Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental tem semana de debates De 24 a 30 de Maio - Cine Livraria Cultura - SP

Confira aqui a programação:Debates sobre o meio ambiente e a relação entre o homem e a natureza, fazem parte da 2ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental que acontece até o dia 30 de maio.

Os debates são antecedidos pela exibição de um filme que expõe a temática que será discutida e acontecerão todas as noites no Cine Livraria Cultura:

Sexta dia 24, 20:30h- Debate Economia “A Indústria dos Orgânicos” com exibição do filme: A Fé nos Orgânicos (presença do diretor Kip Pastor)

Sábado dia 25, 19h – Debate Cidades “Rios Urbanos” - com exibição do filme: Rios Perdidos (presença da ativista Ann-Marie) Domingo dia 26, 19h – Debate Água : “Gestão pública da Água” - com exibição do filme: A Crise Global da Água

Segunda dia 27, 20:30h – Debate Povos e Lugares : “Questão Indígena” – com exibição do filme: Desterro Guarani

Terça dia 28, 20:30h – Debate Globalização: “Efeitos da Globalização” – com exibição do filme: Amargas Sementes (presença do diretor Micha X. Peled)

Quarta dia 29, 20:30h – Debate Contaminação: “Contaminação e Saúde Pública” – com exibição do filme:Petróleo: O Grande Vício (com presença do diretor Josh Tickell)

Quinta dia 30, 20:30h – Debate Mobilização: “Sociedade Civil Organizada” – com exibição do filme: Rebeldes com Causa Gratuita, a mostra é organizada em sete eixos temáticos (Água, Cidades, Contaminação, Economia, Globalização, Mobilização e Povos e Lugares) e os debates acontecem após a exibição de um filme que expõe a temática a ser discutida.

A ‘Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental’ é uma iniciativa da ONG Ecofalante, nascida em 2003 a partir da ação de um grupo de educadores, comunicadores, cineastas e profissionais, com o objetivo de chamar a atenção da população paulista para de meio ambiente, sustentabilidade, cidadania, governança, participação e políticas públicas.

Confira a programação completa do evento aqui.

TERRAMÉRICA – Os agrocombustíveis não são a solução

por Nnimmo Bassey*
Não é novidade que os agrocombustíveis desataram uma nova febre pela África. Foram monopolizados milhões de hectares sem que ninguém se preocupasse com os pobres que vivem nelas, afirma o presidente da Amigos da Terra Internacional, Nnimmo Bassey.

Durban, África do Sul, 5 de dezembro de 2011 (Terramérica).- A ciência nos diz que caminhamos direto para uma crise climática, e está em nossas mãos mudar de rumo. Porém, algumas soluções preocupantemente falsas estão na mesa de conversações da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, por exemplo, a promoção os biocombustíveis disponíveis no mercado, como o etanol.

O termo biocombustíveis é enganoso. Estes combustíveis elaborados com base em vegetais se ajustam melhor à descrição de agrocombustíveis, porque estão longe de serem verdes. Os que ainda afirmam que os agrocombustíveis emitem muito menos gases-estufa do que os combustíveis fósseis ignoram que suas emissões são liberadas na etapa de produção, devido à mudança no uso da terra e à aplicação de fertilizantes, e no processamento.

Entretanto, muitos governos, instituições financeiras internacionais com o Banco Mundial, e empresas multinacionais dedicadas ao agronegócio, ao petróleo e ao transporte promovem os agrocombustíveis como uma solução para as necessidades energéticas mundiais. Passar dos combustíveis fósseis para os agrocombustívies não faz com que os pobres tenham maior acesso à energia, e agrava problemas existentes, como a monopolização de terras.

Também cria desafios específicos para a previsão alimentar, pois cultivos antes dedicados a produzir alimentos, como milho e açúcar, agora se destinam ao etanol. E, o que é crucial, os agrocombustíveis podem desviar recursos destinados a energias limpas e renováveis como a eólica e a solar. A agricultura em grande escala para obter agrocombustíveis, ao contrário da pequena, costuma estar acompanhada de atividades negativas como uso intensivo de água, fertilizantes e pesticidas.

Comumente, assim se causa contaminação e degradação e se esgota os recursos hídricos disponíveis, abrindo passagem para o perigo da fome. No planeta não há terra agrícola suficiente para que os cultivos destinados aos agrocombustíveis atendam as enormes necessidades energéticas de nosso insustentável modo de vida, afirmam vários analistas. Um informe deste ano sobre o Índice Global da Fome diz que a mudança climática, a crescente demanda de biocombustíveis e o aumento do comércio mundial de matérias-primas a futuro são as principais causas da carestia dos alimentos, que exacerbou a fome que afeta o Chifre da África.

Os agrocombustíveis simplesmente não solucionam a crise climática e energética, apesar das evidências de que os biocombustíveis em pequena escala, de produção e capitais locais, podem ser parte da solução quando ajudam a atender as necessidades locais. Em quase todos os 36 Estados do meu país, a Nigéria, a Corporação Nacional Nigeriana do Petróleo (NNPC) e seus sócios estrangeiros adquiriram grandes extensões de terra para produzir etanol a partir de mandioca, sorgo e cana-de-açúcar.

Algumas plantações e centrais de produção de agrocombustíveis ficam em lugares que já sofriam falta de água, deixando as comunidades quase sem meios de vida. Pesquisadores do capítulo nigeriano da Amigos da Terra concluíram que o governo nem mesmo consultou, a população local antes da compra das terras comunitárias.

A África ocupa um lugar importante no radar dos promotores dos agrocombustíveis, e os governos africanos veem neles benefícios financeiros de enorme potencial para as elites políticas e financeiras. Contudo, cada vez mais pesquisas científicas mostram que os agrocombustíveis estimulam o desmatamento, a perda de biodiversidade e a degradação de solos, bem como a contaminação e o esgotamento da água, e inclusive a mudança climática.

Os que tomam as decisões devem reconhecer esta realidade e o fato de que os agrocombustíveis fomentam a carestia alimentar, a fome, as violações de direitos agrários, os conflitos, deslocamentos e abusos. Que os agrocombustíveis desataram uma nova febre pela África já não é novidade. Foram monopolizados milhões de hectares sem que ninguém se preocupasse muito com os pobres que provavelmente enfrentam deslocamentos e com o impacto na agricultura familiar e outros pequenos estabelecimentos rurais.

A agricultura contribui com mais de um quarto das emissões mundiais de gases-estufa. Lamentavelmente, o texto da convenção sobre a mudança climática não esclarece que o principal culpado é o agronegócio industrial, que depende de fertilizantes químicos e monoculturas, inclusive os que se destinam aos agrocombustíveis. Os pequenos agricultores aplicam principalmente técnicas agroecológicas que esfriam o planeta.

Muitos governos, empurrados pelas empresas, pressionam para que as negociações climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) apoiem soluções falsas para a crise climática, como a adoção dos agrocombustíveis e o comércio das contaminantes emissões de carbono, em lugar de sua redução. Por isso, nosso planeta caminha para um aumento da temperatura média superior a dois graus e para os efeitos catastróficos que –a ciência nos indica – trará consigo.

Enfrentar a crise climática exige objetivos obrigatórios de redução de emissões, aplicados sem o mecanismo de compensação de carbono, que não passa de uma cortina de fumaça para ocultar a contaminação de sempre. Os objetivos voluntários de redução de emissões, como os incluídos nos acordos de Copenhague e Cancún, não são eficazes.

Deixemos de soluções falsas. Vamos investir com urgência em soluções reais, como reduzir o consumo, melhorar a eficiência energética, mudar para as energias renováveis e limpas e para uma produção alimentar local e sustentável. Enquanto as negociações da ONU caminham a passo de tartaruga, a Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, realizada em abril de 2010 em Cochabamba, na Bolívia, lançou um avançado Acordo dos Povos propondo e exigindo verdadeiras respostas.

* Nnimmo Bassey é presidente da Amigos da Terra Internacional, e fundador e diretor-executivo da Environmental Rights Action.

Agua na China - futuro de escassez.

Ana Conceição, da Agência Estado


NOVA YORK - A esperança da China de tornar-se autossuficiente na produção de alimentos esbarra na pressão cada vez maior sobre seu sistema hídrico. A falta de água limitará seu potencial de produção, informa o Wall Street Journal.



Especialistas advertem que as práticas de agricultura intensiva adotadas no país - dirigidas pelas tentativas do governo de contar a inflação dos alimentos - estão causando danos de longo prazo às reservas de água locais, deixando a meta de autossuficiência cada vez mais longe de alcançar.



"A China está tentando de tudo para ser autossuficiente em alimentos, mas haverá anos em que eles não atingirão essa meta", disse David Molden, vice diretor geral de pesquisa do Instituto Internacional de Gestão de Água (IWMI). Problemas já começam a ocorrer. Neste ano, o governo foi forçado a tomar uma medida sem precedente: liberar água do reservatório da barragem de Três Gargantas depois que a pior seca em 50 anos reduziu o fluxo em algumas partes do rio Yangtzé, o maior da Ásia, a apenas um curso d'água.



Em um relatório divulgado ontem em conjunto com a Organização das Nações Unidas (ONU), o IWNI advertiu que esses problemas podem tornar-se cada vez mais comuns e disseminados, não só na China, mas também nos Estados Unidos e na Índia. O relatório estima que, hoje, 1,6 bilhão de pessoas vivem em áreas com escassez de água e esse número pode facilmente subir para 2 milhões.



A influência chinesa sobre os mercados de alimentos tem crescido de forma constante na medida em que o consumo de sua população aumenta. E não só isso. Cada vez mais os chineses adotam dietas ocidentalizadas, à medida que aderem à classe média. Neste ano o país tornou-se importador de milho pela primeira vez em 15 anos e as compras de açúcar devem aumentar pelo menos 50% na safra 2011/12, para 3 milhões de toneladas. As informações são da Dow Jones.







Estudo inédito mostra a poluição de rios e lagos no Brasil

A fundação SOS Mata Atlântica revelou que todos os 69 rios e lagos analisados estão poluídos. A análise foi feita em 15 estados

link para imagem: http://www.youtube.com/watch?v=UCNPOb3QsJ0

A fundação SOS Mata Atlântica divulgou, nesta sexta-feira (07), o resultado de uma pesquisa sobre dezenas de rios e lagos brasileiros. Todos que os que tiveram a água analisada estão poluídos.


Uma paisagem tão bonita e uma água tão suja. O lago da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, é um dos mais poluídos do Brasil, assim como o Rio Verruga, de Vitória da Conquista, na Bahia.

Eles estão entre os 69 rios e lagos pesquisados pela fundação SOS Mata Atlântica nos últimos dois anos. A análise foi feita em 70 cidades de 15 estados brasileiros mais o Distrito Federal.

O resultado é desanimador. A qualidade da água é péssima em 4% das amostras, ruim em 28%, regular em 68%. E não há nenhum caso de água boa ou ótima.

Vinte anos atrás, a poluição dos rios brasileiros era principalmente industrial, produtos químicos, metais pesados, elementos cancerígenos.

Hoje, esse tipo de poluição está mais controlado e foi substituído por outro: agora 70% dos poluentes vêm do esgoto doméstico e os outros 30% vêm basicamente do lixo. Ou seja, nós, moradores das cidades, somos os vilões.

A presença dos urubus às margens do Tietê, em São Paulo, já indica a situação do Rio, que teve a água classificada como ruim. Montanhas de lixo foram tiradas do fundo e há toneladas mais abaixo. Um trabalho sem fim. Também foi classificada como ruim a água dos rios Meia Ponte, em Goiânia; Maranguapinho, em Fortaleza; Paraibuna, em Juiz de Fora, e o Santa Maria, em Vitória.

“A água é um recurso essencial à vida. E a gente não pode fazer dos rios essa lata de lixo, esse canal pra escoar tudo aquilo que não nos serve. Cada cidadão tem que exigir saneamento básico. Aquelas obras que a gente pensa que não dão voto, que não aparecem, trarão grandes resultados para as atuais e futuras gerações”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora de projetos da SOS Mata Atlântica.

Grave; não deixe de ler: Contaminantes emergentes na água

30/9/2010
Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Durante a década de 1990, houve uma redução na população de jacarés que habitava os pântanos da Flórida, nos Estados Unidos. Ao investigar o problema, cientistas perceberam que os machos da espécie tinham pênis menores do que o normal, além de apresentar baixos índices do hormônio masculino testosterona.

Os estudos verificaram que as mudanças hormonais que estavam alterando o fenótipo dos animais e prejudicando sua reprodução foram desencadeadas por pesticidas clorados empregados em plantações naquela região.

Esses produtos químicos eram aplicados de acordo com a legislação norte-americana, a qual estabelecia limites máximos baseados em sua toxicidade, mas não considerava a alteração hormonal que eles provocavam, simplesmente porque os efeitos não eram conhecidos.

Assim como os pântanos da Flórida, corpos d’água de vários pontos do planeta estão sendo contaminados com diferentes coquetéis que podem conter princípios ativos de medicamentos, componentes de plásticos, hormônios naturais e artificiais, antibióticos, defensivos agrícolas e muitos outros em quantidades e proporções diversas e com efeitos desconhecidos para os animais aquáticos e também para pessoas que consomem essas águas.

“Em algumas dessas áreas, meninas estão menstruando cada vez mais cedo e, nos homens, o número de espermatozoides despencou nos últimos 50 anos. Esses são alguns problemas cujos motivos ninguém conseguiu explicar até agora e que podem estar relacionados a produtos presentes na água que bagunçam o ciclo hormonal”, disse Wilson Jardim, professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP.

O pesquisador conta que esses contaminantes, chamados emergentes, podem estar por trás de vários outros efeitos relacionados tanto à saúde humana como aos ecossistemas aquáticos.

“Como não são aplicados métodos de tratamento que retirem esses contaminantes, as cidades que ficam à jusante de um rio bebem o esgoto das que ficam à montante”, alertou o pesquisador que coordena o Projeto Temático “Ocorrência e atividade estrogênica de interferentes endócrinos em água para consumo humano e em mananciais do Estado de São Paulo”, apoiado pela FAPESP.

O aumento no consumo de cosméticos, de artigos de limpeza e de medicamentos tem piorado a situação, de acordo com o pesquisador, cujo grupo encontrou diversos tipos de produtos em amostras de água retirada de rios no Estado de São Paulo. O antiinflamatório diclofenaco, o analgésico ácido acetilsalicílico e o bactericida triclosan, empregado em enxaguatórios bucais, são apenas alguns exemplos.

A esses se soma uma crescente coleção de cosméticos que engorda o lixo químico que vai parar nos cursos d’água sem receber tratamento algum. “Estima-se que uma pessoa utilize, em média, dez produtos cosméticos e de higiene todos os dias antes mesmo de sair de casa”, disse Jardim.

Sem uma legislação que faça as empresas de distribuição retirar essas substâncias tanto do esgoto a ser jogado nos rios como da água deles captada, tem sido cada vez mais comum encontrar interferentes hormonais nas torneiras das residências. Os filtros domésticos disponíveis no mercado não dão conta dessa limpeza.

“Os métodos utilizados pelas estações de tratamento de água brasileiras são em geral seculares. Eles não incorporaram novas tecnologias, como a oxidação avançada, a osmose inversa e a ultrafiltração”, disse o professor da Unicamp, afirmando acreditar que tais métodos só serão incorporados pelas empresas por meio de uma legislação específica, uma vez que eles encareceriam o tratamento.

Peixes feminilizados
Uma das primeiras cidades a enfrentar esse tipo de contaminação foi Las Vegas, nos Estados Unidos. Em meio a um deserto, o município depende de uma grande quantidade de água retirada do lago Mead, o qual também recebe o esgoto da cidade.

Apesar de contar com um bom tratamento de esgoto, a água da cidade acabou provocando alterações hormonais nas comunidades de animais aquáticos do lago, com algumas espécies de peixes tendo apresentado altos índices de feminilização. Universidades e concessionárias de água se uniram para estudar o problema e chegaram à conclusão de que o esgoto precisava de melhor tratamento.

“Foi uma abordagem madura, racional e que contou com o apoio da população, que se mostrou disposta a até pagar mais em troca de uma água limpa desses contaminantes”, contou Jardim.

Alterações como o odor na água são indicadores de contaminantes como o bisfenol A, produto que está presente em diversos tipos de plásticos e que pode afetar a fertilidade, de acordo com pesquisas feitas com ratos no Instituto de Biociências do campus de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Jardim alerta que o bisfenol A é um interferente endócrino comprovado que afeta especialmente organismos em formação, o que o torna perigoso no desenvolvimento endócrino das crianças. Além dele, a equipe da Unicamp também identificou atrazina, um pesticida utilizado na agricultura.

Não apenas produtos que alteram a produção hormonal foram detectados na pesquisa, há ainda outros que afetam o ambiente e têm efeitos desconhecidos no consumo humano. Um deles é o triclosan, bactericida empregado em enxaguatórios bucais cuja capacidade biocida aumenta sob o efeito dos raios solares.

Se o efeito individual de cada um desses produtos é perigoso, pouco se sabe sobre os resultados de misturas entre eles. A interação entre diferentes químicos em proporções e quantidades inconstantes e reunidos ao acaso produz novos compostos dos quais pouco se conhecem os efeitos.

“A realidade é que não estamos expostos a cada produto individualmente, mas a uma mistura deles. Se dois compostos são interferentes endócrinos quando separados, ao juntá-los não significará, necessariamente, que eles vão se potencializar”, disse Jardim.

Segundo ele, essas interações são muito complexas. Para complicar, todos os dados de que a ciência dispõe no momento são para compostos individuais.

Superbactérias
Outra preocupação do pesquisador é a presença de antibióticos nas águas dos rios. Por meio do projeto “Antibióticos na bacia do rio Atibaia”, apoiado pela FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Regular, Jardim e sua equipe analisaram de 2007 a 2009 a presença de antibióticos populares na água do rio paulista.

A parte da análise ficou por conta do doutorando Marco Locatelli, que identificou concentrações de cefalexina, ciprofloxacina, amoxicilina e trimetrotrin em amostras da água do Atibaia.

A automedicação e o consumo exacerbado desse tipo de medicamento foram apontados por Jardim como as principais causas dessa contaminação que apresenta como risco maior o desenvolvimento de “superbactérias”, microrganismos muito resistentes à ação desses antibióticos.

Todas essas questões foram debatidas no fim de 2009 durante o 1º Workshop sobre Contaminantes Emergentes em Águas para Consumo Humano, na Unicamp. O evento foi coordenado por Jardim e recebeu o apoio FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa – Organização de Reunião Científica e/ou Tecnológica.

O professor da Unicamp reforça a gravidade da questão da água, uma vez que pode afetar de inúmeras maneiras a saúde da população e o meio ambiente. “Isso já deve estar ocorrendo de forma silenciosa e não está recebendo a devida atenção”, alertou.

O futuro da agricultura e da água /// Expresso de Lisboa

Miguel Monjardino (www.expresso.pt)

0:00 Sexta-feira, 4 de Junho de 2010

Lembrei-me disto ao ver o índice de matérias-primas agrícolas do "Economist" e as previsões do crescimento económico da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) publicadas esta semana. O índice do "Economist" mostra um aumento dos preços agrícolas de uma base de 100 em 2000 para 199 em 2010.

A OCDE prevê que a economia dos EUA cresça 3,2% este ano. A zona euro crescerá uns tímidos 1,2%. Se olharmos para a China, Índia e Brasil, os números serão muito diferentes - Pequim crescerá 11%, Nova Deli, 8,3% e Brasília 6,5%.

Os dados da OCDE indicam que mais de 50% do produto mundial são actualmente gerados fora do mundo euroatlântico. A manter-se a tendência da última década, a Europa, EUA e Canadá verão o seu produto duplicar nos próximos 40 anos. No resto do mundo, quintuplicam. Como Jack Goldstone chama a atenção na "Foreign Affairs" de Janeiro/Fevereiro, em 2050 o mundo euroatlântico produzirá apenas cerca de 30% da riqueza mundial. É preciso recuar até 1820 para encontramos um número semelhante.

O que mostram mais os números do "Economist" e da OCDE? O que me chamou a atenção foram as implicações para a agricultura e para o consumo de água nas próximas décadas.

O aumento dos preços das matérias-primas agrícolas deve muito ao crescimento económico na Ásia, América Latina e África. Tal como aconteceu na Europa, EUA, Canadá e Japão, as populações dos países com maiores taxas de crescimento económico querem comer mais e melhor. O crescimento da classe média mundial e a urbanização exigem uma agricultura muito mais produtiva do que aquela que temos.

Nos últimos anos, não pensámos muito neste assunto. Os aumentos da produtividade agrícola transformaram-se numa espécie de direito adquirido das sociedades mais prósperas do mundo. Malthus e as suas preocupações sobre a tensão entre os níveis de produção agrícola e o aumento da população tornaram-se uma curiosidade para alguns economistas e historiadores. Mas, como estamos a descobrir muito rapidamente, os direitos adquiridos podem ser uma coisa efémera. Poderá acontecer o mesmo na agricultura?

Os números sugerem que os investimentos na investigação agrícola a nível internacional têm baixado nas últimas décadas e que os níveis de produtividade não estão a acompanhar o aumento da procura; mostram também que a agricultura exige cada vez mais água. O aumento da população mundial dos actuais 7 para 9 milhares de milhões de pessoas em 2050 complica ainda mais as coisas.

Como John Grimond argumenta no "Economist" da semana passada, o problema da água é a sua distribuição geográfica. O Brasil, o Canadá, a Colômbia, o Congo, a Indonésia e a Rússia têm imensa água. No lado oposto estão a China e a Índia, países com mais de um terço da população mundial mas com pouca água nos seus territórios. A evolução do clima sugere que haverá mais secas na Europa do Sul, no Médio Oriente, na Patagónia, no norte de África e no sudoeste dos EUA. Outras zonas terão mais água e mais cheias.

A agricultura e a água são hoje em dia quase sinónimo de guerra para muitos académicos, decisores políticos e responsáveis de instituições. O que estas pessoas vêem quando olham para as próximas décadas é uma tempestade perfeita causada pela fome e por falta de água crónica. Confesso que tenho muitas dúvidas. Do que não tenho dúvidas é da necessidade de gerir com muito mais cuidado tudo o que esteja relacionado com a agricultura e a água.

"9 mil milhões de pessoas. A evolução da demografia e da economia internacional mostram que temos de olhar com muito mais atenção para as questões da agricultura e da água. A alternativa é reencontrarmos Thomas Malthus".

Saiba quanto custa investir em um estilo de vida sustentável /// Folha Online

Em uma definição simplista e ideal, uma casa sustentável é amiga do planeta e do orçamento doméstico, confortável, bonita e saudável.

No mundo real, ainda há muita confusão entre o que é apenas marketing verde, para vender produtos ditos ecológicos, e o que é sustentável de fato. E muito mais dúvidas à respeito de quanto custa ou quanto vale a pena gastar para alcançar esse ideal.

Além dos argumentos sobre a importância das atitudes que garantem o futuro da humanidade, também é preciso convencer o consumidor de que os produtos para isso não são necessariamente mais caros. Ou que são apenas um pouco mais caros, mas que se pagam com a economia que geram.

"No último ano, a venda de produtos para a construção sustentável cresceu 30%", diz Marco Gala, diretor de marketing da Leroy Merlin, cadeia de megalojas de material de construção. Segundo ele, o crescimento do mercado fez os preços baixarem.

Mesmo assim, a produção em menor escala e envolvendo uma série de custos extras, como o da certificação, faz com que, na maioria das vezes, o preço final seja mais alto do que opções menos sustentáveis.

Mas a coisa começa a mudar de figura. Segundo Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia, a economia gerada pelos procedimentos e materiais ecologicamente corretos paga o custo em um tempo relativamente curto.

Ferreira participou da criação de um protótipo de casa sustentável de 40 m2, apresentado na Ambiental Expo 2010 no final de abril, em São Paulo.

Idealizado pela Fundação Vanzolini e pela Inovatech, a proposta foi criar um projeto de casa popular adotando critérios de sustentabilidade.

De acordo com Ferreira, o preço final ficou aproximadamente 10% mais caro que o de uma casa popular padrão. "Mas a economia que a casa sustentável gera paga essa diferença em pouco tempo", afirma.

Manuel Carlos Reis Martins, coordenador do Processo Aqua, pondera que melhorar a forma com que a casa se relaciona com o meio ambiente ao longo de sua vida útil -a chamada ecogestão- está diretamente ligada ao melhor aproveitamento de água e energia.

Os recursos mais viáveis para deixar a casa verde são os que trazem esse tipo de economia. E nem tudo é novidade ou envolve alta tecnologia.

Os arejadores de torneira, por exemplo, que já existiam muito antes da moda da expressão "aquecimento global", representam uma economia de 10% a 30% de água, segundo Ferreira. Encontrados em qualquer loja de material para construção, os arejadores se encaixam na maioria dos modelos de torneira.

As válvulas de descarga de duplo-fluxo, que tem dois botões (para resíduo líquido ou sólido), gastam três ou seis litros de água por descarga. Uma válvula normal gasta, no mínimo, três vezes mais: 18 litros.

Bacias com caixa acoplada são as de mais fácil instalação e manutenção, mas há opções de válvulas de parede duplo-fluxo. O custo aqui, para quem tem uma válvula convencional, é fazer a troca, que exige obra, quebrar azulejos etc.

Dá uma certa dor de cabeça e gera o lixo da obra. "Pensar como serão destinados os resíduos de uma obra também é requisito da construção sustentável", lembra Martins.

Em relação à economia de recursos, as lâmpadas frias são os produtos que mais rapidamente "fecham a conta", segundo Luiz Henrique Ferreira.

Elas podem custar até quatro vezes mais do que uma lâmpada incandescente, mas duram sete mil horas, contra as duas mil horas da lâmpada comum.

A pior parte, que é a iluminação fria e com cara de hospital das lâmpadas fluorescentes antigas, foi parcialmente resolvida com o surgimento de lâmpadas frias em diferentes "temperaturas de cor", como a amarela, que produz um efeito mais próximo da incandescente.

Já a lâmpada LED, com tecnologia mais avançada e maior economia de energia, é a mais cara de todas. É indicada para quem quer pagar o preço de uma iluminação cenográfica, embutida no teto ou em spots.

Entrando na seara de quem quer e pode pagar, o céu é o limite. Aqui, paga-se o preço da tecnologia, do design e da grife. Se, no lugar da casa popular, a proposta é uma cobertura de 400 m2 na região dos Jardins, em São Paulo, as exigências do projeto aumentam a demanda por produtos mais sofisticados.

"Mas temos que buscar eficiência, não desperdício. O custo da decoração e da manutenção devem ser ajustados", afirma Paola Figueiredo, vice-presidente do grupo Sustentax, que atua na elaboração de projetos de sustentabilidade.

Um dos trabalhos do grupo é justamente a reforma da tal cobertura nos Jardins segundo os critérios de sustentabilidade. "Eles são compatíveis com o bom gosto e o conforto. A casa não precisa ser quase uma oca", diz Figueiredo.

O conforto-luxo, permite, por exemplo, economizar água e luz sem ter de se preocupar com isso. Sensores eletrônicos se encarregam de desligar a luz, quando não há ninguém no ambiente e as torneiras se fecham automaticamente.

Como tudo isso pode ser feito manualmente, a pergunta é: qual preço a pessoa quer pagar -o financeiro, na compra do produto, ou o de se envolver de fato na mudança de hábitos para uma vida mais sustentável?

Além das intenções de cada um, o preço de ser verde depende das condições de cada casa e dos hábitos de seus moradores.

O painel de aquecimento solar, um lugar-comum da sustentabilidade, não é barato. Mas Luiz Henrique Ferreira afirma que a coisa se paga em dois anos, se a instalação for fácil (por exemplo, quando se está construindo uma casa e ele foi pensado desde o projeto).

Para instalar um painel desses em uma casa pronta, não tem jeito: é obra, gera entulho e nem sempre fica bom. O custo, nesse caso, é uma incógnita.


Já a placa fotovoltaica, um equipamento mais sofisticado que transforma a luz solar em energia elétrica, entra para o grupo dos produtos que não fecham a conta. Segundo Ferreira, é precisa economizar energia com a placa por 50 anos para o investimento zerar.

Cisternas para captar água da chuva podem sair caro ou barato. Se há jardim para regar, varanda para lavar e tubulação para levar a água captada para os vasos sanitários, o investimento se paga. Se não, é guardar água para nada.

Calcular a relação custo/benefício pode ser uma balde de água fria nas boas intenções de quem quer fazer as pazes com o meio ambiente. E o cálculo não é só o preço final de cada produto, mas pensar no objetivo e alcance de cada coisa. Se separar o lixo é uma forma, barata inclusive, de ser mais sustentável, de nada adianta a boa vontade se não houver um esquema de coleta seletiva no bairro, certo?

Água e saneamento /// ONU

Estado da água e saneamento no mundo


18/03/2010




Carlos Araújo, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Com quase 6 mil milhões de pessoas, cerca de 87% da população mundial, a usar fontes seguras de água potável, o planeta está no caminho certo para cumprir e mesmo exceder a meta do milénio sobre acesso a água segura.

O relatório conjunto da OMS e Unicef, "Progressos sobre Saneamento e Água Potável-2010" indica, contudo, que ainda há muito por fazer no que diz respeito ao cumprimento da meta sobre saneamento.

Quase 40% da população do mundo, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas, vive sem acesso a instalações sanitárias adequadas.

O relatório da ONU, divulgado esta semana, traz boas notícias sobre a defecação ao ar livre. O documento indica que a prática sofreu um declínio global, caindo de 25% em 1990 para 17% em 2008.

Segundo a OMS e o Unicef, apesar da população mundial estar quase igualmente dividida entre citadinos e rurais, a grande maioria das pessoas sem acesso a água segura e saneamento vive no campo.

A Rádio ONU entrevistou Maria Neira, directora do departamento de Saneamento e Saúde Pública da OMS, em Genebra, sobre as as principais conclusões e recomendações do relatório.

Ouça a entrevista. Tempo total 5'03".

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