Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Siemens anuncia que não investirá mais em usinas nucleares, na Alemanha ou no exterior

Publicado em setembro 23, 2011 por HC

A companhia alemã Siemens decidiu abandonar de vez a área de energia nuclear, informa o blog da revista Nature, citando a edição de 18 de setembro do jornal alemão der Spiegel. Em entrevista ao jornal, o CEO Peter Löscher anunciou que a empresa não financiará e nem construirá usinas nucleares, na Alemanha ou no restante do mundo.

A Nature lembra que a Siemens tem uma longa história no setor nuclear, tendo erguido diversas usinas na então Alemanha Ocidental nas décadas de 70 e 80, e entrando numa parceria com a francesa EDF nos anos 90.

Em 2009, no entanto, a companhia alemã rompeu com a EDF e firmou uma parceria para o setor nuclear com a estatal russa Rosatom. No entanto, essa união não se mostrou frutífera.

A Simenes continuará, no entanto, a produzir equipamentos de “uso dual”, que podem eventualmente ser utilizados em instalações nucleares, como turbinas de vapor. A entrevista de Löscher pode ser lida, em inglês, neste link.

Notícia socializada pela Inovação Unicamp e publicada pelo EcoDebate, 23/09/2011

Energia Nuclear

Washington Novaes, jornalista, é supervisor geral do Repórter Eco.

Está gerando enorme polêmica a notícia de que a Comissão Nacional de Energia Nuclear pode depositar em Abadia de Goiás, a 27 quilômetros de Goiânia e 200 de Brasília, o que ela chama de rejeitos radiativos de média e baixa intensidade das usinas nucleares de Angra 1 e 2.

Os goianos, principalmente, estão revoltados, porque o lugar cogitado é o depósito de mais de 6 mil toneladas de resíduos contaminados por algumas gramas de césio 137 num acidente em 1987. E o césio é quase uma brincadeira se comparado a rejeitos de usinas nucleares. Além disso, temem que para Abadia sejam levados os rejeitos de reatores das usinas Angra 1 e 2, que permanecerão muito perigosos durante séculos. Talvez até mesmo os da usina Angra 3, em implantação, já que a licença do Ibama para ela condicionou tudo à existência de um depósito definitivo para os resíduos - e esse tipo de depósito, definitivo, não foi ainda encontrado em nenhum país.

Mesmo nos Estados Unidos, que já investiram perto de 100 bilhões de dólares na Serra Nevada, num depósito para os rejeitos de mais de 100 usinas, o projeto continua embargado pela Justiça.

Há 10 anos, quando gravava para a TV Cultura a série "Desafio do Lixo", eu mesmo fui à Serra Nevada. E, numa entrevista com um diretor do Departamento de Energia que nos acompanhava, lembrei que os cientistas diziam que não se devia implantar ali um depósito para resíduos nucleares, porque era uma região muito sujeita a abalos sísmicos. Ele confirmou e disse que dois anos antes houvera um desses abalos, de 5 ponto 3 graus na escala Richter - e as obras do depósito nada sofreram. Mas se houver um abalo mais forte - eu perguntei. Quem garantirá? E ele respondeu, com um dedo apontando para o céu: "Ele." Ou seja, Deus.

Na verdade, o Brasil deveria reaproveitar este momento, em que o mundo todo revê seus planos de usinas nucleares, após o desastre em Fukushima, no Japão, para reavaliar os projetos de mais quatro usinas nucleares no nosso território. A Alemanha já decidiu que desativará todas as suas usinas. Outros países caminham na mesma direção. Aqui, também se deve excluir a hipótese de mandar rejeitos para Goiás - inclusive porque a Constituição do Estado proíbe. E a população, até hoje traumatizada com o desastre do césio, não os aceita.

Fontes de energia têm perspectivas diferentes no Brasil

Matriz eólica é grande aposta. Nuclear, hidrelétrica, solar e de biomassa estão nos planos
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Publicado em 13/06/2011, 18:45
Última atualização às 20:56
São Paulo – A projeção de um crescimento econômico médio de 4,5% ao ano até 2020 leva o Brasil a um inevitável investimento na produção de energia elétrica. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima que a capacidade instalada passe de 110 mil para 170 mil megawatts até o fim da década. Para isso, a aposta envolve diversificação da matriz energética, com aposta na eólica, sem descartar pequenas hidrelétricas, energia solar, nuclear e de biomassa.

O consumo per capita voltará em 2017 ao nível mais alto da história, registrado em 2001, ano em que houve racionamento no fornecimento. De lá para cá, uso mais racional, ampliação da capacidade e aumento da eficiência energética melhoraram a situação, mas há um longo caminho a percorrer.

O Plano Decenal de Energia da EPE, divulgado neste mês, indica que as hidrelétricas continuarão como prioridade. Dos R$ 100 bilhões destinados a investimentos a serem contratados, 55% são destinados a esta fonte, que hoje representa 76% da matriz energética. Embora passe a representar 67% do total até 2020, a produção vai crescer de 82,9 mil para 115,1 mil megawatts, fundamentalmente ancorada em usinas instaladas na Amazônia.

A seguir, as perspectivas para as principais fontes de energia nos próximos anos:

Eólica
A energia eólica desponta como grande aposta na matriz energética brasileira. Em 2010, comandou o leilão de fontes renováveis e chegou a um preço muito mais baixo que o imaginado. Com isso, a EPE estima que essa fonte responda por 7% da capacidade instalada até 2020, contra 1% atualmente.

Pesquisadores da Coppe, núcleo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indicam que os bons sinais não significam que o Brasil deva ficar preso a esta fonte. Em relatório emitido em maio, eles comentam o trabalho que desenvolveram junto ao IPPC, painel da ONU sobre mudanças climáticas, e asseguram que o país está fadado a ser um “seguidor de tecnologia” da energia eólica.

Pequenas centrais hidrelétricas
As PCHs, como são conhecidas, têm processo mais rápido de construção que as grandes centrais hidrelétricas, que têm uma avaliação ambiental mais rigorosa. O que é bom para a produção de energia, no entanto, pode ser um obstáculo em termos de impacto. “Temos problemas muito sérios com PCHs porque falta rigor na aprovação, se fiscaliza menos e se exige menos condições. Cada município tem uma regra diferente, o que traz problemas”, critica Gesmar Rosa dos Santos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Solar
A energia solar ainda engatinha no Brasil. Se a eólica conseguiu se desenvolver com a chegada de fabricantes estrangeiros e o gradativo processo de produção local de alguns componentes, a solar ainda não tem exploração comercial e a primeira planta solar começou a ser instalada no Ceará, em parceria entre estado e iniciativa privada. Espera-se para este ano uma definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a comercialização do excedente de pequenos geradores, como prédios, por exemplo.

Ruberval Baldini, presidente da Associação Brasileira de Energias Renováveis e Meio Ambiente (Abeama), considera que este é um grande equívoco e, pior, não está sendo corrigido, mesmo com o enorme potencial do Brasil, abastecido por sol durante a maior parte do ano. “Onde esta energia está em avanço há alguns anos tem metade da nossa insolação. Isso justificaria um esforço do governo.”

Nuclear
Os riscos na usina nuclear de Fukushima, abalada pelo terremoto que assolou o Japão neste ano, fizeram o governo recuar na intenção de instalar novas usinas. Ao menos temporariamente, já que o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, não descarta voltar a apostar nesta tecnologia. “Temos que considerar que o Brasil tem um grande potencial, domina o enriquecimento (de urânio) e tem a sexta reserva de urânio do mundo. Portanto, não devemos considerar que vamos abrir mão dessa tecnologia.”

As usinas de Angra 1 e Angra 2 asseguram atualmente 2.007 megawatts, aumentando para 3.412 em 2016, com a inauguração de Angra 3. O longo prazo para construção dessas usinas, somado ao risco, deve dificultar os planos de ampliação.

Biomassa
A biomassa vai mais que dobrar a participação na capacidade instalada brasileira, passando de 4.496 megawatts atualmente para 9.163 megawatts em 2020. A EPE estima que a maior parte virá da energia gerada por cana-de-açúcar, mas admite que há problemas neste campo. A maior parte dos usineiros prefere reaproveitar parte da energia gerada pelo bagaço na própria produção de açúcar e etanol, sem comercializá-la com o Sistema Integrado Nacional.

Santos, do Ipea, não acredita que vá se cumprir a projeção de que a biomassa a partir da cana represente 3,4% da potência instalada até 2020. O grande problema é que a produção de energia está diretamente atrelada às oscilações do mercado de etanol e de açúcar, que levam o produtor a aumentar ou diminuir sua área plantada. Em outras palavras, fica difícil fazer projeções. “É um setor que se move por um conjunto de fatores, incluindo incentivos governamentais, isenção tributária, garantia de mistura do etanol anidro na gasolina.”

Potencial dos oceanos
O painel da ONU para mudanças climáticas concluiu que o Brasil tem um potencial enorme de exploração do potencial energético a partir das ondas do mar. A tecnologia, que vem sendo estudada na Europa, poderia ser aplicada a praticamente todo o litoral nacional, com reduzidos impactos ambientais. Para os pesquisadores da Coppe, o Brasil, principal detentor da tecnologia de exploração do petróleo a altíssimas profundidades, não teria qualquer dificuldade em explorar esta técnica. “Esse é um campo em que o Brasil pode fazer a diferença. Justamente porque a tecnologia ainda não está madura, há uma janela de oportunidades para quem quer investir e sair na frente”, apontou o professor Segen Stefen em comunicado da UFRJ.

Resistência da população de Caetité barra contêineres com material nuclear

Entrevista com João Batista Pereira
Publicado em maio 23, 2011 por HC

Assim que receberam, no domingo passado, a informação de que dez contêineres com material nuclear desconhecido chegava a Caetité-BA vindo de São Paulo, o grupo que forma a Comissão Pastoral do Meio Ambiente da cidade foi às rádios da região avisar do carregamento. Ali, começava uma grande mobilização para impedir a chegada desse material à cidade. Mais de duas mil pessoas foram para a estrada fazer com que os caminhões fossem parados e o material não seguisse em frente. “A população se mobilizou por causa dos problemas ambientais, principalmente em função da contaminação da água e do solo. Caetité já tem grandes problemas fruto da exploração nuclear e de exploração de urânio e a população não aceita mais que a cidade seja considerada um depósito de lixo atômico”, explicou João Batista Pereira, agente da Comissão Pastoral da Terra da região durante a entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line.

A entrevista foi feita em parceria com o Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPA
IHU On-Line – Nos últimos dias vocês impediram que nove carretas que transportavam urânio vindo de São Paulo para Caetité, na Bahia entrassem no município. Por que vocês bloquearam a entrada dessas carretas? Por que ela viajou por milhares de quilômetros e como tomaram conhecimento da carga?
João Batista Pereira – Eram dez contêineres contendo material urânífero. A exploração desse recurso aqui em Caetité já causa grandes impactos na comunidade e no meio ambiente. Não sabemos até hoje de informações seguras que material é esse, os danos que causa, os impactos que trará ao meio ambiente. Então, a população se mobilizou por causa dos problemas ambientais, principalmente em função da contaminação da água e do solo. Caetité já tem grandes problemas, frutos da exploração nuclear e de exploração de urânio, e a população não aceita mais que a cidade seja considerada um depósito de lixo atômico.

IHU On-Line – A mina de Caetité começou a exploração de urânio nos anos 1970. Qual tem sido o seu impacto sobre a vida do município e da população? A cidade se divide sobre a necessidade da mina?
João Batista Pereira – A exploração de urânio em Caetité inicia nos anos 1990. Nos anos 1970 deu-se o começo da discussão do projeto. A maior questão frente à exploração de urânio é a falta de clareza das informações. Por exemplo, sabe-se que a análise da água, do ar, do solo é feita, mas a população não tem acesso a estas informações. Pior do que isso, as informações são negadas. Para explorar e operar o material é necessário um alto volume de água. Além de a população estar insegurança com a relação da qualidade da água, ela ainda sofre em relação à quantidade de água disponível para consumo das pessoas. Têm famílias que moram a menos de um quilômetro da mina, que sofrem constantemente com o processo de larga exploração. As casas sofrem o efeito da poeira do processo de exploração que cai todos os dias sobre as mesmas. Essas famílias, hoje, não querem mais ficar naquela comunidade, é preciso, inclusive, discutir um processo de readequação destas famílias.

Outra questão é que há uma incidência muito grande de câncer. A nossa cidade não tem um centro de pesquisa e de tratamento desse problema. No ano passado, houve uma suspeita de que a água estava contaminada. Depois noticiaram que a água já não é contaminada. A população está insegura; não sabe se o ar que respira pode lhe causar algum dano, tanto quanto não sabe se a água que bebe está contaminada com material nuclear ou não.

IHU On-Line – Há estudos sobre a radiação que a exploração do urânio causa na população local? A Indústrias Nucleares do Brasil – INB afirma que a exploração é in natura e não causa danos.
João Batista Pereira – Certamente os estudos existem, mas nós não temos acesso a essas informações. A população quer ter acesso a esses laudos. Então, na verdade, a população de Caetité vive realmente dividida. Muitas pessoas são funcionárias da mineradora que fica na região. Então, ela tem uma certa importância econômica para a cidade. Por outro lado, ela causa um desastre/desgaste socioambiental muito grande. Mas nós, desde domingo, tivemos um testemunho muito forte. Tivemos uma manifestação muito espontânea do povo, contrária à chegada do lixo nuclear.

IHU On-Line – Qual é o ciclo do urânio que sai das minas de Caetité? Para onde ele vai? O que ganha o município com essa atividade de mineração?
João Batista Pereira – Em Caetité se faz a primeira parte do processo de exploração da pedra de urânio [1]. Hoje esse material é exportado para o Canadá a fim de ser concentrado. Os ganhos nós não sabemos também. Enquanto comissão, acreditamos que Caetité tem muito mais perda do que ganho com a exploração de urânio na nossa região. E quais são? O desgaste do nosso povo. A Indústrias Nucleares do Brasil – INB age com muita truculência com quem vai falar contra ela, questionar esse processo.

IHU On-Line – Vocês mobilizaram em pouco tempo duas mil pessoas para bloquear as carretas. Como isso se deu? Como vocês chamaram todas essas pessoas?
João Batista Pereira – Assim que ficamos sabendo da chegada das carretas, no domingo à tarde, nós da Comissão do Meio Ambiente de Caetité passamos uma nota no rádio avisando a população da chegada do urânio e da possibilidade de fazer uma vigília na estrada, por onde iam passar os contêineres, e foi isso que aconteceu. Nós marcamos a vigília para às 19h30. Às 18h, já havia, aproximadamente, três mil pessoas lá na rua.

A Comissão entende que Caetité não é um depósito de lixo atômico. O lixo que é produzido fruto da exploração do minério de urânio de Caetité já poluiu demais a região. Falta maior clareza de que material realmente é trazido pelos contêineres.

IHU On-Line – O senhor considera que nos últimos tempos, em função do debate sobre a crise ecológica, aumentou a sensibilidade sobre os riscos ambientais?
João Batista Pereira – É claro. A própria temática que a Igreja e a imprensa provocaram sobre essa questão do aquecimento global com a Campanha da Fraternidade trouxe um sinal de alerta para a população. O planeta, na verdade, vive em colapso.

IHU On-Line – Como repercutiu o acidente nuclear de Fukushima em Caetité?
João Batista Pereira – Na verdade, o processo do programa nuclear brasileiro tem em Caetité a ponta do iceberg e o povo não tem qualquer informação mais aprofundada sobre o trabalho que é feito na mina da cidade. O povo de Caetité recebeu com muito medo e insegurança a notícia sobre o acidente na central nuclear de Fukushima.

IHU On-Line – Mesmo após o acidente nuclear em Fukushima, o governo do baiano mantém o interesse em instalar uma usina nuclear no estado. Como vocês têm reagido a isso?

João Batista Pereira – Nos dias em que aconteceu o acidente de Fukushima, a previsão que o governo nos deu era de não mudar o programa nuclear brasileiro. Acho que esse fato agora, dá coragem ao povo de Caetité para exigir que se abra o debate. Porém, nós sabemos que o programa nuclear brasileiro tem um plano de instalar uma usina nuclear na bacia do São Francisco. O interesse é evidente. O problema é que, pela falta de informação, eu não saberia dizer com maior certeza se esse programa será alterado ou não.

IHU On-Line – Como tem sido a reação contrária a esse movimento?
João Batista Pereira – Hoje, principalmente, a Indústrias Nucleares do Brasil – INB tenta descaracterizar o movimento e isso resulta em ameaças, em dizer que o movimento não tem respaldo, que o material não causa nenhum dano ao meio ambiente e à população. Há vários mecanismos que a empresa usa em Bpara se passar por “boazinha”. Pe. Osvaldino está sendo ameaçado. Ficamos sabendo que ontem uma pessoa, num carro suspeito, procurou por ele, pediu informações sobre ele…

IHU On-Line – Alguma coisa do meio ambiente, a paisagem de Caetité mudou muito em função da usina?
João Batista Pereira – Sim. Principalmente, no que diz respeito à questão da disponibilidade hídrica. Isso é muito visível.

IHU On-Line – Como funciona a Comissão Pastoral do Meio Ambiente? O que ela promove?

João Batista Pereira – Ela nasceu em 2008, justamente preocupada com a situação da região em função dos impactos da exploração de urânio em Caetité. Esse grupo de pessoas e lideranças está preocupado com as questões socioambientais do município. Ela promove ou provoca debates, reuniões, seminários, encontros na comunidade de Caetité, chamando a população para discutir essas questões.

Nota:
[1] A complexa fabricação do combustível gerador de energia nuclear começa na Bahia e prossegue no exterior e termina no Brasil. O início desse processo acontece em Caetité-BA: ali o urânio é extraído do minério, purificado e concentrado em forma de sal amarelo, que vai para o Canadá. Dali saindo para a Europa (Alemanha, Holanda e Reino Unido), de onde volta para a fábrica de Rezende-RJ, onde a geração do combustível é concluída.

(Ecodebate, 23/05/2011) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

Greenpeace faz protesto contra financiamento de Usina Nuclear Angra 3 em frente ao BNDES

25/04/2011 - 12h33
EconomiaMeio Ambiente

Da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Uma fumaça de cor laranja chamou a atenção de quem passava hoje (25) pela manhã, na Avenida República do Chile, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Manifestantes do Greenpeace simularam um acidente nuclear em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O ato, que durou cerca de uma hora, era um protesto contra o financiamento para a construção da Usina Nuclear Angra 3.

Os ativistas, vestidos como equipes de resgate em acidentes nucleares, carregavam cartazes com dizeres contrários à liberação do investimento. O grupo distribuiu máscaras para as pessoas que passavam pelo local durante o protesto. A manifestação foi acompanhada por policiais militares.

O coordenador de campanha de energia do Greenpeace, Ricardo Bitelo, assegura que no Brasil existem opções de geração de energia melhores e mais sustentáveis do que a nuclear.

“Nós temos no Brasil outras opções muito mais sustentáveis de energia, mais baratas, mais limpas e que podem ser construídas mais rapidamente, que são a energia eólica, a energia de biomassa e a energia solar. O Brasil não precisa de energia nuclear e a construção de Angra 3 apresenta um grande risco para a população do Rio de Janeiro e para a população brasileira”, disse.

Segundo Bitelo, a data do protesto foi escolhida para relembrar o pior acidente nuclear que o mundo já assistiu, em Chernobyl, no Norte da Ucrânia. Amanhã (26), o acidente completa 25 anos, mas, segundo ele, continua a fazer vítimas. “Nós temos um histórico de 90 mil mortos por câncer que pode vir a aumentar futuramente.”

O ativista disse ainda que o Greenpeace já procurou a direção do banco para pedir suspensão do financiamento de R$ 6,1 bilhões destinados às obras da usina em Angra.

A assessoria de imprensa do BNDES não comentou sobre o protesto e se limitou a informar que a liberação do dinheiro para a construção da usina foi aprovada em dezembro do ano passado.

Edição: Lílian Beraldo

Mais energia com menor custo, entrevista com Ildo Sauer

Publicado em março 29, 2011 por HC
ENTREVISTA

Países como o Brasil, com grande oferta de recursos para a produção de energia, deveriam repensar sua política de investimentos em reatores nucleares, afirma o professor Ildo Sauer

O custo incremental de Angra 3, ou seja, os gastos futuros para sua conclusão, ficarão em torno de R$ 8 bilhões. “Podemos demonstrar que com metade desse custo é possível produzir a mesma energia que Angra vai produzir”, afirma o professor Ildo Sauer, do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP.

Há estimativas de que os quatro novos reatores nucleares previstos para serem instalados no Nordeste terão custos semelhantes, ou seja, cerca de R$ 8 bilhões cada um, segundo Sauer. Assim, os cinco novos reatores previstos totalizam um montante de R$ 40 bilhões. “Em artigo publicado na Energy Policy em 2009 com Joaquim de Carvalho, juntamente com os estudos recém-concluídos, mostramos que seria possível substituir esses cinco novos reatores por outras alternativas energéticas que custariam a metade e evitaria a criação de um estoque de material radioativo que vai exigir cuidados intensos por 300 anos, e cuidados de grande porte por cerca de 2 mil anos.”

Há uma pressão muito forte de lobbies e comunidades internacionais que defendem a energia nuclear, lembra Sauer. “Mas precisamos repensar profundamente se seria o caso de lançar mão dessa tecnologia no Brasil.”

A tecnologia nuclear para a geração de energia é herdeira do desenvolvimento feito nos anos de 1940-50 nos Estados Unidos para submarinos nucleares. Ou seja, foi adaptada para a geração elétrica. “Essa tecnologia não necessariamente precisa permanecer como está, pois há outros recursos e critérios que tornam o reator inerentemente seguro, no sentido de que não dependeria mais de componentes ativos como uma bomba acionada por eletricidade para resfriar o reator depois que é desligado. Seria um sistema ativado só por convecção natural. Há projetos na Marinha que contemplam isso. Inclusive tentei defender essa ideia quando fui gerente da construção de parte do reator experimental de Iperó (SP).”

Os reatores de Fukushima também são de geração antiga, afirma Sauer. “Pelo que sei, há dois reatores no mundo apenas sendo construídos considerando os sistemas de convecção natural. O sistema chamado Advanced Pressurized Water Reator (APWR) permite segurança passiva. Os convencionais como no Brasil são Pressurized Water Reator (PWR). Os de Fukushima são Boiling Water Reator (BWR)”, afirma o professor do IEE.

Discurso – Ao contrário do discurso dos que defendem o uso da energia nuclear no Brasil, construir novos reatores não acrescenta muito em capacitação tecnológica, afirma o professor Ildo Sauer. “É uma produção em série, que já está estruturada. É como comprar jatos e dizer que com isso estamos adquirindo tecnologia nova”, afirma.

O sucesso do Brasil na área nuclear deve-se muito menos ao acordo Brasil-Alemanha, que foi um “enorme sugador de recursos públicos”, do que ao programa paralelo que a Marinha comandou com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), na opinião de Sauer.

Segundo o professor, foi o programa da Marinha com o Ipen que trouxe conhecimentos na área de enriquecimento nuclear e permitiu a capacidade de planejar, projetar e construir os equipamentos de um reator autônomo que está desmontado em Iperó e cuja montagem talvez custe de R$ 100 a R$ 200 milhões apenas para sua operação experimental.

“Eu comungo com a comunidade nuclear brasileira o fato de que nenhuma sociedade desenvolvida pode renunciar ao conhecimento científico e tecnológico da área nuclear pelos enormes benefícios potenciais que ele traz à indústria, engenharia, genética, agricultura e, acima de tudo, na medicina”, afirma o professor.

Por isso, defende Sauer, o Brasil deveria reconsiderar o gasto de R$ 40 bilhões em novos reatores de energia nuclear e pensar prioritariamente em montar e operar o reator experimental de Iperó com gastos de pouco menos de R$ 1 bilhão.

Além disso, afirma Sauer, o País deveria se preocupar em finalizar o desenvolvimento de um reator de alto fluxo neutrônico que já vem sendo planejado há cerca de 20 anos e que traria grandes avanços na área de novos materiais, agricultura e, sobretudo, resolveria a enorme dependência que o Brasil tem hoje na produção de radioisótopos para diagnósticos médicos.

“Hoje o Ipen faz o que pode, mas ainda temos que importar radioisótopos e com isso a população usuária do SUS está praticamente desligada desse benefício diagnóstico pelo seu alto custo”, afirma Sauer. Esse ambiente de planejar, projetar, construir reator consolidaria a capacitação humana de grande especialidade no Brasil.

O professor Sauer defende ainda que o Brasil revise sua posição no Tratado de não-Proliferação de Armas Nucleares, assinado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. “O documento cria países legitimados para o desenvolvimento de armas nucleares e outros desautorizados. Acho que a ideia seria limpar a humanidade desses armamentos, mas o quadro atual não permite isso. Portanto, o tratado cria uma disfunção entre o poderio militar e o econômico.”

Para o professor, atualmente não há por que delegar hegemonia aos dez países detentores de armas nucleares. “Isso cria uma relação muito desigual. É necessário usar o papel do Brasil, Argentina e outros países para forçar uma mudança nesse cenário. O Brasil foi ingênuo ao assinar esse tratado, sem as salvaguardas de que o mundo realmente iria caminhar para o desarmamento.”

Entrevista realizada por Sylvia Miguel, no Jornal da USP, publicada pelo EcoDebate, 29/03/2011

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Os custos dos sistemas solares fotovoltaicos caíram a um ponto no qual são menores do que projetos de novas usinas nucleares

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Brasil vai enfrentar colapso energético até 2022 >>> Ambiente Energia / UnB Agencia

Por João Campos, da UnB Agência

 O Brasil vai enfrentar uma crise energética e ambiental nos próximos 12 anos. Para combater os danos será preciso triplicar a rede de metrô, ampliar as malhas ferroviária e hidroviária e investir em fontes de energia hidrelétrica e nuclear. O anúncio foi feito pelo professor e ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Samuel Pinheiro, em palestra no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília. A conclusão faz parte do relatório Plano Brasil 2022, elaborado pelo governo federal.

A necessidade de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, alarmada por cientistas de todo o mundo, tem obrigado países a desenvolver fontes de energia alternativas ao petróleo. O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo. No entanto, segundo dados o relatório, apenas 30% do subsolo do país é conhecido. “Estima-se que tenhamos a primeira ou segunda maior reserva de urânio do mundo. E temos capacidade para explorar a fonte, falta direcionar políticas”, comenta Samuel.

A energia nuclear é uma das apostas do Plano Brasil 2022 para mudar a matriz energética do país na próxima década. Segundo Pinheiro, o potencial hidrelétrico brasileiro também é subexplorado “Temos capacidade para gerar 260 mil megawatts, mas só usamos 80 mil. Isso é menos de um terço do total”, destaca. O diplomata alerta, no entanto, que o investimento nessas fontes implica em uma guerra de interesses: “A indústria petroleira vai fazer forte oposição nos próximos anos”, anuncia Samuel.

Outro caminho pra reduzir em 40% o volume de gases poluentes lançados na atmosfera – segundo meta estabelecida pelo plano – é reduzir a dependência do transporte rodoviário no país. Hoje, 65% da matriz vêm de caminhões e carros. “As ferrovias são uma das principais alternativas”, afirma Samuel. Ex-professor da UnB, ele também destaca a necessidade de alternativas para o problema do trânsito nas grandes cidades. “O atual modelo é insustentável. É preciso triplicar as linhas de metrô até 2022”.

Dom Pedro – O Plano Brasil 2022, entregue ao presidente Lula no último 30 de junho, tem o objetivo de traçar metas para o governo federal e caminhos para alcançá-las nos próximos 12 anos. O trabalho visa celebrar os 200 anos da Independência do Brasil, declarada por Dom Pedro, às margens do riacho Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. “O trabalho foi desenvolvido numa parceria entre a SAE, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Casa Civil e os ministérios”, conta Samuel.

O relatório traça um panorama de diversas áreas do país, como desenvolvimento social, educação, igualdade racial e ciência e tecnologia. Na palestra que lotou o auditório do Centro de Excelência em Turismo (CET) da UnB, na semana passada, Samuel destacou os relatórios relacionados ao meio ambiente. “É preciso acabar com o mito que coloca em lados opostos o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente. O desenvolvimento deve ser sustentável”, afirma Samuel.

Leia mais sobre o Plano Brasil 2022 aqui

De que adianta nossa experiência? /// estadão.com.br

14 de maio de 2010
0h 00

 Washington Novaes - O Estado de S.Paulo

Há poucos dias morreu em Israel, onde morava, o físico José Júlio de Rosenthal, a quem o Brasil e, principalmente, Goiás muito devem, embora raramente disso se fale. Mas num domingo, no final de setembro de 1987, Rosenthal, que estava no Rio de Janeiro, foi convocado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para ir a Goiânia, pois havia notícia de um acidente, ali, com uma bomba de césio 137. Rosenthal convocou auxiliares e com eles combinou de se encontrarem no final da noite no aeroporto da capital goiana. De lá, com a roupa do corpo, seguiram para uma tapera numa área cedida para a construção de um centro de convenções, mas embargada pela Justiça a pedido de um instituto de radioterapia que ali funcionara. À luz de isqueiros, os técnicos da CNEN só encontraram lá um bando de mendigos que dormia, como disse Rosenthal a uma comissão de inquérito da Assembleia Legislativa goiana. A bomba de césio, desativada pelo instituto e furtada, fora rompida a machadadas por um catador de lixo, em outro local (imagine-se o que seria dos técnicos se estivesse ali, rompida).

Embora contivesse pouco mais de cem gramas de césio, a bomba rompida provocou mortes e milhares de contaminações entre as mais de 100 mil pessoas que passaram por exames nos dias posteriores. Aterrorizadas, como toda a população da cidade, pelo noticiário das televisões, que mostrava pássaros e gatos entrando livremente e saindo da área interditada onde fora rompida a cápsula - diante da impotência dos técnicos da CNEN, a essa altura já usando macacões providenciados pelo governo do Estado, mas sem saber o que fazer com os milhares de toneladas de resíduos da casa demolida do catador de lixo e de outros locais contaminados. A lei federal mandava que fossem para um depósito federal inexistente e que nenhum Estado aceitava. O governo goiano, sem outra solução, mandou-os para um antigo lixão a uns 20 km de Goiânia - onde a CNEN faria depois o depósito definitivo, embora para isso não fosse adequado (o depósito teve de ser implantado acima do solo, dada a presença de um lençol freático quase superficial).

Uma bomba com pouco mais de cem gramas de césio, perto do combustível ou dos resíduos de uma usina nuclear, é quase brincadeira de criança. Mas o governo brasileiro, que até hoje não tem solução para os resíduos altamente radiativos das Usinas Angra 1 e 2 - mantidos dentro de piscinas no interior das próprias usinas -, já tomou a firme decisão de construir algumas outras unidades. Não que haja alguma solução à vista para o mais perigoso dos lixos - ninguém ainda a encontrou, no mundo todo: o projeto norte-americano de um depósito 300 metros abaixo da Serra Nevada (a maior esperança) continua embargado pela Justiça, por falta de garantias. Mas, ainda assim, programam-se usinas para o Nordeste e para o Sudeste. E Angra 3, com custo previsto de muitos bilhões de reais, já tem a primeira licença, embora o conceituado físico brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e coordenador do científico do Programa Brasileiro de Mudanças Climáticas, tenha dito que se deve encarar "com muita cautela" um projeto de usina nuclear à beira-mar, tendo em vista o processo de elevação do nível das águas dos oceanos (inclusive no litoral brasileiro), já em curso, e as previsões de novas elevações.

É mais um capítulo desse inacreditável processo decisório na área energética do Brasil, em que se vai avançando e programando a ampliação da oferta de energia, baseada em estimativas do crescimento da demanda altamente discutíveis - como já se escreveu aqui -, tendo em vista estudos que mostram outras possibilidades mais baratas e seguras: reduzir o consumo em até 30% com programas de eficiência e conservação de energia (como em 2001), aos quais se somariam 10% de ganhos na perdulária rede de transmissão (que desperdiça em torno de 15% do total transportado) e outros 10% repotenciando, a custos muito menores que na nova geração, antigos reatores de baixa produção. Tudo isso está em estudos da Unicamp, do WWF e outras instituições, diante dos quais os mandatários do setor se fazem de surdos, empenhados em grandes obras.

Tudo faz lembrar episódio do final da década de 80, quando a Eletrobrás contratou consultor muito renomado do Banco Mundial, Howard Geller, para analisar o plano de expansão previsto para uma década, que partia da "necessidade" de duplicar a oferta de energia, a um custo brutal. Geller deu parecer dizendo que o consumo de energia seria muitas vezes inferior ao projetado; mesmo que fosse maior, não haveria recursos disponíveis para a expansão planejada. Esqueceu-se o parecer e deu-se início a um plano logo abortado. E o tempo encarregou-se de mostrar que Geller tinha absoluta razão.

Agora, com base num crescimento projetado de 5,1% ao ano no consumo nacional de energia - mas sem discutir a matriz -, prevê o governo federal investimentos de R$ 951 bilhões na área de energia entre 2010 e 2019, dos quais 71% para petróleo e gás e 22,5% (R$ 214 bilhões) para energia elétrica, o que exigirá que novas fontes, inclusive 39 hidrelétricas previstas, gerem tanta energia quanto a Usina de Belo Monte (Estado, 5/5). E com baixíssima prioridade para fontes como energia solar, eólica e outras. A alegação é sempre a mesma - a energia eólica é "muito mais cara" que a hidrelétrica -, esquecendo, como lembra o professor Ildo Sauer (ex-diretor da Petrobrás, 2003-2007), que hoje o custo da energia elétrica é de R$ 110 por MW, como se alega na comparação com as energias alternativas, mas o preço final cobrado aos usuários nas tarifas é de R$ 450 - a não ser para os privilegiados consumidores do setor de eletrointensivos (alumínio, ferro-gusa e outros), que chegam a ter subsídios acima de 50% (e por isso os outros consumidores têm de pagar mais em suas contas).

É assim que se explicam usinas nucleares, Belo Monte e quejandos.

JORNALISTA. E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR







ENERGIA PARA O FUTURO/// CREA-BA

Auto-suficiência em petróleo comemorada pelo governo federal não significa a solução para os problemas energéticos do País


por Sivaldo Pereira

O Brasil é considerado um dos países com maior potencial energético do mundo, tanto devido aos recursos minerais disponíveis quanto à sua localização geográfica. Mas este potencial necessita de investimentos e desenvolvimento tecnológico para se tornar efetivo. Preocupado, o Sistema Confea/Crea incluiu o tema energia nas propostas do projeto Pensar Brasil. O intuito é debater perspectivas e as possíveis contribuições da área tecnológica para o setor.

Atualmente, segundo dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2006, 77,1% da estrutura de oferta interna de energia elétrica do País provém de fonte hidráulica. Na avaliação do ex-coordenador da Câmara de Engenharia Elétrica do Crea-BA, engenheiro eletricista Roberto da Costa e Silva, o modelo baseado em hidroelétricas não é sustentável a longo prazo. “Para evitar problemas futuros, deveríamos investir no desenvolvimento de energias solar, eólica e nuclear. Temos bastante sol, vento e área suficiente para se implantarem usinas solares e eólicas, e somos produtores de material radioativo. Assim, reunimos as condições de sermos independentes”, analisa.

Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram ainda que aproximadamente 44% da matriz energética brasileira provém de fontes renováveis. Segundo o professor e coordenador do Laboratório de Energia e Gás da Escola Politécnica (Ufba), engenheiro mecânico Ednildo Andrade Torres, a produção de petróleo – a principal fonte não renovável de energia – ainda se manterá com abundância nos próximos anos, mas, dentro de três ou quatro décadas, as reservas entrarão em declínio. Para o professor, que tem doutorado em energia térmica, o Brasil precisa planejar agora o desenvolvimento de uma matriz energética com uma visão de longo prazo, que seja diversificada, dando ênfase em fontes renováveis de energia, como a biomassa, energia eólica e solar, sem perder de vista também que seria inevitável o uso de energia nuclear no futuro. “Precisamos buscar soluções definitivas como a biomassa e fontes complementares de energia como a solar e a eólica. A longo prazo, certamente precisaremos utilizar energia nuclear. Não o que temos aí, mas algo que ainda será desenvolvido sem a geração de resíduos radioativos” aponta. Torres explica ainda que o grande problema da energia nuclear hoje são os riscos de acidentes e o problema da contaminação.

Se o Brasil reúne as condições prévias necessárias para se tornar uma potência energética no mundo, tal tendência está técnica e economicamente alinhada com as características climáticas e geológicas da Bahia. Boa parte do estado é propícia para implantação de centros produtores de uma matriz energética mais diversificada. Sítios eólicos e solares da região litorânea até o semi-árido, a maioria ainda inexplorada; produção em larga escala de biomassa a partir de plantas oleaginosas como o dendê, no Baixo-sul, ou a soja, no oeste do estado; extração de urânio na região de Caetité, que está entre as três maiores reservas do País, além do potencial hidráulico que já vem sendo explorado nas últimas décadas. “A Bahia é um grande celeiro para geração de energia, não apenas hoje, mas também para o futuro”, constata Torres. Apesar desta potencialidade, o estado também sofre dos mesmos problemas nacionais: falta mais investimento em pesquisa e tecnologia, além de um planejamento estratégico e sustentável para transformar esta potencialidade em riqueza, e a riqueza em benefícios para a população.













Vantagens e desvantagens das fontes de energia

  • Eólica e solar - São fontes limpas, com reduzido impacto ambiental. Dependem, porém, da existência de luz ou vento. Sua implantação é cara e requer grandes áreas para instalação.
  • Nuclear - Tem alto poder de concentração energética. O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio do planeta. Desse total, 33% estão localizados na Bahia (Lagoa Real e Caetité). Requer alta tecnologia para o enriquecimento de urânio. Hoje, provoca sérios danos à saúde e ao meio ambiente em caso de acidentes. Os resíduos gerados representam um problema ambiental.
  • Biomassa - Renovável, pode ser extraída de diversas fontes vegetais, ampliando o leque de regiões potencialmente produtoras. No Brasil, há grandes possibilidades de produção em larga escala até mesmo para exportação futura. O problema é que requer grandes áreas de plantio e de investimentos privados na construção de um parque industrial e no desenvolvimento de pesquisas.
  • Hidráulica - Potencial para gerar energia elétrica em larga escala de modo renovável , utilizando-se da força das águas. Sustenta boa parte da produção da energia elétrica consumida hoje nos lares brasileiros. Requer altos investimentos na construção de hidrelétricas. Apesar de ser renovável, há limites para a instalação de usinas ao longo das bacias brasileiras.
  • Gás natural - Não é renovável. Alternativa ao petróleo em muitos países. As reservas mundiais estão em alta e poderão ser o “combustível de transição” com o declínio das reservas de petróleo no mundo.
Para dados complementares, visite o Relatório:
Análise Energética e Dados Agregados
Destaques de Energia por Fonte em 2007

Destaques de Energia e Socioeconomia em 2007
Análise Energética Brasileira – 1970 a 2007
Dados Agregados

link:
www.ipen.br/conteudo/upload/200903220937060.Relatorio_Final_BEN_2008.pdf

Eletricidade nuclear: na contra mão da sustentabilidade///Portal Ecodebate

Artigo de Heitor Scalambrini Costa contesta a sustentabilidade da geração de energia nuclear para o Brasil, faz críticas ao modelo energético adotado pelo país e lança a questão "Precisamos nos perguntar, para quê e para quem essa energia é produzida".

Por Heitor Scalambrini Costa*

Desenvolvimento sustentável é aquele que é capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Partindo desse conceito podemos afirmar que é um absurdo e equivocado que o governo brasileiro priorize a opção nuclear para geração de energia elétrica, considerando que o país conta com tantas opções de produção a partir de energias renováveis e limpas. Além dos riscos devido a acidentes, ao lixo atômico, as emissões de CO2, somam-se o risco geopolítico que traria ao país e a região esta tecnologia.

A exploração abusiva e perdulária da energia originada de fontes não-renováveis (combustíveis fósseis, como o petróleo, carvão e o gás natural, e a energia produzida nas usinas nucleares), ainda maioria no planeta, traz danos irreversíveis ao meio ambiente. Com base nesse fato, a questão das fontes de energia é assunto em pauta mundialmente. No Brasil, cria polêmica à discussão sobre as usinas nucleares como complemento à produção de energia a partir das hidrelétricas.

Atualmente, a energia nuclear corresponde a 2 % da produção energética brasileira, gerada pelas usinas Angra 1 (657 megawatts) e Angra 2 (1.350 megawatts). A principal matriz do Brasil é a hidroeletricidade (80%). A intenção do governo com a reativação do Programa Nuclear é de aumentar a capacidade nuclear com a instalação de Angra 3 até 2012, e com a construção de quatro novas usinas até 2030, sendo duas na região Nordeste e outras duas no Sudeste, conforme propõe o Plano Nacional de Energia 2030 – Estratégia para a Expansão da Oferta, apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética-EPE.

Apesar dos renovados esforços da indústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações nucleares em diversos países continuam a demonstrar que esta tecnologia é perigosa, oferecendo constantes riscos que podem trazer conseqüências catastróficas ao meio ambiente e à humanidade, por centenas e milhares de anos. O exemplo mais recente foi o acidente pós-terremoto na maior usina atômica do mundo, localizada em Kashiwazaki-Kariwa, no Japão. Sem falar em outro problema que continua sem solução no Brasil e no mundo, que é o armazenamento do lixo radioativo gerado pelas usinas.

Afirmar que as centrais nucleares não contribuem para os gases de efeito estufa é uma meia verdade, e como toda meia verdade, também é uma meia mentira. As usinas núcleo elétricas em operação rotineira, necessitam de grandes volumes de água usados na refrigeração de suas turbinas, produzindo grandes quantidades de vapor d’água para a atmosfera. Lembramos que o vapor d´água é também um tipo de “gás estufa”. No conjunto de etapas do processo industrial que transforma o mineral urânio, desde quando ele é encontrado em estado natural até sua utilização como combustível dentro de uma usina nuclear, chamado ciclo do combustível nuclear, é produzido quantidades consideráveis de gases de efeito estufa.

Outro fator de extrema preocupação, descrito no Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados publicado em 2006, é que o Estado brasileiro está longe de ter a estrutura necessária para garantir a segurança das atividades e instalações nucleares. Nesse documento são apontadas graves falhas na fiscalização e monitoramento do setor nuclear, destacando, entre outros problemas, a duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN atua, ao mesmo tempo, como Requerente, Operadora, Prestadora de Serviços, Licenciadora e Fiscalizadora de si própria. Vale lembrar que, em setembro desse ano, completaram-se 20 anos da contaminação com Césio 137 em Goiânia, que vitimou milhares de pessoas e ficou conhecido como o maior acidente radiológico do mundo.

No Brasil, historicamente, a relação entre o uso da energia nuclear para fins energéticos e para fins militares também é muito estreita. O Programa Nuclear Brasileiro surgiu durante a ditadura militar e até hoje atende demandas de alguns setores das forças armadas, fascinados pelo poder que a energia nuclear lhes traz. Outros grupos de interesse fazem “lobby”, como setores industriais “preocupados” com o risco de um apagão (a instalação de usinas nucleares não vai afastar o risco do apagão nos próximos três ou quatro anos), grupos de cientistas pelo prestígio e oportunidades de novas pesquisas e pelo comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios.

A discussão sobre energia nuclear precisa levar em consideração o modelo econômico adotado no país, o qual se baseia no aumento do consumo e da oferta de energia. Isto não é aceitável. O atual modelo energético brasileiro “ofertista” é insustentável. Precisamos nos perguntar, para quê e para quem essa energia é produzida.

Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens. Não há energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidor que tem qualquer vazamento, merece e deve ser discutida mais amplamente pela sociedade, do que a feita apenas com dez pessoas do Conselho Nacional de Política Energética – CNPE.

Para um desenvolvimento sustentável, voltado para o bem de todos, da pessoa humana e da natureza, em um país como o Brasil com tantas opções de produção de energias renováveis, a energia nuclear não passará.

*Heitor Scalambrini Costa, é Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco. Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares, na Universidade Federal de Pernambuco e Doutorado em Energética, na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França.

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