Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

‘Numeros’ do Clima: 1/5, artigo de Alexandre Costa

Números
Na semana que se encerrou ontem, tive a oportunidade de discutir a questão climática em dois eventos: a exibição do documentário “6 graus” no Projeto “Arte e Crítica”, na Universidade Estadual do Ceará e a mesa de abertura do “Seminário Ecossocialista” do PSOL-CE.
“Seminário Ecossocialista”

Em ambas as situações, ficou claro para mim que existe a necessidade de construir o entendimento, por parte das pessoas, de que o aquecimento global é um fenômeno real, já presente e em aceleração, de que o mesmo é motivado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre e de que o aumento da concentração desses gases se dá em virtude das atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis. Há, também, que se deixar a mensagem de que o corpo científico que trabalha na construção da Ciência do Clima, investigando, publicando, elaborando os relatórios do IPCC (e, no Brasil, do PBMC), etc., é uma comunidade séria e confiável e que, na eterna imperfeição e incompletude da Ciência, apresenta ao público a última palavra do conhecimento na área e de que se há erros nas projeções anteriores do IPCC, a maioria desses erros se dá ao se subestimar a velocidade das mudanças (vide degelo do Ártico e elevação do nível dos oceanos).
Mas percebi que há algo que causa impacto, ao falarmos. São determinados números, que mostram como é crítico agir com rapidez para deter a locomotiva descontrolada do aquecimento global (Nesse sentido, por experiência própria, vi como a campanha “Do the Math”, de Bill McBibben e da 350.org é interessante). E aí, resolvi colocá-los de forma sintética aqui:
0,8°C – É o aquecimento global já ocorrido desde a era pré-industrial. Ainda que aparentemente modesto, já é suficiente para provocar alterações na distribuição de eventos extremos, principalmente de ondas de calor e produzir redução significativa em diversas geleiras e no gelo marinho do Ártico.
2°C – É o aquecimento considerado como um limiar crucial, que se deve evitar a fim de que diversos ecossistemas marinhos e terrestres não entrem em colapso e para que determinados mecanismos de retroalimentação do aquecimento global não sejam disparados, fazendo com que este ganhe, irreversivelmente, vida própria.
3°C – É a melhor estimativa da chamada sensibilidade do sistema climático, isto é, o aquecimento esperado em função da duplicação da concentração atmosférica de CO2, explicada em maiores detalhes neste texto.
280 ppm – É a concentração de CO2, que permaneceu praticamente constante, por cerca de 10 mil anos, antes do período pré-industrial.
350 ppm – Concentração de CO2 atmosférico que, segundo estudos científicos, é o limite máximo para o qual se espera uma estabilização do clima em condições similares àquelas em que a civilização humana floresceu e à qual a biota terrestre se adaptou nos últimos milhares (e até centenas de milhares ou milhões) de anos. Esse limite foi ultrapassado em 1988, como mostro neste texto.
391 ppm – É o valor da concentração de CO2 atmosférico que foi ultrapassado pela média anual de 2011. Em 2012, essa média (que será divulgada no início de janeiro) deve chegar a 393-394 ppm. Ainda que essa concentração parasse de crescer, ela já nos levaria (após algumas décadas, até o sistema climático chegar próximo do novo equilíbrio) a um aquecimento duas vezes maior do que o já verificado em relação à era pré-industrial. Além da influência sobre o clima, esse valor elevado de concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem levado à acidificação dos oceano e a uma mortandade brutal de corais, pequenos moluscos e de vários organismos que dependem da fixação de carbonato de cálcio para permanecerem vivos. Vários deles estão na base da cadeia alimentar e sua morte pode transformar os oceanos em vastos cemitérios azuis.
450 ppm – É a concentração de CO2-equivalente (isto é, considerando o efeito do metano, óxido nitroso, halocarbonetos, aerossóis, etc.) que deve ser evitada, a fim de que o aquecimento global fique limitado a dois graus. A um crescimento de mais de 2 ppm/ano, como tem sido a tendência, o risco de se chegar a esse valor em duas décadas ou menos é enorme.
10.000 anos – Tempo em que as concentrações de CO2 atmosférico se estabilizaram em torno de 280 ppm, após o final do Último Máximo Glacial
800.000 anos – Duração do registro paleoclimático da concentração gases de efeito estufa e estimativa de temperatura obtidos estudando-se o gelo da Antártica. Em todo esse período, o CO2 atmosférico oscilou de valores ligeiramente abaixo de 200 ppm (nos períodos glaciais ou “eras do gelo”) a no máximo 300 ppm (durante os chamados “interglaciais”, que aconteceram aproximadamente a cada 100 mil anos)
3.000.000 de anos – Provavelmente o que é preciso retroceder no tempo, a fim de se encontrar concentrações atmosféricas de CO2 acima de 400 ppm.
565 bilhões de toneladas – Quantidade de carbono fóssil (no petróleo, carvão e gás natural) que se pode queimar sem que se ultrapasse o limite de 450 ppm
2795 bilhões de toneladas - Quantidade de carbono nas jazidas fósseis (petróleo, carvão e gás natural) já comprovadamente conhecidas
3700 bilhões de toneladas - Estimativa da quantidade de carbono existente em todas as jazidas fósseis.
1/5 - Fração do carbono fóssil em jazidas comprovadas que pode ser queimada sem colocar sob risco extremamente severo o sistema climático terrestre.
É possível e necessário respeitar esse último número. Não sem uma intervenção séria no processo produtivo, claro, mas é factível. Há que se substituir rapidamente a matriz energética, saindo de fontes fósseis para fontes renováveis (solar, eólica, maremotriz, etc.), inclusive com geração de energia nas próprias cidades, em escala residencial. Há que se aumentar a eficiência energética. Há que se mudar radicalmente o modo de nos transportarmos, com ênfase no transporte público não-poluente e no multimodalismo. Há que se incidir seriamente sobre a questão do consumismo, reduzindo a voracidade de nossa espécie por energia, neste atual estilo de vida. Há que se estabelecer mecanismos de regulação severos que assegurem maior durabilidade dos produtos, que impeçam a obsolescência programada e que garantam a logística reversa. Se isso implica em abrir mão de supérfluos, tipo o celular da moda, o SUV ou o capitalismo, que o façamos…
Alexandre Costa, Fortaleza, Ceará, Brazil, é Ph.D. em Ciências Atmosféricas, Professor Titular da Universidade Estadual do Ceará.
Artigo indicado pelo Autor e originalmente publicado em seu blogue pessoal [O que você faria se soubesse o que eu sei?] e republicado pelo EcoDebate, 18/12/2012

Consumidor doméstico que gerar e fornecer energia poderá ter abatimento em conta de luz

Desde ontem (17), o consumidor que também gerar energia e fornecer seu excedente às concessionárias poderá ter o valor da conta de luz reduzido. A possibilidade está prevista em resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) segundo a qual residências ou empresas microgeradoras – com capacidade de até 100 quilowatts (kW) – ou minigeradoras – até 1 megawatt (MW) – terão direito a compensação na conta proporcional ao valor da energia repassada.
Para falar desse assunto, o programa Revista Brasil, da Rádio Nacional entrevistou hoje o coordenador da campanha Clima e Energia, do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo. Segundo ele, a Resolução 482/2012 é “um grande estímulo” e o “primeiro passo” para o avanço da energia solar no Brasil.
“Em todos países onde a energia solar deslanchou, como Alemanha, Espanha e Japão, tudo começou com algum tipo de incentivo. No Brasil, há uma adaptação disso [que já foi feito por lá]. Todo mundo poderá gerar energia limpa em casa e economizar na conta de luz”, disse Baitelo. Ele explica que a concessionária terá, no máximo, de 80 a 100 dias – após manifestação de interesse, pelo consumidor, em gerar energia – para viabilizar o negócio.
“O Brasil tem um enorme potencial para ter esse tipo e geração. Temos uma série de vantagens que os outros países não têm. Alemanha e Espanha tiveram de colocar tarifas promocionais para estimular as pessoas a instalarem equipamentos. Aqui no Brasil, a gente tem sol o ano inteiro. Se observarmos a variação de radiação solar entre inverno e verão, ela é mais viável e, mesmo custando mais caro, vale a pena”, disse o coordenador do Greenpeace.

“Durante o dia, as pessoas saem de casa e, com o sol brilhando, estariam gerando energia [ainda que sem utilizá-la]. À noite, quando o sol se põe, não havendo baterias [para armazenamento da energia] neste sistema [com painéis solares], se poderia puxar de volta a energia que foi disponibilizada à concessionária. Seria uma troca de favores constante [entre consumidor e concessionárias]”, acrescentou.

As concessionárias pediram, em meio às negociações com a Aneel, um pequeno requisito técnico para integrar os minigeradores ao sistema. “Você declara interesse, ela [a concessionária] se certifica de que o sistema atende aos critérios de segurança, até para evitar possibilidades de acidentes quando um técnico dela fizer visitas de manutenção. As concessionárias vão ajudar, inclusive, a adquirir equipamentos paralelos também, como medidor de energia adicional, para detectar fluxo de energia da casa até a concessionária”.

Baitelo informou que o custo desse tipo de equipamento está caindo vertiginosamente, mas admite que permanece caro para os padrões brasileiros. “No Brasil ainda é um pouco caro, com os custos variando, inclusive, em função da região ou estado e dos valores das tarifas”, ponderou. Mais informações sobre o assunto poderão ser obtidas no site da Aneel.

Governo e sociedade civil definem metas de desenvolvimento sustentável

 


18/12/2012 - 6h31
Carolina Gonçalves e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil
Brasília – Negociadores do Brasil, de vários segmentos da sociedade, que participaram da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, começam a definir hoje (18), em Brasília, as prioridades do país no âmbito das metas a serem adotadas globalmente. As metas devem ser implementadas a partir de 2015, mas antes têm de ser submetidas a discussões nas Nações Unidas.

A partir de 2015, todas as economias do planeta terão que seguir compromissos e ações estabelecidos no quadro dos objetivos do desenvolvimento sustentável - acordo firmado durante a conferência., em junho, no Rio de Janeiro.
No Brasil, o debate que começou entre representantes do governo, que definiram como prioridade a erradicação da pobreza no mundo, será ampliado com a inclusão de sugestões da sociedade civil e do setor privado. Um grupo de mais de 50 pessoas se prepara para definir hoje à tarde o que deve ser proposto na agenda global.

“Vamos consultar quais são as ideias de diferentes segmentos e o que entendemos como objetivos do desenvolvimento sustentável”, disse o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral do Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores e coordenador-geral da Rio+20.
Figueiredo destacou que diferentemente do documento que estabelece os Objetivos do Milênio, no qual há metas para os países em desenvolvimento direcionadas principalmente ao combate à pobreza e à miséria, os compromissos do desenvolvimento sustentável “não se traduzem, necessariamente, em metas nacionais”.

“São objetivos para o mundo inteiro, tendo como filosofia o que o planeta e a humanidade necessitam como um todo”, ressaltou o diplomata. As metas serão globais. Se os países signatários das Nações Unidas definirem, por exemplo, que é preciso aumentar a eficiência energética global em 20%, cada país terá cotas específicas para que a soma de todos os esforços atinja a meta estipulada.
“As metas serão globais e vão valer para os países em desenvolvimento e os países desenvolvidos, em diferentes níveis de exigência. Mas, em muitos casos, o esforço maior será dos países desenvolvidos”, disse Figueiredo. Seria o caso, por exemplo, de um compromisso em busca de energias mais limpas.

Como o Brasil já tem mais de 80% da matriz de energia elétrica formados por fontes alternativas, a exigência maior recairia sobre economias que ainda utilizam, majoritariamente, fontes consideradas “sujas e não sustentáveis”.

As propostas que serão apresentadas pelos representantes da sociedade civil e por empresários e consolidadas com as sugestões do governo brasileiro serão entregues a uma comissão de 30 integrantes, que começa a se reunir em janeiro para alinhavar as sugestões gerais do Brasil. O documento acordado deve ser submetido à discussão nas Nações Unidas, juntamente com as propostas de outros países.
Edição: Graça Adjuto

Chevron e MPF acertam pagamento de R$ 311 milhões por vazamentos de petróleo no Campo de Frade

 

Publicado em dezembro 17, 2012 por
 vazamentos de petróleo no Campo de Frade

O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro e a empresa petrolífera Chevron chegaram a um acordo no valor de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pelos vazamentos de óleo ocorridos em uma sonda de perfuração, no Campo de Frade, na Bacia de Campos, em novembro de 2011 e março de 2012. A informação foi divulgada hoje (14), durante audiência pública ocorrida na sede do MPF sobre as consequências do derramamento, com objetivo de construir a minuta do TAC.

O documento, que ainda vai ser assinado, vai garantir à petrolífera a troca de duas ações de R$ 20 bilhões, cada uma, calculadas pelo MPF à época dos vazamentos. Parte do dinheiro ajustado no TAC, cerca de R$ 90 milhões, será usada exclusivamente na recuperação do ambiente marinho e deverá ser gerida pela organização não governamental Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Os cerca de R$ 220 milhões restantes, serão aplicados em medidas de prevenção a futuros desastres ambientais, incluindo a manutenção permanente, nos locais de perfuração, de um navio especializado em retirada de óleo do mar.

A procuradora da República Gisele Porto, responsável pela área de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, considerou que a assinatura do TAC será um recado positivo a toda cadeia petrolífera, de que é melhor investir em prevenção do que arcar com prejuízos por eventuais casos de poluição. “Se chegarmos a medidas compensatórias e a medidas que melhorem a segurança operacional, será um benefício para todos. Porque a decisão vem agora e não daqui a anos, representando um marco para a atividade [petrolífera]”, disse a procuradora.

O diretor de Assuntos Corporativos da Chevron Brasil, Rafael Jaen Williamson, confirmou que a empresa aceitará arcar com o valor do TAC e reconheceu que os episódios deixaram lições para a companhia, como a necessidade de se investir mais em comunicação e segurança. “Nós estamos dispostos a aplicar esses recursos em projetos de desenvolvimento social e ambiental e medidas compensatórias e preventivas”, declarou.

Segundo ele, os cálculos da empresa para a magnitude do vazamento – tomando por base desastres ambientais internacionais maiores e os respectivos valores arbitrados em multas – seriam bem mais modestos, de R$ 30 milhões. Mesmo assim, a empresa aceita pagar dez vezes mais, para encerrar o processo e por acreditar que isso representa uma contribuição ao meio ambiente e à sociedade brasileira.
O superintendente de Segurança Operacional e Meio Ambiente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), Raphael Neves Moura, acompanhou a audiência pública, e disse que a Chevron deverá voltar a explorar petróleo no país até março de 2013.

“Neste momento existe um grupo de condicionantes para que a Chevron restabeleça um ambiente regulatório seguro e volte a operar no Brasil. A partir de agora, a agência começa a desencadear uma série de ações de fiscalização, a bordo da plataforma da Chevron e da sonda da Transocean [empresa que opera a perfuração] e na sede da empresa, onde coletará documentos e informações complementares, com vista a evidenciar se essas condicionantes foram implementadas. Eu acredito que, no primeiro trimestre do ano que vem, tenhamos um resultado desse processo. É possível que a empresa esteja apta a voltar a operar no país até março do ano que vem”, declarou o superintendente da ANP.

A Chevron foi responsável pelo vazamento estimado pela ANP em 3,7 mil barris de óleo, em novembro de 2011, no Campo de Frade. Em março novos vazamentos, em proporções bem menores, ocorreram no mesmo local. Eles foram decorrentes do excesso de pressão aplicada na perfuração dos poços, o que provocou rachaduras nas rochas do leito oceânico, por onde vazou o óleo.
Reportagem de Vladimir Platonow, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/12/2012

Segundo complexo eólico da Bahia será inaugurado em 2013


Depois da inauguração do Complexo Eólico Alto Sertão-I, considerado o maior da América Latina, em julho, a Renova Energia anunciou a construção do .... Foto: Divulgação

Depois da inauguração do Complexo Eólico Alto Sertão-I, considerado o maior da América Latina, em julho, a Renova Energia anunciou a construção do Alto Sertão II, que também ficará localizado no estado da Bahia. O empreendimento deve ser entregue em setembro de 2013 com investimento inicial de R$ 1,4 bilhão
Foto: Divulgação
 
Depois da inauguração em julho do Complexo Eólico Alto Sertão-I, considerado o maior da América Latina, no sudoeste da Bahia, a Renova Energia anunciou a construção do Complexo Eólico Alto Sertão II, que ficará localizado nas cidades baianas de Caetité, Guanambi, Igaporã e Pindaí. O acordo da empresa com o Governo Federal prevê a entrega das obras para setembro de 2013. O investimento inicial será de R$ 1,4 bilhão.

O primeiro Complexo, formado por 14 parques eólicos, gera 294 MW de energia por mês, o suficiente para atender 2,1 milhões de habitantes. A expectativa é que o segundo complexo consiga produzir 386 MW divididos em um conjunto de 15 parques - potencial energético para abastecer uma cidade maior que Manaus.

De acordo com a Renova Energia, o empreendimento faz parte dos planos de expansão da empresa. "O início das obras é mais um marco importante na história do setor e simboliza nosso compromisso de continuar investindo na Bahia e contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região", afirma Mathias Becker, diretor-presidente da companhia, que pretende instalar outros empreendimentos no estado até 2016. A construção do Complexo empregará 1,3 mil pessoas

Os 230 aerogeradores do Alto Sertão II serão fornecidos pela GE, em um negócio de R$ 820 milhões. A empresa, que investiu US$ 2 bilhões em tecnologias de energias renováveis nos últimos anos, lançou recentemente uma turbina específica para o mercado brasileiro. "O vento é um recurso global, mas cada região do mundo tem condições e parâmetros específicos. O Brasil tem ventos tão favoráveis que era importante investir no desenvolvimento de um equipamento próprio. Projetamos então o modelo 1,85-82,5", explica Vic Abate, vice-presidente global para energia renovável da GE.

O executivo acredita no potencial eólico da América Latina como um todo. "Estamos trabalhando para expandir nossas operações exigências de conteúdo local são importantes para o crescimento do emprego no país. Temos a cadeia de fornecimento e a base de fornecedores para atender a novas exigências do BNDES e ajudar a indústria de energia eólica a continuar crescendo no Brasil", finaliza Abate.

Economídia
Especial para o Terra

Setor saúde consome cerca de 10% da energia mundial

Publicado em dezembro 13, 2012 por

Tags: energia, saúde

Setor saúde consome cerca de 10% da energia mundial

A missão do Projeto Hospitais Saudáveis (PHS) é transformar o setor da saúde num exemplo para a sociedade em aspectos de proteção ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, do paciente e da população em geral

O centro de estudos da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) realizado em 5 de dezembro reuniu dois temas: Agenda global para os hospitais verdes e saudáveis e Agenda Ambiental da Escola. A relevância do assunto é pertinente. “Quase 10% da energia mundial é consumida pelo setor saúde. Então, é óbvia a necessidade de investir em energias alternativas”, afirmou Vital Ribeiro, arquiteto da Divisão de Meio Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo. Já Rejane Tavares, coordenadora-adjunta da Comissão de Gestão Ambiental da Escola, informou que a agenda ambiental proposta pela Ensp está aliada ao Plano Quadrienal da Fiocruz e ao Programa Fiocruz Saudável. “A instituição assume o compromisso socioambiental de incorporar princípios e critérios de gestão ambiental em suas atividades rotineiras”, disse.

Sobre os impactos ambientais do setor da saúde, Ribeiro informou que o consumo de recursos naturais e a poluição movimentaram R$ 342 bilhões, aproximadamente 6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, em 2011. Desse montante, cerca de 50% foram gastos com produtos, equipamentos, tecnologia, energia, água, instalações e edificações. “Não se trata apenas de diminuir o lucro, valorizar o bem-estar, respeitar as culturas, proteger as florestas. Falamos da convergência do setor da saúde. Desenvolvimento sustentável é colocar o ser humano no centro da questão”, disse.

Segundo Ribeiro, a missão do Projeto Hospitais Saudáveis (PHS) é transformar o setor da saúde num exemplo para a sociedade em aspectos de proteção ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, do paciente e da população em geral. “A sociedade espera do setor da saúde atitudes, posições, opiniões a seguir”. O PHS, que existe desde 2008, é uma associação sem fins econômicos com objetivo de ser o ponto focal para o Saúde Sem Dano (SSD) no Brasil. Criado há cerca de 16 anos nos Estados Unidos, o SSD trabalha na mesma linha do PHS, mas se desenvolveu como uma organização internacional que, hoje, está presente em mais de 50 países. No Brasil, o PHS já conta com mais de 200 membros individuais, 17 hospitais e 4 sistemas de saúde que somam mais outros 80 hospitais. Em setembro de 2013, ocorrerá o próximo seminário do PHS.

Durante o centro de estudos, Rejane apresentou a proposta da Agenda Ambiental da Ensp. Ela explicou que o compromisso ambiental das instituições públicas começou com a Conferência Rio 92, cujo principal documento, intitulado Agenda 21, estabeleceu os padrões sustentáveis de desenvolvimento e consumo para todas as nações. Para fomentar a Agenda 21, foi criada pelo governo federal a Agenda Ambiental da Administração Pública (A3P), cuja missão é sensibilizar os gestores públicos para a importância das questões ambientais e incorporar princípios e critérios de gestão ambiental.

A proposta da Agenda Ambiental da Ensp tem quatro eixos estratégicos: ecoeficiência; qualidade de vida; gerenciamento integrado de resíduos sólidos; e transparência, comunicação, sensibilização e sustentabilidade. Entre os vários objetivos da agenda estão: incentivar o uso racional dos recursos; adquirir produtos e contratar serviços com critérios socioambientais; estimular o deslocamento saudável e a alimentação saudável; integrar as ações de biossegurança e saúde do trabalhador aos princípios da gestão sustentável; reduzir o volume de resíduos; promover o descarte seletivo; e aprimorar o conhecimento e difundir a informação entre os profissionais.

Rejane citou alguns bons exemplos que já foram implementados, como o convênio com a Eletrobras, em 2008, que promoveu a troca de aparelhos de ar-condicionado com vistas à economia de energia. “A Ensp já compra produtos atóxicos, biodegradáveis, sem amianto. Também consultamos o Ibama quando compramos mobiliário, para saber da procedência do material utilizado pela empresa fornecedora”, informou. Outra iniciativa lembrada foi o Projeto Pedalando pela Sua Saúde, pelo Nosso Planeta, cujo objetivo é estimular a adoção de bicicletas como transporte interno no campus Fiocruz. Foram disponibilizadas 24 bicicletas divididas em dois bicicletários instalados dentro do campus da Fiocruz. A escola também faz coleta seletiva do lixo em parceria com a Diretoria de Administração do campus (Dirac). Por fim, Rejane anunciou que, em 12 de dezembro, será lançado o livro Compra sustentável (Fundação Getulio Vargas), no qual se relata a experiência da Ensp.
Informe Ensp / Agência Fiocruz de Notícias, publicado pelo EcoDebate, 13/12/2012

Prefeitura de São Paulo entrega 20 táxis híbridos, parte de uma frota que terá 116 automóveis

 

Publicado em dezembro 13, 2012 por

 
As 20 novos táxis híbridos fazem parte do primeiro lote de uma frota inédita no Brasil, que terá 116 automóveis. A tecnologia dos veículos reduz o consumo de combustível e diminuiu em até 40% a emissão de poluentes.

Na manhã desta terça-feira (11/12), o prefeito de São Paulo entregou à Cidade 20 novos táxis híbridos. Eles fazem parte do primeiro lote de uma frota inédita no Brasil, que terá 116 automóveis. A tecnologia dos veículos, que combinam dois motores, um elétrico e outro a combustão, reduz o consumo de combustível e diminuiu em até 40% a emissão de poluentes.



“É mais uma ação da Prefeitura de São Paulo, realizada através da Secretaria de Transportes, para reduzir o consumo de combustível e a emissão de poluentes. O objetivo é, ao longo dos anos, aumentar ainda mais a frota de carros híbridos”, disse o prefeito.

Os táxis híbridos foram incorporados em frotas de 10 empresas de táxis associadas à Associação das Empresas de Táxis do Município de São Paulo – Adetax. Cada veículo, modelo Toyota Prius, custou R$ 120 mil, mas a economia em combustível acaba compensando o valor do automóvel, pois o motor elétrico trabalha sozinho até o veículo atingir a velocidade de 50 km/h. A partir dessa velocidade, o próprio carro entende que é necessária mais força para movimentá-lo e, então, o motor à combustão é acionado automaticamente.



“Numa cidade como São Paulo, onde o trânsito é intenso e as velocidades das vias são baixas, acabamos utilizando pouquíssima gasolina com esse carro. A economia no bolso aumenta e o lucro no final do mês, consequentemente, também vai crescer. Além disso, o meio ambiente agradece”, disse o taxista Francisco Martins.

Com um tanque de combustível com capacidade para 45 litros, os veículos híbridos chegam a fazer 25,5 quilômetros por litro, e têm autonomia de até 1.150 quilômetros, consumindo 50% menos combustível, dependendo do modo de condução, se comparado a um veículo modelo 1.0. Além disso, a bateria do motor elétrico é carregada conforme o veículo roda, e não na tomada, o que não requer investimento em infraestrutura.



“Vários países do mundo criaram políticas de incentivo para veículos equipados com tecnologias que apresentem baixo consumo e redução nos índices de emissão de poluentes. No Brasil, o programa de Táxi Hibrido da Prefeitura de São Paulo, desponta certamente como a primeira política pública a incentivar a utilização desses veículos”, disse Luiz Carlos Andrade Junior, vice-presidente da Toyota MERCOSUL.

Desenvolvimento sustentável
Já o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente destacou que, desde 2005, a cidade de São Paulo incluiu o desenvolvimento sustentável dentro do seu planejamento. Segundo ele, o projeto Táxis Híbridos, soma-se a um conjunto de programas que beneficiam o meio-ambiente. “Temos apoiado as obras do metrô, trabalhamos na criação do Programa Ecofrota, na Inspeção Veicular Ambiental, na criação de ciclovias e de ciclofaixas, além de trabalhar em uma campanha de respeito ao pedestre”, citou. “Essas ações, somadas aos Táxis Híbridos, contribuirão significativamente para reduzir a emissão de poluentes na atmosfera”, completou.

Para o secretário de Transportes a implantação dos táxis híbridos só comprova a preocupação da atual gestão com a questão ambiental. “Chamamos as indústrias, que disseram que, havendo uma posição da Prefeitura de aquisição de um grande volume de táxis, anteciparíamos a entrega desses veículos no Brasil. E foi isso que aconteceu”, destacou.


crédito das fotos – Fábio Arantes/Secom

Os táxis híbridos poderão ser identificados pelos passageiros pelo grafismo de cor verde implantado nas laterais e traseiras dos veículos. O valor da tarifa é idêntico ao cobrado pelos táxis comuns, com bandeirada inicial de R$ 4,50, mais R$ 2,50 por quilômetro rodado.
Elétricos e Ecofrota – São Paulo possui um projeto piloto de táxis elétricos inédito na América Latina. Dois veículos já estão em operação na cidade desde o início de junho. Outros oito veículos devem entrar em operação até o final do ano. Além de utilizar energia limpa, o consumo dos táxis elétricos a cada 100 quilômetros rodados é de apenas R$ 0,06 contra R$ 0,23 dos veículos movidos a álcool e de R$ 0,25 dos movidos a gasolina.

Em fevereiro de 2011 foi lançado o programa Ecofrota, que prevê a utilização progressiva de combustíveis limpos na frota de ônibus da cidade, em consonância com a Lei de Mudanças do Clima, que preconiza que todo o sistema de transporte público do município deverá operar com combustível renovável até 2018.

Atualmente, são 1.870 ônibus, de uma frota total com 15 mil veículos, com combustíveis mais limpos – elétricos, etanol, B20, e diesel de cana-de-açúcar. De fevereiro de 2011 a outubro de 2012, houve uma redução de 9,5% na emissão de poluentes em geral pelos ônibus e de 7% na de CO2 por conta do programa Ecofrota.

Fonte: Prefeitura de São Paulo
EcoDebate, 13/12/2012

Novo Codigo Florestal

Uma crítica ao novo Código Florestal, para debate no blog


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Senadora Kátia Abreu festeja retrocesso legislativo, representado pelo Código Florestal (Foto: Moreira Mariz / Agência Senado)
Amigos, publico hoje artigo do excelente jornalista Geraldo Hasse, que há muitos anos cobre assuntos ligados à agricultura e ao meio ambiente e que, na fase preliminar da carreira de ambos, foi um querido colega na antiga redação de VEJA na Avenida Marginal do Tietê, em São Paulo.
Não compartilho necessariamente de cada linha do que ele escreve, mas Hasse o faz com autoridade e seu texto se presta a debates, o que sempre procuro estimular no blog.
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Geraldo Hasse
Geraldo Hasse
Ainda faltam debates em plenário e a sanção presidencial, mas o nosso pouco respeitado Código Florestal segue em marcha batida para ser finalmente flexibilizado, como queriam os empresários rurais, que continuam agindo como se o planeta não estivesse à beira de um colapso ambiental.
Na contramão das lutas ecológicas ao redor do mundo, tudo em Brasília caminha para a consolidação de um novo código mais leniente e permissivo do que o atual, criado em 1965 e já modificado algumas vezes, a última delas em 2001.
Esse retrocesso legislativo, festejado pela senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), será um dos cartões de visita do Brasil na Rio+20, a conferência mundial de meio ambiente e desenvolvimento, marcada para junho próximo no Rio de Janeiro.
Nesse evento serão analisados os avanços e reveses ocorridos nos 20 anos depois da Eco92, a conferência em que pela primeira vez a maioria dos países traçou metas visando ao equilíbrio ecológico ameaçado pelo crescimento predatório da economia.
Compromete os recursos hídricos
Apesar do extraordinário progresso tecnológico das últimas décadas, o balanço mundial não é positivo em termos ambientais, econômicos e sociais.
Se a reforma do Código Florestal for efetivamente colocada sob os holofotes da Rio+20, vai ficar claro para todo o mundo, especialmente para os brasileiros, o quanto são retrógradas as propostas e demandas do empresariado rural quanto à preservação das áreas verdes em encostas, testas de morros e matas ciliares.
A liberalização permitida pelo novo Código Florestal compromete a preservação dos recursos hídricos em todos os ecossistemas. Os parlamentares brasileiros estão cometendo um crime contra as gerações futuras, contando, ao que parece, com a conivência do Executivo, que preserva a óptica “desenvolvimentista” de governos passados, de Lula a Juscelino, como se vê no caso exemplar da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, que avança à revelia das comunidades vizinhas.
Rio Xingu, palco da Usina Belo Monte
Rio Xingu, palco da Usina Belo Monte (Foto: Agência Brasil)
Novidades do “Código Florestal flex”
Abaixo, uma lista dos principais novidades embutidas no projeto em fase final de debate no Congresso.
Em síntese, o Código Florestal flex:
1 – Anistia quem desmatou áreas de preservação antes de 2008
2 – Aceita o conceito de área consolidada para todo desmatamento feito até julho de 2008. O mínimo aceitável seria considerar a data da última alteração do Código Florestal, em 2001
3 – Permite pastagens em topos de morro, bordas de chapadas e outras áreas de risco.
4 – Dá a grandes proprietários acesso a fundos públicos para recuperar os desmatamentos feitos ilegalmente
5 – Iguala a agricultura familiar a propriedades com quatro módulos rurais
6 – Considera consolidadas áreas improdutivas há dez anos ou menos.
7 – Libera o desmatamento em áreas de preservação permanente (APP) para eventos internacionais e para construção de estádios, aumentando os grandes impactos da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016
8 – Autoriza o plantio de árvores produtoras de frutos ou outros produtos em áreas de preservação permanente (APP), abrindo espaço para a fruticultura, a seringueira e as árvores madeireiras como o pinus e o eucalipto
9 – Exclui da categoria de APP partes dos mangues, ecossistema fundamental para a reprodução de diversos animais, favorecendo a criação de moluscos
Código Florestal é maleável com desflorestamento ilegal
Código Florestal é maleável com desflorestamento ilegal (Foto: Latinstock)
10 – Permite compensar o desmatamento de Reserva Legal (RL) dentro do mesmo bioma ou, seja, o facilitando a vida de quem tenha duas ou mais propriedades no mesmo bioma, da mata atlântica, por exemplo. Num deles, próprio para agricultura, ele pode desmatar tudo, desde que transfira a conservação da RL para a segunda área, que pode ser em outro estado; terras compradas de agricultores familiares e que tenham reservas de vegetação podem ser usadas para essa compensação
11 – Mantém a possibilidade de que médias e grandes propriedades possam se subdividir em propriedades de quatro módulos e, com isso, fiquem livres de recompor a vegetação da Reserva Legal, que é de 80% na Amazônia
12 – Continua permitindo a recuperação da Reserva Legal com 50% de espécies exóticas. Ou seja, as grandes empresas de celulose podem considerar o monocultivo de eucalipto como parte da Reserva Legal, o que abre brecha para a entrada do eucalipto na pré-Amazônia
13 – Para se regularizar, os grandes proprietários precisarão apresentar apenas um ponto georreferenciado, ficando isentos de apresentar o perímetro exato da propriedade
14 – Possibilita que grandes proprietários recebam pagamentos por serviços ambientais para manter a sua obrigação de preservar APP e RL, o que inverte o conceito de função social da propriedade
15 – Cria a Cota de Reserva Ambiental (CRA), que transforma cada hectare de floresta em títulos que deverão, obrigatoriamente, ser registrados em bolsa de valores. Assim, as florestas serão transformadas em alvos da especulação financeira. Além disso, os títulos poderão ser comprados por desmatadores como forma de “compensação ambiental indireta”. Na prática, as CRAs podem transformar-se em salvo-conduto para a prática do livre desmatamento. Uma vez comercializada a CRA, o agricultor não poderá retirar sua floresta do sistema financeiro, a não ser que o comprador garanta a aquisição de outra área ou outra cota.
Conta a ser paga pelas gerações futuras
Os tópicos acima são uma síntese, pró-memória, de um jogo em que se atrelam os interesses ecológicos de longo prazo aos interesses empresariais imediatos.
Essa conta será paga pelas gerações futuras.
E quando forem procurados os responsáveis, espera-se que a memória popular se lembre dos nomes de Kátia Abreu, Aldo Rebelo, Luiz Henrique da Silveira e das centenas de parlamentares que sacramentaram a flexibilização do Código Florestal.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“A lei que revogará o Código Florestal será mais um grande estímulo à exportação barata dos recursos naturais concentrados na carne bovina.”
José Eli da Veiga, professor de economia da USP

* Geraldo Hasse é jornalista. Texto publicado originalmente no Século Diário, com o título de Flexibilizando o Código Florestal, e no Amigos de Pelotas, com o título de “Belo Monte de Sacanagens Ambientais”.

Conferência do clima termina com mudança 'histórica', mas sem compromissos por cortes

 Roger Harrabin

Poluição

Conferência não teve avanços concretos em compromissos de cortes de emissões de gases
A conferência da ONU sobre o clima em Doha, no Catar, chegou ao seu final neste sábado com uma mudança histórica em princípio, mas poucos avanços genuínos em cortes de emissões de gases do efeito estufa.
Além de conseguir um acordo para estender o Protocolo de Kyoto até 2020, a conferência estabeleceu pela primeira vez que as nações ricas devem começar a compensar as nações pobres por perdas em consequência das mudanças climáticas.
 
Notícias relacionadas
Isso foi comemorado como uma grande novidade pelas nações em desenvolvimento.
Mas elas condenaram a distância entre a ciência das mudanças climáticas e as tentativas políticas de combatê-las.

O acordo, apoiado por quase 200 países, mantém o protocolo vivo como o único plano legal obrigatório para o combate ao aquecimento global.
Porém ele determina metas obrigatórias apenas para as nações em desenvolvimento, cuja parcela de responsabilidade pela emissão de gases do efeito estufa é de menos de 15%.
O texto final "sugere" que as nações ricas mobilizem pelo menos US$ 10 bilhões ao ano entre 2015 e 2020, quando o novo acordo global para o clima deve entrar em vigor, para compensações pelos efeitos das mudanças climáticas.

Protesto russo

A conferência estava prevista inicialmente para terminar na sexta-feira, mas foi prorrogada por falta de consenso.
As negociações de última hora tiveram sua dose de drama, com uma ameaça de colapso com a insistência da Rússia, da Ucrânia e de Belarus de que deveriam receber um crédito extra pelos cortes de emissões ocorridos quando suas indústrias fecharam.
Após um longo atraso, o presidente da conferência perdeu a paciência, reiniciou as reuniões e passou a agenda tão rapidamente que não houve chance de a Rússia fazer objeções. A ação foi recebida com um longo aplauso.

Doha

Reunião da ONU sobre mudanças climáticas foi atrasada por impasse sobre compensações
A Rússia reclamou de uma suposta ilegalidade de procedimentos, mas o presidente afirmou que não faria mais do que refletir a visão russa em seu relatório final.
Os grandes emissores como os Estados Unidos, a União Europeia e a China aceitaram o acordo com graus variados de reservas. Mas o representante das pequenas ilhas gravemente ameaçadas pelas mudanças climáticas foi feroz em suas críticas.
"Vemos o pacote diante de nós profundamente deficiente na mitigação (cortes de emissões) e no financiamento. É provável que vá nos manter na trajetória de aumento de 3, 4 ou 5 graus nas temperaturas globais, apesar de termos concordado em manter um aumento de temperatura de no máximo 1,5 grau para garantir a sobrevivência de todas as ilhas", afirmou.
Os Estados-ilha aceitaram o acordo porque para eles é melhor do que nada.

Perdas e Danos

Outros diplomatas apontarão à imensa complexidade do processo liderado pela ONU, que vem tentando avançar do antigo Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, para uma nova fase na qual tanto nações desenvolvidas quanto em desenvolvimento assumem obrigações no combate às mudanças climáticas.
O novo mecanismo proposto de Perdas e Danos, para compensar as nações em desenvolvimento, é considerado um exemplo de sucesso no processo diplomático.
Até agora as nações ricas aceitavam ajudar financeiramente países em desenvolvimento a adotar projetos de energia limpa para combater as mudanças climáticas, mas não aceitavam responsabilidade pelos danos causados em outros lugares pelas mudanças climáticas.
Em Doha esse princípio mais amplo foi aprovado.

A maior tarefa dessas duas semanas de conferência foi o desenrolar do emaranhado de acordos do clima que foi crescendo aos pedaços nos últimos 15 anos.
A sensação geral é de que um bom trabalho de limpeza foi feito para ajudar a ONU a partir para a próxima fase, com o objetivo de conseguir um acordo com responsabilidades globais.
As discussões preliminares sobre isso já aconteceram, e deixaram evidente que um acordo global que seja justo para todos os lados será monumentalmente difícil.

COP-18 pede a Brasil e Noruega que destravem negociações

Terra

04 de dezembro de 2012 09h26   
     As negociações entre cerca de 190 países estão travadas na 18.ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) que está sendo realizada em Doha, no Catar. Em um esforço para fazer avançar a conferência, a três dias do seu fim, o presidente da convenção, Abdullah Bin Hamad Al Attiyah, pede às delegações do Brasil e da Noruega que trabalhem para destravar as conversas e avançar no sentido da aprovação de um segundo período para o Protocolo de Quioto.

A aprovação de uma segunda etapa para Quioto é o principal ponto que pode atenuar o fracasso de uma conferência marcada pelo ceticismo. Quioto é o único acordo internacional que obriga países a reduzir suas emissões de gases estufa.

Pelo acordo, que vence dia 31, as emissões dos países desenvolvidos no período de 2008 a 2012 deveriam ser reduzidas em 5,2%, tendo como base as emissões registradas em 1990. No caso das nações em desenvolvimento, a redução é voluntária. O problema está no fato de que algumas nações ricas já anunciaram que estão fora de uma segunda fase para o acordo e várias nações em desenvolvimento hoje emitem mais do que muitas nações desenvolvidas.

Hoje, as economias dos países em desenvolvimento respondem por 58% do carbono liberado para a atmosfera, ante 35% das emissões registradas em 1990. Os casos da China e Índia são exemplares. As emissões da China cresceram 10% desde 2011 e da Índia, 7,5%.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, diz que os negociadores brasileiros trabalham por uma segunda etapa para Quioto. Mas, salienta, o Brasil também fará pressão por avanços nos debates sobre a Plataforma Durban. Conhecida como acordo global, a ação foi acertada por todos os países no ano passado e prevê que tanto as economias desenvolvidas quanto as de países em desenvolvimento tenham compromissos obrigatórios com a redução das emissões a partir de 2020.

"Diferentemente das últimas conferências, que começaram com tarefas bem complicadas, esta não tem uma tarefa tão difícil. Os negociadores só precisam fechar o segundo período de Quioto e começar os trabalhos para depois de 2020 (Plataforma Durban). Mas há certas delegações complicando esse processo", afirma coordenador da Câmara Temática de Clima do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), Fernando Malta.

Um estudo apresentado em Doha pela ONG Oil Change International pede corte de subsídios aos combustíveis fósseis. A organização mostra que os incentivos ultrapassam os US$ 500 bilhões anuais em países em desenvolvimento. Se o corte de subsídios ocorresse, seria possível reduzir em 10% as emissões de combustíveis fósseis no planeta até 2050, informa

E o Redd?

        
Estudos mostram que iniciativas para redução de emissões por desmatamento em países em desenvolvimento ainda não são levadas a sério por países ricos e mercado. Para obter sucesso, especialistas propõem levar em conta biodiversidade e sociedade ao planejar projetos.        
 
Por: Sofia Moutinho
Publicado em 30/11/2012 | Atualizado em 01/12/2012
E o Redd?
As iniciativas de Redd miram na conservação e no reflorestamento de florestas tropicais de países em desenvolvimento para reduzir as emissões de carbono na atmosfera. (foto: Neil Palmer/CIAT/ Flickr – CC BY-NC-ND 2.0) 
      
Mas vale uma árvore em pé ou derrubada? Para que a resposta ‘em pé’ seja benéfica tanto para o meio ambiente quanto para a economia, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o conceito de Redd – Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Por meio do programa UN-Redd, a instituição incentiva países em desenvolvimento a diminuir suas emissões de gases estufa provenientes de desmatamento e receber por isso compensações financeiras na forma de doações ou créditos de carbono vendidos a governos mais ricos ou empresas.
O esquema de compensação não é imune a críticas, mas ainda assim o Redd vem sendo apontado por especialistas como uma boa ferramenta para combater as mudanças climáticas. Isso porque as florestas funcionam como enormes esponjas absorvedoras de carbono da atmosfera. Mas quais são as chances de sucesso e em que pé andam os projetos de Redd?
As discussões sobre o assunto têm marcado presença nas últimas conferências da ONU sobre mudanças climáticas – as COPs –, mas muitos países, como o próprio Brasil, ainda não têm um marco regulatório para o Redd. Mesmo assim, os investimentos são consideráveis. No mês passado, a diretoria de políticas do UN-Redd aprovou em seu orçamento para os próximos dois anos 47,6 milhões de dólares para ações nacionais de Redd+ ─ versão atualizada do projeto que inclui a conservação das florestas como forma de evitar emissões.
No entanto, segundo relatório escrito por mais de 60 cientistas, inclusive brasileiros, que será apresentado pela União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO, na sigla em inglês) no dia 2 de dezembro na COP-18, em Doha, Qatar, essas iniciativas só podem ter sucesso se levarem em conta a biodiversidade das florestas e as pessoas que vivem nelas.
Ferreira: “Uma floresta com alta biodiversidade desempenha funções que garantem sua sobrevivência por um período maior de tempo”
O documento, que é um apanhado de diversos estudos na área, aponta que a biodiversidade é determinante na capacidade das florestas de absorver carbono, mas que isso nem sempre é lembrado durante o planejamento de projetos de Redd+. Uma das autoras do trabalho, a ecóloga Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, aponta que ecossistemas com muita biodiversidade e pouca capacidade de estoque de carbono correm o risco de receber menos atenção do que outros com mais capacidade de absorção.
“Não é apenas a taxa de absorção do carbono que conta para as emissões”, afirma. “Temos que considerar todo o ciclo do carbono, que é influenciado pela variedade de espécies no ecossistema. Uma floresta com alta biodiversidade desempenha funções que garantem sua sobrevivência por um período maior de tempo, por consequência, mais absorção de carbono em longo prazo.”
Reed e comunidade
Estudo aponta a importância de envolver as comunidades florestais no planejamento do Redd. (imagem: World Rainforest Movement)
Os autores do documento, entre eles o economista Bernardo Strassburg, do Instituto Internacional para Sustentabilidade, apontam ainda que pensar no sustento e na qualidade de vida dos habitantes das florestas garante melhores iniciativas de conservação e redução de desmatamento. Um exemplo é a implementação nas comunidades de sistemas agroflorestais de cultivo que oferecem sustento a seus membros ao mesmo tempo em que conservam a cobertura verde.
“A participação das comunidades é fundamental até para o próprio objetivo de redução de carbono”, diz Strassburg. “Por muito tempo se pensou que levar em conta a comunidade era uma concessão necessária para alcançar os objetivos de carbono, mas nosso estudo mostra que os projetos de Redd+ são mais bem-sucedidos e sustentáveis quando há o envolvimento da sociedade e isso se reverte também na mitigação de carbono.”

Redd+ no Brasil

O Ministério do Meio Ambiente está formulando uma política nacional de Redd+ e alguns estados, como Acre, Amazônia e Mato Grosso, já têm legislação própria para tratar do tema. De acordo com levantamento mais recente do Serviço Florestal Brasileiro, existem no país 18 projetos de Redd+, 12% implementados, 53% em fase de elaboração e 35% em negociação e captação de recursos.
Para Strassburg, um dos desafios atuais do Redd+ no Brasil é conciliar as políticas dos estados e do governo federal. “O objetivo final do Redd é mudar a maneira que usamos a terra e diminuir as emissões de carbono e, para isso, as políticas estudais e nacionais têm que estar integradas e os setores de agricultura e transporte também têm que levar o Redd em consideração”, diz.
Um dos desafios atuais do Redd+ no Brasil é conciliar as políticas dos estados e do governo federal
Apesar dos desafios, o diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Paulo Moutinho, acredita que o país tem tudo para se sobressair mundialmente nas iniciativas de Redd+. “O Redd+ poderá trazer recursos importantes para o Brasil e estamos preparados, temos uma posição privilegiada para aproveitar todo o potencial econômico que esse mecanismo oferece”, diz o biólogo, autor do livro Redd no Brasil – Um enfoque amazônico.

Paralisação global

Quando o assunto são os créditos de carbono, porém, o Brasil e demais países em desenvolvimento ainda precisam lidar com a paralisação do mercado. Atualmente, a maioria dos investimentos em Redd+ é público ou voluntário e a procura por créditos de carbono é pequena.
“A discussão em torno do Redd foi por muito tempo focada na oferta; dizia-se que os países em desenvolvimento não teriam a capacidade de diminuir o desmatamento”, comenta Strassburg. “Mas hoje o problema é o oposto, o mercado está parado porque não existe demanda por Redd. Países em desenvolvimento, como o Brasil, estão prontos para oferecer créditos de carbono via Redd, que têm um impacto enorme nas mudanças climáticas, mas nada acontece por falta de interesse.”
Strassburg: “O mercado de carbono está parado porque não existe demanda por Redd”
Uma explicação para a paralisação do mercado pode ser o alto custo de monitoramento das estratégias de Redd+. Joice Ferreira conta que um dos modos mais eficientes de estimar a taxa de absorção de carbono de uma área de floresta conservada ou restaurada é também o mais caro: usar altas torres instaladas na mata que medem as trocas gasosas entre a vegetação e a atmosfera.
Strassburg acredita, no entanto, que a estagnação se deve à falta de comprometimento global para minimizar os impactos das mudanças climáticas; sem metas definidas, não existe pressão para compensar emissões.
Um estudo publicado nesta semana pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) corrobora essa tese. O trabalho mostra que pelo menos 30 bilhões de dólares foram prometidos por nações ricas em 2009 para serem direcionados ao Redd+ até 2012, mas somente 23,6 bilhões chegaram ao seu destino. Além disso, segundo o estudo, apenas 20% desse valor foi realmente alocado em projetos de adaptação às mudanças do clima em países pobres. O restante corresponde a empréstimos que devem ser pagos.
“É imprescindível negociar uma resposta global às mudanças climáticas e as nações mais ricas podem adiantar esse processo ao cumprir suas promessas passadas”, diz uma das autoras, Saleemul Huq, do IIED. “Países mais ricos precisam mostrar às nações mais pobres que estão comprometidos a trabalhar em conjunto nesse desafio global.”

Sofia MoutinhoCiência Hoje On-line

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