Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Empresa de biotecnologia vai produzir diesel de cana no Brasil

Guilherme Gorgulho - Inova Unicamp - 31/07/2011

Biodiesel de cana-de-açúcar
Interessada no crescimento do mercado de biocombustíveis e na indústria sucroenergética brasileira, a empresa de biotecnologia norte-americana LS9 está chegando ao Brasil aberta a oportunidades de negócios com sua tecnologia de produção de diesel a partir da cana-de-açúcar.

A companhia, sediada na Califórnia, anunciou em julho a criação da LS9 Brasil Biotecnologia, com um escritório em São Paulo, mas ainda planeja a construção de um laboratório de pesquisas e quer iniciar até 2014 a comercialização de seus produtos.

A estratégia consiste em encontrar parceiros para viabilizar a fabricação do biodiesel e de produtos bioquímicos a partir da abundante oferta de matéria-prima no País.

Fundada em 2005, a empresa vai inaugurar em agosto uma planta de demonstração na cidade de Okeechobee, na Flórida, que poderá ser expandida para escala industrial e estuda ainda a construção de uma planta no Brasil.

O plano de desenvolvimento da tecnologia da LS9 é baseado no potencial de seu portfólio no mercado de combustíveis e produtos químicos que substituam os derivados de petróleo e que sejam renováveis.

Testes do biodiesel
No mês passado, a empresa anunciou também uma parceria no Brasil com a fabricante de caminhões e ônibus MAN Latin America para testar o diesel em motores, tanto em bancada como em campo de provas.

O objetivo é analisar desempenho, emissões, consumo e durabilidade dos motores nos veículos da Volkswagen [a linha de caminhões Volkswagen foi adquirida pela MAN] movidos com o biocombustível. O produto da LS9 é um combustível avançado do tipo drop-in, ou seja, pode ser utilizado sem a necessidade de adaptações nos motores e não requer infraestrutura própria.

Sob o nome comercial de Ultra Clean, o biodiesel da LS9 é produzido pela fermentação de açúcares a partir da ação de uma cepa da bactéria Escherichia coli geneticamente modificada para gerar, principalmente, alcoóis graxos, ácidos graxos e ésteres.

"A tecnologia da LS9 é muito flexível em relação à matéria-prima, que são açúcares; não é necessariamente o caldo de cana, podem ser outras fontes de açúcar, inclusive estamos testando outras matérias-primas. Além disso, há a vantagem da flexibilidade de produção; enquanto a maioria das empresas de biotecnologia faz um produto, com a nossa tecnologia é possível fazer vários produtos", explicou Lucila de Avila, diretora geral da LS9 Brasil Biotecnologia, em entrevista a Inovação Unicamp.

A executiva, que está desde março na companhia norte-americana, considera que a tecnologia está "quase pronta para ser comercializada".

Empresa de pesquisadores
Com cerca de 100 funcionários, 60% deles pesquisadores, a empresa sediada em South San Francisco, na Califórnia, foi fundada por dois cientistas: Chris Somerville, professor de Botânica da Universidade de Stanford, e George Church, professor de Genética da Universidade de Harvard, com o financiamento dos fundos de capital de risco Flagship Ventures e Khosla Ventures. Atualmente, a Lightspeed Venture Partners também faz parte da companhia.

A empresa emprega pesquisadores nas áreas de biologia sintética, engenharia metabólica, microbiologia, enzimologia, bioinformática e engenharia química, entre outras. Atraída pela competitividade da cana brasileira para a produção de seu biocombustível, a start-up já deu início a parcerias com outros grupos interessados nos seus produtos renováveis.

Desde 2009, a LS9 tem uma parceria com a norte-americana Procter & Gamble para o desenvolvimento de químicos renováveis a partir da sua tecnologia patenteada. Em fevereiro deste ano, o acordo - cujos termos são mantidos em sigilo - foi ampliado para uma segunda etapa.

Substitutos renováveis
A diretora geral da LS9 explica que a P&G emprega muitos derivados petroquímicos e óleo de palma em seu portfólio, mas que as pressões do mercado pela sustentabilidade têm levado a multinacional a buscar substitutos renováveis.

Segundo ela, outro ponto importante é que a cadeia de produção do óleo de palma - baseada em países do sudeste da Ásia, como Malásia e Indonésia - tem provocado diversos impactos ambientais.

A LS9 conta também com uma parceria estratégica com a empresa de energia norte-americana Chevron para o desenvolvimento de hidrocarbonetos específicos. Além desses acordos, a LS9 está avaliando outros negócios para explorar sua tecnologia.

"Estamos em uma fase de estudar os mercados para avaliar oportunidades, mas a nossa tecnologia é essa: você 'diz' para a bactéria o que ela precisa produzir e muda o metabolismo dela por meio de enzimas." Segundo Lucila, com essa tecnologia é possível fazer substâncias com cadeias carbônicas que vão do C8 ao C18.

Escalonamento da produção
Inicialmente, a firma de biotecnologia contava apenas com a planta-piloto em South San Francisco para testar seu produto, com cana-de-açúcar plantada na Flórida, e terceirizava, por meio de contratos de industrialização, o escalonamento em outras fermentadoras.

Agora, a direção da LS9 está desenvolvendo o projeto e estudando a localização de um laboratório no Brasil para testar a matéria-prima local e fazer a demonstração da tecnologia. Lucila prevê que a decisão sobre a cidade que abrigará o laboratório possa ser tomada ainda neste ano, para que o investimento, de valor não divulgado, comece a ser feito.

Entre os municípios que estão sendo avaliados estão Campinas, Piracicaba, Paulínia e a capital paulista. Estão sendo estudadas também parcerias com universidades brasileiras, mas ainda não foram iniciados os contatos.

O Brasil está no foco principal da empresa e já estão sendo feitas negociações com produtores nacionais para alcançar a escala comercial, tanto na área de biodiesel quando no setor de produtos bioquímicos. Esses acordos poderão ser para o fornecimento de matéria-prima, para contratos de fornecimento de tecnologia ou até mesmo joint ventures.

"Não significa que a LS9 vai trabalhar somente com o Brasil, não existe nenhuma exclusividade, mas para nossa tecnologia é o país das maiores possibilidades", afirmou Lucila, ressaltando o interesse da firma também pela Ásia.

Planta piloto
A planta piloto, na Califórnia, tem capacidade de produção de mil litros e, a partir de agosto, a planta de demonstração, na Flórida, poderá produzir de 4.000 a 5.000 litros - capacidade essa que poderá ser ampliada para 140 mil litros até o final de 2011.

Essa unidade de Okeechobee ainda permitirá a instalação de outros tanques de fermentação para chegar aos 800 mil litros, caso a empresa decida ter uma planta industrial na América do Norte.

"O nosso biodiesel necessita apenas que se coloque o açúcar e a bactéria, para que ela produza o diesel. Depois esse diesel pode ser separado fisicamente com apenas uma centrifugação simples. Não é necessário, como no caso de outras empresas de biotecnologia, enviar o produto para ser submetido a algum tipo de processamento externo, como uma etapa de hidrogenação. O nosso é muito simples e fácil de ser produzido", conclui a diretora geral.

Versatilidade do micro-organismo
A mesma bactéria que produz o diesel também faz produtos químicos, mas o que muda na tecnologia é o metabolismo do micro-organismo, alterado por meio da engenharia genética. "Estamos estudando agora quais são os mercados que nos interessam. São vários: surfactantes, lubrificantes, cosméticos, detergentes e outros produtos de limpeza, tintas e entre outros. As possibilidades são inúmeras."

"Temos que aprofundar muito essa pesquisa e esse desenvolvimento. Nós estávamos nos concentrando em diesel e em alguns produtos químicos que estão sendo desenvolvidos com alguns parceiros específicos. Como essas pesquisas já estão adiantadas e nós já estamos chegando próximo ao rendimento ótimo para comercialização, então, começaremos a entrar nessas outras pesquisas."

Sem querer revelar o custo do diesel da LS9, Lucila ressaltou que "certamente" ele é mais competitivo que o biodiesel vegetal convencional, por causa da valorização da soja. Outra vantagem, destaca, são suas propriedades físicas: menor viscosidade a baixas temperaturas e maior durabilidade ou resistência à oxidação.

Em relação ao diesel de petróleo, a executiva afirma que, nos níveis atuais de preço do barril de óleo, tem "quase certeza" sobre a competitividade do seu produto. Além disso, ele teria menor teor de enxofre e mais qualidade de combustão que o derivado fóssil, segundo dados divulgados pela empresa.

Leque amplo para usinas de cana
Em meio às atuais incertezas de investimentos e volume de produção do setor sucroalcooleiro, a LS9 considera que parcerias com usineiros para a produção do diesel de cana possibilitariam uma interessante diversificação no portfólio que ajudaria a superar os problemas de rentabilidade do etanol.

"Os produtores de cana-de-açúcar hoje têm um horizonte de preço que é limitado ao preço da gasolina, que por sua vez é administrado pela Petrobrás. Nosso produto vai adicionar valor ao usineiro porque vai permitir ter um produto diferenciado, que tem outro ciclo e outra lucratividade e isso vai ser muito interessante", justifica Lucila.

Apesar de considerar a companhia como bem estruturada financeiramente para os "próximos anos", a diretora geral afirma que existe a possibilidade de entrada de novos investidores de venture capital na LS9 nessa fase de expansão para a produção comercial, sendo que está sendo estudada até mesmo a realização de uma oferta pública inicial de ações.

Cariocas começam a usar diesel de cana em transporte urbano

Durante um ano, veículos pesados serão utilizados para serem apresentados no Rio+20


por Globo Rural On-line

A chegada do diesel produzido a partir de cana-de-açúcar às principais metrópoles brasileiras, ainda de que forma experimental, é um sinal de que este tipo de combustível poderá conquistar uma importante fatia no transporte público. A avaliação foi feita pelo consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwarc, após o anúncio de mais um acordo de fornecimento de diesel de cana pela Amyris do Brasil para testes em uma frota de 20 ônibus urbanos na cidade do Rio de Janeiro.

Uma semana antes, a empresa já havia anunciado um acordo similar envolvendo 160 ônibus na cidade de São Paulo. “A iniciativa reduz as emissões e abre novas possibilidades no mercado de combustíveis para veículos pesados. O uso do novo diesel contribui para a redução dos gases causadores do efeito estufa e diminui a emissão de poluentes locais, especialmente o material particulado, resultando em uma opção energética mais limpa,” diz Szwarc.

Rio+20

No Rio de Janeiro, o diesel produzido a partir da cana será misturado ao diesel convencional, de petróleo, na proporção de 30%, para abastecer ônibus da marca Mercedes-Benz da Viação Saens Penna. A Federação de Transportes do Rio de Janeiro utilizará os testes na frota para avaliar o desempenho do motor e os benefícios ambientais do combustível renovável da Amyris. Os resultados serão apresentados na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada na cidade em junho de 2012.

“O governo do Rio de Janeiro e as autoridades ligadas ao transporte público estão empenhados em dar o exemplo no combate às alterações climáticas. E a Amyris – juntamente com a Mercedes-Benz, Petrobrás, Michelin e BNDES – desempenham um papel na resposta às necessidades do Rio em relação ao transporte,” afirmou Paulo Diniz, presidente da Amyris Brasil. Segundo ele, a empresa está “pronta para atender à crescente demanda por combustíveis derivados de cana no Rio de Janeiro, cidade que se prepara para sediar a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016″.

Liderança de São Paulo

Com o anúncio da Amyris na semana anterior, São Paulo se tornou a primeira cidade a utilizar o diesel de cana em sua frota em maior escala. Antes disso, em 2009 e 2010, testes com o combustível foram realizados na capital paulista em três ônibus urbanos. A iniciativa contribui para atender o Plano Diretor paulistano, que prevê a substituição de todo o combustível fóssil utilizado no transporte urbano por opções renováveis até 2018.

“A experiência bem sucedida da cidade de São Paulo começa a ser replicada em outras cidades, agora com o apelo das Olimpíadas e da Copa do Mundo. É muito importante que este processo avance em todo o Brasil,” conclui Szwarc

Fonte: Revista Globo Rural Online

Biotecnologia para a cana

01/06/2011

Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Um estudo realizado por cientistas ligados ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) confirmou – pela primeira vez em cultivares comerciais de cana-de-açúcar – que os genes associados ao teor de sacarose apresentam alterações de acordo com o potencial de rendimento de biomassa da planta.

Publicado na revista Plant Biotechnology Journal, o trabalho teve impacto importante na comunidade científica internacional e foi considerado “artigo altamente acessado” pelo periódico. A publicação foi feita em fevereiro e, em abril, os editores já comemoraram a marca de 1,6 mil downloads contabilizados.

O fato de reunir em um mesmo estudo dados de fisiologia, genômica funcional e produção é o que explica o alto nível de interesse despertado pelo estudo, de acordo com a autora principal do trabalho, Glaucia Mendes de Souza, professora do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do BIOEN-FAPESP.

“Pela primeira vez um artigo reúne o conhecimento sobre fisiologia e genômica aos dados tecnológicos relacionados a cultivares de cana-de-açúcar voltados para a produção de bioenergia. Várias empresas de biotecnologia estão iniciando programas de melhoramento da planta e há um interesse muito grande da indústria em trazer biotecnologia para a cana-de-açúcar”, disse Souza à Agência FAPESP.

Os outros autores do artigo são Alessandro Waclawovsk, Paloma Sato, Carolina Lembke – todos do Departamento de Bioquímica do IQ-USP – e Paul Moore, do Centro de Pesquisa em Agricultura do Havaí (Estados Unidos).

Segundo ela, o estudo trata da chamada “cana-energia”, que não precisa necessariamente ter grande quantidade de açúcar, mas sim muita biomassa – o que corresponde a muita produtividade.

De acordo com Souza, além de uma revisão sobre o tema, o artigo também agrega dados novos obtidos em um projeto, que faz parte do BIOEN, e é realizado em cooperação com o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar (PMGCA) da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro (Ridesa).

A Ridesa é colaboradora do Projeto Temático Sinalização e redes regulatórias da cana-de-açúcar, iniciado em 2008 com coordenação de Souza e financiamento da FAPESP.

“Todo esse trabalho teve base em estudos anteriores relacionados à cana-de-açúcar para produção de bioenergia, que também se dedicavam a avaliar o potencial de rendimento e a regulação do teor de sacarose da planta”, disse.

Esses primeiros estudos sobre o tema tiveram início a partir de uma colaboração entre o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e as pesquisas do projeto Transcriptoma da cana-de-açúcar, financiado pela FAPESP no Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE).

Potencial de rendimento
“Hoje, temos plantações que rendem 80 toneladas por hectare em média, mas estima-se que o máximo teórico de rendimento chegue a 380 toneladas por hectare. Fala-se muito em melhoramento, mas era preciso quantificar o potencial dessa cultura. Nossa pergunta era: o quanto podemos realmente melhorar a cana-de-açúcar?”, explicou Souza.

O estudo anterior, no entanto, abordava os genes associados ao teor de sacarose da cana-de-açúcar, mas não incluía dados sobre cultivares comerciais, limitando-se a dados sobre clones de progênies, sem variabilidade genética.

“O novo trabalho considera o cálculo de potencial de rendimento, mas traz também a confirmação de que os genes associados ao teor de sacarose estavam alterados em cultivares comerciais. O estudo apresenta a análise de genes associados à produtividade e apresenta dados fisiológicos dos cultivares para mostrar que a planta de alto rendimento acumula sacarose mais cedo no decorrer do ano”, disse.

O artigo Sugarcane for bioenergy production: an assessment of yield and regulation of sucrose content , de Glaucia Mendes de Souza e outros, pode ser lido por assinantes da Plant Biotechnology Journal em http://onlinelibrary.wiley.com .
A intensificação do debate sobre a sustentabilidade da produção de etanol mundo afora, e a conseqüente criação de mecanismos de monitoramento pelos setores público e privado nos Estados Unidos e na Europa, não estão impedindo usinas brasileiras flagradas com irregularidades sociais e ambientais de exportarem o combustível para o exterior. Levantamento da Repórter Brasil sobre dados da safra 2010/11 indicam que restrições socioambientais por parte dos importadores estrangeiros ainda passam ao largo do mercado do etanol. Como apontado no estudo, mesmo nos casos em que o importador alega ter realizado uma avaliação socioambiental do fornecedor, há falta de transparência e os critérios utilizados não são plenamente divulgados.

Entre 2009 e 2010, as exportações brasileiras de etanol caíram 42,4%, para 1,5 milhão de toneladas, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Brasil. Em 2011, a expectativa é que haja novo decréscimo. O recuo é justificado por um conjunto de motivos, como a redução da disponibilidade do produto para exportação, causada pelo aumento do consumo de etanol no mercado interno e o maior uso da cana para fabricação de açúcar, além dos persistentes efeitos da crise financeira internacional nos Estados Unidos e na Europa, que contiveram a demanda por combustíveis importados.

O governo e o setor privado brasileiro, porém, avaliam que a queda é conjuntural e apostam que o país pode se tornar um importante exportador a médio prazo. Em 2010, a Petrobras obteve a licença ambiental para iniciar a construção de um alcoolduto que ligará regiões produtoras de Minas Gerais e São Paulo ao porto de Santos. As obras devem começar no segundo semestre de 2011. Isso significa que, se hoje a exportação de etanol é um dos vetores que menos influenciam a expansão dos canaviais pelo país, e conseqüentemente, os impactos socioambientais causados por eles, no futuro sua importância será maior.

Leia o estudo na sua íntegra aqui

Manter palha da cana na superfície das plantações diminui emissões do solo

Data: 17/05/2011 10:06
Por: Redação TN / Elton Alisson, Agência Fapesp

Além de contribuir para a diminuição da erosão, a manutenção da palha da cana-de-açúcar na superfície de plantações que adotam o sistema de colheita mecanizada – a chamada cana crua ou verde – contribui significativamente para a redução das emissões de carbono do solo para a atmosfera na forma de gás carbônico. A descoberta, feita por pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Jaboticabal, foi apresentada no Workshop do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

O evento, que ocorreu nos dias 11 e 12 de maio, foi destinado aos coordenadores, pesquisadores principais, colaboradores associados e estudantes de cada um dos 17 projetos atualmente apoiados pelo PFPMCG e equipes de projetos apoiados pelos programas FAPESP-BIOEN e BIOTA-FAPESP.

Por meio do projeto de pesquisa “Impact of management practices on soil CO2 emission in sugarcane production areas, southern Brazil”, apoiado pela FAPESP, os pesquisadores da Unesp realizaram entre 2008 e 2010 quatro estudos de campo em lavouras de cana-de-açúcar, após a colheita mecanizada e por queimada na região de Jaboticabal, para entender melhor o balanço de emissões de gases de efeito estufa em áreas de plantação canavieira.

Os estudos de campo e os testes em laboratório com amostras de solo demonstraram que os valores médios de emissão de carbono do solo de áreas cuja colheita da cana foi realizada pelo sistema mecanizado foram significativamente menores do que aqueles onde a cultura foi colhida pelo sistema de queima, em que se elimina a palha.

Em um experimento realizado ao longo de 50 dias em uma plantação que foi dividida em três áreas – sendo uma coberta por 50% de palha, a segunda por 100% do resíduo e a terceira sem palha –, os pesquisadores observaram que as áreas cobertas por palha emitiram 400 quilos a menos de carbono (correspondente a quase 1,5 mil quilos de gás carbônico) do que as áreas onde a palha foi retirada.

“A retirada da palha da superfície de plantações de cana-de-açúcar causa emissões adicionais de carbono bastante significativas. Em um agrossistema que emite, no total, 3 mil quilos de dióxido de carbono, o aumento de mais 1,5 mil quilos do gás pela simples retirada da palha representa muito, e o solo seria a maior fonte de emissão”, disse o professor da Unesp e coordenador do projeto, Newton la Scala Júnior, à Agência FAPESP.

Segundo o pesquisador, que é membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais, uma das hipóteses para explicar por que a palha da cana-de-açúcar contribui para diminuir as emissões e reter o carbono do solo é que sua presença interfere nos ciclos de temperatura e umidade. Isso faz com que a temperatura no interior do solo caia e a umidade aumente, diminuindo a oxigenação e conservando a matéria orgânica no interior do solo.

Consequentemente, a umidade, a temperatura e as emissões de carbono em solos cobertos por palha costumam ser mais uniformes, enquanto nos solos sem palha as emissões variam mais, conforme demonstrou o experimento em campo. No experimento, a plantação de cana-de-açúcar foi dividida em três áreas com diferentes níveis de cobertura de palha e foram espalhados anéis de PVC em diferentes pontos para medir as emissões.

“Nas áreas de cana crua, onde havia palha sobre a superfície, o solo apresentou uma clara uniformidade de emissão de carbono. Já nas áreas de cana queimada foi observada maior variabilidade nos índices de emissão”, disse Scala.

De acordo com o pesquisador, era sabido que preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar, em que se faz uma intensa aração do terreno onde a cultivar será plantada, acelera muito as emissões de carbono do solo para a atmosfera. Mas não se sabia que a simples remoção da palha da superfície do solo também provocava emissões tão altas quanto as induzidas pelo preparo.

“No início do projeto, não achávamos que a magnitude da emissão seria tão grande”, disse Scala. Em plantações de cana-de-açúcar em que a colheita é feita da maneira mecanizada, de acordo com cálculos do pesquisador, a produção de palha pode chegar a 15 toneladas por hectare.

Algumas das alternativas de uso desse resíduo do cultivo da cana que estão sendo estudadas são utilizá-lo para produzir energia, usá-lo como matéria-prima para o etanol de segunda geração ou na alimentação animal. Mas, para os pesquisadores, a melhor utilidade seria mantê-lo mesmo sobre a superfície do solo dos canaviais, devido aos seus impactos no balanço geral de emissão de gases de efeito estufa no agrossistema canavieiro.

“É preciso tomar um certo cuidado com a remoção da palha porque, definitivamente, ela pode causar emissões adicionais de carbono do solo. E isso é algo que nos preocupa bastante”, disse

Exploração de trabalho contamina produção de etanol

Publicado em fevereiro 22, 2011 por HC

Trabalhadores recebem por produção, o que leva muitos a morrerem de exaustão
Estudo revela as condições das famílias dos camponeses responsáveis pelo corte da cana-de-açúcar

Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP identificou os efeitos que a migração sazonal de camponeses do Vale do Jequitinhonha – para o corte de cana-de-açúcar e produção de açúcar e etanol – causa nas famílias desta localidade, considerada uma das mais pobres do país.

O estudo faz parte da tese de doutorado da geógrafa Lúcia Cavalieri e levou cinco anos para ser concluído. A pesquisa de campo, que coletou dados durante quatro meses, foi realizada em duas comunidades rurais: Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor, ambas localizadas no município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.

Segundo dados do estudo, apenas em 2007, cerca de 7.000 homens da região de Araçuaí, deixaram sua família e sua terra e migraram para cortar cana na produção industrial do açúcar e do álcool no interior do estado de São Paulo. De acordo com a pesquisadora, o estudo, além de ser um importante para o campesinato brasileiro, evidencia o outro viés da produção de etanol e de açúcar.“Além dos homens fazerem um trabalho degradante nas plantações de cana-de-açúcar, eles também ficam cerca de nove meses longe de suas famílias. Isso causa grande desgaste emocional e desestruturação familiar. Esse é o custo que uma parcela das famílias brasileiras paga para obtermos a, equivocadamente chamada, energia limpa proveniente do etanol da cana-de-açúcar”, infere Lúcia.

Famílias

O pesar não é apenas dos bóias-frias que partem. “As mulheres são as que mais sofrem neste processo”, afirma a pesquisadora, “são mulheres fortes, que trabalham na terra, exercem atividades domésticas e que ainda são responsáveis por conceder aos serviços básicos e de educação. Contudo, sentem a ausência das relações familiares e dos maridos, que passam ao menos nove meses longe”.

Contudo, estas famílias ainda permanecem nos seus municípios de origem, mantendo uma migração temporária. Este aspecto peculiar, segundo a pesquisadora, deve-se às comunidades possuírem uma identidade muito forte e um sentimento de pertencimento àquela porção de terra e àquele modo de vida. “O dia a dia e o tratar da terra faz muito sentido. Mais sentido do que a vida fora da comunidade”.

Usinas de etanol
Os baixos salários pagos pelas usinas de processamento de cana-de-açúcar aos cortadores influi diretamente na qualidade de vida destes. “Por receberem por produção (toneladas/dia) e não por horas de trabalho, muitos cortadores morrem por exaustão, no intuito de auferir um pouco mais de renda à família”, expõe a pesquisadora.

Segundo ela, o argumento ambiental não pode prevalecer sobre os aspectos sociais. “Enquanto as usinas recebem incentivos governamentais para a produção de etanol, em grandes porções de terras, as famílias dos cortadores, continuam em situação econômica e social precárias”, conclui.

Biocombustível de levedura

28/12/2010
Agência FAPESP – Um grupo internacional de cientistas anunciou ter conseguido obter geneticamente uma nova linhagem de levedura que se mostrou capaz de produzir etanol a partir do uso de mais tipos de açúcares de plantas.

Para produzir comercialmente combustíveis como o etanol, que no Brasil é derivado da cana-de-açúcar, microrganismos devem ser capazes de fermentar sacarídeos encontrados em vegetais, como glicose, xilose ou celobiose. O problema é que a maioria dos micróbios não consegue converter todos esses açúcares em combustível que possa ser produzido em escala.

No novo estudo, Yong-Su Jin, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, e colegas, expandiram a capacidade natural da levedura Saccharomyces cerevisiae de fermentar glicose ao modificar geneticamente o fungo – que também é usado na produção de pão e cerveja – para que se tornasse capaz de transportar proteínas de outro tipo de levedura, a Pichia stipitis.

Embora as duas leveduras sejam da mesma família, apenas a Pichia stipitis é capaz de fermentar a xilose, açúcar derivado de madeiras e associado à celulose.

A linhagem de levedura resultante se mostrou capaz de fermentar os três açúcares – glicose, xilose e celobiose – e, segundo a pesquisa, que será publicada esta semana no site da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, com a produção de muito mais etanol do que as linhagens naturais.

A levedura modificada também superou um problema de linhagens obtidas em pesquisas anteriores, que fermentavam açúcares pobremente mesmo na presença de glicose abundante. Segundo os autores da nova pesquisa, os resultados deverão ajudar no desenvolvimento de biocombustíveis avançados feitos a partir de matéria orgânica.

O artigo Engineered Saccharomyces cerevisiae capable of simultaneous cellobiose and xylose fermentation (doi/10.1073/pnas.1010456108), de Yong-Su Jin e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.1010456108.

Inspeção: multa vai financiar ''ônibus verde''

22 de dezembro de 2010
0h 00
Renato Machado - O Estado de S.Paulo

A Prefeitura vai repassar R$ 520 mil por mês para o consórcio de transporte coletivo que está investindo em ônibus movidos a etanol - combustível menos poluente. Esse será o primeiro uso dos recursos das multas aplicadas pela falta de inspeção veicular, desde que começaram a ser utilizados radares para flagrar os infratores, no dia 6.

O valor corresponde a um acréscimo no contrato com o consórcio Unisul (que opera na zona sul) de R$ 0,02 por passageiro transportado a partir de abril de 2011. Essa quantia deve subsidiar a operação de 50 ônibus a etanol, que devem começar a circular na cidade em maio. Esses veículos emitem 80% menos gases responsáveis pelo aquecimento global em comparação com os que usam diesel como combustível.

Os recursos para o subsídio sairá do Fundo Especial de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. O chamado Fundo Verde deve receber toda arrecadação com multas da inspeção veicular. No entanto, não havia recursos a serem destinados, uma vez que a fiscalização da regra era praticamente inexistente - era feita apenas durante esporádicas blitze conjuntas da Polícia Militar e Secretaria do Verde e Meio Ambiente. O valor da multa é de R$ 550.

A Secretaria dos Transportes afirma que os repasses não são para subsidiar a compra dos veículos (de responsabilidade do próprio consórcio) e sim para custear a operação com o etanol, mais cara. A meta da Prefeitura é que toda a frota utilize combustíveis renováveis até 2018, como prevê a Lei de Mudanças Climáticas. Para isso, calcula ser preciso trocar a matriz energética de 10% da frota a cada ano.

Coca-Cola comemora os primeiros resulta dos de sua PlantBottle

Lançada em março deste ano, a PlantBottle é a primeira garrafa tipo PET do mundo feita parcialmente de etanol de cana.

Surpresa geral. Em apenas duas palavras, foi esse o efeito causado pela Coca-Cola Brasil com o lançamento pioneiro da PlantBottle na América Latina. Feita de PET no qual o etanol da cana-de-açúcar substitui parte do petróleo utilizado como insumo, a embalagem reduz a dependência da empresa em relação a recursos não renováveis e diminui em até 25% as emissões de CO2. A expectativa é que, já neste ano, a produção inicial das garrafas PlantBottle resulte na redução de uso de mais de 5 mil barris de petróleo.

O desenvolvimento da tecnologia para a embalagem foi liderado pela The Coca-Cola Company, em Atlanta, e começou há três anos. "Ao substituir parte do petróleo usado na fabricação do PET por etanol de cana-de-açúcar, um recurso absolutamente renovável e abundante no Brasil, a Coca-Cola inaugura uma nova era para as embalagens plásticas e fomenta a geração de empregos no país com a modernização do setor sucro-alcooleiro nacional", destaca Rino Abbondi, vicepresidente de Técnica e Logística da Coca-Cola Brasil. A cana-de-açúcar utilizada para produzir a PlantBottle provém de fornecedores auditados que operam essencialmente com irrigação natural (chuva) e colheita mecânica.

A inovação

Sem nenhuma alteração em suas propriedades químicas, cor, peso ou aparência em relação ao PET convencional, a PlantBottle é 100% reciclável e entrou, desde sua chegada, na cadeia de reaproveitamento de materiais já existente no país. A garrafa começou a ser comercializada em abril, nas embalagens de Coca-Cola de 500 ml e 600 ml, no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Recife e Porto Alegre.

Segundo Abbondi, atualmente, a PlantBottle está sendo comercializada em dez cidades e, em 2011, deverá ser expandida para todo o país, sempre com foco nos tamanhos 500 ml e 600 ml. A meta da empresa é, até 2014, ter 100% de suas garrafas PET no Brasil
fabricadas na versão PlantBottle.

Para saber mais: www.cocacolabrasil.com.br

Scania participa de fórum sueco-brasileiro com foco em desenvolvimento urbano sustentável

Entre os dias 6 e 10 de dezembro, as capitais Recife, Salvador e Fortaleza sediam o SymbioCity, fórum promovido pela embaixada da Suécia e pelo Conselho de Comércio Exterior da Suécia no Brasil. O evento promove debates e discussões sobre conceitos de sustentabilidade urbana.

A Scania participará do evento apresentando suas soluções para o transporte sustentável em grandes centros urbanos incluindo os ônibus movidos a etanol e os chassis para uso em operações BRT - Bus Rapid Transit.

Os ônibus a etanol Scania são equipados com motores de 9 litros e 270 cavalos de potência que são abastecidos com combustível renovável bioetanol, hidratado com 5% de aditivo promovedor de ignição (ED95) que atende às exigências européias de emissão de poluentes EURO 5, que entrará em vigor no Brasil apenas em 2012, e o EEV (Enhanced Environmentally Friendly Vehicles), norma obrigatória em países da União Europeia. O Etanol é um combustível ideal para aplicação no Brasil, com matéria-prima abundante, elevada capacidade produtiva, além da facilidade de manuseio e armazenamento.

A Scania tem larga experiência na utilização do etanol como combustível renovável, adquirida há mais de 20 anos com veículos em circulação na Europa. Esta experiência e a disponibilidade da tecnologia em escala comercial foram os motivadores do acordo assinado dia 25 de novembro em São Paulo entre a empresa, a Prefeitura, a Única - União da Indústria de Cana de Açúcar, a Cosan e a Metropolitana, operadora de transportes com sede em Recife, que também opera no sistema urbano de São Paulo - Capital, para o fornecimento de 50 veículos.

O evento SymbioCity acontece este ano estrategicamente na região nordeste, um dos principais pólos de desenvolvimento do Brasil, com grande perspectiva de crescimento em infraestrutura fundamentada não só pelos programas de incentivo de todas as instâncias de governo - federal, estadual e municipal, como também por eventos como a Copa do Mundo.

Por isso, além dos ônibus a etanol, a Scania também trabalha com a solução BRT, um sistema integrado de transporte baseado na alta capacidade de passageiros, ideal para promover a mobilidade em grandes centros e atender eventos de grande porte como a Copa do Mundo. Entre as vantagens do BRT estão a rapidez, o conforto, confiabilidade e, principalmente, a redução nas emissões de poluentes.

"Para a Scania o etanol é entre as tecnologias voltadas ao transporte sustentável a que possui melhores perspectivas para implementação e obtenção de resultados imediatos para diminuir o nível de emissões, podendo chegar a 90% de redução no caso do CO². Acreditamos no etanol e em outras alternativas, como o BRT, ambos excelentes soluções não apenas por suas qualidades ambientais, mas também pela sua viabilidade em relação à disponibilidade e implementação." afirma Sven Antonsson, presidente da Scania Latin América.

A linha completa de chassis para ônibus Scania oferece produtos destinados a aplicações urbanas, intermunicipais e rodoviárias. Os veículos Scania são conhecidos mundialmente pela sua performance, confiabilidade e economia operacional. Para o uso em operações de BRT a Scania oferece chassis para veículo de 12 metros 4x2, o exclusivo chassis de 15 metros com 3º eixo direcional e duas opções para ônibus articulados: o modelo tradicional com 18,6 metros e o também exclusivo com 20,3 metros com 4 eixos, com capacidade para 190 passageiros.

Agrenco segue no Brasil após falência na Holanda

Ribeirão Preto
- A decisão da Justiça da Holanda em decretar a falência da Agrenco Netherlands (NV) não irá afetar as operações e nem mesmo a governança do braço da Agrenco Limited no Brasil, informaram ontem os administradores judiciais da companhia no País, por meio de um comunicado. Segundo comunicado divulgado pela Agrenco Administração de Bens AS, a recuperação judicial da companhia no Brasil segue em seu processo normal e a operação prevista de produção de farelo de soja e biodiesel de Alto Araguaia (MT) e Caarapó (MS) "continuará evoluindo na forma prevista no Plano de Recuperação Judicial, com o necessário suporte dos bancos credores".

A falência da Agrenco Netherlands (NV) não irá afetar as operações do braço da Agrenco Limited no Brasil, informaram os administradores judiciais da companhia no País.

Abrir caminho para o etanol

29/11/2010
Agência FAPESP – “A biomassa é, de longe, a mais viável fonte sustentável de combustíveis líquidos que, por sua vez, continuarão a ser necessários por muito tempo, se não indefinidamente.” A afirmação é de uma carta publicada na edição atual da revista Science, de autoria de Lee Lynd, professor da Thayer School of Engineering do Dartmouth College, e de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e professor titular da Universidade Estadual de Campinas.

O texto é uma resposta a reportagem publicada pela mesma revista em sua edição de 13 de agosto, em seção especial sobre energias alternativas. De autoria do jornalista Robert Service, a reportagem identifica fatores que contribuiriam para a eventual queda do entusiasmo nos Estados Unidos com relação ao etanol celulósico e observa que decisões políticas adotadas este ano poderão moldar a nascente indústria de biocombustíveis no país por décadas.

“O principal plano do governo dos Estados Unidos para reduzir sua dependência do petróleo com a produção comercial do etanol celulósico corre grande perigo, o que ressalta as complexas forças técnicas, econômicas e políticas que se contrapõem aos esforços globais para criar alternativas viáveis aos combustíveis fósseis”, disse Service.

Para Brito Cruz e Lynd, é importante que seja feita a distinção entre “o fundamental e o efêmero” e que as políticas tenham como base o que realmente importa, não circunstâncias momentâneas.

O primeiro ponto, segundo eles, é que combustíveis líquidos continuarão muito requisitados, mesmo em cenário de adoção em massa de alternativas como a eletricidade, por exemplo.

Resultados além das fronteiras

26/11/2010
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP –
Estudos feitos no Brasil sobre os impactos ambientais e socioeconômicos da produção de etanol de cana-de-açúcar têm mostrado a eficiência do biocombustível nacional. Mas, para que as pesquisas tenham de fato impacto positivo na competitividade da indústria nacional, é preciso aumentar o número de artigos publicados em revistas internacionais de alto impacto.

A avaliação foi feita por representantes da indústria sucroalcooleira nesta quinta-feira (25/11), durante o Workshop on Environmental, Social and Economic Impacts of Biofuels, realizado pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e pela Bio-based Ecologically Balanced Sustainable Industrial Chemistry (BeBasic) – programa de pesquisas financiado pelo governo da Holanda e voltado para o desenvolvimento de bioquímicos, biomateriais e biocombustíveis.

O workshop teve o objetivo de discutir tópicos relacionados aos impactos da produção e do uso de biocombustíveis, a fim de definir temas e questões que poderão ser estudados em conjunto pelo BIOEN e a Be-Basic.

Luiz Fernando Amaral, assessor de Meio Ambiente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), foi o primeiro palestrante, com o tema “Perspectivas da indústria sobre inovação e impacto dos biocombustíveis”. Segundo ele, os cientistas brasileiros produzem estudos de qualidade sobre os impactos do etanol, mas precisam publicar mais em revistas internacionais de peso.

“É fundamental aumentar a quantidade dos estudos publicados em inglês em revistas científicas internacionais de alto impacto. A indústria se ressente especialmente da falta de publicações de pesquisa primária, com dados básicos, nesse tipo de publicação”, disse Amaral à Agência FAPESP.

Segundo ele, muitos estudos importantes de impactos do etanol têm sido publicados apenas em revistas nacionais, em português. Se não fosse essa limitação, aponta, tais dados poderiam ter impacto direto nas regulamentações e políticas internacionais adotadas para biocombustíveis, refletindo diretamente no mercado.

“Esses dados, muitas vezes, poderiam atestar a eficiência do etanol brasileiro, mostrando seu baixo impacto ambiental e socioeconômico. Mas não podemos utilizá-los nas negociações internacionais porque as publicações só têm abrangência local”, afirmou.

Um exemplo típico são os estudos sobre os estoques de carbono no solo. De acordo com Amaral, a Europa e o Japão fizeram recentemente cálculos de emissões relacionados aos impactos de mudança do uso do solo provocada pelo avanço da cultura de cana-de-açúcar.

Esses dados, provenientes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), deram base para uma avaliação do estoque de carbono existente quando a cana cresce sobre pasto, ou sobre terrenos onde havia outras culturas. “Só que os dados do IPCC não são para a cana-de-açúcar. São dados de culturas perenes e de culturas temporárias – e a cana não se enquadra em nenhuma das duas categorias”, destacou.

Os brasileiros apresentaram, então, segundo Amaral, dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que eram mais próximos da realidade. No entanto, esses estudos não haviam sido publicados em revistas internacionais que utilizam o sistema de revisão por pares.

“Mostramos milhares de mensurações feitas pelo setor privado e os valores eram muito diferentes do que eles haviam utilizado. Mas, como eram dados provenientes da indústria, não foram aceitos, por serem considerados tendenciosos pelos organismos internacionais”, disse.

Segundo Amaral, os estudos feitos pelo CTC posteriormente foram publicados em revistas internacionais e acabaram aceitos. “Esse exemplo é válido para muitas outras situações que enfrentamos. É fundamental publicar em revistas internacionais de impacto. Programas como o BIOEN-FAPESP certamente vão ajudar muito nesse sentido”, disse.

A vez da sustentabilidade
Na abertura do evento, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, ressaltou que os estudos dos impactos ambientais e socioeconômicos dos biocombustíveis são especialmente importantes para São Paulo e para o Brasil.

“O Brasil obteve grandes avanços nas pesquisas sobre biocombustíveis, mas esses esforços estavam concentrados especialmente na questão da produtividade. Alguns avanços foram feitos em sustentabilidade, mas não se dava tanta importância para o tema. Nos últimos anos, considerando-se a quantidade o potencial da produção brasileira, o tema se tornou central”, afirmou.

Luuk van der Wielen, professor do Departamento de Biotecnologia da Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, destacou a importância da colaboração entre o BIOEN e o programa Be-Basic, que ele coordena.

“Na nossa avaliação, se a Holanda quiser se manter entre as 20 maiores economias do mundo, é preciso investir na sustentabilidade econômica e ambiental. Isso só se faz com parcerias internacionais e com ciência. O Brasil, com sua experiência em bioenergia, é um parceiro muito importante nesse sentido. Mas é preciso também levar os avanços do laboratório para a realidade e, por isso, é fundamental entender os impactos sociais e econômicos dos avanços científicos”, disse.

Patricia Osseweijer, da Universidade de Tecnologia de Delft (Holanda), destacou que o interesse pelos impactos socioambientais da bioenergia decorre de uma necessidade estratégica para a Holanda. A parceria com o Brasil será fundamental para esse tipo de pesquisa.

“Está claro que, se quisermos construir uma economia sustentável, vamos precisar mudar. Mas é preciso saber agora o que mudar, como mudar e quem deve promover as mudanças. Por isso é tão importante que a Be-Basic e a FAPESP estejam juntando esforços nos estudos sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos dos biocombustíveis”, disse.

De acordo com Glaucia Mendes de Souza, membro da coordenação do BIOEN-FAPESP, o programa tem procurado aumentar o número de pesquisadores envolvidos com o tema dos biocombustíveis, para que a pesquisa brasileira tenha impacto direto na produção industrial.

“Temos 250 pesquisadores trabalhando em projetos do BIOEN e outros 52 cientistas de 11 países que colaboram com pesquisas em São Paulo. Até agora tivemos um aumento de produção científica muito grande sobre etanol e outros biocombustíveis, mas não avançamos tanto ainda na área de sustentabilidade”, disse a professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP).

Heitor Cantarella, professor do Instituto Agronômico de Campinas e também membro da coordenação do BIOEN, destacou que o workshop foi importante para definir as principais questões ligadas aos impactos ambientais e socioeconômicos dos biocombustíveis e criar uma agenda de ação conjunta entre BIOEN e Be-Basic.

“Queremos estabelecer os pontos de convergência em relação aos impactos dos biocombustíveis, para, a partir dessa avaliação, conceber uma chamada conjunta para propostas de pesquisa. É muito importante para o Brasil aumentar o número dos projetos e das pessoas que trabalham com essa questão dos impactos”, disse.

Boletim do NTU Urbano - Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos

Editorial
Os Sistemas de Transporte Público das cidades brasileiras são altamente dependentes dos ônibus e essa situação ainda perdurará por muito tempo no país. Hoje, cerca de 90% das viagens em transporte coletivo urbano são realizadas por ônibus movidos a diesel.


Em que pese os avanços tecnológicos recentes com a chegada dos motores eletrônicos movidos a um diesel mais limpo, que proporcionam uma redução considerável do volume de emissões, o setor ainda pode avançar muito no campo ambiental.

Disposição é o que não falta às empresas operadoras para se engajarem em programas de proteção ao meio ambiente. Exemplos como o Projeto Despoluir da Confederação

Nacional do Transporte – CNT e o Programa Selo Verde da Federação das Empresas de Transporte do Estado do Rio de Janeiro – FETRANSPOR mostram o avanço da consciência ecológica do setor.

Outras iniciativas, como as experiências com o biodiesel B20 em São Paulo e no Rio de Janeiro, com o biodiesel B100 na Linha Verde em Curitiba, com o gás e o álcool, mostram o interesse das empresas operadoras de ônibus em contribuir para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que venham ao encontro dos anseios da sociedade no que se refere à preservação do meio ambiente.

Entretanto, para que todas essas iniciativas se consolidem como opções viáveis para o setor precisam ser respaldadas por uma política energética clara que traga segurança no médio e longo prazo. Assim, as empresas poderão investir em novas tecnologias.

Em especial, precisamos de uma política de preços de combustíveis no país mais transparente e mais estável, que permita avanços tecnológicos e ambientais sem comprometer o equilíbrio financeiro de um setor que tem seus preços administrados pelo poder público.

Trem bala: insustentável ambientalmente, artigo de Tomás Togni Tarqüinio

ECODEBATE-1 novembro , 2010
Se fosse possível realizar um estudo prospectivo do trem bala à luz da crise ecológica em curso, provavelmente o resultado não seria alentador. A construção de uma linha férrea para Trens de Alta Velocidade (TAV) ligando o Rio de Janeiro a São Paulo, com uma extensão até Campinas, não responde a dois grandes desafios ambientais: o primeiro diz respeito ao esgotamento de recursos naturais não renováveis, no caso o petróleo; o segundo, às mudanças climáticas decorrentes de emissões de gases efeito estufa provenientes do uso de recursos fósseis. Ambas questões estão imbricadas.

Quando se fala em esgotamento do petróleo, isto não significa que o precioso líquido vai desaparecer do planeta de uma hora para outra. Ele existirá ainda por muitos anos, mesmo que seja para fazer velas. Por esgotamento entende-se fim da era do petróleo barato e abundante.

A humanidade está às vésperas de conhecer o pico de produção mundial de petróleo, ponto a partir do qual ela entrará em declino – também conhecido como pico de Hubbert, nome do geólogo americano que previu esse fenômeno nos Estados Unidos, também conhecido como depleção. Há décadas vários especialistas vêm considerando que o pico de produção mundial deverá ocorrer entre 2010 e 2020. Este é alcançado quando a metade da jazida foi extraída, restando no solo a outra metade. Como no caso de qualquer jazida mineral, que dispõe de um estoque inicial fixo, a produção cresce até chegar ao máximo, passa por um pequeno período de estabilidade e depois entra em inevitável depleção (pode ser representada por uma curva de Gauss).

A parte que resta a extrair é aquela que apresenta custos de extração elevados e baixa qualidade, é de difícil acesso e exige tecnologia sofisticada. Os especialistas não são meia dúzia de ambientalistas com vocação para Cassandra. São geólogos competentes que tiveram a pachorra de levantar as reservas em todo mundo, poço por poço. Ora, como o pico da produção é para breve, os efeitos do esgotamento progressivo não serão um problema para as gerações futuras, mas sim para a atual. Quando se fala em petróleo barato, significa dizer que, historicamente, os preços conheceram uma tendência para a baixa, em valores constantes, desde o inicio de sua exploração comercial em grande escala, em meados do século XIX, quando o coronel Drake furou o primeiro poço na Pensilvânia e condicionou o produto em barris de arenque para uso como lume. A produção mundial atual é da ordem de 85 milhões de barris/dia e dificilmente chegará a 100 milhões.

Braskem inaugura fábrica pioneira no RS

Data: 27/09/2010 23:45
Por: Redação TN / Assessoria de imprensa

A Braskem inaugurou na última sexta-feira (24/9), no Pólo Petroquímico de Triunfo (RS), a primeira planta industrial de eteno verde da companhia. A unidade é capaz de produzir 200 mil toneladas anuais do produto, que deverão ser transformadas em volume equivalente de polietileno verde (plástico verde). Com a nova unidade, a primeira do mundo a produzir o eteno em escala industrial a partir de matéria-prima 100% renovável (cana de açúcar), a Braskem consumirá 570 milhões de litros de etanol nas plantas que a empresa possui no Rio Grande do Sul. Ao todo foram investidos cerca de R$ 500 milhões no projeto, desenvolvido por meio de tecnologia própria da companhia.

O plástico verde retira até 2,5 toneladas de carbono da atmosfera para cada tonelada produzida de polietileno desde a origem da matéria-prima. "Essa planta de polietileno verde contribuirá para a redução das emissões de gases-estufa no ciclo produtivo. Ou seja, a emissão não é reduzida dentro da própria Braskem, mas devido a captura de CO2 que acontece na cana-de-açúcar, que depois é transformada em produto termoplástico", explicou Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da petroquímica.

Segundo ele, a fábrica de eteno verde da Braskem evitará a emissão de 500 mil toneladas de gases-estufa na atmosfera. Segundo Soto, a Braskem emite em torno de 7,3 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE) por ano, das quais 95% são provenientes de consumo de combustíveis para a geração de calor, mas também há emissões decorrentes de produtos como gases refrigerantes e o N2O (óxido nitroso). Em 2009, a companhia reduziu as emissões de GEE em 13,6% em relação ao ano de 2007, quando a empresa passou a medir as emissões de gases-estufa. "A contribuição dessa primeira planta [de eteno verde] representa 500 mil toneladas de redução de emissões", assegurou.

A Braskem produz anualmente mais de 15 milhões de toneladas de resinas termoplásticas e outros produtos petroquímicos. Devido ao interesse demonstrado pelo mercado, a empresa estuda a possibilidade de implantar uma nova unidade de eteno verde no futuro. Entre os interessados estão clientes nacionais e estrangeiros, como Johnson&Johnson, Tetra Pak, Toyota Tsusho, Shiseido, Natura, Acinplas, Procter&Gamble e Petropack. O plástico de origem renovável pode ser aplicado em embalagens de alimentos, produtos destinados à higiene pessoal e limpeza doméstica, brinquedos e outros utensílios.

Processo integra a obtenção de etanol de cana-de-açúcar e biodiesel de dendê

Pesquisadores da USP dizem que produção conjunta de etanol e biodiesel pode reduzir emissões
Proposta para região do Cerrado permitiria produzir mais combustível com menor utilização de insumos

A produção conjunta de etanol e biodiesel, proposta por pesquisadores da USP, tem potencial para reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) e melhorar o balanço energético, produzindo mais combustível a partir de uma quantidade menor de insumos. O modelo sugerido combina a produção de álcool de cana e biocombustível de óleo de dendê na região do Cerrado brasileiro.

Procter & Gamble anuncia plano para usar embalagens inovadoras e mais sustentáveis

Portal Fator Brasil
Empresa fará projeto piloto para o uso de plástico derivado de cana de açúcar do Brasil em marcas líderes.
São Paulo– A Procter & Gamble (NYSE:PG) anunciou no dia 12 de agosto (quinta-feira), planos de usar plástico feito a partir de fonte renovável, derivado da cana de açúcar, em algumas embalagens de suas marcas Pantene Pro-V®, COVERGIRL® e Max Factor®.
O plástico derivado de cana de açúcar representa uma inovação significativa em embalagens sustentáveis, pois é feito a partir de uma fonte renovável, diferentemente do plástico tradicional, que é derivado de petróleo não-renovável. Este novo material é feito por meio de um processo inovador, que transforma a cana de açúcar em plástico polietileno de alta densidade (HDPE), um tipo comumente usado para embalar produtos. A embalagem derivada de cana de açúcar permanece sendo 100% reciclável. "O compromisso da P&G em usar plástico derivado de fontes renováveis nas embalagens de seus produtos de beleza e cuidados com o barbear é um passo importante em direção ao objetivo de melhorar o perfil ambiental de seus produtos”, afirma o Dr. Jason Clay, Vice Presidente Senior do World Wildlife Fund nos Estados Unidos. "Nós aplaudimos este anúncio como parte da liderança da P&G em encontrar soluções inovadoras aos desafios de Sustentabilidade que o mundo enfrenta hoje.”

Biólogo no IPCC >>> Agencia Fapesp

23/6/2010

Agência FAPESP * – Nos próximos dias será anunciada a lista de autores principais do quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que será publicado em 2014. Cerca de 300 cientistas de todo o mundo foram escolhidos, entre mais de 1,2 mil candidatos, para reunir e avaliar informações técnicas disponíveis sobre o estado atual das mudanças do clima na Terra. Em meio a inúmeros meteorologistas e climatologistas está um biólogo brasileiro.

Marcos Buckeridge, diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), atuará no Grupo de Trabalho II do IPCC, responsável por abordar impactos, adaptação e vulnerabilidade das mudanças climáticas. Ele será um dos redatores do capítulo que tratará desta temática na América do Sul e Central.

O professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e editor do livro Biologia e Mudanças Climáticas no Brasil explica de que forma o seu trabalho pode colaborar para uma análise climática mais ampla.

“Sempre achei que o IPCC deveria contemplar melhor o ‘olhar do biólogo’. Quais são os eventos que ocorrem em escala micro, dentro da célula de uma planta por exemplo, que podem interferir nos acontecimentos da atmosfera terrestre? Biólogos podem ajudar a modelar ambientes como o interior da célula de um vegetal e identificar quais fatores ali são determinantes para as mudanças climáticas globais”, disse.

Segundo Buckeridge, dois trabalhos podem ter contribuído para a sua indicação ao IPCC. Um deles foi o estudo da bioenergética de plântulas, iniciado em 1999, que visa a compreender os processos metabólicos que tornam possível a vida celular de uma planta (do ponto de vista energético) nos seus primeiros dias de vida. Tal conhecimento permite melhorar as estratégias atuais de recuperação de florestas. Essa pesquisa foi essencial à especialização do pesquisador em parede celular de plantas, tema relevante à bioenergia.

O outro trabalho foca na resposta de plantas como a cana-de-açúcar a climas com alto teor de gás carbônico. A equipe de Buckeridge descobriu que a cana é beneficiada com as mudanças climáticas, pois aumenta consideravelmente sua taxa de fotossíntese e produção de biomassa.

Em 2007, 12 cientistas brasileiros participaram diretamente da elaboração do relatório do IPCC, oito deles como autores principais.

O Primeiro Relatório de Avaliação (AR1, na sigla em inglês) do IPCC foi publicado em 1990. Sua última versão (AR4), divulgada em 2007, teve grande repercussão mundial. É que os cientistas que o preparam foram taxativos ao afirmar que indícios substanciais apontam o ser humano como o principal causador de mudanças no clima, com sérias consequências ao planeta.

O próximo relatório do IPCC está em fase de preparação inicial. Países afiliados à ONU indicaram pesquisadores para compor o quadro de autores principais do relatório.

Três esboços gerais serão produzidos e revisados tecnicamente até que o relatório seja submetido à revisão e avaliação de especialistas dos governos participantes do IPCC. Buckeridge participou desta etapa no último relatório publicado. Após acertos finais, o documento oficial será divulgado em 2014.

Com Luiz Paulo Juttel, do CTBE

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