinais econômicos são cegos para essa realidade.
EcoDebate, 19/01/2010
Economista de formação e professor do Instituto de Estudos e Pesquisas (Inesp), o mineiro Eduardo Giannetti, 52 anos, está convencido de que o modo convencional como os países medem sua economia está totalmente anacrônico. Não só a forma com que “contabilizamos a economia”, mas o sistema de preços vigentes também deixa a desejar no tocante aos impactos ambientais. Defensor de um PIB verde e observador atento da Conferência do Clima (COP-15), Giannetti, autor de livros premiados, resume, em bom português, por que as decisões importantes foram adiadas para a COP-16: “É que o ideal para cada país é que todos façam esforço, menos ele”. Entrevista de Liana Melo, no O Globo.
O GLOBO: O senhor virou um crítico feroz do PIB. Por quê?
EDUARDO GIANNETTI: Tanto o sistema de preço como a forma com que contabilizamos os fatos em economia deixam a desejar no tocante ao impacto ambiental. Se uma comunidade tem acesso a água potável com a mesma facilidade com que consome o ar que respira, isso não entra nas contas nacionais. A água ainda é considerada um bem livre, como o ar que respiramos.
O GLOBO: Como assim?
GIANNETTI: Vamos supor que uma comunidade, ao se desenvolver, polui todas as fontes de água potável e passa, por isso, a ser obrigada a engarrafar água e distribuí-la. O PIB desSe país vai aumentar, no lugar de diminuir. Tudo porque algo que não era transacionado pelo mercado e que não passava pelo sistema de preços passou a ser contabilizado. Por essa lógica econômica, quando todos nós tivermos que carregar nosso tubinho de oxigênio para respirar, a sociedade, pelo registro puramente monetário, vai ter ficado mais rica. Este método de medição ficou anacrônico.
O GLOBO: O senhor poderia dar um exemplo desse anacronismo do PIB, no caso brasileiro?
GIANNETTI: Se derrubamos nossa floresta para vender madeira no mercado internacional, o PIB brasileiro vai dar um salto fantástico. Só que, ao optarmos por esse caminho, estamos empobrecendo as gerações futuras de uma forma irreparável, porque alguma coisa que era um patrimônio e tinha um valor permanente foi usada no presente para gerar um riqueza passageira. É mais ou menos como vender a prata da família para janta fora.
O GLOBO: O senhor também considera o sistema de preços caduco?
GIANNETTI: Claro, ele padece de alguns defeitos gravíssimos. O sistema de preços não registra o impacto ambiental das ações humanas. Basta compararmos o custo de geração de energia em uma usina eólica com uma termoelétrica: US$ 0,17 contra US$ 0,03 o quilowatt/hora. Nesse custo monetário não está embutido o valor real da poluição provocada por uma termoelétrica, daí porque a comparação é inadequada.
O GLOBO: Então a tonelada de gás carbônico gerada deveria ser precificada?
GIANNETTI: É preciso mudar o sistema de preços, porque ele só capta o custo monetário das atividades econômicas. O impacto ambiental não é contabilizado. O sistema de preços capta apenas uma parcela do custo, que é a monetária.
O GLOBO: No lugar de precificar o custo do CO2, embutir um imposto no preço final do produto não seria uma alternativa?
GIANNETTI: Estou convencido de que só teremos uma mudança estrutural nas decisões de investimento e nas de consumo à medida que o impacto ambiental for incorporado aos produtos, na forma de preço e não de imposto voluntário. As pessoas se declaram preocupadas com o aquecimento global, mas quando se fala em pagar voluntariamente, ninguém quer pagar a conta. Quando compramos uma passagem aérea, pagamos um valor monetário pelos fatores de produção embutidos: equipamento, serviço, combustível. Mas não pagamos o custo não monetário das emissões de CO2 equivalente geradas pela viagem.
O GLOBO: Um dos motivos de a COP-15 não ter avançado é porque ninguém quer pagar a conta?
GIANNETTI: Exatamente isso. O ideal para cada país é que todos façam esforço, menos ele. O grande complicador é a ação coletiva internacional, que se resume a como distribuir os custos da redução de CO2 equivalente entre os países.
O GLOBO: O Protocolo de Kioto expira em 2012, e o resultado não é dos mais alvissareiros. Por quê?
GIANNETTI – O Protocolo de Kioto revelou-se um acordo com uma série de problemas. Alguns dos países signatários, como a Espanha, não fizeram nada. Os espanhóis aumentaram suas emissões de CO2 equivalente após a assinatura do acordo, enquanto os Estados Unidos, que nem sequer são signatários, avançaram mais que a Espanha. Ficou claro que precisamos ter mecanismos para garantir o cumprimento do acordo e evitar que alguns países exportem suas indústrias sujas para os países em desenvolvimento.
O GLOBO: Dono da maior floresta tropical do mundo, o senhor considera que o Brasil tem uma posição relevante nas negociações internacionais sobre clima?
GIANNETTI – Os três grandes atores são a China, os Estados Unidos e a União Europeia. Os três juntos representam mais de 60% das emissões globais. O Brasil responde por 4,5%. A grande peculiaridade do Brasil é sua matriz energética, que é limpa, mas, em compensação, estamos destruindo nossa floresta. Já está comprovado que investir na prevenção do desmatamento é mais barato do que mitigar os impactos provovacos pelo desmatamento.
O GLOBO: Somos o maior exportador de carne do mundo, e a pecuária é apontada como um das grandes responsáveis por parte significativa do desmatamento. É possível fechar essa conta?
GIANNETTI – A emissão de gases-estufa do rebanho mundial supera a da frota automobilística. A Organização para a Agricultura e a Alimentação, órgão das Nações Unidas, a FAO, já previu que o consumo mundial de carne vai dobrar de 229 milhões de toneladas, em 2001, para 465 milhões em 2050. E o de leite vai subir de 580 milhão de toneladas para 1 bilhão nos próximos 40 anos. O meio ambiente não vai aceitar esse desaforo. A única forma de fechar essa conta é fazer como a Nova Zelândia, que está investindo em novas tecnologias. A situação do país é muito parecida com a do Brasil, porque também tem um rebanho grande e exporta para a União Europeia.
O GLOBO: O senhor acha que o governo está atento às questões ambientais?
GIANNETTI: Tendo a crer que a gravidade ambiental ainda não foi incorporada no processo decisório. As decisões são compartimentadas. Fica o Ministério do Meio Ambiente restringindo de um lado e a área econômica tentando atropelar. No lugar de ter uma postura integrada, há setores do governo remando para lados opostos.
O GLOBO: O senhor se considera uma pessoa pessimista?
GIANNETTI: O que me preocupa no Brasil é a combinação da nossa história com a nossa geografia. Geograficamente, fomos premiados com um patrimônio ambiental único. Só que nossa história é pautada pelo imediatismo. Faz parte da nossa formação histórico-cultural essa incapacidade de agir no presente tendo em vista o futuro e o longo prazo. Um dia de sol no planeta, pelo que ele tem de luz e calor, vale mais do que todas as reservas de petróleo no mundo. Esse dia de sol nos é dado gratuitamente e a economia não computa esse bem. Os sinais econômicos são cegos para essa realidade.
EcoDebate, 19/01/2010
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