Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Fundo Amazônia distribui recursos para projetos sustentável


Rondônia é um dos estados favorecidos; cooperativa de Ji-Paraná receberá R$ 3 milhões

Brasília – Um ano após parceria firmada na Rio+20 para operacionalizar recursos do Fundo Amazônia, a Fundação Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) firmaram hoje (19), no Palácio do Planalto, os primeiros convênios com entidades da sociedade civil para a execução de projetos. O Fundo Amazônia capta doações para investimentos não reembolsáveis em projetos que auxiliem na proteção, conservação e no uso sustentável das florestas no Bioma Amazônia.


Ao todo, foram formalizados 18 projetos, no valor de R$ 15,4 milhões, em oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Mato Grosso e Tocantins. Entre os beneficiados estão agricultores familiares, extrativistas e povos indígenas. Participaram da cerimônia os ministros Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, e Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República.

Segundo o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge Streit, a meta é aplicar R$ 100 milhões em projetos sustentáveis na Amazônia até 2016. Streit aponta a dificuldade para conseguir licença ambiental como um dos principais gargalos para a obtenção de recursos pelas associações. Para tentar resolver o problema, a fundação está abrindo um escritório em Manaus para atender a toda a região, com engenheiros ambientais e especialistas que vão assessorar as entidades na elaboração dos projetos.


“Algumas vezes, os projetos não atendem a requisitos técnicos, e as associações tentam fazer ao seu modo. Em outros casos, elas [associações] não têm internet. O escritório vai ajudar associações de toda a região a resolver problemas no projeto e obter informações sobre licenciamento mais facilmente nos próprios estados”, disse Streit à Agência Brasil.


Patxon Metuktire, do Instituto Raoni, que teve um projeto de aproximadamente R$ 1 milhão aprovado na área de extrativismo para a produção sustentável de artesanato, além de pequi, mel e óleo de copaíba em Mato Grosso, explicou que o projeto pretende capacitar e gerar renda própria para cerca de cinco etnias, com aproximadamente 5 mil índios no estado. Para ele, no entanto, o objetivo do Fundo Amazônia deve ser maior.


“É preciso fortalecer o fundo para que ele possa, na prática, preservar a floresta e, principalmente, os rios. Queremos proporcionar renda à nossa população para não permitir, por exemplo, a entrada de madeireiros, que derrubam a floresta ilegalmente”, disse Patxon.


A Cooperativa de Produtores Rurais Organizados para Ajuda Mútua (Coocaram) de Ji-Paraná, em Rondônia, que comercializa café e guaraná, tem 336 cooperados e receberá R$ 3 milhões para compra de veículos, equipamentos, construção de terreiros de secagem, assistência técnica, marketing e capacitações. Com os recursos, eles também vão trabalhar com castanha do Brasil, em parceria com povos indígenas e seringueiros.


“Com os recursos do fundo vamos consolidar a proposta do café orgânico na Amazônia ou do café sombreado, como é mais conhecido aqui. Vamos trabalhar as especificações, estruturar as cadeias produtivas e consolidar no mercado, além de levar o nome da Amazônia e do agricultor familiar para todos os países”, disse Leandro Dias Martins, gerente comercial da Coocaram, que desde 2010 exporta café para a Alemanha e a Itália.


A escolha dos projetos pela parceria do Fundação Banco do Brasil com o BNDES foi feita por seleção pública. O principal requisito é a comprovação de sustentabilidade por meio da licença ambiental. Os projetos têm prazo de execução definidos e são acompanhados pelo Fundo Amazônia, que tem entre suas principais fontes de recursos o governo da Noruega, o Banco de Desenvolvimento da Alemanha e a Petrobras.

Coca revê politica de marketing para crianças....lá fora.

Coca-Cola deixa de anunciar para crianças Decisão de não anunciar mais para menores de 12 anos de idade vem acompanhada de outras três medidas que buscam combater a obesidade e preservar a saúde financeira da marca
09 de Maio de 2013 • 09:15

Coca-Cola busca estimular hábitos mais saudáveis Crédito: Divulgação Reduzir ou até mesmo eliminar as calorias de suas bebidas, estampar as informações nutricionais dos produtos na frente das embalagens, incentivar a prática de exercícios físicos e não direcionar mais as suas mensagens publicitárias a crianças com menos de 12 anos de idade.
Essas são as novas diretrizes da maior empresa de refrigerantes do mundo para afastar a associação da Coca-Cola com problemas ligados à obesidade e reverter a trajetória de queda nas vendas, já sinalizada em alguns países. As novas determinações foram anunciadas nesta quarta-feira 8, como parte das comemorações dos 127 anos de criação da Coca-Cola, e valem para os 200 países onde a marca está presente. “A obesidade é hoje a ameaça de saúde mais desafiadora entre as famílias de todo o mundo. Estamos comprometidos em trabalhar de uma forma cada vez mais próxima com os nossos parceiros de negócios, governantes e da sociedade para fazer parte da solução”, declara Muhtar Kent, presidente mundial da Coca-Cola, em nota.

A decisão da companhia de disseminar programas capazes de estimular hábitos mais saudáveis já tem o apoio de autoridades, como o governador da Georgia, Nathan Deal, e o prefeito da cidade de Atlanta (sede da Coca-Cola), Kasim Reed, que participam do lançamento de uma série de ações criadas para engajar a população local, a exemplo de outras parcerias já firmadas em Chicago, Londres, entre outras localidades. A iniciativa da Coca-Cola reflete uma antecipação ao projeto de lei 5.921/01, que há mais de dez anos tenta proibir a publicidade voltada para crianças até 12 anos de idade no Brasil.

Hoje em tramitação na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, o texto de autoria do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) aguarda um novo parecer do atual relator, o deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP), ainda sem previsão para ocorrer. A postura da marca – que recentemente trocou ursos-polares e sorrisos pelo conceito "Be Ok" (ou "Fique bem") em recente campanha lançada nos Estados Unidos – contrasta ainda com o posicionamento do governo de São Paulo, que em janeiro vetou o projeto de lei 193/08, que buscava impedir a veiculação de anúncios de alimentos e bebidas "pobres em nutrientes, com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio" no rádio e na TV, entre 6 e 21 horas, além de tentar proibir também o uso de personagens e celebridades infantis.

Em março, foi a vez do PL 1.096/11, que buscava proibir a venda de alimentos acompanhados de brindes ou brinquedos em todo o Estado de São Paulo, ser barrado sob a alegação de “inconstitucionalidade e na falta de competência do Estado de legislar sobre a propaganda comercial”. Órgãos de defesa do consumidor, como o Instituto Alana, se mobilizam cada vez mais para atrair o apoio à projetos de lei capazes de impor limites à publicidade infantil, enquanto representantes da indústria da comunicação, como Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap), Associação Brasileira de Anunciantes (Aba) e Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) defendem a bandeira da liberdade de expressão e a responsabilidade na criação das mensagens para continuar desenvolvendo campanhas dirigidas às crianças.

Leia Mais: http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/noticias/2013/05/09/Coca-Cola-deixa-de-anunciar-para-criancas#ixzz2Su8lgmsV

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Acre terá private equity para reflorestamento

O governo do Acre pretende inovar na forma de captação de recursos para financiar projetos de reflorestamento. O Estado quer atrair investidores para um fundo de "private equity", que compra participações em empresas, no valor de US$ 60 milhões. Os recursos captados serão investidos no plantio de florestas em áreas detidas por pequenos e médios produtores locais. Eles devem se tornar sócios dos cotistas do fundo na empresa que será constituída para realizar os investimentos.

Será a primeira vez que um governo estadual participa da criação de um fundo de participações. A ideia é replicar o modelo de fundos como o Vale Florestar, que possui R$ 605 milhões em patrimônio e tem como principais cotistas a mineradora Vale, o BNDES e os fundos de pensão Petros, dos funcionários da Petrobras, e Funcef, da Caixa Econômica Federal.

O próprio governo do Acre deve ser um dos principais investidores, com um aporte da ordem de US$ 10 milhões, segundo Fábio Vaz, secretário-adjunto de florestas e indústria do Estado. Os recursos do fundo devem financiar o plantio de uma área de 10 a 12 mil hectares de floresta, afirma. Uma das árvores escolhidas para o reflorestamento será o paricá, madeira nativa usada como matéria prima para indústrias de laminados.

O formato do fundo e o plano de negócios da empresa que investirá em florestas do Estado devem ser finalizados neste ano. Pelos cálculos do secretário, o investimento possui uma taxa de retorno potencial da ordem de 21%. O governo já entrou em contatos preliminares com investidores, inclusive estrangeiros, que demonstraram interesse no projeto, afirma Vaz.
Os recursos do private equity se somam a uma linha de crédito de US$ 144 milhões obtida pelo Acre com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para modernizar a gestão ambiental no Estado. Na primeira fase do programa, os recursos financiaram a legalização fundiária e programas para agilizar a concessão de licenças ambientais.

"Foi quando o governo do Acre nos procurou para dizer que não poderiam viver apenas de conservação ambiental", lembra o Eirivelthon Lima, especialista do BID responsável pelo projeto. Com menos recursos naturais do que os demais Estados da região da Amazônia, a alternativa encontrada a partir de um diagnóstico conjunto foi a de criar uma alternativa de renda para as famílias a partir do manejo de madeira de reflorestamento.

Embora seja rentável, a atividade possui retorno apenas no longo prazo, o que a torna inviável para a maioria dos produtores locais, segundo Lima. "A maioria acaba recorrendo à criação de gado, que traz receita de forma quase imediata, enquanto o investimento em floresta tem um horizonte de sete anos", diz. A alternativa, que seria o crédito bancário, acaba esbarrando na falta de garantias.
Os recursos do fundo de private equity, cujo investidor busca resultados em prazos mais longos, devem contribuir para resolver essa equação, de acordo com o profissional do BID. A expectativa do governo do Acre é que o plantio nas áreas selecionadas tenha início já em 2014.
Fonte: Valor Econômico

Estudo mostra impacto das mudanças climáticas no setor elétrico // CEBDS

"...Os resultados do estudo mostram o impacto das mudanças climáticas no médio prazo no cenário energético nacional. A atual estratégia de geração elétrica brasileira dissociada de uma percepção mais precisa das mudanças climáticas levará a um ambiente de ainda mais insegurança – energética, econômica e física”.

acesse o estudo aqui

Governo e sociedade civil definem metas de desenvolvimento sustentável

 


18/12/2012 - 6h31
Carolina Gonçalves e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Negociadores do Brasil, de vários segmentos da sociedade, que participaram da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, começam a definir hoje (18), em Brasília, as prioridades do país no âmbito das metas a serem adotadas globalmente. As metas devem ser implementadas a partir de 2015, mas antes têm de ser submetidas a discussões nas Nações Unidas.

A partir de 2015, todas as economias do planeta terão que seguir compromissos e ações estabelecidos no quadro dos objetivos do desenvolvimento sustentável - acordo firmado durante a conferência., em junho, no Rio de Janeiro.
No Brasil, o debate que começou entre representantes do governo, que definiram como prioridade a erradicação da pobreza no mundo, será ampliado com a inclusão de sugestões da sociedade civil e do setor privado. Um grupo de mais de 50 pessoas se prepara para definir hoje à tarde o que deve ser proposto na agenda global.

“Vamos consultar quais são as ideias de diferentes segmentos e o que entendemos como objetivos do desenvolvimento sustentável”, disse o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral do Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores e coordenador-geral da Rio+20.
Figueiredo destacou que diferentemente do documento que estabelece os Objetivos do Milênio, no qual há metas para os países em desenvolvimento direcionadas principalmente ao combate à pobreza e à miséria, os compromissos do desenvolvimento sustentável “não se traduzem, necessariamente, em metas nacionais”.

“São objetivos para o mundo inteiro, tendo como filosofia o que o planeta e a humanidade necessitam como um todo”, ressaltou o diplomata. As metas serão globais. Se os países signatários das Nações Unidas definirem, por exemplo, que é preciso aumentar a eficiência energética global em 20%, cada país terá cotas específicas para que a soma de todos os esforços atinja a meta estipulada.
“As metas serão globais e vão valer para os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos, em diferentes níveis de exigência. Mas, em muitos casos, o esforço maior será dos países desenvolvidos”, disse Figueiredo. Seria o caso, por exemplo, de um compromisso em busca de energias mais limpas.

Como o Brasil já tem mais de 80% da matriz de energia elétrica formados por fontes alternativas, a exigência maior recairia sobre economias que ainda utilizam, majoritariamente, fontes consideradas “sujas e não sustentáveis”.

As propostas que serão apresentadas pelos representantes da sociedade civil e por empresários e consolidadas com as sugestões do governo brasileiro serão entregues a uma comissão de 30 integrantes, que começa a se reunir em janeiro para alinhavar as sugestões gerais do Brasil. O documento acordado deve ser submetido à discussão nas Nações Unidas, juntamente com as propostas de outros países.
Edição: Graça Adjuto

Eletra faz parceria com Mercedes-Benz para lançar o HíbridoBR

 
Com tecnologia de tração elétrica 100% brasileira, o novo ônibus elétrico híbrido reduz emissão de poluentes e consumo de combustível
A Eletra, empresa brasileira especializada em tecnologia de tração elétrica para transporte urbano, oficializa parceria com a Mercedes-Benz para o lançamento do HíbridoBR, durante a FetransRio. Um ônibus que combina motor convencional e elétrico, para proporcionar conforto ao usuário, eficiência no transporte urbano e sustentabilidade ambiental. A FetransRio acontece de 3 a 5 de outubro no Rio de Janeiro.
Com projeto desenvolvido pela Eletra, o HíbridoBR é montado em chassi Mercedes O 500 U, tem 12 metros de comprimento e capacidade para transportar 77 passageiros, sendo 37 sentados e 40 em pé. Tem piso baixo e sistema de ajoelhamento que, por meio de controle eletrônico da suspensão, chega ao nível da calçada, facilitando o embarque do passageiro, e rampa para o acesso de cadeiras de rodas e deficientes. O controle eletrônico da aceleração evita os trancos típicos da largada e retomada. O motor diesel é isolado acusticamente na traseira do veículo, diminuindo o ruído interno e externo. O condutor trabalha com mais conforto, bem estar e tranquilidade.
Por definição, um veículo híbrido faz uso de duas fontes de energia para sua operação. O HíbridoBR combina o grupo motor-gerador Mercedes OM 924 LA de 4 cilindros movido a diesel ou a diesel de cana, que obedece ao padrão Euro5, com o motor elétrico, equipado por um conjunto de baterias. O funcionamento se dá pelo sistema em “série”, em que o grupo motor-gerador é acionado e se mantém no que é chamado de “ponto ideal” de rotação – a melhor condição de menor consumo e baixa emissão de poluentes. A partir de então a operação do veículo é feita pelo motor elétrico que contacom o conjunto de baterias instalado no veículo. O Híbrido BR tem carroceria Busscar, gerador trifásico WEG e baterias Moura.
O veículo não necessita de rede aérea para operar, gerando sua energia a bordo. Quando parado para entrada ou saída de passageiros, o conjunto motor-gerador carrega as baterias; quando na frenagem o motor elétrico vira um gerador e recarrega as baterias – frenagem regenerativa.
Para Iêda Maria Oliveira, gerente comercial da Eletra, essa parceria é um importante impulso para a difusão do transporte limpo no Brasil. “A parceria com a Mercedes é o reconhecimento de que temos tecnologia nacional para produzir ônibus elétrico de alta confiabilidade. Estamos há 30 anos atuando e agora vislumbramos a oportunidade de crescimento do segmento de ônibus elétrico, importante para posicionar a indústria brasileira no mercado internacional, fundamental para o transporte e para a população de cidades que sofrem com a poluição gerada pelo trânsito”, afirma.

Pró-Amazônia: Biodiversidade e Sustentabilidade

 OBJETIVO
O Programa Pró-Amazônia: Biodiversidade e Sustentabilidade tem por objetivo estimular no país a realização de projetos de pesquisa e apoio nessas temáticas, utilizando-se de recursos humanos e de infraestrutura disponíveis em diferentes IES ou demais instituições enquadráveis nos termos do edital, possibilitando a produção de
pesquisa e inovação associadas à iniciação à pesquisa e formação de doutores, bem como o apoio à realização de estágio Pós-Doutoral. Serão incentivados projetos que contemplem a participação de empresas sediadas na Região Norte.

visite o site com respectivos links: http://www.capes.gov.br/bolsas/programas-especiais/pro-amazonia-biodiversidade-e-sustentabilidade

ÁREAS TEMÁTICAS

  1. agroecologia;
  2. água e recursos hídricos;
  3. biotecnologia;
  4. engenharias;
  5. fármacos;
  6. recursos pesqueiros.
  7. recursos (produtos) naturais;
  8. saúde;
  9. segurança alimentar;
  10. sustentabilidade dos núcleos urbanos.

CRONOGRAMA

ATIVIDADESDATAS
Início das Inscrições dos projetos27/09/2012
Data-limite para inscrição dos projetos27/11/2012
Divulgação dos resultadosJaneiro de 2013
Implementação dos auxílios/convêniosMarço de 2013

Documentos relacionados

Publicação na WEBNome do documentoFormatos disponíveis
27/09/2012Edital 47/2012 - Programa Pró-Amazônia: Biodiversidade e SustentabilidadeDOC
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Dilma indica embaixadores que articularam negociações na Rio+20 para representar país na ONU

 


22/09/2012 - 10h42
Renata Giraldi e Carolina Gonçalves
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – A importância do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável para o Brasil terá maior peso nos próximos anos na Organização das Nações Unidas (ONU), com a indicação dos futuros representantes do país na entidade. A presidenta Dilma Rousseff escolheu os embaixadores Luiz Alberto Figueiredo Machado e André Aranha Corrêa do Lago, com perfil de atuação na área ambiental e de energia, para representar o Brasil na ONU. Figueiredo e Corrêa do Lago substituem Maria Luiza Viotti e Regina Dunlop.

As indicações de Dilma ainda têm de ser submetidas ao Senado. Os dois embaixadores devem ser submetidos à sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado e, depois, se aprovados, os nomes seguem para o plenário da Casa – etapas necessárias para a confirmação dos dois como novos representantes do Brasil na ONU.

Figueiredo e Corrêa do Lago se destacaram nos últimos anos nas negociações ambientais e de energia. Mas foi na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro, que ambos demonstraram habilidade, paciência e espírito conciliador para chegar a um consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Trabalhando em parceria, os dois embaixadores se dividiram em várias frentes de atuação durante a Rio+20. Ambos buscaram soluções para os impasse por meio do diálogo e do equilíbrio. Os desafios eram adequar as cobranças dos países em desenvolvimento, que queriam mais empenho financeiro e o compromisso com a fixação de metas dos países mais desenvolvidos.

As nações mais ricas, por sua vez, durante a Rio+20, resistiam em assumir compromissos, principalmente financeiros, alegando dificuldade em função dos efeitos da crise econômica internacional. Figueiredo e Corrêa do Lago coordenaram as reuniões técnicas em busca de consenso e acabaram obtendo o aval dos participantes para a elaboração da declaração comum.

Ao final da Rio+20, foi divulgado um documento conjunto que englobou posições de mais de 190 nações. Para a delegação brasileira, o texto é apontado como um avanço embora as organizações não governamentais afirmem que faltou ousadia.

Edição: Lana Cristina

A perplexidade pode explicar a modéstia

Por Washington Novaes em 26/06/2012 na edição 700
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 22/6/2012

 
  

À medida que se aproxima de seu fim, esta Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), promovida pela ONU – e de onde estas linhas são escritas –, parece confirmar a previsão feita neste espaço, há algumas semanas, de que dificilmente escaparia de uma declaração final apenas genérica, sem compromissos obrigatórios, com prazos certos e cobráveis.

A crise econômico-financeira-social dificulta, por um lado, objetivos que exijam desembolsos dos países mais ricos e que permitam aos países mais carentes combater a pobreza, mudar matrizes energéticas e promover a conservação de recursos naturais. Por outro lado, embaraça políticas que levem a padrões de produção e consumo que poupem recursos e permitam enfrentar o drama da finitude de recursos planetários, que tem sido diagnosticada por economistas. Ainda por outro lado, dificulta o objetivo de valorar recursos naturais e seus serviços, impor ônus a quem os desperdiça e contribui para o seu esgotamento. Para completar, em convenções da ONU, é preciso que haja consenso para aprovar qualquer medida – consenso extremamente difícil, em razão da diversidade de interesses.

Não é de estranhar, assim, que não se tenha conseguido dar ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) o status de agência da ONU, com poderes para formular regras e exigir seu cumprimento – como ocorre com a Organização Mundial do Comércio (OMC), com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) ou a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Aprovou-se apenas “maior apoio”. Nem é de estranhar que tenha ficado no ar o apoio financeiro aos países mais pobres, para os quais se projetara um fundo de US$ 30 bilhões. Ou que se tenham postergado novos objetivos do milênio e muitas outras questões.

Avaliar a evolução
A diplomacia brasileira considerou normal que se eliminassem do documento final objetivos polêmicos para poder chegar ao consenso. As grandes ONGs, decepcionadas, espinafraram o texto. E o grande avanço acabou sendo da sociedade, com centenas de eventos e reivindicações conclamando-a a se organizar e pressionar por muito mais. Terá consequências importantes, externas e internas.
Um exemplo pode ajudar a esclarecer as dificuldades. Como praticamente não houve avanço nas Convenções do Clima e da Biodiversidade, aprovadas em 1992, nem na Agenda 21 global, decidiu-se que não seriam esses os objetivos da Rio+20 – e, sim, a “economia verde” e a governança sustentável. Mas com ressalvas. Em relação à primeira, por exemplo, para deixar claro que não poderá ser ameaça aos países não industrializados, abrir caminho para o confisco de seus recursos naturais ou entender que é este o caminho único do desenvolvimento sustentável, e não um dos caminhos.

Um documento divulgado durante a conferência pela Universidade das Nações Unidas e alguns parceiros anunciou a criação do Índice de Riqueza Inclusiva (Inclusive Wealth Report – IWR), que adiciona mais um caminho para avaliar a evolução de um país – juntando-se ao cálculo do produto interno bruto (PIB) e ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) criado pela própria ONU. Por esse novo caminho, será possível avaliar a situação dos recursos naturais, sua perdas e ganhos e o quanto tudo isso pode influir na avaliação de um país.

Coleta e tratamento de esgotos
No primeiro estudo feito, que incluiu 20 países, a China, que no período de 1990 a 2008 teve um crescimento econômico de 422%, descontadas as perdas de recursos naturais, caiu para 37%. O Brasil, que teve crescimento econômico próximo de 40%, baixou para 13%, se avaliadas as perdas de recursos naturais ao lado do capital manufaturado e do capital humano. E as avaliações podem incluir, ainda, além de índices de saúde e de relações sociais, até aspirações espirituais, a segurança ambiental, os ecossistemas e o valor de seus serviços (como fertilidade do solo, regime hídrico, equilíbrio do clima, estoques pesqueiros, potencial de recursos minerais e muitos outros) – bem como suas perdas.

Só em relação a terras agrícolas, a perda anual no mundo está em 12 milhões de hectares por ano de áreas que caminham para a desertificação (uma área equivalente à metade do estado de São Paulo). Mais de 2 bilhões de pessoas já vivem em áreas áridas.
Tudo isso pode ser decisivo também na área de florestas, em que ainda se perdem 130 mil quilômetros quadrados por ano e que precisa de investimentos (em conservação ou plantio) de US$ 40 bilhões anuais até 2050 – inclusive para ajudar a reduzir emissões prejudiciais na área do clima. Ou na área dos recursos hídricos, sobre a qual o relatório divulgado nesta semana pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostrou que 47% dos 135 pontos monitorados nas regiões de São Paulo, Campinas, Curitiba e Goiânia apresentaram situação “péssima” ou “ruim”, principalmente por causa da deficiência na coleta e no tratamento de esgotos. Serão necessários R$ 47,8 bilhões para ampliar as redes coletoras e as estações de tratamento.

Para a próxima convenção
Quando se extrapola a questão para o âmbito global, tem-se que 2,6 bilhões de pessoas não dispõem de redes de coleta de esgotos em suas casas, segundo o Pnuma (Towards a Green Economy, 2011); 1,6 bilhão não conta com água de boa qualidade; e 1,4 milhão de crianças com menos de cinco anos morrem a cada ano por deficiências na área da água e do saneamento. E a demanda por água vai aumentar 40% em 20 anos.

São todas informações que mostram a complexidade da situação planetária. E ajudam a entender a quase perplexidade que talvez explique a modéstia da declaração aprovada na fase preliminar da Rio+20 e levada à discussão entre chefes de Estado e de governo, bem como seus representantes. Ou, ainda, a ausência de algumas das figuras mais importantes da governança mundial. Fica tudo para a próxima convenção.
***
[Washington Novaes é jornalista]

Falta de foco marca documento final da RIO+20

 

22/06/2012
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O resultado final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que se encerra no Rio de Janeiro nesta sexta-feira (22/06), será um documento sem foco, que não atende à urgência dos problemas enfrentados pelo mundo, segundo análise de Celso Lafer, presidente da FAPESP.

Ainda assim, segundo Lafer, a conferência poderá contribuir com uma atmosfera que estimule no futuro, em um contexto político mais favorável, a tomada de medidas concretas para a sustentabilidade global.
“O documento final é difuso, não tem foco e se baseia em um mínimo denominador comum. Na melhor das hipóteses, coloca em andamento processos que serão mais ou menos bem-sucedidos no futuro”, disse Lafer à Agência FAPESP.

A falta de foco do documento, segundo Lafer, é o preço que se pagou para que fosse possível chegar a um consenso durante a conferência. De acordo com Lafer, o documento não deverá mais ser modificado pelos chefes de Estado que participam da cúpula.
“Compreendo o que levou a esse documento. O país sede não desejava que a conferência se encerrasse sem um consenso, por isso os negociadores brasileiros chegaram a esse mínimo denominador comum”, afirmou.

Na prática, o documento não é capaz de lidar com as urgências do presente e ficou muito aquém das expectativas. “O governo vai dizer que conseguiu um consenso que abre processos e preserva as conquistas feitas até agora. É possível de fato que o documento tenha o mérito de manter em evidência as questões que serão retomadas em um contexto político mais favorável no futuro. Mas, se olharmos as urgências que estão em jogo, vamos ver que o documento está aquém das expectativas e das necessidades da humanidade”, disse Lafer.
Na avaliação do presidente da FAPESP, as principais explicações para as limitações da RIO+20 são o contexto internacional negativo e a demora do governo brasileiro em priorizar a temática da conferência.

“Além da crise econômica e política mundial, temos essa nova multipolaridade no cenário da política internacional que até agora não foi capaz de levar a uma ordem global mais estável. A reformulação do sistema financeiro não está resolvida, as negociações comerciais de Doha estão estagnadas, há tensões consideráveis no Oriente Médio. Por outro lado, temos um país que dedicou à RIO+20 uma prioridade muito menor do que a que foi dada à RIO-92. O governo só passou a se dedicar recentemente à conferência”, afirmou.
Diretamente envolvido com a organização da RIO-92, como então ministro das Relações Exteriores , Lafer afirma que a conferência se beneficiou de um contexto internacional e um contexto interno favoráveis à sua realização.

“No plano internacional, o contexto era o do fim da Guerra Fria. Foi a primeira conferência que não se organizou em termos dos temas Norte-Sul e Ocidente-Oriente, mas sim em termos do desafio da cooperação de uma razão abrangente da humanidade. O clima era favorável”, disse.
No plano interno, o sentimento público de valorização do tema ambiental, que havia sido incluído na Constituição Federal de 1988, uniu-se à prioridade absoluta dada à RIO-92 pelo governo de Fernando Collor de Mello, que buscava elevar o patamar da presença internacional do Brasil.
“O governo organizou muito bem a preparação da conferência, mostrou interesse no meio ambiente, indicando José Lutzenberger para a secretaria do Meio Ambiente, instruiu o Itamaraty e organizou um comitê interministerial para tratar do assunto. Quando assumi o ministério, ficou claro que o tema teria prioridade total. Na RIO-92, cabia ao Brasil catalisar os consensos e ter uma visão proativa. Criamos oito grupos negociadores, com grandes quadros da diplomacia”, disse Lafer.

A organização, segundo Lafer, permitiu resultados concretos para a RIO-92, como a criação da Convenção do Clima e da Convenção da Biodiversidade. “Além do pilar ambiental, chegamos a bom termo também quanto à abrangência do conceito de desenvolvimento sustentável, com a Agenda 21. A Declaração do Rio, documento final da conferência, tem muitos méritos, entre eles explicitar que o meio ambiente tem que ser internalizado no processo decisório”, afirmou Lafer.
A conferência conseguiu, segundo ele, imensa mobilização da opinião publica, envolvendo ativistas, organizações não governamentais e cientistas, colocando os temas do meio ambiente de forma duradoura na pauta internacional.
“Talvez o ponto em que a RIO+20 mais se aproximou da RIO-92 seja essa participação da sociedade nos eventos paralelos, incluindo a dimensão da ciência, que teve participação da FAPESP”, disse Lafer, referindo-se ao “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, realizado entre os dias 11 e 15 de junho no Rio de Janeiro.
As negociações que envolvem o problema socioambiental, segundo Lafer, são intrinsecamente complexas, tanto do ponto de vista técnico e científico como na perspectiva diplomática. “Alguns dos maiores avanços nesse tipo de negociação ao longo da história tiveram contribuição decisiva da ciência”, disse.
O tema do meio ambiente, segundo ele, passa por um conhecimento especializado. A Convenção do Clima, por exemplo, assinada na RIO-92, não seria possível sem o lastro do trabalho realizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que detectou fenômenos como o efeito estufa.
“Talvez o ponto de partida dessa relação entre conhecimento e negociações diplomáticas tenha sido a percepção científica sobre o que estava acontecendo com a camada de ozônio, no fim da década de 1980. Essa percepção levou à Convenção de Basileia, que entrou em vigor em 1992”, disse Lafer.
A Conferência de Estocolmo, em 1972 – a primeira cúpula a tratar de temas ambientais –, também foi influenciada no plano das ideias por um relatório sobre os limites do crescimento econômico patrocinado pelo Clube de Roma. “O mérito daquela conferência foi realçar a fragilidade dos ecossistemas dentro dos quais estamos todos inseridos”, disse.
Já a RIO-92, segundo Lafer, beneficiou-se do Relatório Brundtland. O documento publicado em 1987 estabeleceu o conceito abrangente de desenvolvimento sustentável. Seu desdobramento levou à percepção global de que a questão se apoia não só sobre um pilar ambiental, mas também sobre os pilares econômico e social.
No entanto, devido à complexidade das negociações diplomáticas na área ambiental, não é nada trivial fazer com que o conhecimento científico se consolide como fundamento dos acordos internacionais.
“Em épocas de crise, os países se confrontam com contingências e urgências políticas de curto prazo. O desenvolvimento sustentável, por outro lado, incorpora uma noção de sustentabilidade para as gerações futuras, por isso é sempre um problema em longo prazo. O tempo da pesquisa também é um tempo mais longo, assim como o tempo diplomático, que requer consensos. Por isso é compreensível que as negociações tenham essas grandes dificuldades”, disse Lafer.

Antropoceno entra em cena
O presidente do Conselho Internacional de Ciência (ICSU, na sigla em inglês), Yuan-Tseh Lee, defendeu que é preciso estabelecer um novo contrato entre a ciência e a sociedade para que seja possível avançar rumo à sustentabilidade global.
O discurso realizado por Lee na quarta-feira (20/06), primeiro dia da cúpula de alto nível da RIO+20 – que se encerra nesta sexta-feira (22/06) –, sintetizou o resultado dos debates realizados pela comunidade científica internacional no “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, organizado pelo ICSU – que é considerado o representante oficial da comunidade científica pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo Lee, a entrada no Antropoceno – era na qual as atividades da sociedade humana dominam o planeta – representa um desafio sem precedentes, envolvendo mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição generalizada.
“Em nome das sociedades de ciência e tecnologia, conclamamos os líderes mundiais a agir imediatamente. Do contrário, haverá um aumento do risco de mudanças irreversíveis na biosfera, que solapará a sustentabilidade da vida sobre a Terra”, disse.
As pesquisas, segundo Lee, mostram que a resposta aos desafios do Antropoceno exige uma transformação sistêmica que deve ter apoio no conhecimento e da inovação.
“Uma pesquisa mais integrada irá gerar o conhecimento que a sociedade precisa para aperfeiçoar a interface entre ciência e política nos processos decisórios. Faço um apelo por um novo contrato entre ciência e sociedade . Não há tempo a perder, temos que agir conjuntamente”, disse.
Ciência + sociedade
Em visita à FAPESP, também no dia 20, o conselheiro-chefe para Assuntos Científicos do Gabinete de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, Sir John Beddington, afirmou que a comunidade científica chegou à RIO+20 com uma mensagem clara e bem consolidada.
“Com exceção das incertezas pontuais que sempre caracterizam os temas científicos, quase não há dissensos na comunidade internacional de cientistas sobre questões-chave como segurança alimentar, segurança hídrica, biodiversidade, serviços ecossistêmicos ou a própria mudança climática. Esse consenso universal foi bem apresentado na RIO+20”, disse.
No entanto, segundo Beddington, para que possa influenciar a agenda mundial após a conferência, a comunidade científica precisará trabalhar em conjunto com outros setores da sociedade e contar com a vontade política dos tomadores de decisão.
“Acho que o consenso científico influenciará muito na agenda mundial, mas não agirá sozinha e sim em conjunto com a sociedade civil e os governos. Essa é a verdadeira importância do evento. Uma conferência internacional com tantos países e delegados de diversos segmentos participando é uma razão para ter esperanças”, disse.
A tarefa, entretanto, é extremamente difícil, envolvendo questões profundamente complicadas e ao mesmo tempo urgentes, como grande crescimento da população e da urbanização, escassez de recursos e crise energética e ambiental.
“Será preciso contar com muita vontade política. Não podemos garantir que a conferência tenha um sucesso concreto, mas nosso papel é aconselhar. O governo britânico certamente vê nessas questões-chave uma enorme importância para o futuro do mundo”, afirmou Beddington.

Plataforma global para pesquisa em sustentabilidade é lançada na RIO+20

Por Elton Alisson, da Agência FAPESP –

Uma plataforma global para pesquisa em sustentabilidade foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), na semana passada, por uma aliança formada pelos principais agentes internacionais da ciência, agências de financiamento à pesquisa e organismos vinculados à Organização das Nações Unidas (ONU).

Denominada “Future Earth” (“Terra do futuro”), trata-se de uma iniciativa com duração de dez anos para apoiar pesquisas que resultem no conhecimento necessário para responder eficientemente aos impactos das mudanças ambientais globais. O lançamento foi feito no “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A ideia é fornecer as bases que permitam sustentar a transformação em busca da sustentabilidade do planeta para as próximas décadas. Milhares de cientistas em todo o mundo serão mobilizados pela iniciativa, ao mesmo tempo em que serão estabelecidos acordos com governos, órgãos e instituições responsáveis pela adoção de políticas públicas de modo a oferecer opções e soluções de sustentabilidade pós-RIO+20.

Entre as metas da nova plataforma global estão a produção de pesquisas orientadas para soluções que integrem desafios em mudanças ambientais com o desenvolvimento sustentável, de modo a satisfazer as necessidades humanas por alimentos, água, energia e saúde.
Colaborações inter e transdisciplinares entre pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento científico e tecnológico serão efetuadas de modo a encontrar as melhores soluções para as principais questões em torno do futuro do planeta.

Outra proposta da plataforma é aumentar a capacidade de pesquisa em ciência, tecnologia e inovação, especialmente em países em desenvolvimento, bem como engajar a nova geração de cientistas.
A plataforma Future Earth é uma iniciativa conjunta do International Council for Science (ICSU), do International Social Science Council (ISSC), do Belmont Forum, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da Universidade das Nações Unidas (UNU). A Organização Meteorológica Mundial (OMM) participa como observadora. Agências de fomento à pesquisa em todo o mundo integrarão os esforços da iniciativa.

“Precisamos de uma nova abordagem para enfrentar os desafios críticos das mudanças ambientais globais e do desenvolvimento sustentável que seja mais interdisciplinar, mais internacional, mais colaborativa e que responda melhor aos usuários das pesquisas”, disse Diana Liverman, codiretora do Instituto para o Meio Ambiente da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e copresidente do grupo responsável pelo desenho da Future Earth na apresentação da iniciativa.

A iniciativa, que vem sendo planejada há três anos, deverá ajudar a responder questões fundamentais, entre as quais como e por que o ambiente global está mudando, além de vislumbrar desafios futuros e suas implicações para o bem-estar e para a sobrevivência do homem e das outras espécies.
Uma série de consultas para levantar os principais desafios em pesquisa nesse sentido será conduzida no segundo semestre de 2012 por meio de questionários on-line e workshops que serão realizados na Ásia, África, América Latina e Oriente Médio.

Alguns desses encontros, como um workshop sobre segurança alimentar e uso de energia, deverá ser realizado no segundo semestre deste ano.
Como membro do Belmont Forum – consórcio que reúne agências de financiamento à pesquisa de 13 países, além das da Comunidade Europeia – a FAPESP participará da iniciativa auxiliando na escolha dos temas das pesquisas, na elaboração das chamadas e na análise, seleção e cofinanciamento dos projetos. Cada projeto deverá ter a participação de pesquisadores de pelo menos três países.

“Um dos pontos fortes desta aliança é que ela congrega cientistas, usuários dos dados das pesquisas e as agências de fomento, que irão decidir pelo financiamento dos projetos. E algumas dessas agências de fomento estão reunidas no Belmont Forum, sendo que quatro delas são de países emergentes”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e membro do Belmont Forum.
Brito Cruz destacou durante o lançamento da Future Earth no Rio de Janeiro que um dos objetivos da iniciativa é criar oportunidades para jovens pesquisadores se envolverem no desenvolvimento de pesquisas, e que muitas das agências de fomento à pesquisa participantes do projeto, como a FAPESP, já possuem programas voltados ao apoio de projetos realizados por jovens pesquisadores, que podem dar subsídios à iniciativa.

Yuan Tseh Lee, presidente do ICSU e ganhador do prêmio Nobel de Química de 1986, também presente na cerimômia, avaliou que, por meio de parcerias sólidas e abrangentes, a Future Earth irá conectar a pesquisa científica e o desenvolvimento de políticas e de ações, ampliando a interface entre ciência e políticas que apoiem a sustentabilidade.

“Estamos muito felizes em lançar essa iniciativa na RIO+20 que, afinal, é sobre caminhos para o futuro sustentável e a Future Earth representa um passo concreto nessa direção”, disse.
Alguns dos próximos passos que deverão ser dados para a concretização da iniciativa serão a criação de um conselho de governança e de um comitê científico, que deverá ser estabelecido em 2013.
Mais informações sobre a Future Earth: www.icsu.org/future-earth.

Rio+20: podemos ser mais felizes?

 

Autor(es): Fabio Feldmann
Correio Braziliense - 10/06/2012
Advogado e administrador de empresas, atua na área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável desde os anos 1970, como militante, parlamentar, secretário de Estado e consultor

Às vésperas da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, pesam mais dúvidas sobre os resultados desse evento do que possamos imaginar. A ciência, a cada novo relatório, demonstra a urgência de reverter a trajetória do impacto da humanidade sobre o planeta, sob pena de ainda mais graves repercussões ambientais, sociais e econômicas.

O ex-economista chefe do Banco Mundial Nicholas Stern, no trabalho referencial Economia da mudança do clima, já alertava em 2006 sobre os custos da inação no que tange ao aquecimento global. Calculava que, com o investimento de apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial para tomar as medidas mitigatórias necessárias, redirecionar atividades e proceder a uma adequação tecnológica, seria possível evitar a perda de 20% do mesmo PIB em um prazo de simulação de 50 anos. E, do ponto de vista social, é sempre bom lembrar que os mais vulneráveis à degradação ambiental são as populações pobres, em todos os países, e os países mais pobres no conjunto das nações. O incrível é que ainda hoje há significativas dificuldades em se convencer de que a desatenção ao meio ambiente produz seriíssimos impactos sociais.

O desafio da Rio+20 reside em indicar claramente o caminho para transformar o combate à pobreza e à desigualdade social, simultaneamente, em ações de manutenção dos processos ecológicos essenciais e em processos produtivos sustentáveis. Pela simples razão de que não é possível manter como aspiração o topo dos padrões de consumo, sem dispormos de mais cinco planetas com recursos naturais semelhantes aos da Terra. Ou seja, a prioridade é estabelecer novos padrões de qualidade de vida, onerar muitíssimo o desperdício e o fausto e tirar da linha da pobreza e da miséria bilhões de pessoas em todo o mundo que pagam a conta mais pesada do delírio consumista e predador de poucos.

Mas as perspectivas são preocupantes, pois ainda se entende o crescimento econômico com a visão do pós-guerra, que não incorpora aspectos relevantes que vieram à tona na contemporaneidade. O Brasil é um exemplo. Estamos entupindo as ruas com automóveis a pretexto de estimular a economia. Enquanto isso, os sistemas públicos de transporte permanecem em estado crítico, quando deveriam ser o sinal mais elevado de qualidade de vida, caso servissem a população de modo eficiente e confortável. O lado visível dessa cegueira são os grandes congestionamentos nas cidades brasileiras grandes e médias, o que vai, dentro de quatro a cinco anos, obrigar muitos governantes a restringir a circulação desses mesmos veículos por meio de rodízio ou outras medidas para lidar com a realidade de um meio urbano estrangulado.

São problemas que bebem da mesma origem: o curtíssimo prazo que impera na tomada de decisão no mundo contemporâneo. Pode não parecer, mas esse é um enorme gargalo na transição para padrões sustentáveis e de respeito ao meio ambiente. Nas democracias, o tempo do planejamento é sempre o eleitoral e essa é também a estrela que guia ocupantes de cargos de representação política. Nas empresas, não é muito diferente: os acionistas querem seus dividendos a curto prazo. Os executivos são pagos sem que se leve em conta os riscos de suas decisões, que em geral se manifestam no médio prazo. O pano de fundo da crise econômica são decisões irresponsáveis de agentes do sistema financeiro que, preocupados apenas com as suas remunerações, causaram grande sofrimento a países como Grécia, Espanha e desempregados em todo o mundo.
Portanto, não há como separar as agressões ao meio ambiente e as dificuldades que a comunidade internacional tem de avançar para um desenvolvimento sustentável, da incapacidade de países e instituições públicas nacionais e globais fornecerem aos cidadãos perspectivas de uma vida mais feliz, na sua essência, o que envolve uma relação mais equilibrada com o ambiente natural.
Ainda estamos num sistema de armadilhas, em que se oferece o brilho do consumo exacerbado e se dá, na verdade, duras perspectivas individuais e coletivas. O símbolo disso é um slogan de um ex-presidente americano, o republicano Herbert Hoover, em sua campanha presidencial: "Um frango em cada prato e um carro em cada garagem". Soa familiar? Pois é, mas isso foi em 1928; hoje, 84 anos depois, com todo o conhecimento e as aflições acumulados no período, ainda é essa a receita simplista e equivocada da política que comanda as nações.
A Rio+20, para ter sucesso, exige coragem para mudar por parte dos governos e visão crítica por parte da sociedade. A mentalidade e os valores do século passado não foram capazes de nos tornar melhores e mais felizes. E agora, estamos preparados para buscar a felicidade com base em, no mínimo, bom-senso e amor pelo mundo que deixaremos a nossos filhos?

Atitudes críticas e proativas face à Rio+20 // Leonardo Boff

08/06/2012
Creio que se impõem três atitudes que precisamos desenvolver face à da Rio+20.
A primeira é conscientizar os tomadores de decisões e toda a humanidade dos riscos a que estão submetidos o sistema-Terra, o sistema-vida e o sistema-civilização. As guerras atuais, o medo do terrorismo e a crise econômico-financeira no coração dos países centrais estão nos fazendo esquecer a urgência da crise ecológica generalizada. Os seres humanos e o mundo natural estão numa perigosa rota de colisão. De nada vale garantir um desenvolvimento sustentável e verde se não garantirmos primeiramente a sustentabilidade do planeta vivo e de nossa civilização. Esta conscientização deve ser feita em todos os níveis, da escola primária à universidade, da família à fábrica, do campo à cidade.

A segunda atitude tem a ver com um deslocamento e uma implicação que importa operar. Urge deslocar a discussão do tema do desenvolvimento para o tema da sustentabilidade. Se ficarmos no desenvolvimento nos enredamos nas malhas de sua lógica que é crescer mais e mais para oferecer mais e mais produtos de consumo para o enriquecimento de poucos à custa da super-exploração da natureza e da marginalização da maioria da humanidade. A pesquisa séria do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH) de 2011 revelou a imensa concentração de riqueza e de poder em pouquíssimas mãos: são 737 corporações que controlam 80% do sistema corporativo mundial, sendo que um núcleo duro de 147 controla 40% de todas as corporações, a maioria financeiras. Junto com este poder econômico segue o poder político (influencia os rumos de um pais) e o poder ideológico (impõe idéias e comportamentos). A pegada ecológica da Terra revelou que esta já ultrapassou em 30% seus limites físicos. Forçá-los é obrigá-la a defender-se. E o faz com tsunamis, enchentes, secas, eventos extremos, terremotos e o aquecimento global. E também com as crises econômico-financeiras que se incluem no sistema-Terra viva.

 O tipo de desenvolvimento vigente é insustentável. Vãos são os adjetivos que lhe acrescentemos: humano, verde, responsável e outros. Levá-lo avante a qualquer custo, como ainda propõe o texto-base da ONU, nos aproxima do abismo sem retorno.
Deslocar-se para o tema da sustentabilidade significa criar mecanismos e iniciativas que garantam a vitalidade da Terra, a continuidade da vida, o atendimento das necessidades humanas das presentes e futuras gerações, de toda a comunidade de vida e a garantia de que podemos preservar nossa civilização. Essa compreensão de sustentabilidade é mais vasta do que aquela do desenvolvimento simples e duro.

Para alcançar tal propósito, se faz mister um novo olhar sobre a Terra, um re-encantamento do mundo e um novo sonho. Isto significa inaugurar um novo paradigma. Se antes, o paradigma era de conquista e de expansão, agora, devido aos altos riscos que corremos, deverá ser de cuidado e de responsabilidade global. Precisamos incorporar a visão da Carta da Terra que propõe tais atitudes no quadro de uma visão holística do universo e da Terra. Ela vê o nosso planeta como vivo, com uma comunidade de vida única. É fruto de um vasto processo de evolução que já dura 13,7 bilhões de anos. O ser humano comparece como expressão avançada de sua complexidade e interiorização. Este tem a missão de cuidar e de garantir a sustentabilidade da natureza e de seus seres.

Esta visão só será efetiva se for mais que um deslocamento de visões. A ciência não produz sabedoria mas só informações. Quer dizer, não oferece uma visão global e integradora da realidade interior e exterior (sabedoria) que motive para a transformação. Por isso deve vir acompanhada da implicação de uma emoção fundamental. Importa fazer uma leitura emocional dos dados científicos, porque é a emoção, a paixão, a razão sensível e cordial que nos moverão a ação. Não basta tomar conhecimento. Precisamos nos conscientizar, no sentido de Paulo Freire, nos munir de indignação e de compaixão e por mãos à obra.

Portanto, junto com a razão intelectual, indispensável, que predominou por séculos, cabe resgatar a razão sensível e emocional que fora colocada à margem. Ela é o nicho da ética e dos valores. Faz-nos sentir a dor da Terra, a paixão dos pobres e o apelo da consciência para superarmos estas situações com uma outra forma de produzir, de distribuir e de consumir.
A terceira atitude é de trabalho crítico e criativo dentro do sistema. Já se disse: os velhos deuses (a conquista e dominação) não acabam de morrer e os novos (cuidado e responsabilidade) não acabam de nascer. Somos obrigados a viver num entre-tempo: com um pé dentro do velho sistema, trabalhar e ganhar nossa vida no âmbito das possibilidades que nos são oferecidas; e com outro pé dentro do novo que está despontando por todos os lados e que assumimos como nosso. Há muitas iniciativas que podem ser implementadas e que apontam para o novo.

Fundamentalmente importa recompor o contrato natural. A Terra é nossa grande Mãe, como o aprovou a ONU a 22 de abril de 2009. Ela nos dá tudo o que precisamos para viver. A contrapartida de nossa parte seria o agradecimento na forma de cuidado, veneração e respeito. Hoje precisamos reaprender a respeitar o todo da Terra, os ecossistemas e cada ser da natureza, pois possuem valor intrínseco independentemente do uso que fizermos dele como o enfatiza a Carta da Terra. Essa atitude é quase inexistente nas práticas produtivas e nos comportamentos humanos. Mas podemos ressuscitar esse sentido de amor, de autolimitação de nossa voracidade e de respeito a tudo o que existe e vive. Ele diminuiria a agressão à natureza e faria de nossas atitudes mais eco-amigáveis.
Defender a dignidade e os direitos da Terra, os direitos da natureza, dos animais, da flora e da fauna, pois todos formamos a grande comunidade terrenal.

Apoiar o movimento internacional por um pacto social mundial ao redor daquilo que pode unir a todos, pois todos dependem dele: a água, com um bem comum natural, vital e insubstituível. Criar uma cultura da água, não desperdiçá-la (só 0,7% dela é acessível ao uso humano) e torná-la um direito inalienável para todos os seres humanos e para a comunidade de vida.
Reforçar a agroecologia, a agricultura familiar, a permacultura, as ecovilas, a micro e pequena empresa de alimentos, livres de pesticidas e de transgênicos.
Buscar de forma crescente energias alternativas às fósseis, como a hidrelétrica, a eólica, a solar, a de biomassa e outras.

Insistir no reconhecimento dos bens comuns da Terra e da humanidade. Entre esses se contam o ar, a atmosfera, a água, os rios, os oceanos os lagos, os aquíferos, a biodiversidade, as sementes, os parques naturais, as muitas línguas, as paisagens, a memória, o conhecimento, a internet, as informações genéticas e outros.
O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças com o maior número possível de grupos, movimentos, igrejas e instituições ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, como os expressos na Carta da Terra, nas Metas do Milênio, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra e no ideal do Bem Viver das culturas originárias das Américas.

Por fim, precisamos estar conscientes de que o tempo da abundância material acabou, feita à custa do desrespeito dos limites do planeta e na falta de solidariedade e de piedade para com as vítimas de um tipo de desenvolvimento predatório, individualista e hostil à vida. O crescimento econômico não pode ser um fim em si mesmo. Está serviço do pleno desenvolvimento do ser humano, de suas potencialidades intelectuais, morais e espirituais. A economia verde inclusiva, a proposta brasileira para a Rio+20, não muda a natureza do desenvolvimento vigente porque não questiona a relação para com a natureza, o modo de produção, o nível de consumo dos cidadãos e as grandes desigualdades sociais. Um crescimento ilimitado não é suportado por um planeta limitado. Temos que mudar de rota, de mente e de coração. Caso contrário, o destino dos dinossauros poderá ser o nosso destino.

Finalmente, estimo que não estamos diante de uma tragédia anunciada. Mas diante de uma gravíssima e generalizada crise de civilização. Contém muitos riscos, mas, se quisermos, serão evitáveis. Pode significar a dor de parto de um novo paradigma e o sacrifício a ser pago para um salto de qualidade rumo a uma civilização mais reverente da Terra, mais respeitosa da vida, mais amiga dos seres humanos e mais irmanada com todos os demais seres da natureza.
Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway, O Tao da Libertação, explorando a ecologia da transformação,Vozes 2012.

São Paulo recicla apenas 1,2% dos resíduos produzidos


Os índices de reciclagem em São Paulo ainda são muito baixos. O bairro da Vila Mariana é o que mais recicla em toda a cidade, mesmo assim os números não chegam a 5% de todo o lixo que é produzido. Enquanto isso, diversos bairros da periferia paulista permanecem sem acesso à coleta seletiva.

Conforme informações publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, a média de reciclagem na cidade é de apenas 1,2%, considerada muito baixa. Os outros três bairros com os melhores índices de reciclagem são: Santo Amaro, com 4%, Pinheiros, que recicla 3,5% e Lapa, com 2,4%.
Segundo os moradores locais o bom desempenho da Vila Mariana não se deve ao incentivo governamental. Pelo contrário, os próprios moradores têm ido atrás de informações sobre a rotina do caminhão da coleta seletiva, pois não foram distribuídos informativos com os direcionamentos para promover de fato a ação pela cidade.
Vila Mariana é o bairro que mais recicla. Imagem | Mayra Rosa - CicloVivoVila Mariana é o bairro que mais recicla. Imagem | Mayra Rosa - CicloVivoJá nos bairros afastados do centro, como Parelheiros, M’Boi Mirim, Perus, São Miguel, entre outros, a coleta seletiva existe apenas por consequência do trabalho dos catadores informais. Mas, as ações governamentais não cheguem até os extremos da capital.
Outro problema é a falta de garantia de que os resíduos recicláveis coletados realmente terão a destinação correta. Isto acontece porque, mesmo com a baixa demanda, a estrutura física da cidade não suporta todo o material. Em São Paulo existem 21 centrais de triagem, enquanto o ideal seria ter, pelo menos, 70, conforme informado por Roberto Laureano Rocha, representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis.
Segundo o diretor de Coleta Seletiva da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana, Valdecir Papazissis, existe a previsão de que sejam criadas mais 11 centrais de triagem. Porém, ainda não existe prazo definido para isso.
* Com informações do CicloVivo

O que está em jogo na Rio+20

Jornal do Brasil

A verdadeira causa estrutural das múltiplas crises é o capitalismo, com suas formas clássicas e renovadas de dominação, que concentra a riqueza e produz desigualdades sociais, desemprego, violência contra o povo e a criminalização de quem os denuncia. O sistema de produção e o consumo atual - representados por grandes corporações, mercados financeiros e os governos que garantem sua manutenção – produzem e aprofundam o aquecimento global e a crise climática, a fome e a desnutrição, a perda de florestas e da diversidade biológica e sócio-cultural, a contaminação química, a escassez de água potável, a desertificação crescente dos solos, a acidificação dos mares, a grilagem de terras e a mercantilização de todos os aspectos da vida nas cidades e no campo.

A "economia verde", ao contrário do que o seu nome sugere, é outra fase da acumulação capitalista. Nada na "economia verde" questiona ou substitui a economia baseada no extrativismo de combustíveis fósseis, nem os seus padrões de consumo e produção industrial. Esta economia estende a economia exploradora das pessoas e do ambiente para novas áreas, alimentando assim o mito de que é possível o crescimento econômico infinito.

O falido modelo econômico, agora disfarçado de verde, pretende submeter todos os ciclos vitais da natureza às regras do mercado e ao domínio da tecnologia, da privatização e da mercantilização da natureza e suas funções. Assim como dos conhecimentos tradicionais, aumentando os mercados financeiros especulativos através dos mercados de carbono, de serviços ambientais, de compensações por biodiversidade e o mecanismo REDD+ (Redução de emissões por desmatamento evitado e degradação florestal).

Os transgênicos, os agrotóxicos, a tecnologia Terminator, os agrocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética, a vida artificial, a geo-engenharia e a energia nuclear, entre outros, são apresentados como "soluções tecnológicas" para os limites naturais do planeta e para as múltiplas crises, sem abordar as causas verdadeiras que as provocam.
Além disso, se promove a expansão do sistema alimentício agroindustrial, um dos maiores fatores causadores das crises climáticas, ambientais, econômicas e sociais, aprofundando a especulação com os alimentos. Com isso se favorece os interesses das corporações do agronegócio em detrimento da produção local, campesina, familiar, dos povos indígenas e das populações tradicionais, afetando a saúde de todos.

Como uma estratégia de negociação na conferência Rio +20, alguns governos de países ricos estão propondo um retrocesso dos princípios da Rio 92, como o princípio de responsabilidades comuns e diferenciadas, o princípio da precaução, o direito à informação e participação. Estão ameaçados direitos já consolidados, como os dos povos indígenas e populações tradicionais, dos camponeses, o direito humano à água, os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, dos imigrantes, o direito à alimentação, à habitação, à cidade, os direitos da juventude e das mulheres, o direito à saúde sexual e reprodutiva, à educação e também os direitos culturais.

Está se tentando instalar os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que serão utilizados para promover a "economia verde", enfraquecendo ainda mais os já insuficientes Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O processo oficial propõe estabelecer formas de governança ambiental mundial que sirvam como administradores e facilitadores desta "economia verde", com o protagonismo do Banco Mundial e outras instituições financeiras públicas ou privadas, nacionais e internacionais, que irão incentivar um novo ciclo de endividamento e ajustes estruturais disfarçados de verde. Não pode existir governança global democrática sem terminar com a atual captura corporativa das Nações Unidas.
Repudiamos este processo e conclamamos todos para que venham fortalecer as manifestações e construções de alternativas em todo o mundo.

Lutamos por uma mudança radical no atual modelo de produção e consumo, consolidando o nosso direito para nos desenvolvermos com modelos alternativos com base nas múltiplas realidades e vivências dos povos, genuinamente democráticas, respeitando os direitos humanos e coletivos, em harmonia com a natureza e com a justiça social e ambiental.
Afirmamos a construção coletiva de novos paradigmas baseados na soberania alimentar, na agroecologia e na economia solidária, na defesa da vida e dos bens comuns, na afirmação de todos os direitos ameaçados, o direito à terra e ao território, o direito à cidade, os direitos da natureza e das futuras gerações e a eliminação de toda forma de colonialismo e imperialismo.

Conclamamos todos os povos do mundo a apoiarem a luta do povo brasileiro contra a destruição de um dos mais importantes quadros legais de proteção às florestas (Código Florestal), o que abre caminhos para mais desmatamentos em favor dos interesses do agronegócio e da ampliação da monocultura; e contra a implementação do mega projeto hidráulico de Belo Monte, que afeta a sobrevivência e as formas de vida dos povos da selva e a biodiversidade amazônica. Apoiamos a luta contra os projetos de lei no Brasil que querem legalizar a tecnologia Terminator, o que significaria romper a moratória internacional que existe contra as sementes Terminator nas Nações Unidas.

Reiteramos o convite para participação na Cúpula dos Povos que se realizará de 15 a 23 de junho no Rio de Janeiro. Será um ponto importante na trajetória das lutas globais por justiça social e ambiental que estamos construindo desde a Rio-92, particularmente a partir de Seattle, FSM, Cochabamba, onde se têm catapultado as lutas contra a OMC e a ALCA, pela justiça climática e contra o G-20. Incluímos também as mobilizações de massa como Occupy, indignados, a luta dos estudantes do Chile e de outros países e a primavera árabe.

Convocamos todos para que participem da mobilização global de 5 de junho (Dia Mundial do Ambiente); da mobilização do dia 18 de junho, contra o G20 (que desta vez se concentrará no "crescimento verde") e na marcha da Cúpula dos Povos, no dia 20 junho, no Rio de Janeiro e no mundo, por justiça social e ambiental, contra a "economia verde", a mercantilização da vida e da natureza e a defesa dos bens comuns e dos direitos dos povos.

Especialistas discurtem governança e baixo carbono

Data: 04/05/2012 23:29

Por: Redação TN / EcoD

“Governança para Sustentabilidade”. Esse é o tema da XI Conferência de Produção Mais Limpa e Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, que será realizada dia 8/5, das 8h às 17h, no Memorial da América Latina, localizado na Barra Funda, São Paulo. O evento reunirá especialistas em meio ambiente, educadores, estudantes, membros do poder público e representantes do setor privado em debates e painéis sobre os desafios da sustentabilidade e da proteção ambiental no século XXI.
Segundo o proponente da Conferência, vereador Gilberto Natalini, do Partido Verde (PV), o evento será uma prévia da Rio+20 e terá um papel fundamental na renovação do compromisso da cidade de São Paulo com o desenvolvimento sustentável.
"Ao ser declarado oficialmente um evento preparatório da Cidade de São Paulo Rumo à Rio+20, prosseguiremos com a transição cada vez mais intensa para uma economia verde e a busca incessante pela erradicação da pobreza. Com atuação conjunta entre poder público, iniciativa privada e sociedade civil organizada, as nossas ações devem preencher as lacunas e alcançar uma maior integração entre os três pilares do desenvolvimento sustentável – o econômico, o social e o ambiental”, comentou Natalini.
A Conferência P+L, como é conhecida, realizará três painéis durante o evento. O primeiro discutirá as questões de “Governança Ambiental Internacional”, ressaltando a importância do conceito de desenvolvimento sustentável e enfatizando os esforços conjuntos para lidar com controle de poluição, desenvolvimento econômico, escassez de recursos naturais e redução da pobreza.
O segundo tratará da transição para uma economia de baixo carbono. Serão discutidas práticas para proteger e melhorar a base de recursos naturais e promover padrões de consumo e produção sustentável, pautadas em processos com baixa emissão de Gases de Efeitos Estufa (GEE).
Já o terceiro falará sobre as questões de justiça social, apresentando iniciativas que emergem da sociedade e que mobilizam grupos variados em torno de princípios da sustentabilidade, da democracia e da cidadania. O objetivo é estimular a reprodução dessas práticas em todo o país, substituindo tecnologias incompatíveis com sociedades sustentáveis.

Retrocesso na agenda socioambiental: O ‘Brasil Grande’ que pensa pequeno

Retrocesso na agenda socioambiental: O ‘Brasil Grande’ que pensa pequeno

Publicado em abril 25, 2012 por
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A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das “Notícias do Dia’ publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT, com sede em Curitiba-PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, parceiro do IHU na elaboração das Notícias do Dia.
Sumário:
Brasil Grande?
Retrocessos na agenda social
Agenda nova. Velhas visões
Triunfalismo esvazia agenda social
(Des)razões do retrocesso
Eis a análise.
Desde os dois governos Lula, particularmente a partir do segundo mandato [2006], o Brasil vive certo clima de ufanismo. O país voltou a crescer, distribuir renda, tornou-se a 6ª maior economia do mundo e de nação subdesenvolvida passou a nação emergente e potência no cenário internacional em suas expressões política e de mercado.
Economia estabilizada, distribuição de renda via programas sociais, aumento real do salário mínimo, sociedade do quase pleno emprego e faxina na política compõe o quadro que dá a Dilma Rousseff, assim como foi com Lula, altos índices de popularidade e em todas as classes sociais. Renovou-se o sentimento do “Brasil Grande” similar àquele da época dos militares em que se dizia que ‘ninguém segura esse país’.
Esse sentimento de pujança, vigor e ufanismo contrasta, entretanto, com retrocessos na agenda social, na agenda de reformas estruturais e, pior ainda, no recuo de conquistas efetivadas no que se denominou de Constituição Cidadã [1988], resultante das lutas sociais do final dos anos 70 e anos 80. A regulamentação de muitos dessas conquistas caminham para trás e a elas se somam outros ataques aos direitos sociais.
Um paradoxo surge, estamos diante de uma agenda conservadora num governo de esquerda.
Retrocessos na agenda socioambiental, agrária e do trabalho
Os casos de retrocesso na agenda social, ambiental e do mundo do trabalho não são poucos e, entre tantos, podemos citar:
- PEC 215: Projeto de emenda constitucional que propõe transferir do Poder Executivo para o Congresso Nacional a demarcação e homologação de terras indígenas e quilombolas, além de rever os territórios com processo fundiário e antropológico encerrado e publicado. Caso aprovado significa o fim da demarcação das terras indígenas e quilombolas que se arrastam há mais de uma década. Segundo a Constituição de 1988, o processo de demarcação das terras indígenas no país deveria ter sido terminado em 1993. Nas últimas semanas travou-se intensa batalha no Congresso contra a medida.
- ADI 3239: Somado a PEC 215 Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 3239, foi proposta pelo Partido dos Democratas (DEM) contra o Decreto Federal 4887/2003 que regulamentou o processo de titulação das terras dos remanescentes das comunidades de quilombos criando mecanismos que facilitam o processo de identificação e posterior titulação de comunidades. Caso aprovada a representação do DEM, os direitos de populações que historicamente foram discriminadas e jogadas à margem da sociedade ficariam nulos. Mais de 120 anos após o fim da escravidão, a regularização das áreas remanescentes de quilombos ainda enfrenta resistências. Para a CNBB, “a garantia da propriedade das terras secularmente ocupadas pelos quilombolas é dever constitucional e compromisso ético-moral”.
- PEC 483: Segundo a proposta da PEC 483, as propriedades rurais e urbanas de qualquer região do país onde forem localizadas produção de drogas ou a exploração de trabalho escravo serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário. A proposta tramita há dez anos na Câmara dos Deputados e nunca foi votada. A bancada ruralista impede a votação e o governo nunca se empenhou decisivamente por sua aprovação. Há promessas de que a PEC irá à votação nesse ano.
- Mineração em terras indígenas: O governo está propondo um novo código de mineração que permitirá a exploração de terras indígenas por empresas mineradoras. O argumento do governo é que a regulamentação é necessária para que se estabeleçam regras e controle sobre a exploração das terras indígenas, que hoje ocorre de forma desordenada por garimpeiros, causando grande impacto ambiental e social – e, muitas vezes, provocando conflitos. Além disso, o Estado deixa de arrecadar tributos sobre a exploração dos recursos nacionais. Especialistas, entretanto, alertam que empreendimentos para exploração mineral instalados em terras indígenas podem causar impactos tão grandes nos povos que podem mesmo levá-los à extinção.
- Código Florestal: De todos os temas em pauta, o Código Florestal é visto como o dos mais graves exatamente por simbolizar retrocessos sem precedentes na agenda socioambiental. Segundo organizações ambientalistas a iminente votação de uma proposta de novo Código Florestal é o ponto paradigmático do processo de degradação da agenda socioambiental que flexibiliza a legislação de proteção às florestas, concede anistia ampla para desmatamentos, institui a impunidade e estimulará o aumento do desmatamento, além de reduzir as reservas legais e Áreas de Proteção Permanente – APPs – em todo o País. As organizações alertam ainda que “a versão em fase final de votação afronta estudos técnicos de muitos dos melhores cientistas brasileiros, que se manifestam chocados com o desprezo pelos alertas feitos sobre os erros grosseiros e desmandos evidentes das propostas de lei oriundas da Câmara Federal e do Senado”.
- Matriz energética: Faz poucos dias, a presidente Dilma Rousseff afirmou que não se pode discutir “fantasias” na área energética. O recado da presidenta foi dado aos movimentos sociais que criticam a proliferação de hidrelétricas, principalmente as grandes, em construção ou projetadas para os rios Madeira, Xingu, Tapajós, Teles Pires e Araguaia na região da grande Amazônia. A presidente desqualificou as energias alternativas no exato momento em que pesquisas e estudos apontam para o seu crescimento no mundo todo, particularmente no Brasil, e na sua viabilidade.
- Reforma Agrária: O acesso e a democratização da terra pouco avançou no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. Dados oficiais do Incra revelam que a presidenta conquistou em 2011 a pior marca dos últimos dezessete anos, contrariando a expectativa dos movimentos sociais do campo. Em 2011 foram assentadas apenas 22.021 famílias. Para o MST, os números de 2011 são vergonhosos. João Pedro Stédile, cita entre as razões da paralisia da Reforma Agrária, o descaso do governo que “não compreendeu ainda a importância e a necessidade da reforma agrária como um programa social, de produção de alimentos sadios, para resolver o problema da pobreza no meio rural”.
- Terceirização e precarização do trabalho: Tramita no Congresso o projeto de Lei 4.330 que pretende regularizar o mecanismo da terceirização. Na opinião dos sindicatos, particularmente da CUT, a terceirização precariza as condições de trabalho, aumenta número de acidentes e adoecimentos, reduz salários, amplia a jornada de trabalho, aumenta a rotatividade e desrespeita direitos trabalhistas. Destacam ainda que os trabalhadores terceirizados sofrem com os empecilhos à criação de identidades coletivas nos locais de trabalho. Movimento contra a regulamentação da terceirização lançou um Manifesto em defesa dos direitos dos trabalhadores ameaçados pela Terceirização e um abaixo-assinado.
Agenda nova. Velhas visões
Paralelamente a esse processo de retrocesso em legislações já em vigor ou derrogação de direitos em regulamentações a serem efetivadas, assiste-se a outras iniciativas que fazem coro ao discurso do “Brasil Grande” e sobre as quais há desconhecimento, pouco debate ou até mesmo a tentativa de desqualificação das forças sociais que procuram contestá-las. Destacam-se aqui o debate da Rio+20 e as obras da Copa do Mundo, entre outras.
Rio+20. O debate da superexploração dos recursos naturais planetário e os seus limites se dá no contexto da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento, a Rio+20 e não há muito otimismo com o que vem pela frente. A contribuição brasileira à Conferência tem sido tímida. Pergunta o economista Ricardo Abramovay: “se o país que vai abrigar a conferência não ousa apontar horizontes inovadores em suas posições, como esperar que a própria reunião desperte entusiasmo proporcional ao que deveria ser a sua importância?” A sensação que se tem é que o Brasil dá mais atenção a forma do que ao conteúdo na preparação da Rio+20 e estaria preocupado em passar boa imagem – daí todos os cuidados com a votação do Código Florestal e até seu possível adiamento para após o evento. O país, apesar de todas as condições de assumir a vanguarda nesse debate, estaria declinando dessa postura. Até já se fala em fiasco do evento. O diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, pede que “o Brasil, como país anfitrião, não deixe que a cúpula apenas reafirme os compromissos de 1992. Isso será um fracasso”.
Copa do Mundo. Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa tem denunciado reiteradamente casos de impactos e violações de direitos humanos nas obras e transformações urbanas empreendidas para a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil. Os problemas acontecem nas áreas da moradia, trabalho, meio-ambiente, mobilidade, segurança pública, entre outros. Para além desses problemas, outros se somam, como os excessivos gastos brasileiros em estádios que sequer se pagarão num futuro próximo, a subserviência do Estado brasileiro diante da Fifa como na aprovação do texto básico da Lei da Copa e o autoritarismo com que o governo toca o projeto sem espaço para a participação da sociedade civil organizada.
Triunfalismo esvazia agenda social
O que se vê, portanto, é que o clima do “Brasil Grande” eclipsa retrocessos na agenda social, ambiental, agrária e do trabalho. A ascensão social via mercado de consumo esconde problemas estruturais não resolvidos como nas áreas da saúde, educação, moradia, saneamento, sistema prisional entre outros. O inegável crescimento econômico brasileiro, a melhoria de renda do conjunto da população e os programas sociais têm servido de forte argumento de esvaziamento do debate sobre os problemas que persistem na sociedade brasileira e até mesmo dos recuos na agenda socioambiental, agrária e do trabalho.
O triunfalismo com o “Brasil Grande” negligencia a dívida social para os indígenas, negros e os pobres do campo. Os grandes projetos elevados a totens do Brasil potência e a transformação do país em exportador de commodities passaram a justificar retrocessos sociais. Sem terras, indígenas, populações ribeirinhas e quilombolas tornaram-se em muitos casos estorvos. Acrescente-se a isso tudo e decorrente dessa lógica o aumento da violência no mundo rural.
A agenda no Congresso que procura retardar e impedir a demarcação das terras indígenas, a interrupção de legalização dos territórios quilombolas, a tolerância para com o trabalho escravo, a flexibilização do Código Florestal, associados ao projeto do governo de retomada do projeto de mineração, da inoperância na reforma agrária,da insistência de uma matriz energética centrada em megaobras com impactos devastadores revelam que o “Brasil Grande” não permite espaço à contestação e desqualifica as vozes dissonantes.
Sobre essa retomada do espírito do “Brasil Grande”, comenta a jornalista Eliane Brum: “Entre os desafios que um futuro biógrafo enfrentará ao contar a vida e a obra de Dilma Rousseff está o seguinte paradoxo: como uma mulher que entrou na clandestinidade, pegou em armas para lutar contra o autoritarismo e pagou pela sua coerência o preço altíssimo de ter sido torturada vira uma ministra, primeiro, uma presidente depois, que, em se tratando de políticas para a Amazônia e o meio ambiente, incorpora – e o pior, implanta – a mesma visão da ditadura militar que combateu”.
“De novo, – continua a jornalista – estamos de volta ao Brasil Grande que pensa pequeno – mas em plena democracia e numa imprensa sem censura oficial. Acho o paradoxo fascinante do ponto de vista humano, mas um desastre para o país”. Mais: “Talvez, hoje, a presidente Dilma Rousseff passasse um pito na guerrilheira Dilma Rousseff: ‘Não há espaço para a fantasia’”.
(Des)razões do retrocesso
Quais seriam as razões do retrocesso na agenda social mesmo num governo de esquerda? O porquê das enormes dificuldades em se pautar os temas citados anteriormente na sociedade? Quais as razões do isolamento da agenda social? Como explicar a debilidade do movimento social e o descenso das lutas sociais mesmo quando direitos conquistados são atacados?
As respostas não são simples. O próprio enunciado das questões pode ser questionado. Não deixa, entretanto, de ser um paradoxo o fato de que num governo de esquerda a agenda se apresente tão conservadora.
Na opinião de João Pedro Stédile, “estamos num período histórico de descenso do movimento de massas e da falta de mudanças estruturais. E é isso que afeta as mobilizações no campo, e também na cidade” e, segundo ele, agravando essa situação tem-se um governo tecnocrata e um partido de esquerda, o maior deles, sem entusiasmo com reformas estruturais. Na opinião da liderança do MST, “o governo da presidente Dilma Rousseff foi tomado por uma burocracia de segundo escalão que não entende nada de povo” (…) e “o PT virou um partido chapa-branca, que se preocupa mais com cargos e em puxar o saco do governo, deixando de cumprir seu papel de partido político”.
Outra razão para o freio de mão com que o governo lida com a agenda social seria a sua condição de refém das forças conservadoras que lhe dão sustentação. Essa hipótese dá conta de que o pretenso Brasil moderno necessita do Brasil atrasado para continuar em frente. A denominada tese da realpolitik que defende que é preciso muitas vezes recuar para paradoxalmente avançar. As concessões à bancada ruralista, evangélica, ao lobby empresarial, entre outros, explicar-se-iam por essa lógica.
Os problemas enfrentados por sem terras, indígenas, quilombolas, povos ribeirinhos, populações da periferia que devem ser removidas em função de megaprojetos deve-se também a opções políticas. No caso do governo brasileiro ao que se tem denominado de modelo (neo)desenvolvimentista, um modelo que prioriza o crescimento econômico como varinha de condão de resolução de todos os demais problemas. É a partir desse modelo que se justificam e se legitimam as grandes obras: hidrelétricas, estádios, transposição de S. Francisco… Na equação do desenvolvimentismo o meio ambiente se torna secundário, daí a dificuldade do governo lidar com a agenda ambiental (Código Florestal, Rio+20).
Há ainda outras possíveis razões do enfraquecimento da agenda social e mesmo do seu recuo. Vozes fortes que estiveram do lado do movimento social, encontram-se agora do lado oposto, no governo. Essas mesmas vozes e articulações que auxiliaram na construção do movimento social, agora, muitas vezes, o desqualificam. Entre os casos, recentes, têm-se a postura autoritária da ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário que na polêmica do relatório que envolve a hidrelétrica de Belo Monte tentou censurar e desqualificar as posições do movimento social. Outro caso recente envolve o ministro da Casa Civil Gilberto Carvalho que procurou desqualificar o movimento grevista dos canteiros da hidrelétrica de Jirau e Belo Monte utilizando-se dos mesmos argumentos que o patronato costuma utilizar.
Somam-se aos ministros de Estado, parlamentares, milhares de assessores em cargos de confiança que precisam defender as posições do governo e que já não depositam suas energias na agenda do movimento social, muitas vezes, aliás, estão na trincheira oposta.
O recuo da agenda social por outro lado, relaciona-se ao crescente conservadorismo da sociedade que mobiliza-se fortemente em torno de temais morais, mas não necessariamente sociais.
(Ecodebate, 25/04/2012) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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