Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Como funciona o pagamento por serviços ambientais 3

Investindo em conservação

O mercado de créditos de carbono é, atualmente, o projeto de PSA mais difundido no mundo. Ele foi implementado pelo Protocolo de Kyoto e tem impactos diretos na mitigação do aquecimento global, o maior problema ambiental enfrentado pela sociedade nos dias de hoje.

Mas existem diversos outros projetos e políticas públicas de conservação embasados pelo PSA em curso no Brasil e no Mundo. Veja abaixo alguns deles.

Iniciativas de PSA no Brasil
•Proambiente: o Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar (Proambiente), criado em 2000 pela sociedade civil e incorporado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2003, premia com um terço de salário mínimo agricultores e pecuaristas que incorporam práticas menos impactantes em sua produção, como, por exemplo, a não-utilização de agrotóxicos ou a implantação de sistemas agroflorestais (SAF’s);

•ICMS ecológico: os Estados brasileiros repassam, por lei, 25% da arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS. Alguns municípios criaram regulamentações que permitem alocar 5% deste repasse em projetos de preservação ambiental;

•Compensação ambiental: trata-se de uma “compensação” financeira aos impactos ambientais inevitáveis em empreendimentos - como, por exemplo, testes com químicos no mar para a perfuração de jazidas de petróleo -, paga aos Estados que, por sua vez, investem o dinheiro em projetos de preservação;

•Reposição florestal: voltado para empreendimentos madeireiros, trata-se de um mecanismo de fomento ao reflorestamento de áreas, seja através do cumprimento de regras de manejo florestal (só é permitido cortar uma parcela de árvores, e não todas), ou do pagamento de uma taxa de reposição, que irá financiar o reflorestamento em outras áreas;

•Isenção fiscal para RPPN’s: mecanismo que isenta do pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR), proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s);

•Em fase de implantação: existem outras políticas públicas de PSA ainda não implantadas, dependentes de aprovação ou regulamentação. É o caso, por exemplo, do imposto de renda (IR) ecológico, que propõe que um percentual do imposto devido pelos contribuintes possa ser investido em projetos ambientais.

Iniciativas de PSA em outros países
•México: o governo federal mexicano premia financeiramente comunidades e donos de propriedades rurais que preservam suas florestas e áreas de mananciais;

•Costa Rica: o governo da Costa Rica criou uma taxa, que incide sobre o consumo de água e gasolina do País, cuja arrecadação é revertida a a proprietários de florestas (cerca de US$ 80 por hectare/ano de mata preservada), os prestadores de serviços ambientais.

­Iniciativas privadas de PSA
Não só o governo e a sociedade civil, mas também empresas privadas têm investido em projetos de PSA.

É o caso da empresa Perrier-Vitel, fornecedora de água, que paga US$ 230 por hectare/ano para que proprietários de terras vizinhas às suas nescentes mantenham suas respectivas áreas protegidas com vegetação.

Na região de Itacaré, sul da Bahia, um grupo de hotéis destina recursos (algo em torno de um salário mínimo) aos proprietários de terras vizinhas a seus empreendimentos, para que a região permaneça preservada. Além de não desmatar, quem quiser receber o dinheiro precisa aderir a práticas agrícolas sustentáveis, como a agricultura orgânica e os sistemas agroflorestais (SAF’s).

Economizar Energia! >>> UDOP

 Arnaldo Jardim, deputado federal

Fonte: Assessoria de Comunicação do Dep. Arnaldo Jardim

24/06/10 - O Brasil desperdiça muita energia, mais de 15 bilhões/ano segundo pesquisa divulgada durante o 7ª Congresso Brasileiro de Eficiência Energética (COBEE), do qual participei. Há tempos tenho dedicado atenção ao desafio de transformar este desperdício em oportunidades. Necessitamos de mais energia para sustentar nosso crescimento e o melhor caminho, sem comprometer ainda mais os nossos recursos naturais, é a economia, a eficiência!

Como coordenador do Grupo de Eficiência Energética da Comissão de Minas e Energia, da Câmara dos Deputados, entendo que "é melhor racionalizar o uso da energia de que dispomos, a energia mais barata e ambientalmente correta é aquela que não precisamos gerar". Assim, defendo a definição imediata de uma Política Nacional de Eficiência Energética.

Um marco regulatório capaz de impulsionar políticas públicas capazes de "premiar a eficiência", tais como: estabelecer os chamados contratos de performance no setor público, por meio de reformulação da Lei 8.666 (que trata de contratos e licitações públicas); impulsionar a inovação tecnológica (ex.: Smart Grid - tecnologia remota para controlar aparelhos em casas dos consumidores para economizar energia, reduzir custos e aumentar a confiabilidade e transparência); aquecer o mercado de "Green Buildings" (prédios sustentáveis); além de disseminar práticas cotidianas de racionalização de energia e consumo de água para a população.

Vale destacar que representantes das principais candidaturas à Presidência da República estavam presentes no seminário, o que demonstra a importância estratégica do tema. Como um dos formuladores do programa de governo de José Serra e entusiasta da Economia Verde, destaquei a lei estadual paulista de mudanças climáticas que vai impor à necessidade de ganhos de eficiência em todos os setores da economia, a instalação de aquecedores solares em novas moradias da CDHU, além do uso do poder de compra das instituições públicas para privilegiar produtos/empresas que estejam compromissadas com a eficiência energética.

Na ocasião, também defendi a etiquetagem de produtos/empresas como critério para orientar as concessões de financiamentos/isenções fiscais pelo setor público, a exemplo do que foi feito com a redução do IPI da linha branca, produtos estes que a partir do próximo ano terão de atender normas mais rígidas de economia de energia segundo nova determinação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial). Também destaquei a proposta das "Usinas Virtuais" - o potencial de energia acumulada e que se torna realidade a partir da eficiência energética. Para este último, seria necessário, inclusive, criar um mercado de contratos de ganho em eficiência energética, a exemplo do que já acontece na comercialização dos créditos de carbono estabelecidos pelos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas no combate as mudanças climáticas.

Em suma, disseminar projetos de energia eficiente é o melhor caminho para aumentar a competitividade do País, além de proporcionar redução de emissão de poluentes e de impactos ambientais e sociais. Estou certo que a eficiência energética vai desempenhar um papel estratégico na nossa matriz energética!

São Paulo: matriz mais renovável /// Ambiente Energia

Agência Ambiente Energia -
A Matriz Energética 2020, relatório sobre projeção do consumo de energéticos no estado de São Paulo para daqui a 10 anos a partir dos dados de consumo de energéticos entre 1980 e 2007, mostrou que o estado segue na estrada da renovabilidade. Segundo Jean Cesare Negri,coordenador de Energia da Secretaria de Estado de Saneamento e Energia do governo do Estado de São Paulo, o percentual de 53% foi possível graças à exploração do potencial hidráulico e dos produtos oriundos da cana-de-açucar. A expectativa é que, no cenário da Matriz 2035, este percentual de renováveis salte para 57%.

Veja a íntegra do relatório Matriz Energética 2020, publicado em junho de 2009
link:
http://www.ambienteenergia.com.br/referencias/docs/Relatorio-Martiz-Energetica-2020-AmbienteEnergia.com.br.zip

Saiba quanto custa investir em um estilo de vida sustentável /// Folha Online

Em uma definição simplista e ideal, uma casa sustentável é amiga do planeta e do orçamento doméstico, confortável, bonita e saudável.

No mundo real, ainda há muita confusão entre o que é apenas marketing verde, para vender produtos ditos ecológicos, e o que é sustentável de fato. E muito mais dúvidas à respeito de quanto custa ou quanto vale a pena gastar para alcançar esse ideal.

Além dos argumentos sobre a importância das atitudes que garantem o futuro da humanidade, também é preciso convencer o consumidor de que os produtos para isso não são necessariamente mais caros. Ou que são apenas um pouco mais caros, mas que se pagam com a economia que geram.

"No último ano, a venda de produtos para a construção sustentável cresceu 30%", diz Marco Gala, diretor de marketing da Leroy Merlin, cadeia de megalojas de material de construção. Segundo ele, o crescimento do mercado fez os preços baixarem.

Mesmo assim, a produção em menor escala e envolvendo uma série de custos extras, como o da certificação, faz com que, na maioria das vezes, o preço final seja mais alto do que opções menos sustentáveis.

Mas a coisa começa a mudar de figura. Segundo Luiz Henrique Ferreira, diretor da Inovatech Engenharia, a economia gerada pelos procedimentos e materiais ecologicamente corretos paga o custo em um tempo relativamente curto.

Ferreira participou da criação de um protótipo de casa sustentável de 40 m2, apresentado na Ambiental Expo 2010 no final de abril, em São Paulo.

Idealizado pela Fundação Vanzolini e pela Inovatech, a proposta foi criar um projeto de casa popular adotando critérios de sustentabilidade.

De acordo com Ferreira, o preço final ficou aproximadamente 10% mais caro que o de uma casa popular padrão. "Mas a economia que a casa sustentável gera paga essa diferença em pouco tempo", afirma.

Manuel Carlos Reis Martins, coordenador do Processo Aqua, pondera que melhorar a forma com que a casa se relaciona com o meio ambiente ao longo de sua vida útil -a chamada ecogestão- está diretamente ligada ao melhor aproveitamento de água e energia.

Os recursos mais viáveis para deixar a casa verde são os que trazem esse tipo de economia. E nem tudo é novidade ou envolve alta tecnologia.

Os arejadores de torneira, por exemplo, que já existiam muito antes da moda da expressão "aquecimento global", representam uma economia de 10% a 30% de água, segundo Ferreira. Encontrados em qualquer loja de material para construção, os arejadores se encaixam na maioria dos modelos de torneira.

As válvulas de descarga de duplo-fluxo, que tem dois botões (para resíduo líquido ou sólido), gastam três ou seis litros de água por descarga. Uma válvula normal gasta, no mínimo, três vezes mais: 18 litros.

Bacias com caixa acoplada são as de mais fácil instalação e manutenção, mas há opções de válvulas de parede duplo-fluxo. O custo aqui, para quem tem uma válvula convencional, é fazer a troca, que exige obra, quebrar azulejos etc.

Dá uma certa dor de cabeça e gera o lixo da obra. "Pensar como serão destinados os resíduos de uma obra também é requisito da construção sustentável", lembra Martins.

Em relação à economia de recursos, as lâmpadas frias são os produtos que mais rapidamente "fecham a conta", segundo Luiz Henrique Ferreira.

Elas podem custar até quatro vezes mais do que uma lâmpada incandescente, mas duram sete mil horas, contra as duas mil horas da lâmpada comum.

A pior parte, que é a iluminação fria e com cara de hospital das lâmpadas fluorescentes antigas, foi parcialmente resolvida com o surgimento de lâmpadas frias em diferentes "temperaturas de cor", como a amarela, que produz um efeito mais próximo da incandescente.

Já a lâmpada LED, com tecnologia mais avançada e maior economia de energia, é a mais cara de todas. É indicada para quem quer pagar o preço de uma iluminação cenográfica, embutida no teto ou em spots.

Entrando na seara de quem quer e pode pagar, o céu é o limite. Aqui, paga-se o preço da tecnologia, do design e da grife. Se, no lugar da casa popular, a proposta é uma cobertura de 400 m2 na região dos Jardins, em São Paulo, as exigências do projeto aumentam a demanda por produtos mais sofisticados.

"Mas temos que buscar eficiência, não desperdício. O custo da decoração e da manutenção devem ser ajustados", afirma Paola Figueiredo, vice-presidente do grupo Sustentax, que atua na elaboração de projetos de sustentabilidade.

Um dos trabalhos do grupo é justamente a reforma da tal cobertura nos Jardins segundo os critérios de sustentabilidade. "Eles são compatíveis com o bom gosto e o conforto. A casa não precisa ser quase uma oca", diz Figueiredo.

O conforto-luxo, permite, por exemplo, economizar água e luz sem ter de se preocupar com isso. Sensores eletrônicos se encarregam de desligar a luz, quando não há ninguém no ambiente e as torneiras se fecham automaticamente.

Como tudo isso pode ser feito manualmente, a pergunta é: qual preço a pessoa quer pagar -o financeiro, na compra do produto, ou o de se envolver de fato na mudança de hábitos para uma vida mais sustentável?

Além das intenções de cada um, o preço de ser verde depende das condições de cada casa e dos hábitos de seus moradores.

O painel de aquecimento solar, um lugar-comum da sustentabilidade, não é barato. Mas Luiz Henrique Ferreira afirma que a coisa se paga em dois anos, se a instalação for fácil (por exemplo, quando se está construindo uma casa e ele foi pensado desde o projeto).

Para instalar um painel desses em uma casa pronta, não tem jeito: é obra, gera entulho e nem sempre fica bom. O custo, nesse caso, é uma incógnita.


Já a placa fotovoltaica, um equipamento mais sofisticado que transforma a luz solar em energia elétrica, entra para o grupo dos produtos que não fecham a conta. Segundo Ferreira, é precisa economizar energia com a placa por 50 anos para o investimento zerar.

Cisternas para captar água da chuva podem sair caro ou barato. Se há jardim para regar, varanda para lavar e tubulação para levar a água captada para os vasos sanitários, o investimento se paga. Se não, é guardar água para nada.

Calcular a relação custo/benefício pode ser uma balde de água fria nas boas intenções de quem quer fazer as pazes com o meio ambiente. E o cálculo não é só o preço final de cada produto, mas pensar no objetivo e alcance de cada coisa. Se separar o lixo é uma forma, barata inclusive, de ser mais sustentável, de nada adianta a boa vontade se não houver um esquema de coleta seletiva no bairro, certo?

'CEUs e hospitais de São Paulo desperdiçam energia', diz especialista /// Revista Galileo

Diretor da Fundação Clinton diz que automação de prédios e semáforos inteligentes são soluções para conter o desperdício na cidade
por Najia Furlan

CEU Vila Rubi. Especialista diz que unidades são exemplos de prédios que poderiam evitar desperdício (Divulgação)Em São Paulo, escolas CEUs (Centro de Educação Unificados) e hospitais desperdiçam energia com luz ligada e aquecimento de água e sistemas de ar-condicionado antigos gastam mais eletricidade que refrescam. A análise é de Adalberto Maluf, diretor da Fundação Clinton (ligada ao ex-presidente americano Bill Clinton) em São Paulo, que acredita que já existe tecnologia suficiente para fazer com que a nova geração de edifícios brasileiros consuma menos energia.

A primeira medida a adotar seria um sistema de iluminação com novas tecnologias, como a LED (sigla para Ligh Emitting Diode ou, em português, diodo emissor de luz). O sistema, mais caro a princípio, poderia proporcionar de 80% a 95% de economia. A segunda seria a automação dos sistemas de energia, com luzes que acendem somente quando pessoas estão nas salas. O especialista discute estas e outras ideias ele nesta entrevista a Galileu. Confira.


Quais as principais medidas que precisam ser tomadas para reduzir o desperdício de energia na cidade?

A primeira seria adotar um sistema de iluminação mais recente, com novas tecnologias, como LED, por exemplo, que proporciona de 80% a 95% de economia de energia. Reduzir custos de eletricidade também seria uma boa, com uso de aquecedores solares para água. Os chuveiros (elétricos, por resistência ainda) são um dos grandes vilões do consumo de energia – representam de 15% a 20% do uso de energia, no horário de pico. Em alguns hospitais públicos ainda temos sistema elétrico para aquecer as caldeiras, aquecendo água para lavar toalhas, o que é um desperdício incrível. Se em hospitais públicos de São Paulo é assim, imagine no interior... E uma medida excelente seria a automação do sistema em edifícios comerciais e de edifícios públicos – ou seja, as luzes se ligariam apenas com a presença de pessoas nas salas.

Você poderia dar alguns exemplos de edifícios que seriam beneficiados pela automação?

Vamos pensar nas escolas. Os CEUS – assim como as escolas mais antigas da cidade – foram construídos sem interruptor, ou um por andar, ou com interruptor fechado, com cadeado. Um funcionário liga tudo às 5 da manhã e outro desliga às 22h, quando vai embora. A gente fica desperdiçando energia nas escolas durante todo esse tempo. A mesma coisa acontece com os hospitais, com sistemas de ar condicionado antigos, que mais gastam energia do que refrescam. Nas edificações privadas também existe um potencial muito grande de economia. Quase todos os prédios da Avenida Paulista foram construídos nos anos de 70 e 80. Todos esses prédios, eu garanto, teriam uma economia de energia de mais ou menos 20 ou 30% com a automação.

Não apenas em edificações, mas na cidade como um todo, qual você acha que é a principal fonte de desperdício?

O transporte, com certeza. Vamos falar, primeiro, no transporte coletivo: São Paulo iniciou um processo muito interessante de investimento para priorização da operação dos ônibus, com algumas melhorias operacionais. Porém, se tivéssemos menos ônibus, mas maiores, articulados e com mais tecnologia, rodando com maior frequência, você economizaria muito combustível. Hoje há muitas linhas feitas há mais de 20 anos, que mudaram. Então ela vem da periferia, chega ao metrô, e todo mundo desce, mas a linha continua, na Avenida Paulista, onde tem aquela fila enorme de ônibus. São inúmeros casos, pela cidade inteira, de linhas antigas. Seria preciso uma reestruturação de todo sistema de transporte de São Paulo, com o objetivo principal de colocar linhas troncais nos grandes corredores, para que lá só andem ônibus articulados, novos e grandes, com grande capacidade, com pouco tempo de espera.

Qual seria uma alternativa para atrair mais pessoas para o transporte público e economizar combustível?

Se houvesse um bom sistema de informação – formando uma rede, com mapas inteligentes, nos quais a população aprenda, rapidamente, a se locomover , aí quem sabe a gente consiga ter uma redução no número de usuários do transporte individual e gerar eficiência para a cidade. Hoje a cidade de São Paulo desperdiça não só muita energia, como muito tempo do seu cidadão – tempo que poderia gerar produtividade e qualidade de vida. Se a pessoa perde qualidade de vida, afeta o rendimento, a produtividade e a cidade perde competitividade. Aí ocorre o que já vem ocorrendo há mais de 20 anos em São Paulo: perda de empresas e serviços para outras cidades. Quem pode escolher onde quer trabalhar, escolhe viver em uma cidade mais agradável, com calçadas mais largas, com verde, com paisagismo, com parques urbanos.

Além do desperdício e dessa questão da mobilidade, quais seriam outros grandes problemas energéticos de São Paulo?

A iluminação pública é muito antiga. Das 450 mil lâmpadas, mais ou menos, 200 mil são de mercúrio. Se trocássemos a iluminação atual por uma mais eficiente, em aproximadamente oito meses, a economia de energia já pagaria o investimento e, a partir daí, teríamos uma contenção de gastos muito grande.

Os semáforos também utilizam uma tecnologia muito antiga. Não têm sistema sincronizado, o que gera mais confusão no trânsito e também desperdiça muita energia. Se colocássemos um semáforo de LED, por exemplo, ele consumiria 90% menos energia, além de ser mais inteligente (por exemplo, dar prioridade para o horário dos ônibus) e integrado.

A quem cabe a responsabilidade pelo desperdício de energia da cidade?

A sociedade civil organizada poderia estar atuando na organização dos setores, na busca de melhorias dentro de seus próprios setores (das suas empresas, das suas associações). Porém, isso deve ser liderado pelo poder público, dando o exemplo. Fazendo obras de eficiência energética nas suas edificações, combatendo desperdício de água, de luz. Além disso, cada um de nós temos que buscar as melhorias dentro de nossas próprias residências

Consumo consciente ainda não é hábito para os brasileiros /// Gazeta do Povo - RPC

Pesquisa mostra que apenas 4% dos consumidores têm comportamento considerado sustentável
Publicado em 16/05/2010
Alexandre Costa Nascimento - Colaborou Fernanda Maranhão

Fale conoscoRSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letraDe gasolina amiga da natureza a cosméticos que ajudam na preservação da Amazônia. De banco sustentável a fabricante de cigarros com responsabilidade social. Praticamente onipresente há cerca de uma década em embalagens, propagandas e produtos, o discurso das empresas comprometidas com a sustentabilidade socioambiental só não conquistou um espaço fundamental: a cabeça dos consumidores.

A pesquisa “O Observador – Barômetro Brasil 2010”, desenvolvida pela Cetelem, braço financeiro do grupo BNP Paribas no Brasil, mostra que apenas 4% dos consumidores brasileiros incorporaram as práticas do chamado consumo consciente.

Saiba mais

Veja o perfil dos consumidores brasileirosO Teste de Consumo Consciente (TCC), metodologia criada pelo Instituto Akatu – instituição focada na mudança de comportamento do consumidor – considera o cumprimento de 13 comportamentos simples, como apagar as luzes ao sair de um local ou fechar a torneira ao escovar os dentes; quanto mais desses hábitos são seguidos, maior o nível de comprometimento do consumidor.
A boa notícia é que a grande maioria dos brasileiros – 65% dos entrevistados – é “iniciante”, e adota entre 3 e 7 desses comportamentos sustentáveis. Por outro lado, 11% são “indiferentes” sobre o impacto de seu comportamento de consumo em relação ao meio ambiente, com a prática de, no máximo, dois hábitos sustentáveis.

Elas e eles

O estudo aponta que o nível de escolaridade está diretamente relacionado ao grau de comprometimento do consumidor; quanto mais instruídos, maior o nível de consciência. Já as mulheres são mais comprometidas do que os homens. Nos outros grupos de consumo, no entanto, não há diferença significante entre os gêneros.

Também nota-se uma variação pelo critério de divisão socioeconômica. A população das classes D e E é maioria nos grupos de “indiferentes” e “iniciantes”, enquanto as classes A e B são as mais comprometidas e conscientes. A classe C, por sua vez, aparece com resultados muito próximos às classes A e B.

Pela divisão geográfica, as regiões Nordeste e o Sul apresentam com maior índice de consumidores indiferentes, enquanto o Sudeste concentra o maior índice de comprometidos.

O chefe de cozinha Anderson Batista Silva pertence à minoria de brasileiros que refletem sobre as consequências de seus hábitos de consumo. Sempre que desocupa qualquer ambiente, ele se certifica de que desligou, além das luzes, o ar condicionado, o ventilador e a televisão. “Não faço apenas pela economia de dinheiro, mas também porque gastando menos usamos melhor essa energia em outros setores da sociedade”, explica.

Na cozinha, seu ambiente de trabalho, ele garante que sempre que monta cardápios ou faz anotações para compras, usa o verso das folhas já utilizadas para economizar papel. Além disso, fecha a torneira enquanto ensaboa a louça para economizar água e lê os rótulos para identificar se o produto agride o meio ambiente, optando por comprar aqueles que geram menor impacto. “O essencial é que cada um faça sua parte”, estimula.

Já a estudante de Direito Maria Fernanda Dozza Messagi pertence à categoria de “iniciantes”. Ela separa o lixo para reciclagem, faz questão de pedir nota fiscal em todas as suas compras, mas, por outro lado, “escorrega” quando o assunto é o planejamento dos gastos e os cuidados com o consumo de energia. Além disso, Maria Fernanda revela que não lê os rótulos e não prioriza a compra de produtos ditos sustentáveis. Mesmo assim, ela acredita que está fazendo a sua parte. “Se todas as pessoas tomassem algum tipo de atitude, por menor que seja, os problemas seriam muito menores”, argumenta.


A estudante de psicologia Rafaela Miranda Dutra, no entanto, é daquele tipo de consumidor que não se importa em deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes ou em deixar a televisão ligada mesmo se não estiver assistindo. A justificativa da “consumidora inconsciente” está na “falta de tempo” e na “preguiça”. “Eu não faço porque se só eu fizer não vai adiantar nada”, justifica Fernanda, que afirma ainda que não se importa com o futuro do meio ambiente.

Valores
Ao avaliar os hábitos de consumo dos brasileiros, o Instituto Akatu detectou três sistemas de valores diretamente relacionados à prática do chamado consumo consciente. Em primeiro lugar aparece o “ambientalismo”, pautado na crença de que a a questão ambiental é urgente e de que é preciso priorizar o reequilíbrio entre o homem e a natureza.

Em segundo está a chamada “simplicidade voluntária”, que valoriza um estilo de vida mais simples, pautado no bem estar e que não depende tanto do consumo de bens e produtos. E, por último, aparece o “pós-materialismo”, que se caracteriza pela valorização de conceitos intangíveis, como a a realização pessoal, a inclusão e o reconhecimento social em detrimento das necessidades materiais.

Futuro da energia /// Agencia Fapesp

24/3/2010
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O Projeto Global Sustainable Bioenergy (GSB) – que reúne cientistas de vários países em um esforço internacional para viabilizar a futura produção de energia sustentável em escala mundial – iniciou nesta terça-feira (23/3), em São Paulo, a terceira das cinco convenções que compõem sua primeira etapa.

A Latin American Convention of The Global Sustainable Bioenergy Project prosseguirá até a próxima quinta-feira (25/3), na sede da FAPESP, com o objetivo de fornecer uma plataforma para oportunidades, desafios e preocupações regionais e transnacionais relacionados à bioenergia. As duas convenções anteriores foram realizadas na Holanda e na África do Sul. As duas últimas estão marcadas para junho, na Malásia, e julho, nos Estados Unidos.

Durante o evento, o presidente do comitê diretor do Projeto GSB, Lee Lynd, professor de biologia do Dartmouth College (Estados Unidos), destacou os rápidos avanços conseguidos pela iniciativa, oficialmente iniciada em junho de 2009.

“Há um ano, todo esse processo era apenas uma ideia. Mas o projeto cresceu e a cada semana temos um círculo maior de participantes. Já nas duas primeiras convenções tivemos indicações de uma possível resposta favorável à questão que colocamos como ponto de partida para o projeto: se é fisicamente possível chegar ao uso de bioenergia em escala global, suprindo ao mesmo tempo as necessidades alimentares e ambientais do planeta”, disse.

Lynd, pioneiro no estudo da utilização da biomassa para a produção de energia, explicou que as convenções têm o objetivo de identificar os obstáculos para a produção de bioenergia em larga escala. No segundo estágio, além de responder se há possibilidade física de uma generalização sustentável da bioenergia, os organizadores vão procurar também responder se esse objetivo é de fato desejável.

“A certeza que temos é que as tendências atuais de consumo de energia não são sustentáveis. A manutenção desses padrões é mais uma fantasia do que uma perspectiva real. Por isso, o primeiro passo para o projeto GSB é tentar mostrar o que é possível, sempre com foco no que é desejável. Sem isso não conseguiremos o apoio dos responsáveis pelas políticas públicas”, disse.

Segundo Lynd, os estudos realizados até o momento deixam claro que a cana-de-açúcar – cuja produção para bioenergia é dominada pelo Brasil – é o melhor dos insumos de primeira geração disponíveis para uso em biocombustíveis.

“A cana-de-açúcar é também claramente competitiva em termos econômicos. O custo do insumo não seria uma limitação. Já o custo da terra configura uma questão importante. Será necessário cultivar variedades com uma composição otimizada para a fotossíntese”, afirmou.

As discussões, segundo Lynd, começam a indicar que há realmente viabilidade física para a produção global de bioenergia sustentável. Com o uso da biomassa, existe até mesmo a possibilidade de se chegar a um ciclo neutro para o carbono. Mas os especialistas ainda não conseguiram um consenso quando se trata de discutir se a adoção da bioenergia como matriz principal é desejável.

“O problema é que existem ainda muitas avaliações negativas disseminadas pelo mundo quanto ao desejo de um futuro com matriz bioenergética. Mesmo aqueles que têm acesso às mesmas informações acabam chegando a conclusões diferentes em relação a isso. Essas divergências refletem as expectativas diferentes em relação à capacidade de inovação e de mudança de hábitos”, disse.



Construir uma visão de futuro
Segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e membro do comitê de organização do GSB, o projeto está organizando uma discussão mundial sobre aspectos importantes relativos ao uso de biocombustíveis e bioenergia. Isso está sendo feito na forma de um desafio: será possível substituir 25% da gasolina do mundo por biocombustíveis, preservando o meio ambiente, sem trazer prejuízos à sociedade?

“Trata-se de uma pergunta que sugere uma solução, mas estabelece também obstáculos muito importantes. Muitas vezes, no Brasil, tendemos a supor que a resposta é fácil, já que no país um terço da gasolina foi substituída por etanol. Mas fazer isso em escala mundial é um desafio muito mais complexo – e também um desafio fascinante”, afirmou.

A discussão está mobilizando cientistas de vários países, segundo Brito Cruz. “É preciso que haja essa discussão mundial, para que cada um entenda os pontos de vista dos outros e para que, assim, possamos avançar. É um debate de importância crucial para o Brasil e para o mundo. Essa convenção latino-americana foi organizada para que possamos estabelecer uma linguagem comum sobre a bioenergia, que vai nos permitir uma discussão no cenário mundial.”

Nathanael Greene, diretor de Políticas Energéticas do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, disse que o Projeto GSB se caracteriza por um olhar diferenciado: no lugar de focar nas soluções mais prováveis, o grupo tenta imaginar as respostas mais desejáveis. “Em vez de conformar nossas perspectivas à realidade atual, temos que pensar em construir uma visão de futuro”, afirmou.

De acordo com Greene, sem uma visão de futuro sólida e baseada em ciência, não será possível estabelecer metas ao mesmo tempo viáveis e ambiciosas para o futuro energético do planeta.

“Muitas vezes, em nossas análises, estamos extrapolando para o futuro tendências e práticas atuais, o que nos direciona para um futuro extremamente sombrio. Na nossa visão, temos que mudar essa mentalidade e pensar qual é o futuro desejável. A partir daí, vamos fazer uma interpolação para saber como chegaremos a esse objetivo. Temos que levar em conta que existem muitas alavancas tecnológicas e políticas que podemos usar para atingir essa meta de sustentabilidade – e é isso que o GSB está mostrando”, disse.

Glaucia Mendes de Souza, uma das coordenadoras do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), afirmou que a sustentabilidade, por ser um problema extremamente complexo, requer o trabalho conjunto de cientistas de diferentes áreas de pesquisa. Esse, segundo ela, é um dos objetivos da Convenção.

“O Brasil é um exemplo para a indústria de produção de biocombustíveis. Mas temos percebido que há um problema de percepção pública em relação ao que estamos fazendo no país. É importante que se saiba o que estamos pesquisando e como nossa indústria está operando. Essa experiência deve ser mostrada, ao mesmo tempo em que também devemos aprender com as experiências dos outros países. Com essa união poderemos chegar a uma matriz energética mais sustentável”, afirmou.

De acordo com Ricardo Silva, secretário-adjunto de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, o governo paulista tem trabalhado no desenvolvimento de políticas públicas para a expansão do uso de energias sustentáveis.

“Segurança energética e fontes de energia renováveis correspondem a um binômio que tem sido central no estabelecimento de políticas públicas. Temos trabalhado na criação de alternativas para o futuro do estado, dando prioridade à inovação e à pesquisa sobre energias sustentáveis. Projetos como o GSB certamente vão nos ajudar nessa missão”, disse.

Para o deputado federal Arnaldo Jardim, o parlamento brasileiro também tem dedicado muita atenção à questão dos biocombustíveis. Segundo ele, o Congresso aprovou, dias antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), em dezembro, um fundo de combate às mudanças climáticas, que deverá estimular a produção de bioenergia. “Vemos com muito entusiasmo também a atuação do governo paulista e da FAPESP nessa área”, afirmou.

Jardim contou que o Congresso também está trabalhando em um projeto de macrozoneamento que regulamentará as zonas de plantio de cana-de-açúcar, impedindo que a produção avance sobre os biomas da Amazônia e do Pantanal.

André Corrêa do Lago, ministro do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que, no setor energético, o Brasil está na ponta tanto em termos de pesquisa científica, como em relação à sustentabilidade.

Segundo ele, a posição da política externa do país em relação aos biocombustíveis está relacionada à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a partir da qual o conceito de sustentabilidade foi mundialmente aceito.

“O problema é que esse conceito sofreu certos desequilíbrios em anos recentes. A Convenção do Projeto GSB é muito importante para restabelecer esse equilíbrio. O Brasil tem defendido, no âmbito internacional, esse legado de 1992, que trata a questão da sustentabilidade em seus aspectos ambientais e sociais, mas também econômicos. Do ponto de vista dos países em desenvolvimento, é fundamental que a dimensão econômica não seja esquecida”, afirmou.

Empresas tentam reduzir desperdício de água /// DCI


Fernando Teixeira
SÃO PAULO - A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 22 de março como Dia Mundial da Água. No Brasil, 73% da água potável são destinados à agricultura, 21%, à indústria, e apenas 6%, ao consumo doméstico. Uma das grandes preocupações das autarquias e empresas de saneamento básico é combater o desperdício na própria rede e as ligações clandestinas. Somente a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) descobriu, na região metropolitana de São Paulo, 17 mil fraudes em 2009. Em Ribeirão Preto, interior paulista, a tubulação velha é responsável por desperdiçar perto de 40% da água. Para evitar perdas, empresas investirão milhões em prevenção e infraestrurura.

Em Ribeirão Preto, cidade de 600 mil habitantes a cerca de 350 quilômetros da capital, a preocupação do Departamento de Água e Esgotos (Daerp) é substituir cerca de 19,2 mil metros de rede distribuidora de água na região central. Segundo Taneilson Wagner Cristiano Campos, diretor superintendente da autarquia municipal, em alguns pontos da cidade a tubulação tem mais de 100 anos. Ao todo são consumidos 138.100 m³ por dia.

Outra particularidade do abastecimento da cidade é que a captação é feita toda no subterrâneo, no Aquífero Guarani. O reservatório se estende pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de Argentina, Paraguai e Uruguai. Ocupa uma área de 1,2 milhões de km², dos quais 70% estão no Brasil.

Campos contou ao DCI que o governo municipal já possui verba própria para realizar a obra, mas não revelou o montante. A obra será realizada por método não destrutivo. "Analisamos três tecnologias e se teremos uma ou duas tubulações: no caso de uma, quando há manutenção é preciso abrir a rua para o conserto; no caso de duas, uma em cada calçada, o gasto de execução é mais elevado, mas evita quebrar o asfalto. Vamos decidir e lançar edital."

Outras medidas de combate à perda de água é a colocação de macromedidores - que ficam na saída dos poços e subestações de distribuição. "A conta é simples: subtrair do total enviado o que é medido nas casas e indústrias. A diferença é o que se desperdiça."

Além da medição, desde o ano passado a cidade, que trata de 98% do esgoto, faz o programa preventivo e o punitivo, contra desperdício. Campos ressaltou que o programa preventivo é a visita de estudantes de Engenharia às casas e empresas para orientar a população. O punitivo, por sua vez, é o programa "Caça-Fraudes". Ao todo, 6 equipes verificam empresas, indústrias e casas, buscando ligações. "Se for constatada fraude, é feito o boletim de ocorrência e o proprietário recebe sanções legais."

Outra empresa que tenta combater o roubo de água é a Sabesp, empresa que faz o saneamento básico de 300 municípios. No ano passado, a empresa identificou mais de 17 mil fraudes na rede de abastecimento da região metropolitana de São Paulo.

O volume de água desviado pelos "gatos" foi de pouco mais de 3,5 bilhões de litros, o suficiente para abastecer por um mês uma cidade de 650 mil habitantes. Com a descoberta das irregularidades e a negociação com os fraudadores, a Sabesp recuperou um montante de R$ 18,5 milhões que haviam deixado de ser faturados.

No acumulado do ano, das 17.296 detectadas, quase 82% (14.534 casos) localizavam-se em imóveis residenciais, e 10% (1.740), em comerciais. O levantamento também identificou 200 irregularidades em indústrias (1%) e 1.285 (7%) em empresas. Das fraudes, o tipo mais comum foi o de violação de hidrômetro: 9.217 casos. As ligações clandestinas chegaram a 6.258.


Santo André
O Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (Semasa), cidade que fica na Grande São Paulo, investirá R$ 70 milhões, dos quais R$ 50 milhões se destinam à construção de uma nova estação de tratamento de água que abastecerá 25% do consumo na cidade, e o restante, no Programa Reágua (Programa Estadual de Apoio à Recuperação de Águas). A estação de tratamento está dentro das metas de investimento previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e os valores para o financiamento aprovado vêm do fundo de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O processo burocrático até a assinatura do contrato com a Caixa Econômica Federal deve se estender até o dia 27 de novembro, com a liberação dos recursos pelo Tesouro Nacional. Depois disso, será iniciado o processo licitatório.


Segundo Fernando Debeus Costa, assistente da superintendência, desde 1997 existe uma outorga do Departamento de Águas e Energia Elétrica para captar água da Represa Billings (na região do Parque do Pedroso, local onde a estação será construída). "O governo federal incluiu a obra no PAC porque o custo da obra é muito alto para que o município a faça. Daremos início à obra em 2011 e, depois de concluída, haverá água suficiente para 200 mil pessoas."

Hoje, Santo André é responsável pela produção de somente 6% da água consumida; a cidade compra da Sabesp os outros 94%. A nova estação de tratamento, com capacidade para tratar 350 litros de água por segundo, elevaria a produção própria de água para aproximadamente 25%.

Para agilizar o processo, Costa diz que será contratado um projeto executivo - de cerca de R$ 1 milhão - para fazer a interligação de 10 km entre estações.

Para água de reúso há previsão de investimentos de mais de R$ 20 milhões do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD). Segundo o governo estadual, o Banco Mundial disponibilizará US$ 130 milhões para atender os projetos selecionados. O Reágua prevê que as prefeituras entrem com uma contrapartida no valor de 30% da obra, percentual a ser ressarcido na conclusão projeto. A contrapartida do município é uma forma contratual de garantir a realização do projeto: as cidades que não comprovarem a eficiência da obra executada não receberão de volta a porcentagem investida.

Costa diz ainda que haverá um viveiro de plantas - contrapartida para a construção do Rodoanel Mário Covas - em cuja irrigação será usada água de reúso. Na fase final do Reágua, cerca de 80 instituições de ensino receberão troca de hidrômetro, instalação de equipamentos de uso racional, como vasos sanitários de baixo consumo e restritores de vazão (diminuem pressão nos tubos).

Belo Monte: ora, as leis /// Estadão 5/fev


Washington Novaes

Há muito se sabe e se diz que no Brasil há "leis que pegam" e "leis que não pegam" ou "ficam só no papel". É verdade. Os exemplos poderiam ser dezenas, centenas, mas não é preciso enumerá-los, cada pessoa tem em sua memória muitos exemplos. Mas talvez o exemplo mais aberrante seja o da Resolução nº 1, de 23 de janeiro de 1987, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que tem força de lei. Diz ela, no inciso I do artigo 5º, que projetos que precisem de licenciamento ambiental deverão "contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto". E entre as iniciativas que a essa exigência devem submeter-se estão as "barragens para quaisquer fins", assim como "abertura de canais" e implantação de "hidrelétricas acima de 10 MW".

A Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que acaba de receber do Ibama licença prévia, enquadra-se em todos esses itens. Terá sido confrontada com alternativa de não execução? Não parece. Poderia ser confrontada, por exemplo, com o estudo de Unicamp e WWF, tantas vezes já mencionado neste espaço, que afirma não precisar o Brasil de ampliação de sua oferta de energia; poderia ganhar o equivalente a 30% de seu consumo atual com programas de conservação e eficiência energética (como ocorreu no apagão de 2001); ganhar mais 10% com a redução de perdas nas linhas de transmissão (o Brasil perde mais de 15% nesse caminho, ante 1% no Japão); e ainda outros 10% com a repotenciação de geradores muitos antigos - tudo a custos muitas vezes menores que os da nova geração. Mas não só os governantes deixam a lei no papel como o atual ministro de Minas e Energia atribui "intenções demoníacas" a quem recorde esse e outros questionamentos de alto nível na área científica e universitária. E ainda tem a desfaçatez de dizer que só estão sendo licenciadas numerosas usinas termoelétricas, altamente poluidoras, porque o licenciamento ambiental impede a implantação de hidrelétricas (no momento em que não há ameaça de falta de energia e os reservatórios transbordam).

O fato é que se concedeu licença prévia para o projeto de Belo Monte, mas "com 40 condicionantes", que incluem "ações de mitigação dos impactos do empreendimento". Isso incluiria projetos de saneamento, "melhoria das condições de vida da população impactada" (12 mil pessoas, segundo o governo, 80 mil, segundo várias ONGs), monitoramento da floresta e adoção de áreas de conservação. Ao todo, isso poderia chegar a R$ 1,5 bilhão, mais 0,5% do valor do empreendimento a título de "compensação ambiental".

A Resolução nº 1 do Conama já "não pegou". As condicionantes vão "pegar"? A julgar pela experiência, tudo indica que não. Pode-se voltar ao caso do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, tantas vezes comentado aqui. E na última (30/10/2009) para lembrar exatamente isto: que 31 condicionantes exigidas pelo Ibama ao conceder licença prévia (como agora em Belo Monte) não haviam sido cumpridas e ainda assim as obras tiveram licença de instalação e foram iniciadas. E não eram exigências simples: referiam-se à impropriedade para a agricultura da maior parte dos solos aos quais se destinaria à água; diziam que toda a água iria para açudes onde as perdas por evaporação podem chegar a 75%; afirmavam que quase todo o restante se destinaria ao abastecimento de cidades onde as perdas de água canalizada estão na casa dos 40%; que a transposição não beneficiaria as populações mais carentes, que vivem em pequenas comunidades isoladas.

De nada adiantou todos esses argumentos terem o aval de nomes ilustres da ciência, da SBPC, da OAB, de prelados religiosos. A todos o governo federal respondeu que se tratava de argumentos de "má-fé" ou desconhecedores da realidade. E quando o Comitê de Gestão da Bacia do São Francisco - o maior interessado -, por 44 votos a 2, condenou a transposição, a então ministra do Meio Ambiente levou-a ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, onde o governo federal tem maioria absoluta e, sozinho, aprovou a obra, também questionada pelo Tribunal de Contas da União, que aponta "sobrepreço" de R$ 460 milhões.

Agora, a licença de instalação para Belo Monte está concedida, embora nem sequer se saiba quanto custará: R$ 16 bilhões, R$ 30 bilhões? Seja como for, a potência nominal de 11,2 mil MW se transformará em "energia firme" de apenas 4,5 mil MW, porque nos períodos de estiagem poderá cair para até mil MW. E exigirá a abertura de dois canais no rio, com a escavação de 160 milhões de metros cúbicos de terra e 60 milhões de metros cúbicos de rochas. Que impactos terão no rio obras como essas, em volume superior às que abriram o Canal do Panamá? Um painel de 38 especialistas na área acha que o estudo de impacto subestimou também o deslocamento obrigatório de moradores da região; que não incluiu o custo das infraestruturas urbanas necessárias para alojar essas pessoas e as dezenas de milhares que acorrerão em busca de empregos; o impacto sobre a pesca (da qual dependem 72% dos moradores da área); a não-inclusão dos custos sociais e ambientais no preço da obra e no preço da energia a ser gerada; a concessão de incentivos fiscais do Estado e municípios, em detrimento de obras sociais; a destinação de praticamente toda a energia aos setores de eletrointensivos (alumínio e ferra gusa, principalmente), a preços subsidiados, como em Tucuruí, e que precisam ser pagos por toda a sociedade consumidora; os prejuízos para vários grupos indígenas.

Ao lado disso tudo, ainda restam as questões referentes aos incentivos à ocupação desordenada da Amazônia e seus reflexos na temperatura e no clima, no momento em que a ONU coloca o Brasil em sexto lugar entre os países mais afetados por "desastres naturais".

Como dizem os tribunais, "é o relatório". Vamos esperar o veredicto social.

Washington Novaes é jornalista

E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

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