Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Crise econômica >>> IHU - Unisinos

A origem das crises anteriores encontra-se no fato de que economia deixou de ser a “serva” da sociedade para se tornar a sua “senhora”, a “grande transformação” de que nos fala Karl Polanyi. Impulsionada pela ideia de progresso linear e quantitativo assentado sobre o crescimento econômico e recursos naturais ilimitados, a economia, na sociedade industrial, foi se desvencilhando gradativamente da ética e da política e passou a ser orientada e regida tão somente pelo mercado. Ainda mais, para além ruptura da relação entre economia e sociedade, também a ligação entre economia e ambiente foi se desfazendo.

Recessão europeia reduz consumo de energia e custo para conter emissões //// Tn sustentavel-IPS

Data: 31/05/2010 08:33
Por: Redação TN / David Cronin, IPS

A depressão econômica que afeta a União Europeia (UE) reduziu o consumo de energia e, portanto, o custo que implicaria elevar a meta de redução das emissões de gases-estufa, segundo novas análises. A UE se comprometeu oficialmente, em 2007, a reduzir em 20%, até 2020, e tomando por base os indicadores de 1990, a quantidade de dióxido de carbono e de outros elementos contaminantes que é liberada na atmosfera, que provocam o aquecimento global, com a consequente mudança climática.

Contudo, um documento divulgado, no dia 26, pela Comissão Europeia – órgão executivo da UE – diz que elevar essa meta para 30% no mesmo período não implicaria uma carga excessiva para as economias europeias. A queda no consumo de energia causada pela recessão e a alta dos preços dos combustíveis modificou o custo previsto para cumprir a meta de 20%, de 70 bilhões de euros para 48 bilhões de euros ao ano até 2020. Se a meta de redução das emissões subir para 30%, o custo seria de 81 bilhões de euros anuais, 11 bilhões de euros mais do que o previsto originalmente para a redução de 20%.

Embora os cientistas do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) preveja que a meta de 20% não bastará para impedir um aumento catastrófico da temperatura terrestre, a UE se nega a aceitar uma meta maior de redução das emissões.

Um dos principais motivos para isso é que os representantes da indústria, que faz uso intensivo da energia – cimento, alumínio, aço e produtos químicos –, alertam que abandonariam a UE e se instalariam em outros países com normas ambientais mais flexíveis ( no terceiro mundo, por exemplo!!!). Mas as advertências não correspondem aos fatos. Em 2008, o Climate Strategies, instituto de pesquisa climática com sede na Grã-Bretanha, disse que é mais provável que fatores como taxa de câmbio, acesso às matérias-primas, educação da mão-de-obra e infraestrutura do transporte influenciem na localização de uma empresa em um país do que a política climática.


A IPS perguntou a Connie Hedegaard, comissária europeia de Ação pelo Clima, se considera isso um exagero das empresas. “Entendo que o presidente de uma indústria tem algo em mente neste instante: de onde vem o dinheiro? Creio que a Europa também deve considerar o risco da perda de empregos se formos muito ambiciosos. Por outro lado, também há um preço se ficarmos quietos”, respondeu. Hedegaard, uma política dinamarquesa que presidiu várias negociações internacionais sobre Mudança Climática em Copenhague, no ano passado, lamentou que a Europa esteja atrasada no incentivo a tecnologias projetadas para reduzir a dependência de carvão, petróleo e gás.

Embora mais de 60% da nova capacidade geradora de eletricidade na EU, no ano passado, tivesse origem em fontes renováveis, Hedegaard afirma que “a liderança europeia está em dúvida”, sobretudo diante da Ásia. Empresas da China e da Índia estão entre as dez principais produtoras de turbinas eólicas. E a maioria dos paineis voltaicos utilizados para aproveitar a energia solar é fabricada na China e em Taiwan.

Christian Kjaer, da Associação Europeia de Energia Eólica, disse que as fontes renováveis apresentam enormes possibilidades de trabalho. Mais de 190 mil pessoas já estão empregadas na área de geração de energia eólica na Europa, informou a entidade. A falta de vontade demonstrada pelos governantes do mundo no ano passado, em Copenhague para negociar um acordo sólido sobre a mudança climática, não deve impedir que a UE redobre seus esforços para reduzir as emissões, disse Kjaer. “A Europa é líder mundial em energia eólica, mas enfrenta uma competição séria diante de China, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Índia”, acrescentou.

A organização Amigos da Terra exortou a UE que fixe uma meta de redução de 40% de suas emissões até 2020, para impedir que a temperatura da Terra aumente dois graus acima dos níveis pré-industriais. O grupo reclama que essa meta seja legalmente vinculante e que os países que não cumprirem suas obrigações sofram sanções.


"A meta de redução de 40% não só é possível, como necessária", sustentou David Heller, especialista em Clima da Amigos da Terra. “Os governos da UE devem enfrentar os interesses criados e cobrar inequivocamente um aumento das metas”, acrescentou o ativista. A alta de dois graus na temperatura terrestre deixaria na rua 250 milhões de pessoas no Sul em desenvolvimento, levaria mais 30 milhões para a indigência e privaria três bilhões de pessoas do acesso adequado à água, afirmam especialistas. “Se continuarmos dependendo dos combustíveis fósseis, reduziremos a capacidade de desenvolvimento das nações pobres”, afirmou Rob van Drimmelen, da Aprodev, uma organização com sede em Bruxelas vinculada às igrejas protestantes. “A adoção de medidas para desvincular a economia europeia do consumo de carbono não é apenas algo inteligente, mas uma obrigação moral”, afirmou.

Realismo de pacote de ajuda à Grécia é elogiado por economistas /// Reuters

Plantão Publicada em 02/05/2010 às 11h59m

Reuters/Brasil Online

Comentários..Por Noah Barkin e Lefteris Papadimas

ATENAS (Reuters) - A Grécia prometeu fazer cortes ainda mais profundos em seu orçamento sob um pacote de austeridade anunciado neste domingo, mas ainda levará dois anos para reduzir seu déficit para níveis abaixo dos limites da União Europeia.

O acordo com a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi elogiado por economistas por fazer um retrato mais realista da economia grega e da redução do déficit do país do que o governo havia pintado anteriormente.

Sob os novos planos, a Grécia espera que seu Produto Interno Bruto (PIB) se contraia 4 por cento em 2010, contra uma previsão anterior do governo de queda de 2,85 por cento. A economia deve voltar a crescer em 2012, não em 2011 como se afirmava anteriormente.

"As medidas que estão sendo tomadas agora são aquelas que os economistas vinham pedindo há anos", disse Gikas Hardouvelis, professor de economia da Universidade Piraeus. "Minha visão é de que eles são suficientes para tirar a Grécia da crise."

O ministro das Finanças, George Papaconstantinou, disse em entrevista coletiva que a ajuda, que abrirá caminho para um pacote de resgate da UE e do FMI que deve chegar a 120 bilhões de euros, incluirá uma redução no déficit orçamentário de 30 bilhões de euros em três anos, número maior do que muitos esperavam.

Mas o déficit cairá de forma mais lenta, chegando a 8,1 por cento do PIB em 2010, contra 13,6 por cento no ano passado, e depois indo a 7,6 por cento em 2011 e 6,5 por cento em 2012. Ele não cairá para baixo do limite da UE, de 3 por cento do PIB, até 2014.

As previsões para a redução da dívida também se tornaram mais modestas. Estimativas anteriores do governo davam conta que a dívida chegaria a 120,6 por cento do PIB em 2011. Sob os novos planos, a dívida continuará crescendo por quatro anos e atingirá 150 por cento do PIB em 2013.

Papaconstantinou disse que as medidas incluíam uma elevação no imposto sobre valor agregado (IVA) para 23 por cento, contra 21 por cento; um aumento adicional de 10 por cento na taxação sobre combustível, álcool e tabaco e uma redução ainda maior nos salários e aposentadorias do setor público.

(Reportagem adicional de Renee Maltezou, Harry Papachristou e Dina Kyriakidou)

Grécia fecha acordo de resgate, alerta sobre sacrifícios /// Reuters

Publicada em 02/05/2010 às 10h23m
Reuters/Brasil Online

Por Lefteris Papadimas e Harry Papachristou
ATENAS (Reuters) - A Grécia fechou um acordo com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que abre as portas para um resgate financeiro de bilhões de euros e que exigirá grandes sacrifícios da população grega, disse o primeiro-ministro George Papandreou neste domingo.

Entre esses sacrifícios está um corte orçamentário de 30 bilhões de euros (40 bilhões de dólares) ao longo de três anos, além de medidas que já haviam sido acordadas e que levarão o déficit do país para abaixo dos limites da UE até 2014.

O governo disse aos gregos, que já foram às ruas protestar contra as medidas de austeridade, que eles têm de escolher entre o resgate e o colapso da economia.

O pacote de ajuda, que deve totalizar 120 bilhões de euros (160 bilhões de dólares) em três anos, representa o primeiro resgate de um membro da zona do euro, de 16 países, e tem o objetivo de combater uma crise de endividamento que abalou os mercados em todo o mundo.

"É um pacote de apoio inédito para um esforço sem precedentes do povo grego", disse Papandreou durante encontro de gabinete transmitido pela TV.

"Esses sacrifícios nos darão tempo para respirar e o tempo que precisamos para fazer grandes mudanças", acrescentou. "Quero dizer aos gregos, de forma bastante honesta, que temos um grande teste pela frente."

O ministro das Finanças, George Papaconstantinou, deu detalhes do acordo antes de ir a um encontro ainda no domingo com ministros das Finanças da zona do euro em Bruxelas, na qual o acordo deve receber o apoio formal do grupo.

O tamanho da ajuda deve ser anunciado em Bruxelas, mas ele cobrirá grande parte das necessidades de empréstimos da Grécia para os próximos três anos, disse Papaconstantinou em entrevista coletiva.

"Estamos todos sendo chamados a fazer uma escolha", disse. "A escolha entre o colapso e a salvação. A escolha é entre realizar um plano de três anos bastante ambicioso e difícil de consolidação fiscal, um programa de reformas estruturais... ou o país chegar a um beco sem saída."

Atenas prometeu reduzir seu déficit orçamentário para dentro dos limites da UE de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014, comparado com os 13,6 por cento do ano passado.

Os salários e as aposentadorias do setor público serão congelados nesses três anos, enquanto um fundo criado pela UE e pelo FMI ajudará os bancos gregos. Impostos sobre valor agregado e sobre combustíveis terão forte alta.

Em comunicado, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, recomendou que a Europa ative a ajuda e classificou o pacote de medidas de austeridade como "sólido e de credibilidade".

"Essa ajuda será decisiva para ajudar a Grécia a colocar sua economia de volta nos trilhos e preservar a estabilidade da área do euro", disse Barroso.

A Grécia e os países que a apoiam esperam que o acordo ajude a evitar que a crise se espalhe para outros membros da zona do euro que enfrentam dificuldades, casos de Portugal e Espanha.

A crise na Grécia destruirá a zona do euro? /// Der Spiegel

27/04/2010

Manfred Ertel, Alexander Jung, Christian Reiermann, Wolgang Reuter, Michael Sauga, Hans-Jürgen Schlamp e Janko Tietz


O apelo por ajuda do governo grego está colocando a chanceler alemã Angela Merkel sob pressão. Enquanto a Alemanha é solicitada a fornecer bilhões de euros nos próximos anos para financiar o bailout (operação de salvamento financeiro) da Grécia, crescem os apelos no governo alemão para que a Grécia seja excluída da zona do euro

Wolfgang Schäuble está com uma aparência pálida. A face dele parece contraída e o seu terno cinza está meio largo sobre os seus ombros estreitos. Após passar oito semanas no hospital devido a uma incisão feita em uma cirurgia anterior que não cicatrizou de forma apropriada, o ministro alemão das Finanças parece cansado e emaciado.

Isso foi no início da semana passada, e Schäuble estava passando informações aos especialistas financeiros do governo da coalizão alemã de centro-direita formada pelo Partido Democrata-Cristão (CDU/CSU) e o Partido Democrático Liberal (FDP) a respeito dos últimos desdobramentos da crise grega, que vem se intensificando semanalmente durante os últimos seis meses.

Schäuble informou aos membros do parlamento que agora ficou bem estabelecido que Atenas poderá solicitar assistência financeira junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e à União Europeia. Mas ele acrescentou que ainda haveria tempo. Schäuble previu que os gregos só apresentariam um pedido de auxílio daqui a duas ou três semanas.


Mas ele estava equivocado. Na última sexta-feira, o primeiro-ministro grego, George Papandreou, tendo atrás de si a paisagem pitoresca da ilha mediterrânea de Kastellorizo, anunciou que o seu país não conseguia mais rechaçar os ataques dos especuladores financeiros internacionais e teria que solicitar ajuda dos seus parceiros europeus.

Pouco tempo depois, um anúncio de apenas quatro linhas feito pelo ministro grego das Finanças emergiu das máquinas de fax em Bruxelas. Na nota, os gregos pediam a “ativação do mecanismo de apoio”.


Dificilmente as coisas poderiam ter evoluído de maneira pior – para a Grécia, a Europa e o governo alemão.
Durante semanas, a chanceler Angela Merkel prometeu aos cidadãos que só desembolsaria o dinheiro do contribuinte alemão para a Grécia como “último recurso”. E, caso a assistência se tornasse necessária, disse Merkel, tentando tranquilizar os membros do seu próprio partido, a Grécia não deveria receber nenhum pedido de ajuda até meados de maio. Essa foi a forma encontrada por Merkel para deixar essa questão sensível fora da campanha eleitoral importante no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, em 9 de maio.


Fracasso completo
Mas agora o pedido de ajuda por parte de Atenas deixou claro que a estratégia de Merkel para a Grécia fracassou completamente. O drama europeu envolvendo a dívida governamental e os especuladores gananciosos não está se adequando aos cronogramas nacionais. Enquanto o governo estadual da coalizão CDU/FDP na Renânia do Norte-Vestfália teme perder a sua maioria parlamentar, a chanceler enfrenta debates desagradáveis em Berlim.

Críticos da moeda comum europeia já deixaram claro que veem a ajuda emergencial à Grécia como uma violação dos tratados europeus. Eles pretendem mover um processo legal junto ao Tribunal Constitucional Federal da Alemanha na cidade de Karlsruhe. Membros do CDU e do FDP no Bundestag, o parlamento da Alemanha, advertem para os perigos da criação de uma “união europeia de transferências monetárias”, algo que Merkel disse que deseja evitar de qualquer forma.

Mesmo dentro do governo Merkel, há temores de que a Alemanha possa terminar arcando com grande parte da conta decorrente de um desastre financeiro grego. Especialistas no gabinete dela suspeitam que muitos bilhões de euros poderia desaparecer na enormidade da dívida de Atenas sem que o pior fosse evitado: uma bancarrota grega e uma nova onda de especulação contra o euro.

Não é de se surpreender que o clima esteja tenso na coalizão governamental em Berlim. O partido bávaro vinculado ao CDU, a União Social Cristã (CSU), está exigindo que, em caso de dúvida, a Grécia saia da zona do euro. Já a chanceler Merkel está determinada a pelo menos transmitir a impressão de que está administrando as críticas dentro do seu governo.


Apertando os cintos
No final da semana passada, Merkel exigiu que, antes que os gregos recebam qualquer dinheiro, eles primeiro apertem os cintos ainda mais. Mas será que isso seria possível? Ou, se fizesse tal coisa, o país estaria sufocando o que restou da sua arrasada economia? Será que os gregos algum dia poderão pagar a dívida gigantesca, que já chegou a cerca de 300 bilhões de euros (US$ 405 bilhões, R$ 707 bilhões)?

Essa questão diz respeito também à reputação de Merkel e aos intensos temores dos alemães. Merkel sabe que as preocupações com a inflação são mais profundas na Alemanha do que em qualquer outra nação europeia. Na semana passada, o ministro das Finanças, Schäuble, pôde presenciar pessoalmente as reações instintivas que essa questão pode desencadear na Alemanha.

Na terça-feira, Schäuble tentou convencer os principais líderes do grupo parlamentar CDU/CSU a pressionarem a Europa para prometer assistência financeira à Grécia por meio do parlamento em medidas aceleradas de urgência. Ele propôs simplesmente vincular as regulações aplicáveis a uma legislação já existente, de forma a evitar debates contraproducentes no Bundestag.

Mas a ideia de Schäuble encontrou uma feroz oposição de membros do seu próprio partido, o CDU, e do partido aliado, o CSU. “Será que nós sabemos sequer se os gregos ainda estão solventes?”, questionaram os políticos do CSU. Membros do CDU também manifestaram preocupações. Norbert Lammert, o presidente do Bundestag, advertiu que a ajuda de emergência é demasiadamente importante para ser aprovada precipitadamente no Bundestag. Lammert argumentou que uma legislação apropriada necessitaria de uma segunda e uma terceira leitura diante dos membros do parlamento.

Agora que a Grécia solicitou oficialmente ajuda, Schäuble terá que tentar uma nova abordagem. Na segunda-feira desta semana, os ministros desejam reunir-se com os presidentes dos partidos representados no Bundestag para discutir formas de elaborar um pacote sobre a Grécia no parlamento da forma mais discreta possível.

Grandes reservas na Alemanha
O ministro não pode esperar nenhum apoio maciço – as reservas em relação à medida nos outros partidos são simplesmente muito fortes. Em uma carta a Merkel, Frank-Walter Steinmeier, o líder do Partido Social-Democrata (SPD), de centro esquerda, deixou claro que as decisões sobre uma possível assistência financeira à Grécia são de uma importância fundamental para o futuro da União Europeia”. “É por isso que elas precisam ser amplamente discutidas no parlamento e decisões responsáveis se fazem necessárias”. Steinmeier acrescentou que Schäuble deveria “apresentar a proposta para discussão imediatamente, e preferivelmente nesta semana”.

As preocupações não são nem um pouco menos significantes na coalizão de governo. “Prosperidade e justiça social exigem uma moeda estável, mas nós não estamos passando nenhum cheque em branco”, disse o líder do FDP, Guido Westerwelle, falando em uma convenção do partido no domingo. A Grécia precisa colocar a sua própria casa em ordem para que haja um início de processo, e uma ajuda só poderá ser fornecida como último recurso para proteger a nossa própria moeda”. Vários membros do FDP no Bundestag também deixaram claro nesta semana que têm sérias dúvidas em relação ao bailout da Grécia.


Hans-Peter Friedrich, um político veterano do CSU, também expressou reservas: a Grécia não enfrenta apenas um problema de liquidez, mas também um problema fundamental de crescimento e estrutural”. Por este motivo, acrescentou Friedrich, o país deveria “cogitar seriamente a sua saída da zona do euro”. “Essa iniciativa não deveria ser considerada um tabu”, afirmou Friedrich.

O que torna a posição de Friedrich tão explosiva é o fato de alguns membros conservadores do parlamento europeu compartilharem o ponto de vista dele. Um deles, Werner Langen, diretor do grupo CDU/CSU no Parlamento Europeu, está “extremamente cético quanto à ideia de que este pacote de auxílio respeite a lei da União Europeia e a lei constitucional da Alemanha”. Langen acredita que a ajuda, no valor de bilhões de euros, não trará nenhum benefício para os gregos no longo prazo. “A alternativa real”, diz ele, “é a Grécia se retirar da união monetária e tornar-se mais competitiva por meio da imposição de reformas estruturais estritas”.

Alto risco
Vastos segmentos do mundo profissional concordam com as críticas dos “eurocéticos”. Poucos economistas estão convencidos de que a injeção pretendida de bilhões de euros saídos dos cofres europeus e alemães serão capazes de curar os males da Grécia. E, pior ainda, muitos críticos duvidam de que os fundos de socorro à Grécia prometidos até o momento serão suficientes.


Os gregos precisarão tomar emprestado cerca de 130 bilhões de euros (R$ 304 bilhões) até o final de 2012, quando os empréstimos concedidos no atual pacote da União Europeia vencerão. Entretanto, políticos vinham assumindo até agora que as exigências financeiras do país não ultrapassariam os 80 bilhões de euros (R$ 187 bilhões). Mas essa quantia só seria suficiente até o final de 2011, o que significaria que a Grécia teria que arrecadar o restante do dinheiro nos mercados financeiros.

Isso será difícil. Os principais economistas não acreditam que a taxa de risco sobre os títulos do tesouro grego diminuirá apenas porque a União Europeia despejou dinheiro sobre Atenas. Como resultado, as taxas de juros sobre os títulos gregos permanecerão elevadas – o que significa que o Estado grego terá que arcar com um grande fardo financeiro.

Portanto, a União Europeia terá que encorajar o país a seguir a rota da consolidação e da reforma, diz o renomado economista Martin Hüfner, de forma que a Grécia possa quitar as suas dívidas dentro de alguns anos.

Pouca confiança
Michael Heise, economista da seguradora multinacional Allianz, concorda. “O dinheiro da União Europeia só ajudará os gregos no curto prazo”, diz ele. A questão fundamental é saber como o país conseguirá quitar a sua dívida”.

Nem mesmo os próprios especialistas de Schäuble têm confiança total no pacote europeu de bailout. Eles dizem que as elevadas taxas de risco nos mercados demonstram que os investidores tem pouquíssima confiança nas medidas europeias.

Dois cenários de risco estão sendo atualmente discutidos pelos economistas. No primeiro cenário, a Grécia iria à bancarrota e os seus empréstimos seriam suspensos, estendidos ou reestruturados. No segundo cenário, o país seria forçado a retirar-se da zona do euro, implementar uma reforma cambial e partir para um recomeço econômico. Em ambos os casos, grandes parcelas do dinheiro do bailout europeu seriam perdidas.

Já estão se fazendo paralelos com um outro enfrentamento histórico entre governos e especuladores no início da década de noventa. Naquela época, o empresário de fundos de hedge George Soros colocou o Banco da Inglaterra de joelhos, e a libra esterlina britânica teve que ser retirada do sistema de moedas europeu que vigorava naquele período.


“Correta e inevitável”
O mesmo cenário poderia desenrolar-se desta vez, ainda que os gregos, após o seu pedido espetacular de ajuda na sexta-feira, estejam novamente falando de esperança.

O economista ateniense Yannis Stounaras, por exemplo, chama essa decisão de “correta e inevitável”. O líder empresarial Dimitris Daskalopoulos vê o programa como a “última chance da Grécia”, e afirma que o país não deveria interpretar as exigências europeias “como uma penalidade”, mas sim como “uma terapia necessária”.

Desde a última quarta-feira, especialistas do FMI, do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia têm circulado pelo Ministério das Finanças em Atenas, avaliando orçamentos, estudando obrigações e créditos e analisando os efeitos do programa de austeridade sobre o governo grego. Os técnicos acreditam ser muito provável que encontrarão aquele tipo de surpresa ocasional. Segundo especialistas, o topo da montanha da dívida ainda não foi encontrado.

Na semana passada, a agência de estatística da União Europeia, a Eurostat, informou que o déficit orçamentário da Grécia em 2009 era de 13,6% e não de 12,7%, conforme anteriormente estimado. Isso coloca a Grécia em pé de igualdade com a Irlanda, a detentora do recorde de déficits da Europa. E ainda não se enxerga no horizonte um fim para o fluxo constante de más notícias.

“Praticamente falida”
A Eurostat já informou o ministro das Finanças da Grécia, George Papaconstantinou, a respeito das “reservas” adicionais que o órgão tem em relação aos números apresentados por ele, que preveem que o déficit do ano passado aumentará entre 0,3 e 0,5 pontos percentuais. Quando isso ocorrer, os gregos acharão muito difícil cumprir aquilo que está previsto no programa de consolidação.

E se o crescimento econômico sofrer um revés intenso devido às medidas de austeridade rígidas, algo que é de se temer, os planos não surtirão efeito algum, diz o proeminente economista alemão Hans-Werner Sinn.

“A Grécia está praticamente quebrada”, diz Sinn, que é diretor do Instituto Ifo, com sede em Munique. Segundo ele, as consequências serão colocar os países que estão implementando a operação de resgate “sob pressão” cedo ou tarde, o que possivelmente incluiria até mesmo a Alemanha, que encontra-se supostamente solvente. “Nós já temos uma relação de dívida de 73%”, adverte Sinn. “Estamos em uma corda escorregadia, e ela ficará ainda mais escorregadia”.

Tradução: UOL

Mesmo rebaixada, nota de crédito de Portugal está acima da Grécia /// Valor Online

Publicada em 24/03/2010 às 10h43m
Valor Online.
Comentários..SÃO PAULO - A nota de crédito de Portugal está agora no mesmo nível da Irlanda, Itália e Chipre, conforme a classificação de risco da agência Fitch. Todos esses países possuem nota da dívida soberana AA-, indicaram jornais portugueses.

Nesta quarta-feira, por causa da fraca evolução orçamentária em 2009, quando o déficit público português alcançou 9,3% do Produto Interno Bruto (PIB), a Fitch decidiu reduzir o rating da dívida de longo prazo de Portugal de AA para AA-, com perspectiva negativa.

Após o rebaixamento, Portugal passou a ter a quarta pior classificação de dívida dos 16 países da zona do euro, na frente apenas de Malta, Eslováquia e Grécia.

A Fitch alertou da chance de novos cortes na nota de crédito portuguesa se o governo do país não realizar mudanças no campo fiscal. O governo português sustentou, por sua vez, que permanece comprometido em levar adiante os planos para enxugar o déficit orçamentário e atender às regras da União Europeia.

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