Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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'Bombardeio' de carbono em cafezal simula mudanças climáticas

Experiência inédita no mundo visa estudar efeito do CO2 sobre o café.
Maior concentração do gás pode afetar produção de grãos no Brasil.

Eduardo Carvalho
Do Globo Natureza, em São Paulo
 Saber os efeitos da mudança do clima em uma das principais culturas agrícolas do Brasil, a do café, é o principal foco de um estudo organizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

No experimento conhecido como Face (sigla para "Free Air Carbon Dioxide Enrichment"), que simula um aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, 135 especialistas vão analisar o efeito desta maior concentração sobre os grãos, se há aumento da densidade de pragas, ou mesmo mutações nas doenças, além de constatar se o excesso do gás de efeito estufa prejudicará o sabor da bebida.

A necessidade de descobrir tais detalhes é importante para os produtores brasileiros, já que o país é o maior produtor e exportador mundial do grão, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Em 2010, o Brasil produziu 48,1 milhões de sacas e a previsão para 2011 é de 43,5 milhões de sacas, redução de 9,5% na comparação com o ano anterior, mas que ainda mantém a liderança no cultivo do grão.

Equipamento denominado anel liberará dióxido de carbono em plantação de café. Foco da pesquisa é saber impacto da mudança do clima na produção do grão (Foto: Divulgação/Embrapa)Impacto do clima

Os pesquisadores mantêm uma plantação com 35 mil pés de café em Jaguariúna, no interior de São Paulo, onde foram instalados 12 equipamentos, denominados anéis, que vão liberar o gás carbônico nas plantas de acordo com a direção dos ventos. Os grãos testados serão o ubatã e o catuaí-vermelho, este último um dos mais plantados no país.

“Queremos saber o que vai acontecer com a cultura do café em diferentes aspectos. Nós vamos monitorar as alterações dessas plantas que receberam o gás ao longo do tempo. É a primeira vez no mundo que será testada a resistência do café às alterações climáticas”, disse Raquel Ghini, pesquisadora e coordenadora do projeto Climapest, que envolve o Face e outros estudos da Embrapa sobre o efeito das mudanças climáticas na agricultura.

Por um período mínimo de dois anos, será observado se o solo da plantação foi afetado, se pragas como bicho-mineiro do café (uma larva que se alimenta da folha e causa buracos nela) e a ferrugem foram afetadas ou sofreram mutações genéticas que dificultariam seu combate, além de saber se o período de crescimento se alterou.

“Para chegarmos ao resultado, vamos simular ainda a modificação no sistema de chuva devido ao aumento da temperatura nos próximos anos, conforme previsto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Por isso, a irrigação dos pés de café também passará por alterações”, explica Raquel. O estudo tem investimentos de R$ 2 milhões, parte proveniente do governo federal.

Vamos ter de pintar nossos telhados de branco? E em 180 dias?

É o que ocorrerá aos paulistanos se for aprovado projeto de lei que tramita na Câmara Municipal. Para o CBCS, a medida não resolveria o problema das ilhas de calor.

Pintar de branco os telhados das edificações dos centros urbanos está sendo apontado como forma de diminuir a temperatura nas ilhas de calor.

A solução carece de mais embasamento científico e ainda não foi adotada em nenhum país ou cidade de forma generalizada. No entanto, tramita na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei que, se aprovado, não só vai obrigar todo paulistano a pintar seu telhado de branco como a fazer isso em 180 dias a contar da data de publicação da lei.

Trata-se do Projeto de Lei 01-0615/2009, que propõe integrar ao conteúdo do Código de Obras e Edificações (Lei n.º 11.228/1992) as seguintes determinações:

• Todos os telhados e coberturas das edificações deverão ser da cor branca;

• As edificações terão 180 dias para se adaptar (ou seja, pintar o telhado de branco), a contar da data de publicação da lei;

• As despesas com a adaptação correrão por conta dos proprietários, sem incentivo do poder público.

Esta solução vale o custo e o aborrecimento que vai causar aos cidadãos desta cidade? O telhado branco de fato resolve o problema das ilhas de calor? Para o Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS), não.

Solução inócua
Em seu documento Posicionamento sobre Tetos Frios, o CBCS não recomenda nenhuma política pública que torne obrigatória a solução proposta pelo PL 01-0615/2009, de pintar de branco todos os telhados da cidade de São Paulo, seja nas edificações novas, seja nas já existentes. O conselho acredita que não se deve privilegiar uma cor ou uma alternativa técnica em detrimento de outras.

A entidade recomenda o uso de toda e qualquer solução que possa reduzir a carga térmica e combater as ilhas de calor, tais como: telhados frios, tetos verdes, isolamento térmico de telhado, arborização urbana, pavimentos frios etc. E que o uso de qualquer técnica seja promovido no mercado brasileiro por seus reais benefícios.

O CBCS avalia também que a adoção de qualquer alternativa precisa ser feita a partir de pesquisas sistemáticas capazes de gerar normalização que proteja a sociedade de soluções inadequadas, seja pelo baixo desempenho, pela curta durabilidade ou pelo elevado impacto ambiental, entre outros aspectos.

Organização criada em 2007 para articular lideranças empresariais, pesquisadores, consultores, profissionais atuantes e formadores de opinião e induzir o setor da construção a utilizar práticas mais sustentáveis, o CBCS se debruçou sobre o referido PL, estudou o assunto e pesquisou alternativas para chegar a essa conclusão.

Vale ressaltar que é louvável a preocupação com a questão climática na capital paulista, notadamente com o fenômeno das “ilhas de calor”, locais que apresentam temperaturas mais altas na cidade, em razão da grande concentração de asfalto e concreto. A diferença de temperatura entre o centro da capital e as áreas periféricas chega a ser de 10 graus Celsius, segundo levantamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que realizou mapeamento térmico da cidade com apoio do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).

Esse fenômeno aumenta o desconforto térmico das pessoas, pois, mesmo à noite, a temperatura não baixa. Com isso, sobem também os custos de climatização de residências e edifícios comerciais, aumentando ainda mais o consumo de energia.

É preciso enfrentar essa situação, mas obrigar a adotar uma única alternativa – no caso, pintar o telhado de branco – não resolve e o CBCS enumera as seguintes razões:

• Descaracterização de conjuntos históricos;

• Ofuscamento e desconforto visual para ocupantes de edifícios vizinhos, aviões e helicópteros;

• Rápida perda da capacidade reflexiva da superfície pintada com tintas convencionais, pelas características do clima brasileiro. No verão, há muito calor e muita chuva; a tinta acaba sendo levada pelas águas e a pintura precisa ser refeita constantemente, causando impactos ambientais que reduzem os benefícios, bem como a colonização por fungos e outros microorganismos com pigmentos escuros.

• Falta de referenciais, no Brasil, a respeito do desempenho e da durabilidade dos produtos nas várias condições climáticas do país. As certificadoras internacionais exigem três anos de envelhecimento natural no clima da região em que o produto será utilizado.

• Alto risco nas operações de limpeza e manutenção dos telhados, que precisam ser periódicas. Ao contrário de outros países, no Brasil a quase totalidade dos telhados é inclinada, sem acesso adequado e com telhas de cerâmica ou fibrocimento, que podem quebrar sob o peso de uma pessoa caminhando.

Diante disso, o CBCS propõe as seguintes alternativas:

• O uso de materiais “frios”, capazes de refletir parte significativa da radiação sobre os telhados, fachadas e pavimentos em climas quentes, é uma alternativa para melhorar o conforto térmico nas edificações e diminuir o consumo de energia. Telhas de alumínio ou galvanizadas, películas com barreiras de radiação, isolantes térmicos e dispositivos de sombreamento reduzem o calor nas edificações, embora não tragam benefícios urbanos.

• O “telhado verde”, ou seja, o uso de vegetação em telhados, fachadas e ruas, reduz o calor e traz ganhos para a cidade. Produz sombra e evaporação, tornando o ar mais úmido, retém água da chuva, contribuindo para diminuir as enchentes, e aumenta a biodiversidade.

• O estabelecimento de políticas públicas que promovam a arborização urbana trariam enormes benefícios no curto e no longo prazo. Enfrentar as conseqüências do aquecimento global exige proatividade. Mas esta de maneira alguma deve ser confundida com precipitação ou pressa. Qualquer nova tecnologia ou solução precisa estar calcada em estudos e pesquisas exaustivos. Caso contrário, em vez de resolver, trará mais prejuízos ambientais, sociais e econômicos.
Por Paulo Itacarambi e Cristina Spera (Instituto Ethos)

“Em lugar da pressa, cada um por si”, por Washington Novaes

Washington Novaes,
O Estado de S.Paulo, 22 de abril de 2011

É cansativo, recorrente, mas não há como não voltar ao tema das mudanças climáticas, tão angustiante parece ele depois de mais um ineficaz encontro preparatório, na Tailândia, para a próxima reunião da Convenção do Clima, programada para dezembro, na África do Sul. Em Bangcoc ficou patente a tendência de muitos países de descrer da possibilidade de acordo na convenção ou para prorrogação do Protocolo de Kyoto e entender que o caminho estará em legislações nacionais, não em transnacionais.

Na capital tailandesa, Japão e Nova Zelândia disseram com todas as letras e enfaticamente que não aceitam prolongar o prazo de vigência do Protocolo de Kyoto, que expira em 2012 e, bem ou mal, é o único compromisso vigente dos países industrializados de reduzir suas emissões em 5,2% sobre os níveis de 1990. A China anunciou que até 2015 reduzirá em 16% a intensidade de energia por unidade produzida, mas não assume compromisso de reduzir as emissões totais (que aumentarão). Todd Stern, o representante norte-americano, afirmou também que o acordo de Copenhague (2009), de caminhar para compromissos obrigatórios de redução de emissões, é “impraticável”; só seriam viáveis “leis nacionais” nessa direção – na hora em que a Câmara dos Deputados de seu país proibia a Agência de Proteção Ambiental de impor cotas de emissões a setores econômicos (ainda assim, o presidente Barack Obama continua afirmando que o país reduzirá suas emissões em 17%, calculadas sobre as de 2005).

Enquanto isso, tão corriqueiras já parecem informações sobre “desastres climáticos” que a comunicação parece se habituar a dedicar-lhes apenas meia dúzia de linhas. Foi assim, por exemplo, com a notícia de 156 municípios de Minas Gerais em “estado de emergência” com as chuvas que afetaram 1,58 milhão de pessoas; com as inundações no litoral do Paraná; oito mortos e centenas de desabrigados em São Lourenço do Sul; a cidade de Ilhota perdendo 70% das obras de infraestrutura que fizera para se recuperar dos eventos muito fortes há três anos; 3,5 metros de água na área da Universidade de Brasília; desabamento em Blumenau; destruição de dezenas de pontes rodoviárias em Goiás e perda de pelo menos 10% da safra de soja, com o município de Rio Verde e 13 outros em “estado de emergência”; e inundações no Acre e na Bacia do Araguaia. Este jornal chegou a mencionar (14/3) 11 mortos e 21 mil desalojados na Região Sul; 89,8 mil atingidos em 18 municípios capixabas, e 2.577 desabrigados.

Enquanto isso, o simpósio Vulnerabilidade das Cidades Brasileiras a Mudanças Climáticas, com participação do Inpe, da Unicamp, da Fiocruz e da UFRJ, advertia (Estado, 7/4) que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro poderá ter aumento de temperatura de 4,8 graus Celsius até o fim do século e perder até 10% da área litorânea com a elevação do nível do oceano. Segundo a revista Nature (BBC, 17/2), os “eventos extremos” aumentarão 20%, pelo menos, no horizonte previsível. E o Asian Development Bank advertiu que China, Paquistão, Filipinas, Tailândia e Malásia devem preparar-se para um aumento forte de migrações, com mais ciclones, tufões, secas, inundações (China Daily, 7/2). As previsões sobre degelo total no Ártico, com elevação do nível dos oceanos, continuam presentes, embora oscilem de 2013 a 2016 (Folha de S.Paulo, 9/4.). Na Patagônia, a perda de gelo “já é dramática” (The New York Times, 6/4).

Diante desse quadro, é inacreditável que o Brasil continue sem aplicar um só centavo do plano nacional aprovado em 2010, que destinava R$ 2 bilhões a ações nesse campo, principalmente com a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e o aumento de 8 milhões de hectares no plantio direto (Folha de S.Paulo, 9/4). Um boletim do PSDB (13/4), com fortes críticas à inação federal nessa área, atribui à Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia a informação de que em 2010 morreram em eventos extremos no Brasil 1.910 pessoas (10 por milhão de habitantes, ante 2 a 3 por milhão no restante da América do Sul). E 735 municípios teriam pelo menos cinco áreas de risco cada um, só 23 cidades teriam suas regiões de risco mapeadas; 90% das 500 estações meteorológicas não teriam condições de comunicar suas previsões.

Para o professor José Marengo, do Inpe, faltam-nos profissionais qualificados para previsões. Temos muitos especialistas acadêmicos, mas faltam os especializados em leitura de mapas e dados (O Globo, 5/4). O professor Paulo Artaxo, da USP, preocupa-se com a falta de previsões corretas sobre enchentes e secas. “A América Latina está parada em tecnologias energéticas obsoletas”, disse na Tailândia a secretária da Convenção do Clima, Christiana Figueres, que considera “alarmante a fossilização das matrizes energéticas na região”. Segundo o Banco Mundial, o Brasil precisa de US$ 400 bilhões para reduzir suas emissões de gases até 2030.

Mas que se fará até lá, no campo mais imediato dos problemas? Diz a Prefeitura de São Paulo que em seis anos (!) não haverá mais áreas de risco na cidade. Mas o Instituto de Pesquisas Tecnológicas afirma que há 115 mil pessoas em locais de risco; dependendo do critério, podem ser 500 mil (Folha de S.Paulo, 22/2). As dimensões do problema podem ser mais bem avaliadas lembrando o cálculo da Accenture e da Barclays Capital de que a Europa precisará investir 2,9 trilhões até 2050 para modernizar suas fontes de energia e infraestruturas (a Alemanha aumentou suas emissões de gases em 4,3% em 2010); 27% dos recursos seriam para a área de transportes, outro tanto para a de edifícios, 23% para fontes de energia de baixo carbono e igual proporção para infraestruturas energéticas.


Quando a informação mudará nossa consciência e nos fará ter pressa?

Divergências travam negociações do clima em Bangcoc

Envolverde
9 de abril de 2011 às 13:32h
Por Fabiano Ávila

Agenda proposta pelo G77 mais a China cria desentendimento e países debatem qual seria o papel dessa primeira rodada climática das Nações Unidas de 2011, que até agora não conseguiu avançar com relação aos Acordos de Cancún.
Agenda proposta pelo G77 mais a China cria desentendimento e países debatem qual seria o papel dessa primeira rodada climática das Nações Unidas de 2011, que até agora não conseguiu avançar com relação aos Acordos de Cancún.

Os conflitos entre os representantes dos mais de 200 países reunidos na Tailândia podem ser grandes demais para que em apenas uma semana seja possível alcançar algum avanço, por menor que seja, com relação às propostas da Conferência do Clima (COP 16), realizada no final do ano passado em Cancún.

“Até agora não conseguimos nada aqui”, resumiu Sven Harmeling, da ONG Germanwatch.

Já era esperada muita dificuldade para debater temas como o futuro do Protocolo de Quioto e a consolidação das medidas anunciadas na COP 16, porém o clima está tão tenso em Bangcoc que até mesmo o que será o foco da discussão se torna um problema.

O grupo formado pelo G77 mais a China apresentou uma agenda com elementos que foram deixados de fora em Cancún e que precisam ser totalmente analisados e debatidos. Porém, os demais países afirmam que a atual rodada de negociações deveria ser utilizada para confirmar e detalhar os compromissos já formulados na COP 16.

“A esperança era de que aqui teríamos um debate mais focado e objetivo, construído sobre as bases da COP 16 e não termos que abrir de novo todo um leque de opções”, explicou à Reuters Oleg Shamanov, chefe da delegação russa.

Segundo Shamanov, Bangcoc serviria para traçar os contornos dos Acordos de Cancún e assim facilitar a construção de um tratado global na próxima COP, na África do Sul, no final de novembro.

“Ao invés disso estamos agora paralisados em questões puramente processuais de agenda que poderiam ter sido evitadas. Está sendo uma grande decepção este evento e estamos retrocedendo com relação ao que já havíamos conquistado”, afirmou o russo.

Estados Unidos

Quem também não está nada feliz é a delegação norte-americana, que engrossou o discurso e agora só aceita um acordo global para emissões se todos os países participarem, sem a distinção entre ricos e em desenvolvimento.

“Muitas nações, inclusive algumas das maiores do planeta, continuam querendo manter uma divisão que não existe na realidade. Isso é injustificável e incompatível com o problema climático atual. Não nos submeteremos a um novo acordo que seja feito baseado nessa distorção”, afirmou Todd Stern, chefe da delegação dos Estados Unidos.

A divisão entre países ricos e pobres aparece com bastante força no Protocolo de Quioto, que obriga apenas os países industrializados a cortarem suas emissões. Justamente por essa razão que os Estados Unidos nunca assinaram o Protocolo. Já para o Japão, Rússia e Canadá, Quioto não tem mais utilidade, porque deixa de fora os dois mais emissores do planeta, China e EUA.

Para Stern, a participação da China deveria ser obrigatória em qualquer futuro acordo. “Não podemos tratar a China como se fosse o Chade. Ela é hoje a segunda maior economia do mundo”, declarou.

A delegação dos Estados Unidos está pedindo a formalização de metas domésticas de cada país, seja ele rico ou em desenvolvimento. Depois desse passo é que seria formulado algum tipo de acordo global.

“Nós não somos contra compromissos de cortes de emissões, mas acreditamos que eles devem ser para todos os países que contribuem significantemente para as mudanças climáticas”, concluiu Stern.

Diante de todo esse imbróglio e levando em conta que já estamos no penúltimo dia da rodada de Bangcoc, parece claro que não haverá o que se comemorar no fim de semana.

*Matéria publicada orinalmente no Instituto Carbono Brasil, via Envolverde

Financiamento gera discórdia em reunião do clima

O problema está na prestação de contas da União Européia
30 de novembro de 2010 | 22h 57

Estadão.com
Afra Balazina, enviada especial

A União Europeia fez nesta terça-feira uma prestação de contas durante a Conferência do Clima da ONU em Cancún (COP-16) e afirmou que neste ano, até novembro, repassou € 2,2 bilhões aos países em desenvolvimento dentro do chamado Fast Start Funding – recursos no curto prazo na área das mudanças climáticas. Foram beneficiados países emergentes como Brasil e China, nações africanas e da América Latina.
Existe um acordo desde a COP-15, em Copenhague, para os países ricos doarem US$ 30 bilhões até 2012 para os países mais pobres. Os europeus dizem que vão contribuir com um total de € 7,2 bilhões nesses três anos. Depois, até 2020, entra o financiamento de longo prazo, no valor de US$ 100 bilhões anuais.

O problema é que, como a própria União Europeia admitiu ontem, metade do valor colocado na mesa até agora pelo grupo se refere a empréstimos. O Brasil e os demais países em desenvolvimento não concordam que os empréstimos sejam incluídos no financiamento – somente doações. Isso faz parte da responsabilidade histórica – os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pelas emissões de gases-estufa e precisam auxiliar as nações em desenvolvimento a cortarem suas emissões e a se adaptarem para os impactos inevitáveis do aumento da temperatura.

Segundo o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, essa manobra pode prejudicar o processo de confiança entre os países que negociam em Cancún. “Isso pode afetar de alguma forma o restante do resultado”, afirmou.

Um dos argumentos usado pelos europeus é que, quando o recurso emprestado é usado para melhorar o isolamento de uma casa, por exemplo, o dinheiro é obtido de volta com a economia de energia elétrica.

O que o governo brasileiro concorda é que neste ano os recursos sejam menores ou que tenha de haver remanejamento de recursos – já que a proposta de financiamento foi aprovada em dezembro de 2009 e os países não tiveram tempo de incluir os valores no Orçamento de 2010.

*A repórter viajou a convite da Convenção do Clima da ONU

Trem bala: insustentável ambientalmente, artigo de Tomás Togni Tarqüinio

ECODEBATE-1 novembro , 2010
Se fosse possível realizar um estudo prospectivo do trem bala à luz da crise ecológica em curso, provavelmente o resultado não seria alentador. A construção de uma linha férrea para Trens de Alta Velocidade (TAV) ligando o Rio de Janeiro a São Paulo, com uma extensão até Campinas, não responde a dois grandes desafios ambientais: o primeiro diz respeito ao esgotamento de recursos naturais não renováveis, no caso o petróleo; o segundo, às mudanças climáticas decorrentes de emissões de gases efeito estufa provenientes do uso de recursos fósseis. Ambas questões estão imbricadas.

Quando se fala em esgotamento do petróleo, isto não significa que o precioso líquido vai desaparecer do planeta de uma hora para outra. Ele existirá ainda por muitos anos, mesmo que seja para fazer velas. Por esgotamento entende-se fim da era do petróleo barato e abundante.

A humanidade está às vésperas de conhecer o pico de produção mundial de petróleo, ponto a partir do qual ela entrará em declino – também conhecido como pico de Hubbert, nome do geólogo americano que previu esse fenômeno nos Estados Unidos, também conhecido como depleção. Há décadas vários especialistas vêm considerando que o pico de produção mundial deverá ocorrer entre 2010 e 2020. Este é alcançado quando a metade da jazida foi extraída, restando no solo a outra metade. Como no caso de qualquer jazida mineral, que dispõe de um estoque inicial fixo, a produção cresce até chegar ao máximo, passa por um pequeno período de estabilidade e depois entra em inevitável depleção (pode ser representada por uma curva de Gauss).

A parte que resta a extrair é aquela que apresenta custos de extração elevados e baixa qualidade, é de difícil acesso e exige tecnologia sofisticada. Os especialistas não são meia dúzia de ambientalistas com vocação para Cassandra. São geólogos competentes que tiveram a pachorra de levantar as reservas em todo mundo, poço por poço. Ora, como o pico da produção é para breve, os efeitos do esgotamento progressivo não serão um problema para as gerações futuras, mas sim para a atual. Quando se fala em petróleo barato, significa dizer que, historicamente, os preços conheceram uma tendência para a baixa, em valores constantes, desde o inicio de sua exploração comercial em grande escala, em meados do século XIX, quando o coronel Drake furou o primeiro poço na Pensilvânia e condicionou o produto em barris de arenque para uso como lume. A produção mundial atual é da ordem de 85 milhões de barris/dia e dificilmente chegará a 100 milhões.

O Nordeste e as mudanças climáticas >>> FApesp

27/7/2010
Por Fabio Reynol, de Natal (RN)

Agência FAPESP – O primeiro quadrimestre de 2010 foi o mais quente já registrado, de acordo com dados de satélite da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados Unidos.

No Brasil, a situação não foi diferente. Entre 1980 e 2005, as temperaturas máximas medidas no Estado de Pernambuco, por exemplo, subiram 3ºC. Modelos climáticos apontam que, nesse ritmo, o número de dias ininterruptos de estiagem irá aumentar e envolver uma faixa que vai do norte do Nordeste do país até o Amapá, na região Amazônica.

Polícia usa gás lacrimogêneo para conter protestos em Copenhague///BBC BRASIL






Eric Brücher Camara
Enviado especial da BBC Brasil a Copenhague

A polícia da Dinamarca usou bombas de gás lacrimogêneo nesta quarta-feira para conter centenas de manifestantes que tentavam invadir o perímetro do Bella Center, onde é realizada a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.

Cerca de cem pessoas teriam sido presas, e houve enfrentamentos entre manifestantes e policiais. A situação levou a um reforço da segurança em torno do centro de convenções, e participantes foram obrigados a encarar longas filas para entrar.

A apenas três dias do fim da reunião, centenas de pessoas foram impedidas de entrar no Bella Center - a maioria era formada por representantes de organizações não-governamentais.

Por volta de 35 mil pessoas se credenciaram para a reunião climática, mas a sede do encontro, o Bella Center, tem capacidade para apenas 15 mil. Cedendo à pressão, a organização elevou o número para 18 mil.

O negociador-chefe da delegação brasileira, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, também ficou preso na multidão nesta quarta-feira, quando voltava para o hotel após virar a noite em negociações, que seguem em passo lento.

Troca de comando

No primeiro dia com a presença oficial de chefes de Estado no encontro, a ministra dinamarquesa de Meio Ambiente e Energia, Connie Hedegaard, renunciou ao cargo de presidente da conferência das Nações Unidas para mudanças climáticas em Copenhague.

Connie Hedegaard será substituída pelo primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen.

Hedegaard vinha sendo acusada por representantes de países em desenvolvimento de querer beneficiar os países ricos nas negociações, mas afirmou que a mudança é apenas um procedimento formal, já que seria mais adequado o chefe de governo do país presidir o encontro que reunirá líderes de quase 120 países.

No entanto, no centro de convenções, as discussões parecem estar irremediavelmente paradas em questões como metas para países desenvolvidos e, principalmente, financiamento para redução de emissões de gases do efeito estufa em longo prazo.

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times publicada nesta quarta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, chegou a afirmar que os países em desenvolvimento deveriam deixar este objetivo de lado para obter um acordo.

A lentidão é uma das principais críticas dos manifestantes, que temem que a conferência chegue ao fim sem qualquer acordo significativo sobre o combate às mudanças climáticas no planeta.

Filas longas

Diversos líderes mundiais já estão em Copenhague, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participa de encontros a portas fechadas com os presidentes do Suriname, Ronald Venetiaan, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, entre outros.

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, também já está na capital dinamarquesa e afirmou estar esperançoso sobre um acordo, apesar do atual impasse.

"Há uma boa vontade para se chegar a um acordo", disse Brown, admitindo que essa é provavelmente a negociação mais difícil que já houve.

No entanto, as delegações não conseguiram sequer fechar um acordo preliminar para ser discutido pelos ministros. Isso significa que a Dinamarca, anfitriã da conferência, teve que elaborar um documento baseado nas propostas já discutidas.

A partir deste documento-base, os ministros poderão começar a tentar superar os principais obstáculos:

- Metas de redução para países desenvolvidos: até o momento, não existe consenso sobre um número ou mesmo de que forma essas metas seriam apresentadas – como extensão do Protocolo de Kyoto para os seus signatários (países ricos com exceção dos Estados Unidos) ou em um novo tratado incluindo os americanos.

- Financiamento: a proposta mais próxima de ser aceita é de um fundo de US$ 10 bilhões por ano, para os próximos três anos. Mas não está claro de onde sairiam estes recursos e quem faria as contribuições.

- Redd (mecanismo que incentiva Redução de Emissões geradas por Desmatamento e Degradação Florestas em Países em Desenvolvimento): como mencionado acima, faltam pontos fundamentais.

Suspensão temporária

Na segunda-feira, as negociações foram temporariamente suspensas depois que representantes de países africanos se retiraram em protesto contra o que chamaram de "abandono das metas firmadas no acordo de Kyoto".

Esses países criticaram a organização da conferência por, supostamente, se concentrar apenas nas negociações para um novo acordo climático, em vez de trabalhar paralelamente em uma extensão do Protocolo de Kyoto.

Países emergentes insistem que países desenvolvidos que ratificaram o protocolo devem se comprometer com maiores cortes de emissões dos gases que causam o efeito estufa.

A conferência das Nações Unidas sobre o clima vai até sexta-feira na capital da Dinamarca.

COP 15: As tempestades de Copenhague, artigo de Washington Novaes

[O Estado de S.Paulo]
Eventos extremos, como as chuvas dramáticas, não estão acontecendo apenas em São Paulo, no Sul e em outras partes do País. Outros tipos de tempestade estão acontecendo também em Copenhague, na reunião da Convenção do Clima – de onde estas linhas estão sendo escritas na quinta-feira. Elas acontecem até mesmo nas negociações para um acordo que possa levar todos os países a reduzir suas emissões de gases que contribuem para o aquecimento da Terra e a intensificação das mudanças climáticas.

A primeira tempestade maior aqui aconteceu com o vazamento, pelo jornal The Guardian, do texto de um documento confidencial submetido pelo governo da Noruega a uns 15 países, entre eles Estados Unidos, China, Brasil, Índia e vários europeus, com propostas muito polêmicas:

* Criar um grupo intermediário entre países industrializados e subdesenvolvidos, para China, Brasil, Índia e outros “emergentes” (o que quebraria a unidade do G-77);

* exigências maiores de redução de emissões pelos subdesenvolvidos, mas sem criar obrigações maiores de financiamento para os países mais ricos;

* nenhuma proposta de um acordo obrigatório, como o de Kyoto, para o período após 2012, quando termina a vigência da fase atual.

O documento confidencial foi recolhido pela Dinamarca, diante das dissensões, mas a tempestade inevitável foi forte e obrigou a muitas explicações e tomadas de posição, inclusive do Brasil, que discordou das propostas.

A segunda tempestade veio dois dias depois, com uma proposta do país-ilha Tuvalu (um dos mais de 30 ameaçados de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos), apoiada por várias nações africanas e outros países-ilhas, que exigem a aprovação, aqui, de um documento vinculante, obrigatório para todos os países e mais duro que o Protocolo de Kyoto. E isso é praticamente impossível, não apenas por causa de discordâncias de muitos países, mas também porque os Estados Unidos não poderiam assiná-lo em Copenhague, já que nem a proposta do presidente Barack Obama para a área do clima foi ainda aprovada pelo Senado – o que é indispensável. Estabelecida a discórdia, as negociações tiveram de ser suspensas no plenário mais amplo. E só continuam nos vários grupos de trabalho (implementação, cooperação a longo prazo, assessoramento técnico e científico, novas metas para os países industrializados, etc.). Mas a suspensão ameaça o resultado final da convenção, porque um acordo teria de ser alcançado até o começo da próxima semana, para ser submetido aos chefes de Estado que chegarão. E nas convenções da ONU qualquer decisão tem obrigatoriamente de ser aprovada por consenso – basta um voto para impedir.

As alternativas são difíceis. A primeira, convocar para o primeiro semestre de 2010 uma prorrogação desta reunião (chamada COP 15), na prática seria quase impossível, por coincidir com a Copa do Mundo de Futebol prevista para a África do Sul, que é um dos países importantes do grupo dos “emergentes”. A segunda, deixar tudo para a COP 16, em dezembro de 2010, no México, certamente provocaria uma enorme decepção aqui e em toda parte, dadas a urgência das questões e as pressões crescentes da sociedade em toda parte. E isso no momento em que até representantes de ONGs em Copenhague (há milhares de todo o mundo na COP15) se mostram cautelosos nas palavras, preocupados com não serem acusados de estar acentuando o pessimismo num momento crucial. E tudo isso sem falar ainda em condições apresentadas por vários países, como a norte-americana de não aceitar outro protocolo como o de Kyoto ou homologar o atual – além de não aceitarem financiar a China.

O Brasil tem aproveitado a enorme afluência de pessoas na reunião para ganhar apoio para programas de bioenergias, fundo amazônico gerido pelo BNDES ou o fundo REDD (com doações de outros países para projetos que evitem desmatamento). Da mesma forma, tem capitalizado a boa repercussão de suas metas voluntárias para redução de emissões. Mas sua delegação está muito preocupada, inquieta, com o impasse mais amplo nas negociações, que pode dificultar tudo.

Os impasses trazem de volta discussões antigas, sobre formas de superar problemas como a exigência de consenso para decisões. Mas as alternativas já foram discutidas em outras COPs, como a de criar uma organização mundial só para o meio ambiente, separada da ONU. Só que ela enfrentaria problemas semelhantes: como ter regras universais sem a concordância de todos os países? E a urgência de decisões é implacável. Ainda há poucos dias a Organização Meteorológica Mundial advertiu que esta primeira década do século 21 está sendo e será a mais quente desde 1850, com temperatura média superior à da década de 1990, que já fora mais quente que a de 1980. Há uma corrida contra o tempo, que não está sendo ganha.

Não têm mudado o rumo nem mesmo advertências dramáticas, como as do ex-secretário-geral da ONU Kofi Anan, mais de uma vez citado neste espaço: hoje, a maior ameaça global não está no terrorismo, como parece; está nas mudanças climáticas e nos padrões de consumo vigentes, já além da capacidade de reposição do planeta; essas questões é que ameaçam “a sobrevivência da espécie humana”. Palavras que, na boca de um diplomata experiente e competente, não podem ser postas de lado. Quem está vivendo os dramas do clima em São Paulo ou no Rio Grande do Sul sabe disso. Quem conhece os diagnósticos para o Brasil, feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – para a hipótese de as emissões globais continuarem crescendo -, também teme o que possa acontecer sem novas regras.

Washington Novaes é jornalista. E-mail: wlrnovaes{at}uol.com.br

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