Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Biogás: manual ensina como aproveitar potencial energético /// Ambiente Energia

Por Júlio Santos, da Agência Ambiente Energia - O programa “Methane to Markets Partnership” (M2M), iniciado em 2004 com a participação de 14 países, tem a meta de reduzir as emissões de metano em 180 MMTCO2 até 2014. A iniciativa busca promover, internacionalmente, a recuperação e uso do metano como uma fonte de energia limpa e renovável nos setores de resíduos sólidos, agricultura, minas de carvão e exploração de óleo e gás. Atrás deste objetivo, o projeto do ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade), patrocinado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, publicou, em fevereiro deste ano, o “Manual para Aproveitamento de Biogás – Volume 1 – Aterros Sanitários”.


“O manual apresenta, de forma objetiva e prática, informações essenciais para que os gestores municipais percebam o potencial e as inúmeras vantagens da implantação de sistemas que possibilitem o aproveitamento energético do biogás, gerado em aterros sanitários ou controlados”, destaca texto da introdução da obra, que contou com a parcipação de Vanessa Pecora Garcilasso, pesquisadora do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio), um dos nomes responsáveis pela consultoria e redação técnica do manual.

O estudo, ao considerar o aproveitamento de biogás, constatou que é possível obter redução significativa de custos para suprir as demandas de energia elétrica, para uso no próprio aterro, em indústrias próximas ou consumidores distantes, neste último caso, por meio da venda e distribuição dessa energia via rede já existente; energia térmica (calor), útil em processos como secagem de chorume e usos industriais diversos; combustíveis veiculares, para abastecimento da frota de caminhões de coleta de lixo e veículos públicos; e iluminação pública, por meio do uso de postes abastecidos diretamente com o biogás.

A publicação reúne dados de estudo técnico feito nos municípios de Campinas (SP) e Santo André (SP) para verificar a possibilidade de geração de energia a partir do biogás produzido nos seus aterros sanitários. “Essa publicação apresenta aos municípios brasileiros algumas ferramentas que possibilitam a implementação de medidas que reduzam a emissão do metano gerado em aterros sanitários e contribuam para a geração de energia a partir do biogás produzido nos aterros”, destaca texto.

A obra está estruturada nas seguintes partes: Cenários das Mudanças Globais do Clima; Cenário dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil; Cenário Energético Brasileiro; Alternativas para o uso de Biogás Gerado em Aterros; Síntese dos Estudos de Caso (Santo André e Campinas); Passo a Passo, que faz a sistematização do trabalho, procurando mostrar o que o gestor precisa para analisar o potencial e implementar um projeto para aproveitar o biogás gerado em aterros de resíduos sólidos urbanos; e Estudos de Casos.

Um estudo semelhante sobre o aproveitamento do biogás gerado no tratamento de efluentes, no âmbito de um projeto patrocinado pela Parceria de Energia Renovável e Eficiência Energética (REEEP), dará continuidade ao trabalho.



Veja a íntegra do “Manual para Aproveitamento de Biogás – Volume 1 – Aterros Sanitários

FAO: taxação à pecuária pode reduzir impacto ambiental /// MNP

A pecuária deveria ser taxada para reduzir os estragos ao ambiente causados pela produção de carnes.

Polêmica, a proposta da Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) afeta grandes exportadores de carnes como o Brasil e pode ser considerada o "contrapeso" do cenário de crescimento contínuo da demanda internacional sinalizado em amplo estudo divulgado na quinta-feira (18).

A agência da ONU estima que a produção mundial de carnes dobrará até 2050 para atender a uma demanda que cresce de maneira vertiginosa. E alerta que a elevação constante da produção animal "se traduzirá em enormes pressões sobre a saúde dos ecossistemas, a biodiversidade, os recursos em terras e florestas e na qualidade da água, além de contribuir de maneira significativa para o aquecimento do planeta".

Nesse cenário, a FAO sugere que os governos adotem medidas para reduzir o custo ambiental da expansão da pecuária, e uma dessa medidas poderia ser a imposição de "taxas ou direito de utilização de recursos naturais" pelos pecuaristas, para levá-los a "internalizar os custos dos estragos ambientais causados pela produção animal". Segundo a agência, impor taxações é necessário sobretudo porque "os preços atuais das terras, da água e dos alimentos usados na produção dos rebanhos frequentemente não refletem o verdadeiro valor desses recursos, o que provoca seu excesso de consumo".

A FAO sugere, também, políticas que favoreçam o consumo de carnes suína ou de frango em vez de carne bovina - isso porque são necessárias menos calorias vegetais para produzir uma caloria animal. A FAO, na prática, incorpora uma posição de vários países desenvolvidos nos últimos tempos, que visa a frear a produção de carne bovina. A instituição igualmente defende que os governos estimulem os pecuaristas a melhorarem a alimentação dos rebanhos para reduzir as emissões de metano. Isso poderia ser feito, por exemplo, com mais aditivos.

Para a FAO, todo o custo "externo" deve ser incorporado nas políticas pecuárias "para levar em conta o custo integral da poluição e outros aspectos ambientais negativos". Com isso, acredita o braço da ONU, os produtores serão impelidos "a fazer escolhas de gestões menos custosas para o meio ambiente e para a sociedade como um todo". Por sua vez, os pecuaristas que protegem o ambiente devem ser indenizados através de "benefício imediato" - como ajuda para melhorar a quantidade e qualidade da água, por exemplo.

Se a proposta de taxação avançar junto aos governos, o impacto sobre o Brasil será evidente. O país é o maior exportador mundial de carne bovina, e é brasileira a maior empresa de proteínas do mundo, a JBS.

Que faremos com o clima? /// estadao.com.br



Washington Novaes

A recente sanção presidencial à lei brasileira sobre mudanças climáticas (Estado, 29/12), as novas previsões sobre a safra de grãos no País (10/2), ao lado do noticiário sobre desastres provocados por chuvas e inundações nos últimos meses, reafirmam que o País precisa preocupar-se - e muito - com a questão do clima.

Embora se anteveja um aumento da safra de grãos, há culturas e regiões nas quais a queda tem sido relevante, como é o caso das safras de milho, feijão e arroz em partes do Centro-Oeste ou do arroz no Sul. E no Centro-Oeste ela tende a continuar.

O tema é ainda mais preocupante quando se toma conhecimento do estudo Economia da Mudança do Clima no Brasil, feito por 11 institutos universitários de pesquisa, coordenado por Carolina Dubeux, da Coppe-RJ, e divulgado pelos jornais (7/2). Ali se mostra que em 40 anos, dependendo do cenário, o Brasil poderá perder R$ 3,6 trilhões em suas safras, por causa de problemas climáticos. E isso inclui redução de áreas aptas para culturas alimentares e acesso mais limitado à água. Que podem resultar também em maior pressão para ocupar áreas de florestas. O Estado de São Paulo, no pior cenário, pode perder R$ 1,2 trilhão.

A preocupação não é só brasileira, mas outros países estão à nossa frente em estratégias e cuidados. A Inglaterra - para citar apenas um - tem um Ministério do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais que já implanta uma estratégia de segurança alimentar planejada para 20 anos, que propõe até uma revolução tecnológica. E uma descentralização da produção e do comércio, para que eventuais danos sejam menos amplos. Além disso, está mergulhada numa discussão com produtores e consumidores sobre a necessidade - ou não - de reduzir o consumo de carne vermelha, da mesma forma que o consumo de fertilizantes, pesticidas e combustíveis na produção de alimentos.

Também da ONU vêm notícias (Estado, 18/12) das consequências que poderá ter na área de alimentos um aumento de 3 graus Celsius na temperatura do planeta - o horizonte mais provável com a redução insuficiente de emissões de gases oferecida pelos países industrializados e pelos "emergentes". As consequências de secas e enchentes seriam muito fortes nas colheitas de países tropicais e mais 550 milhões de pessoas - além do 1 bilhão atual - estariam expostas à fome.

Nesse quadro, a Lei de Mudanças Climáticas sancionada pelo presidente da República parece ainda tímida, ao propor como objetivo reduzir entre 36,1% e 38,9% as emissões brasileiras, calculadas sobre o patamar a que chegariam em 2020 tomando como base o de 2005. Isso equivaleria a cerca de 300 milhões de toneladas anuais de poluentes e ainda deixaria o País com pouco mais de 1,9 bilhão de toneladas/ano (cerca de 10 toneladas anuais por pessoa se até lá a população não crescer muito).

Na apresentação que o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, fez ao Senado sobre o inventário brasileiro de emissões - ainda em preparação e com prazo até março de 2011 para ser submetido à Convenção do Clima -, as emissões brasileiras em 2005 são calculadas em 2.205,3 milhões de toneladas (em equivalentes de carbono), com um aumento de 48,4% sobre 1994, ano do inventário anterior, quando eram 1.484,9 milhões de toneladas. E aumento de 61,7% sobre 1990, quando estiveram em 1.362,3 milhões de toneladas. Um ritmo de crescimento muito preocupante, embora o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) levante questões sobre a conversão do metano em carbono (multiplicando por mais de 20 o número) nos cálculos, que tem muita importância no caso brasileiro.

Seja como for, a comunicação do MCT atribui a "mudanças no uso do solo e florestas" nada menos que 76,3% das emissões em 2005, com 1.202,1 milhões de toneladas, quando eram 747,8 milhões de toneladas em 1994 e 709 milhões em 1990 - ou seja, um aumento de 60,7% sobre o inventário de 1994 e de 69,5% sobre 1990. Ao setor de energia cabem 22% das emissões, aí incluídos o transporte, a indústria e residencial. Mas as emissões por esse caminho (346,9 milhões de toneladas em 2005) aumentaram 71% dede 1990.

Uma das questões mais complexas é mesmo a das emissões brasileiras de metano (13,465 milhões de toneladas), de que a agropecuária responde por 71%, principalmente com os gases resultantes da fermentação entérica, no processo de ruminação de alimentos pelo gado. Mas, como está dito atrás, o processo de conversão, multiplicando por 21 os números do metano, resultaria num total de 282,7 milhões de toneladas, equivalentes a cerca de 80% das emissões de todo o setor de energia, incluídos indústria e transportes. Mas essa conversão é posta em questão pelo governo brasileiro e por muitos cientistas. Principalmente porque está em discussão no âmbito do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico da Convenção do Clima, uma tese de que essa equivalência deve ser reduzida a 3 ou 4, por causa do tempo menor de dissipação do metano e outros fatores (como já se comentou aqui em outros artigos).

Seja como for, é um quadro que precisa ser trabalhado pelo Brasil. Porque o País já é vítima de desastres climáticos severos, porque se prevê agravamento desse panorama - e ainda não temos uma política abrangente de adaptação às mudanças - e também porque se intensificam as pressões para assumir compromissos (e não apenas metas voluntárias de redução de emissões). E até porque uma redução de menos de 15% sobre as emissões de 2005 parece insuficiente.

O início da campanha eleitoral com certeza aumentará as discussões sobre o tema, como também já se comentou aqui. O que disseram na reunião de Copenhague três candidatos a presidente (Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva), além do presidente Lula, não terá como ficar fora das teses apresentadas ao eleitorado. E será um avanço ver o tema discutido em âmbito nacional.

Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

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