Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

O fracasso de Kyoto ....Ou como as Emissões Fugitivas o detonaram!

Índia e Brasil dizem que falta ambição a ricos em reunião climática

29. Novembro 2012 - 19:57
Por Alister Doyle

DOHA, 29 Nov (Reuters) - Índia e Brasil acusaram na quinta-feira nações ricas de demonstrarem pouco empenho na reunião climática da Organização das Nações Unidas (ONU) em Doha, e negaram que as economias emergentes estejam recuando das promessas de intensificar a sua ação a partir de 2020.

Os Estados Unidos e a União Europeia, principais emissores de gases do efeito estufa no mundo desenvolvido, dizem que não vão elevar suas metas de redução de emissões até 2020, como parte de um esforço mais amplo para a migração do uso de combustíveis fósseis para energias renováveis.

Por outro lado, as nações ricas desejam mais ação de países emergentes com grande crescimento --a Índia é o terceiro maior emissor mundial de gases do efeito estufa, atrás de China e EUA, enquanto o Brasil está aproximadamente em 17º lugar.

As emissões mundiais de dióxido de carbono, o principal dos gases do efeito estufa, cresceu cerca de 3 por cento no ano passado, em grande parte devido à forte expansão das economias emergentes, e apesar da desaceleração econômica de muitas nações ricas.

Enquanto cada lado tenta marcar posição, as negociações patinam em seus esforços para reduzir uma tendência de aquecimento global, que cientistas da ONU alertam que deverá causar mais inundações, ondas de calor, secas e elevação do nível dos mares.

"Estamos desapontados... por os países desenvolvidos estarem no processo de se fecharem em ambições baixas", disse Mira Mahrishi, chefe da delegação indiana em Doha, em entrevista coletiva.

A reunião climática anual da ONU começou na segunda-feira e vai até 7 de dezembro, reunindo 200 nações.

"Muitos países desenvolvidos não estão... se concentrado no seu principal problema, que é em geral a energia", disse o líder da delegação brasileira, embaixador André Corrêa do Lago, à Reuters.

Mehrishi negou que o grupo de grandes economias emergentes - China, Índia, Brasil e África do Sul - esteja recuando das promessas feitas há um ano de trabalhar por um novo acordo global a ser decidido até 2015, para entrar em vigor em 2020.

No entanto, no último ano, esses países enfatizam que o acordo planejado deve preservar a divisão de obrigações entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento, definida num tratado climático de 1992.

Esse tratado prevê que a liderança da ação climática e das reduções de emissões cabe aos países ricos.

"Não é que os países (emergentes) estejam recuando", disse a indiana. "É um pacote que será aplicável a todos."



Mas o tratado de 1992 define como "em desenvolvimento" nações como Coreia do Sul, Cingapura e México, embora eles sejam mais ricos que alguns países europeus comprometidos com cortes de gastos.

Corrêa do Lago observou que o Brasil está controlando seu principal problema climático, já que o desmatamento da Amazônia caiu neste ano ao menor nível desde o início do monitoramento, em 1988. As árvores absorvem dióxido de carbono quando estão vivas, e o liberam quando queimam ou apodrecem.

E Mehrishi disse que a Índia está comprometida com sua promessa, feita em 2009, de reduzir até 2020 em 20 a 25 por cento a quantidade de carbono emitido por cada rupia de produção econômica, em relação aos níveis de 2005. Isso permite que as emissões subam, mas menos do que o crescimento econômico.

A reunião de Doha busca uma forma de prorrogar a vigência do Protocolo de Kyoto, o qual obriga que quase 40 países ricos cortem suas emissões numa média de 5,2 por cento no período de 2008 a 2012, e relação aos níveis de 1990.

Mas Rússia, Canadá e Japão já decidiram se retirar do Protocolo, ao qual permanecem associados apenas um pequeno grupo liderado por União Europeia e Austrália. Os EUA nunca chegaram a aderir ao pacto, de 1997.

Reuters

 

Sai nova carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial

 

29 de novembro de 2012 12h51 atualizado às 13h08  
Antonio Gaspar
Direto de São Paulo
Pesquisa indica a crescente incorporação por parte das empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa do desempenho socioambiental na remuneração de conselheiros, gerentes, diretores, entre outros.

Das 37 companhias que vão integrar o ISE no período de 7 de janeiro de 2013 a 7 de janeiro de 2014 e adotam remuneração variável, 43% já levam em conta não só o desempenho econômico, mas também o socioambiental no pagamento de conselheiros e diretores. Esse porcentual sobe para 53% no caso da remuneração de gerentes.

A diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa e presidente do Conselho Deliberativo do ISE, Sônia Favaretto, comemora o resultado da pesquisa e salienta a importância e a qualidade das companhias pesquisadas. "Significa que elas já incorporaram a sustentabilidade nas suas estratégias", explica.

Ao anunciar a carteira do ISE de 2013, Sônia salienta o ingresso do setor de máquinas e equipamentos/motores, compressores. A carteira é composta por 37 empresas e 51 ações. São 16 setores que somam R$ 1,07 trilhão em valor de mercado, o equivalente a 44,81% do total de valor das companhias com ações negociadas na BM&FBovespa.

As ações da carteira do ISE apresentam um desempenho positivo de 13,3%, um resultado superior ao registrado pelas companhias que integram o Ibovespa (-0,38).

As empresas que integram a carteira são: AES Tietê, Banco do Brasil, BicBanco, Bradesco, Braskem, BRF, Cemig, Cesp, Copasa, Copel, CPFL, Coelce, CCR, Duratex, Eletropaulo, EDP, Even, Eletrobras, Ecorodovias, Fibria, Gerdau, Gerdau MT, Itaú Unibanco, Itaúsa, Light, Natura, OI, Sabesp, Santander, Suzano, SulAmerica, Telefônica, TIM, Tractbel, Ultrapar, Vale, Weg.

Entre as participantes, subiu de 8 para 14 o número das que autorizam a publicação de suas respostas. São elas: AES Eletropaulo, AES Tietê, Banco do Brasil, BICBanco, CCR, Cemig, Coelce EDP, Eletrobras, Light, Natura, SulAmérica, Vale e WEG.

De acordo com a Bolsa, todas as companhias têm compromisso com o desenvolvimento sustentável, 97% mantêm programas de sensibilização e educação sobre o tema, 100% publicam relatório de sustentabilidade, 92% usam diretrizes do GRI.

Para saber mais sobre o ISE: www.isebvmf.com.br

Relatório avalia os impactos das mudanças climáticas na Europa, confirmando necessidade urgente de adaptação

Publicado em novembro 29, 2012 por

 
Relatório avalia os impactos das mudanças climáticas na Europa, confirmando necessidade urgente de adaptação

A mudança climática está afetando todas as regiões da Europa, causando uma série de impactos sobre a sociedade e o meio ambiente. Impactos são esperados no futuro, potencialmente causando custos elevados danos, de acordo com a última avaliação publicada pela Agência Européia do Ambiente.
O relatório “As mudanças climáticas, impactos e vulnerabilidade na Europa 2012” [Climate change, impacts and vulnerability in Europe 2012] indica que temperaturas médias mais elevadas foram observadas em toda a Europa, bem como diminuição da precipitação nas regiões no sul e aumento da precipitação no norte da Europa. A camada de gelo da Groenlândia, o gelo do mar Ártico e muitas geleiras em toda a Europa estão derretendo, a cobertura de neve diminuiu e a maioria dos solos permafrost estão descongelando.

Eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas causaram grandes danos, com custos crescentes, em toda a Europa nos últimos anos. Enquanto são necessárias mais provas para discernir o papel desempenhado pela mudança do clima nessa tendência crescente e avaliar a atividade humana em áreas sujeitas a risco tem sido um fator chave. Futuras alterações climáticas deverão potencializar essa vulnerabilidade, na medida em que eventos climáticos extremos devem se tornar mais intensos e freqüentes. Se as sociedades européias não se adaptarem, os custos dos danos também continuarão a crescer, de acordo com o relatório.

Algumas regiões serão menos capazes de se adaptar às mudanças climáticas do que outras, em parte devido a disparidades econômicas em toda a Europa, diz o relatório. Os efeitos da mudança climática poderiam aprofundar essas desigualdades.
Jacqueline McGlade, Diretora Executiva da AEA, disse: “A mudança climática é uma realidade em todo o mundo, e a extensão e a velocidade da mudança é cada vez mais evidente. Isto significa que todas as partes da economia, incluindo as famílias, precisam se adaptar, bem como reduzir as emissões.”

Observando a mudança do clima e projeções – as principais conclusões
A última década (2002-2011) foi a mais quente já registrada na Europa, com a temperatura do solo europeu 1,3° C mais quente do que a média no período pré-industrial. Várias projeções do modelo mostram que a Europa poderia ser de 2,5 a 4° C mais quente, ao final do século 21, em relação à média de 1961-1990.

Os poluidores têm de pagar, artigo de Jeffrey D. Sachs

Jeffrey D. Sachs é professor de economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas no tema das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Artigo publicado no Valor Econômico de hoje (28).

Quando a BP e suas parceiras petrolíferas causaram o vazamento no poço Deepwater Horizon, no Golfo do México, em 2010, o governo dos EUA exigiu que a BP arcasse com os custos da limpeza, indenizasse as partes que tivessem sofrido danos e pagasse multas criminais pelas violações que causaram o desastre. A BP já reservou mais de US$ 20 bilhões para o saneamento ambiental e pagamento de multas. Com base em um acordo firmado na semana passada, a BP agora pagará a maior pena criminal na história dos Estados Unidos: US$ 4,5 bilhões (1).

Os mesmos padrões de limpeza ambiental precisam ser impostos a empresas multinacionais que operam nos países mais pobres, onde seu poder tem sido normalmente tão grande em relação ao de governos, que muitas delas atuam impunemente, causando estragos no ambiente e assumindo pouca ou nenhuma responsabilidade. Os poluidores têm de pagar, seja em países ricos ou pobres. As grandes companhias precisam aceitar a responsabilidade por suas ações.

A Nigéria foi a mais importante prova da impunidade ambiental empresarial. Durante décadas, importantes companhias petrolíferas como a Shell, a ExxonMobil e a Chevron vêm produzindo petróleo no delta do Níger, um ambiente ecologicamente frágil de florestas em pântanos de água doce, manguezais, florestas tropicais em várzeas e ilhas barreiras costeiras. Esse habitat rico suporta uma biodiversidade notável - ou suportava, antes que as companhias de petróleo lá chegassem - e mais de 30 milhões de habitantes locais que dependem dos ecossistemas locais que asseguram sua saúde e meios de subsistência.

A limpeza do delta do Níger constitui uma oportunidade ideal para que a Nigéria, a indústria petrolífera e a comunidade internacional mostrem de forma convincente que raiou uma nova era. O desenvolvimento sustentável não deve ser um mero slogan

Vinte anos atrás, a União Internacional para Conservação da Natureza e Recursos Naturais classificou o delta do Níger como uma região de grande biodiversidade de flora e fauna marinha e costeira e por essa razão classificou-a como de prioridade muito alta para a conservação. No entanto, a União também observou que a biodiversidade da região está sob grande ameaça, com pouca ou nenhuma proteção.

As companhias multinacionais que operam no delta derramaram petróleo e queimaram gás natural durante décadas sem dar importância ao ambiente natural e às comunidades empobrecidas e envenenadas por suas atividades. Segundo uma estimativa (2), os vazamentos acumulados ao longo dos últimos 50 anos somam cerca de 10 milhões de barris - o dobro da dimensão do vazamento pelo qual a BP foi responsável.

Os dados são incertos: houve vários milhares de vazamentos durante esse período - muitas vezes mal documentados, com suas dimensões ocultas ou simplesmente não mensuradas, seja pelas empresas ou pelo governo. De fato, exatamente no momento em que a BP era alvo de novas penalidades criminais, a ExxonMobil anunciou mais um vazamento em um oleoduto no delta do Níger.

A destruição ambiental do delta faz parte de uma saga maior: companhias corruptas que operam em conluio com funcionários governamentais corruptos. As empresas rotineiramente subornam funcionários para obter concessões petrolíferas, mentir sobre volumes produzidos, sonegar impostos e esquivar-se à responsabilidade pelos danos que causam ao ambiente. Autoridades nigerianas tornaram-se fabulosamente ricas devido a décadas de pagamentos por parte de companhias internacionais que saquearam as riquezas naturais do delta. A Shell, maior operadora estrangeira no delta do Níger, foi criticada diversas vezes por suas práticas escandalosas e por evitar ser responsabilizada.

Enquanto isso, a população local continuou pobre e vitimada por doenças causadas por ar insalubre, água potável envenenada e por poluição da cadeia alimentar. Essa terra sem lei gerou guerras entre gangues e persistente acesso ilegal aos oleododutos para roubar petróleo, produzindo mais enormes vazamentos de petróleo e freqüentes explosões que matam dezenas de pessoas, inclusive inocentes.

Na era colonial, o objetivo oficial do poder imperial era extrair riqueza dos territórios administrados. No período pós-colonial, os métodos são mais disfarçados. Quando as empresas petrolíferas comportam-se mal na Nigéria ou em outros países, são protegidas pelo poder de seus países de origem. Não mexa com essas empresas, dizem os EUA e a Europa. De fato, um dos maiores subornos (supostamente, US$ 180 milhões) recentemente pagos na Nigéria saíram da Halliburton, uma empresa fortemente imbricada com o poder político americano.

No ano passado, o Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP, sigla em inglês) publicou um relatório sobre Ogoniland (3), um importante berço étnico no delta do Níger, epicentro do conflito entre as comunidades locais e as companhias petrolíferas internacionais. O relatório foi tão contundente quanto claro. Apesar de muitas promessas de que uma limpeza seria empreendida, Ogoniland permanece em agonia ambiental, empobrecida e adoentada pela indústria petrolífera.

A UNEP também apresentou recomendações claras e detalhadas, entre elas medidas emergenciais para assegurar água potável; atividades de limpeza focadas nos manguezais e solos; estudos de saúde pública para identificar e neutralizar as consequências da poluição e um novo referencial regulamentador.

Governos em todo o mundo chegaram recentemente a um consenso em torno da adoção de um novo referencial para o desenvolvimento sustentável, declarando sua intenção de adotar Metas para um Desenvolvimento Sustentável (MDS) na Cúpula Rio+20 (4), realizada em junho. As MDSs proporcionam ao mundo uma oportunidade crucial para definir normas claras e convincentes para o comportamento governamental e empresarial.

A limpeza do delta do Níger constituiria o exemplo mais vigoroso possível de uma nova era de responsabilidade. Shell, Chevron, ExxonMobil e outras grandes companhias petrolíferas deveriam manifestar-se e ajudar a financiar a limpeza necessária, inaugurando uma nova era de responsabilidade.

A responsabilidade do próprio governo nigeriano está em jogo. É animador que vários senadores nigerianos tenham recentemente assumido a vanguarda dos esforços para fortalecer o império da lei sobre o setor petrolífero.

A limpeza do delta do Níger constitui uma oportunidade ideal para que a Nigéria, a indústria petrolífera e a comunidade internacional mostrem de forma convincente que raiou uma nova era. A partir de agora, o desenvolvimento sustentável não deve ser mais um mero slogan, mas sim uma abordagem operacional à governança e ao bem-estar mundial em um planeta estressado e superpovoado.

Referências:
(1) www.bit.ly/Tqyg4u
(2) www.bit.ly/UqvNrR
(3) www.bit.ly/onKz3G
(4) www.bit.ly/TjJy84

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

O conto de duas COPs

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A CoP18 está sendo chamada de "a conferência da transição". Não se engane: por trás de uma capa de normalidade burocrática existe muito a ser decidido. E com urgência!
 
A UNFCCC não só transmite várias sesssões e coletivas de imprensa ao vivo, como mantém os vídeos para quem quiser conferir o que foi dito. É a prova documental da esquizofrenia que reina no Centro Nacional de Convenções do Qatar. De um lado, temos as presidências da UNFCCC, da CoP e os países desenvolvidos destacando os avanços alcançados ao longo do processo de negociações, notadamente a perspectiva de um segundo período de comprometimento do Protocolo de Quioto e a Plataforma de Durban, que unifica as negociações, juntando países desenvolvidos e em desenvolvimento em um mesmo camimho. Por outro lado, temos justamente os países em desenvolvimento, em sua multiplicidade de grupos de negociação - G77, SICA, BASIC, LMG, AOSIS, LDC, etc. - e as organizações não governamentais apontando alguns "senões" ao retrato oficlal dos trabalhos.
 
O primeiro ponto que destacamos é com relação ao próprio Protocolo de Quioto. Pois embora importante, trata-se de um mecanismo com alcance e ambições aquém do que precisamos. A finalização do LCA, que é uma outra suposta vitória, deveria ter acontecido na fatídica CoP15, em Copenhague. Estamos comemorando um atraso de três anos em um mundo com emissões crescentes e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. E ao fechamento lacônico destes dois caminhos de negociação acena-se com um novo trilho de negociações que não deixou claro pontos básicos, como a questão financeira. Não é de se estranhar, portanto, que este tópico tenha sido citado por todos os grupos que se manifestaram na plenária de abertura - incluindo um forte discurso da União Européia, defendendo maior ambição e comprometimento, e dos pequenos países insulares (AOSIS), colocando em xeque a confiabilidade do processo, que está levando à assinatura de um contrato em branco: sem recursos claros de agora até 2020, quando começa a valer o acordo gerado pela plataforma de Durban, e sem qualquer garantia do que acontecerá de 2020 em diante. Afinal, se nem o fundo verde, anunciado em 2009, está operacional por falta de recursos, que certeza há do que sequer foi negociado?
 
Some-se a isso o fato básico de que as metas de redução prometidas até o momento são insuficientes para manter o aumento global de temperatura abaixo dos 2 graus centígrados e você entenderá porque, ao contrário de outras CoPs, os aplausos na cerimônia de abertura foram tão mornos, quase protocolares. A exceção foi o momento em que Christiana Figueres, presidente ds UNFCCC, declarou que espera que os trabalhos se encerrem na sexta, 7 de dezembro - ou seja, dentro do tempo regulamentar. O foco na burocracia do processo, as declarações esquivas para imprensa e o clima de "CoP de transição" tentam esconder, embaixo de um manto de suposta normalidade, que continuamos aquém do que precisamos - e, esquizofrenicamente, falando uma coisa e fazendo outra.
 
O engajamento da sociedade é crítico para mudar este quadro: escreva para o congressista que você elegeu, manifeste-se na seção de cartas do jornal que você lê, tuite, divulgue sua indignação pelo Facebook. Na cerimônia de abertura, a sociedade teve meros 30 segundos para se manifestar (*). Isso mesmo: 30 segundos. Por isso, é muito importante que você nos ajude ocupando os espaços democráticos da opinião pública. De uma forma ou outra, precisamos lembrar quem está negociando aqui que, no fim das contas, é de vidas humanas - é de gente! - que estamos falando.
 
(*) esta é a íntegra do discurso do representante das ONGs ambientalistas: "Nos foram concedidos 30 segundos para expressar a visão da CAN, que congrega mais de 700 ONGs de todo o mundo. É impossível dizer algo significativo sobre o mais importante desafio enfrentado pela humanidade em 30 segundos. Então somos forçados a nos limitar, nesta intvenção, a registrar nosso protesto contra a exclusão das vozes da sociedade civil deste processo vital."

Especialistas dizem que o Brasil não está preparado para os impactos das mudanças climáticas

 

Nova Friburgo, deslizamento de encosta

Especialistas dizem que país não tem planejamento estratégico para minimizar os efeitos em setores como agricultura, energia e migração regional. Pesquisa mostra o Brasil como o 58º em vulnerabilidade.

As imagens dos deslizamentos de terra causados por fortes chuvas e que deixaram centenas de mortos na região serrana do Rio de Janeiro, no início de 2011, ou dos refugiados da seca no Nordeste estão firmes na cabeça de muitos brasileiros. Mas esses são apenas dois dos vários exemplos dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. Muitas vezes, os efeitos delas são ainda piores por causa da falta de estrutura das cidades brasileiras.

“O Brasil não está totalmente preparado para as mudanças climáticas e seus impactos. Os pontos fracos do Brasil estão relacionados à sua infraestrutura e ao fato de ser um país de enorme extensão e com uma grande população pobre”, frisa o cientista-chefe do Instituto de Adaptação Global (GAIN, em inglês), Ian Noble. Uma recente pesquisa do instituto mostrou que, no quesito vulnerabilidade, o Brasil está na 58ª posição entre 176 países.

Segundo os cientistas, cada região brasileira sofre de forma diferente com os impactos das mudanças climáticas. No Sul e no Sudeste, o maior problema são as chuvas cada vez mais intensas – e, com elas, os perigos cada vez maiores para as pessoas que vivem em encostas. Já o Centro-Oeste e principalmente o Nordeste vão passar por secas cada vez mais frequentes. No Centro-Oeste, algumas regiões de savana deverão virar caatinga. Já partes da floresta tropical úmida da Amazônia deverão se converter em serrado e savana.

Agricultura, energia e migração
A agricultura é o setor econômico mais vulnerável às condições climáticas. As temperaturas mais altas e a variação do regime de chuvas podem obrigar uma série de culturas – como arroz, café, soja e milho – a se deslocar para áreas onde as condições climáticas sejam mais favoráveis. “Isso gera transtornos para a economia e o setor agrícola”, comenta Saulo Rodrigues Filho, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB).

O setor energético brasileiro também é vulnerável, pois depende do regime de chuvas e das hidrelétricas. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios é o menor em dez anos e caiu para menos da metade nas principais hidrelétricas do país, o que cria o risco de apagões.
O governo federal responde com medidas de curto prazo, como a queima de petróleo para produzir eletricidade. “O governo brasileiro não entende o atual problema como uma vulnerabilidade do setor energético diante das mudanças climáticas”, afirma Cláudio Szlafszstein, do núcleo de meio ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Quanto à migração regional, o agravamento das adversidades climáticas poderá fazer ressurgir os refugiados do clima, principalmente na região Nordeste. “As condições climáticas do semiárido nordestino poderão ficar mais adversas e, com isso, deve haver um grande fluxo migratório”, afirmou Saulo Filho.

Szlafszstein lembra que o Brasil vivencia o problema da migração interna da população por fatores climáticos há muito tempo, principalmente a nordestina por causa da seca. “Enquanto estudiosos e a ONU usam o termo ‘migrações climáticas’, no Brasil a seca e seus impactos são tidos como problemas crônicos”, comenta.

Avanços?
O pesquisador Saulo Filho, da UnB, avalia que o governo brasileiro avançou no combate às mudanças climáticas com a adoção de medidas e de políticas em sintonia com o que a ciência diz ser necessário para minimizar os impactos. Um passo importante foi o fato de o Brasil ter apresentado uma redução voluntária na emissão de gases do efeito estufa, não prevista no protocolo de Kyoto, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em 2009 em Copenhage.
Outra ação importante foi implementada também em 2009, com a criação da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que visa elaborar planos contra os impactos das mudanças climáticas para diversos setores da economia.

“São avanços importantes, o Brasil caminhou na direção certa. Mas seria preciso muito mais do que isso no que diz respeito à adaptação e ao combate à vulnerabilidade. Nesses pontos, ainda temos muito por fazer”, afirma Saulo Filho.
Szlafszstein diz que o governo brasileiro não tem um planejamento estratégico para diminuir os impactos das mudanças climáticas. “Há numerosas intenções e propostas, mas elas se destacam por serem isoladas, com escasso nível de implementação, e por serem orientadas para diminuir as emissões de gases-estufa, com pouca atenção para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas.”

Além disso, o discurso de preocupação com as questões ambientais é acompanhado por políticas que vão no sentido contrário, como o incentivo à produção de automóveis e à extração de petróleo.
Sistema de alerta
A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, é considerado o maior desastre climático do Brasil. Na época, mais de 900 pessoas morreram por causa dos deslizamentos, que deixaram milhares de desabrigados.

Para evitar novas tragédias, o governo federal criou em dezembro de 2011 o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). O objetivo do centro de pesquisa é alertar, com até duas horas de antecedência, sobre o risco de deslizamentos de encostas.
De acordo com Carlos Nobre, secretário de políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o governo tem a meta – ambiciosa, segundo ele – de diminuir o número de mortos, feridos, desabrigados e desalojados em 80% nos próximos anos. “Com o sistema de alerta, a Defesa Civil pode conduzir um processo organizado de evacuação dos moradores, que podem ir para um lugar seguro. O sistema elabora, diariamente, alertas para todo o país”, diz Nobre.

Pensar de forma preventiva
Segundo Saulo Filho, é importante agir de forma preventiva e não apenas remediar os erros. Ele cita um estudo do professor britânico Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, segundo o qual ações preventivas são cinco vezes mais econômicas.
Saulo Filho afirma que governantes, políticos e até mesmo alguns setores da sociedade ainda resistem em aceitar o tema como prioritário na hora de elaborar políticas e adotar medidas.
“O ser humano quer ter 100% de certeza de que tudo que está ocorrendo com o clima se deve à ação humana. Mas a complexidade do sistema não permite fazer interpretações tão exatas e tão precisas. Isso torna mais difícil convencer os políticos, e essa é uma das barreiras a serem quebradas nos próximos anos”, afirma.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Alexandre Schossler
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 27/11/2012

COP18: Fracasso na prorrogação do Protocolo de Kyoto enfraquece busca por novo acordo climático

 

Publicado em novembro 27, 2012 por

COP18

Pessimismo marca abertura de reunião climática da ONU. Apesar do crescente alarme sobre a mudança climática, quase 200 nações reunidas a partir desta segunda-feira, 26, em Doha pouco terão a oferecer além de palavras sobre a necessidade de conter as emissões de gases do efeito estufa. Reportagem de Alister Doyle e Regan Doherty, da Reuters, em O Estado de S.Paulo.

O provável fracasso na definição de uma prorrogação significativa do Protocolo de Kyoto – tratado que obriga nações desenvolvidas a reduzirem suas emissões – deve também enfraquecer a busca por um novo acordo que junte países ricos e pobres na luta contra o aquecimento global a partir de 2020.
“A situação é muito urgente… Não podemos mais dizer que a mudança climática é um problema para amanhã”, disse Andrew Steer, presidente do Instituto dos Recursos Mundiais, de Washington.
Há dois anos, numa conferência semelhante, os países da ONU decidiram limitar o aquecimento global a 2ºC acima dos níveis pré-industriais. Mas as emissões de gases do efeito estufa bateram um novo recorde em 2011, apesar da desaceleração da economia global.

Na semana passada, um estudo divulgado pela ONU mostrou que o mundo se encaminha para um aumento de 3ºC a 5ºC nas suas temperaturas médias, o que pode causar mais inundações, secas, ondas de calor e elevação dos níveis dos mares.
“Uma resposta mais rápida à mudança climática é necessária e possível”, disse Christiana Figueres, diretora do Secretariado de Mudança Climática da ONU, em nota na qual delineou as expectativas para o encontro, que vai até 7 de dezembro.

A reunião acontece num amplo centro de convenções do Catar — primeiro país da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a receber a conferência climática anual, e a nação do mundo com a maior taxa per capita de emissões de gases do efeito estufa, quase o triplo da média norte-americana.

Para manter alguma ação climática em vigor, a maioria dos países é favorável à prorrogação do Protocolo de Kyoto, que foi adotado em 1997 e expira no final de 2012. Esse tratado obrigava as nações desenvolvidas a reduzirem suas emissões num volume médio de 5,2% em relação aos níveis de 1990.

Mas os EUA nunca concluíram sua adesão ao tratado, enquanto Rússia, Japão e Canadá se desvincularam nos últimos anos. Assim, restaram como principais aderentes União Europeia e Austrália, que representam apenas 14 por cento das emissões mundiais.
As nações não-participantes dizem que não faz sentido prorrogar o Protocolo de Kyoto se grandes nações em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e África do Sul, não sofrerem restrições legais ao aumento das suas emissões.

Os países em desenvolvimento e os apoiadores de Kyoto dizem que os países desenvolvidos precisam liderar o movimento rumo a um novo acordo global, a ser negociado até o final de 2015, para entrar em vigor em 2020.
EcoDebate, 27/11/2012

A Ruptura

  
Inês Castilho, do Outras Palavras
Duas previsões opostas, porém igualmente verossímeis, são comuns quando se debatem os sentidos do século 21. Há quem mire, com otimismo, as grandes mobilizações sociais; a valorização da autonomia e das redes cidadãs não-hierárquicas; a tentativa de superar a crise da representação e reinventar a democracia; a expansão da consciência ambiental. Um olhar mais pessimista chama atenção para a ultra-concentração de riquezas; o esvaziamento da política, colonizada pelas grandes corporações (especialmente financeiras); a devastação da natureza e a procrastinação, pelos governos, das medidas que poderiam evitar grandes desastres naturais.

Coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro (NEF) da PUC-São Paulo, o economista Ladislau Dowbor parece prestes a dar um passo além desta disjuntiva. Ao desnudar alguns dos fatores que estão por trás das incertezas contemporâneas, seus estudos recentes desenham um modelo em que riscos e de oportunidades não são estanques: estão sobrepostos no mesmo cenário. Aparece com clareza, então, uma alternativa além do pessimismo ou do otimismo. Ladislau lembra que, mais uma vez, o futuro está em aberto – e identifica os possíveis pontos da ruptura.

Esta visão de conjunto desenhou-se, com clareza, num diálogo que o economista – um dos intelectuais brasileiros mais mergulhados no debate sobre as crises globais – manteve com a pesquisadora e jornalista Inês Castilho, colaboradora de Outras Palavras. Ele ocorreu no âmbito do estudo qualitativo Política Cidadã, que o instituto Ideafix produziu para o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade).

Há uma grande novidade civilizatória, explica Ladislau, por trás de boa parte do que enxergamos como “tendências positivas” da atualidade. A produção imaterial agora ocupa o centro da Economia. O valor dos produtos e serviços está cada vez menos nos materiais neles envolvidos, e mais no conhecimento, cultura e criatividade que permitiram gerá-los. Nenhum destes fatores, explica o professor, é regido pela “lógica da escassez” em que se baseia a teoria econômica convencional. Significa, em outras palavras, que sobre eles não pesa o princípio da propriedade – algo central ao capitalismo. Se divido um prato de comida, ou uma fábrica, resta-me apenas uma parte do que antes possuía. Mas ideias, inovações, talentos e afetos multiplicam-se, quando compartilhados.

Esta enorme mudança de paradigma, prossegue Ladislau, está promovendo imensas transformações. O conhecimento e a informação podem circular livremente, graças a iniciativas como a Wikipedia; a sites, blogs e redes sociais; ou movimentos como a Primavera Científica e as grandes bibliotecas abertas de universidades norte-americanas e chinesas.
Uma economia baseada no imaterial e no conhecimento exige muito menos intervenções sobre a natureza. Além disso, prossegue Ladislau, “casa muito bem com serviços sofisticados (Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Lazer, Segurança) e com sistemas participativos, descentralizados, gestão local, políticas urbanas e redes”.

Conjugados, estes dois fatores insinuam uma utopia já em construção. Numa sociedade em que o principal fator de produção (o conhecimento) não é propriedade privada, mas bem-comum, seria perfeitamente possível redistribuir constantemente a riqueza. Imagine, por exemplo, uma renda cidadã paga a cada ser humano independentemente de trabalho, e capaz de assegurar vida digna. Associe esta garantia à possibilidade de dar sentido social a seus talentos e criatividade, participando de uma rede de prestadores de serviços públicos – educadores, profissionais de saúde, operadores do sistema de transporte coletivo, cuidadores de idosos ou produtores de audiovisual, por exemplo.

Por que, então, estas tendências não se tornam dominantes? Ladislau chama atenção para a inércia das velhas relações de poder e da economia que foi hegemônica nos séculos passados. Como desencadear políticas públicas que restrinjam o uso do carro individual e desmobilizem, portanto, boa parte da produção automobilística? De que forma desalojar, do aparelho de Estado, as construtoras de grandes obras rodoviárias e projetos faraônicos? Ainda mais difícil: como desmontar os mecanismos financeiros que capturam a riqueza social e a concentram nas mãos de 1% da sociedade, ou ainda menos?

Na encruzilhada em que estamos, qual das duas tendências prevalecerá? Ambas têm tanta força que, em diálogos mais recentes (como no lançamento do projeto Primaveras, em 24/10), Ladislau chegou a formular uma terceira hipótese. As transformações históricas exigem, muitas vezes, grandes fraturas. Foram necessárias duas guerras mundiais, e o fantasma da União Soviética, para que surgisse na Europa e América do Norte o Estado de Bem-estar social – hoje moribundo. Será necessária a catástrofe climática para que uma Economia do Bem-Comum e do Compartilhamento torne-se hegemônica? Ou seremos capazes de tramar rupturas mais humanas e suaves? O diálogo entre Ladislau Dowbor e Inês Castilho vem a seguir (A.M.)


Brasil de Fato – Gostaria que o senhor falasse do seu trabalho sobre os megatrends, as grandes tendências atuais do planeta, e do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP.
Ladislau Dowbor – Trabalho com a convergência das crises, fatores que antes eram avaliados de maneira independente, como por exemplo as tendências das populações, analisadas por demógrafos, as climáticas, por oceanógrafos e assim por diante. Somos sete bilhões de pessoas no planeta, 80 milhões a mais a cada ano, o que significa mais 220 mil pratos de comida na mesa a cada dia: qual é o impacto disso? Os impactos são cada vez mais visíveis, e exigem estudos permanentes. Estamos contaminando a água, tanto os rios, lagos e lençóis freáticos, como até o Golfo do México, o Báltico e certas regiões do Mediterrâneo, que já estão mortas. Contaminamos os solos por excesso de quimização, de agrotóxicos. As mudanças climáticas são estudadas nas suas diversas manifestações.
Não menos importante, as dimensões sociais: a pobreza, as migrações devido aos desastres climáticos, os impactos econômicos da desigualdade. Temos um bilhão de desnutridos, 1,5 bilhão sem acesso a água limpa. Estamos destruindo o planeta em proveito de uma minoria.
Há ainda o problema do caos econômico que está sendo gerado – não só o financeiro, mas o mercado mundial de commodities, a especulação com o petróleo e o descontrole nas áreas de comércio de armas, de produtos farmacêuticos, dos produtos químicos. Na ausência de governo mundial, de sistemas multilaterais de controle, gerou-se o caos especulativo.

BF – O cenário é mais sombrio do que se imagina?
LD – Uma pesquisa da Austrália perguntou aos cientistas por que os fatos se mostram mais graves, no geral, do que as previsões apresentadas nas várias reuniões sobre a questão ambiental – Estocolmo em 1972, Clube de Roma [conhecido pelo relatório Os Limites do Crescimento, de 1972], Eco-92 no Rio de Janeiro, Johanesburgo em 2002. Eles responderam que tentam reduzir os números para ganhar credibilidade, porque as pessoas se assustam. A cada reunião reajustam-se as cifras para cima, cresce a compreensão de que a janela de tempo de que dispomos é limitada.
E também porque existe um sistema mundial de construção de opinião pública por grandes empresas de relações públicas. Elas se especializaram em criar uma boa imagem das grandes corporações, como a da British Petroleum depois do desastre do Golfo do México; ou a campanha das empresas particulares de saúde dos EUA para tentar travar a aprovação de uma lei de saúde pública; as grandes campanhas para dizer que o fumo não gera câncer; ou ainda para convencer as populações de que limitar o acesso a armas de fogo seria uma limitação à liberdade. Vale tudo. São imensas campanhas, gerando o chamado “negacionismo”.
A campanha para dizer que não há aquecimento global faz parte dessas grandes iniciativas articuladas. Tem um belíssimo livro, Climate Cover-Up: The Crusade to Deny Global Warming, de James Hoggan. Ele explica como funcionam as campanhas de construção de opinião pública, hoje uma grande indústria.
Temos aqui na PUC-SP um pequeno Núcleo de Estudos do Futuro que trabalha sobre esses processos e também se articula com outras instituições. Na linha dos megatrends, ou macrotendências, promovemos estudos sobre dinâmicas de longo prazo, e também mudanças metodológicas como sobre o PIB, ou estudos setoriais como o livro sobre energias renováveis no Brasil. Disponibilizamos esses textos online, em regime Creative Commons.

BF – A grande mídia estaria articulada com a construção dessas visões da realidade?
LD – A grande mídia está visceralmente ligada a quem paga a publicidade. As grandes empresas de publicidade costumam se identificar com os interesses das grandes corporações – que são as que pagam a publicidade. Trata-se em geral de grandes empresas, as padarias não fazem propaganda nesse nível. Os setores financeiro, farmacêutico, automobilístico são típicos. O custo é colocado no produto que a gente paga. Assim, esse dinheiro financia as empresas de publicidade, uma grande indústria internacional, que por sua vez financia a mídia.
Isso se reflete na área editorial: primeiro porque a mídia nunca vai falar mal das corporações que a financiam; segundo porque se mantém presa a uma programação atrativa à média da população – já que os custos da publicidade são definidos pela quantidade de espectadores e leitores. O circuito se fecha: não se informa sobre os sistemas econômicos e os problemas e coisas desagradáveis. Em compensação, enche-se a televisão de PMs perseguindo bandidos no morro e coisas do gênero. Vai-se assim gerando uma indústria da burrice e uma indústria do medo.
Uma pesquisa dos Estados Unidos diz como aumenta o sentimento de insegurança das pessoas, independentemente do nível de criminalidade, em razão do uso da segurança pública como matéria-prima para atrair leitores ou espectadores de televisão. A solução organizacional e institucional e a forma de financiamento do processo deformam o nosso acesso à informação.

BF – Em que medida as novas mídias tornam mais livre o acesso ao conhecimento?
LD – Em vários níveis. A mudança importante é que o processo se inverte, a filosofia muda. As coisas circulam pela qualidade, e não porque os Mesquita, Civita, Marinho ou Frias querem que as pessoas pensem assim ou assado. As informações circulam pela demanda, e não pelo que vão render de publicidade. Um bom artigo é repassado nas redes porque as pessoas gostaram, e quando gostamos de algo a reação imediata é compartilhar esse gosto. A tendência é a intensificação da leitura definida pela demanda, e muito menos pela oferta forçada a um leitor ou telespectador passivo.
Tem gente, como eu, que disponibiliza toda a sua produção científica online. A tiragem típica de uma revista científica em uma universidade é de 800 exemplares, e a leitura é mínima. A partir do meu site, centenas de textos científicos são baixados diariamente. Como estão na internet, estão permanentemente disponíveis, não é noticiário de momento jogado no lixo, como jornal de ontem. E são utilizados em Angola e outras regiões onde não há dinheiro para comprar livros, nem disponibilidade nas bibliotecas.
Além de assegurar muito mais conhecimento na base da sociedade, o conhecimento circula em função da qualidade. Por exemplo: Joan Martínez Alier publicou na Universidade de Barcelona um artigo extremamente competente sobre os impactos ambientais da empresa americana Chevron-Texaco no Equador. Recebo esse artigo porque várias pessoas leram e disseram: “é excelente, o Ladislau precisa ler”. Leio e mando para um monte de gente, porque é excelente. Isso em nível individual. Existem hoje milhões de blogs – estou batalhando para que na PUC todos os professores tenham o seu blog e a gente construa uma comunidade online. A resistência é grande, há uma mudança cultural pela frente.
Em nível institucional, um exemplo: o MIT- Massachusetts Institute of Technology criou a partir de 2003 o OCW-Open Course Ware. Todo o trabalho dos professores, mais de dois mil cursos, está disponível online gratuitamente. No ano seguinte já a China conectou nesse sistema as suas 12 principais universidades: todo cientista chinês, ao criar um produto científico – um curso, um livro –, disponibiliza-o online no sistema e recebe um pagamento do governo. É uma solução institucional e organizacional interessante: milhões de chineses têm acesso à ciência gratuitamente, online. E quando se tem acesso à ciência se cria mais ciência, porque inspira e dá ideias. Hoje temos muitos países conectados ao OCW, várias instituições no Brasil – se você entrar no site do OCW Consortium, que articula mundialmente esse conjunto, vai ter os países e as instituições. Na China se chama CORE, China Open Resources for Education. Enquanto isso, na PUC, USP e outras universidades brasileiras ainda trabalhamos com pastas de professores e xerox de capítulos isolados. É pré-histórico.

BF – Voltando à questão das novas mídias…
LD – É muito mais do que mídia alternativa. É o fato de que as pessoas disponibilizam conhecimento segundo a relevância efetiva que tem para elas e buscam de maneira temática as informações de que necessitam. Isso, em outro nível, gera um sistema de newsletters que começa a concorrer efetivamente. Carta Maior é recebida por centenas de milhares de pessoas, temos o Envolverde, Mercado Ético, IHU, inúmeros grupos que redistribuem e fazem circular informação inteligente. E temos informação tradicional que se adaptou, como o The Guardian, no qual você pode encontrar informação internacional extremamente atualizada, gratuitamente, a partir do celular ou tablet, sem complicações de senhas, pagamentos, cadastros. É um serviço público a partir da esfera privada.
Os que se aferram à mídia antiga, e ao controle político e comercial da mídia, declaram guerra a estas formas abertas de acesso. Você liga o rádio e ouve: “seja ético” – o que é uma bobagem. Ser feliz sozinho é deprimente. Quando ouço uma música bonita penso: vou mandar para fulano. Criminalizar isso é patológico: o Brasil é de uma hipocrisia quase escandalosa, ao inverter a noção de ética. O prejudicado não é o músico, que só tem a lucrar com a divulgação. São os grandes intermediários, os donos da chamada indústria cultural, que não criam nada mas travam o acesso. O copyright é legítimo na forma como surgiu: uma editora que produz um livro não quer que outra editora aproveite o eventual sucesso comercial. Mas criminalizar o uso não comercial é inclusive uma burrice econômica, além da deformação do conceito de ética.
E existe agora esse fantástico avanço do tagging: o endereço e o código de cada documento. Estamos em um nível que, se quero estudar desemprego jovem em periferias metropolitanas, coloco esses termos no Google ou em qualquer outro buscador e tenho centenas de artigos sobre o que acontece nas periferias de Beijing, Xangai ou Moscou – e posso compor essas visões em uma articulação nova sobre a base do conhecimento acumulado. Fazer articulações inovadoras sobre a base de conhecimento acumulado chama-se ciência. Isso é inovar. Neste sentido, o acesso aberto online é muito mais do que a gratuidade, é a abertura e flexibilidade de cruzamento de informações e avanços científicos de qualquer parte do planeta, de qualquer área científica, que gera a presente explosão de inovações. Não à toa milhares de cientistas americanos geraram o movimento Science Spring, primavera científica, na linha da primavera árabe, e boicotam as revistas indexadas. Chega de intermediários que cobram pedágio sobre as inovações dos outros.
A inovação é um processo colaborativo: ninguém inova sozinho. Tem um livro muito bonito, Cognitive Capital, em que o autor Clay Shirky lembra que se não fossem as universidades terem desenvolvido os microprocessadores, os chips etc, um Bill Gates ainda estaria trabalhando com tubos catódicos – aqueles antigos de televisão. A inovação é uma maré que levanta todos os barcos, só que alguns querem cobrar pedágio sobre as inovações de todos.
Então, esse talvez seja o megatrend que atravessa todo o conjunto: o conhecimento se desmaterializa. Quando escrevo a letra a, preciso gastar tinta e papel; mas o digital é uma combinação de zeros e uns que pode ser feita com luz acesa ou apagada, polo magnético positivo ou negativo, intensidade maior ou menor de fótons – estou nas ondas eletromagnéticas. Instala-se um sistema de satélites geoestacionários ao redor do planeta que retransmitem esse conhecimento – e o planeta passa a ser banhado em conhecimento. Esses satélites ficam a 36 mil km de altitude, uma altitude da qual podem acompanhar exatamente o movimento da Terra – e tem-se a cobertura completa do planeta em conhecimento.
O que está acontecendo é que o conhecimento não está mais na cabeça do professor, está no ambiente, ou na nuvem. Isso significa que a educação tem que passar a ser articuladora, organizadora de conhecimento, muito mais do que lecionadora. Esse fluxo de conhecimento online leva à ruptura do fatiamento: isso é química, aquilo é física, e um não se mete no outro – isso está indo para o brejo. As escolas, as universidades com seus diplomas estão se tornando um conjunto de estruturas desesperadamente desatualizadas, relativamente a todas essas transformações possíveis.

BF – E qual é a escola necessária?
LD – A escola necessária é muito menos lecionadora e muito mais articuladora de conhecimento. Seymour Pappert escreveu A Máquina das Crianças, The Children’s Machine, um livro sobre as inovações educacionais na era do computador, em 1993. Conta ali a história de uma professora de informática que, sentindo-se cada vez mais sem jeito porque os alunos estavam indo mais rápido que ela, num momento de crise tem um ataque de bom senso e diz: “meninos, vocês claramente estão indo mais rápido que eu. Mas sei organizar conhecimento e sei discutir com vocês como usar esses instrumentos. Então vou parar de dar aula e passar a ser uma assessora organizacional para vocês construírem novos conhecimentos através desse instrumento.” Isso é a nova escola. Se você lê José Pacheco, da Escola da Ponte, a visão é essa.
BF – É uma escola-referência?
LD – É uma escola-referência. Pegue os Recursos Educacionais Abertos (REA), ou o Projeto Folhas, da secretaria de Educação do estado do Paraná: não tem mais livros-textos na aula. Eles selecionaram professores voluntários, dispostos a elaborar textos com o que acham que as crianças querem aprender, pensando junto com elas. Deram ano sabático para eles poderem se dedicar, e cada texto é elaborado por esses professores junto com os alunos, numa produção online. Eles contam com núcleos universitários de apoio para as dúvidas técnicas, e triangulam isso permanentemente com a secretaria de Educação. Vão assim construindo de forma colaborativa, e incluindo os eixos de interesse dos alunos. Quando aparece uma bobagem, é corrigida na hora: não dá escândalo, a Folha de São Paulo não pode fazer uso político de um erro no livro-texto.
E mais, quando surge uma nova pesquisa o professor recebe uma notinha no e-mail, dizendo: “atualize tal coisa no livro.” Os professores vivem a educação, participam do que estão ensinando. E o sentimento do aluno é de que está trabalhando online, com coisas relevantes. Ele aprende a trabalhar por problema. Um texto sobre água, por exemplo: água é vida, é lazer, água é meio de transporte, irrigação, cultura e dinâmica ambiental. Podemos, sim, ir além das disciplinas, do conhecimento fatiado.
É uma revolução, e está acontecendo – sempre com muita resistência, da mesma maneira que na área comercial as grandes corporações resistem. Estou batalhando aqui na PUC para adotarem o OCW – o que seria óbvio. É patético que ainda tenhamos que tirar xerox de um capítulo, e não do livro inteiro, porque não pode. Para o aluno, que tem uma bagagem pequena, é ruim ler um capítulo isolado. Assim trabalhamos, em pleno século XXI, quando outros países já estão em outra fase: nesses poucos anos, só no OCW-MIT, mais de 50 milhões de textos foram baixados. Imagine a contribuição ao conhecimento planetário. E os professores passaram a se sentir mais úteis, sem esperar “pontinhos” por publicação.
BF – Isso configura uma revolução na economia?
LD – O que acontece é que todo o referencial está mudando. Por exemplo: o que estou falando para você não tira nada de mim, e pode acrescentar algo de valor a você. Mais: falando, eu penso, “não tinha percebido tal coisa”. E você vai recriar o que eu disser. Essa máquina aqui [um gravador digital] deve ter 3% de matéria-prima e trabalho físico, 97% é conhecimento incorporado – design, pesquisa etc. No mundo, hoje, 3/4 do valor dos produtos é conhecimento incorporado.
Quanto mais se generaliza conhecimento, mais se enriquece a humanidade. Pense no conceito dos economistas – de que economia é a alocação ótima de recursos escassos. Como perceber a economia quando o recurso deixa de ser escasso, e além disso pode ser retransmitido livremente, instantaneamente, sem custos, pois as ondas eletromagnéticas são da natureza? E com custos de transação praticamente nulos? E não é uma inundação, o conhecimento pode circular pelo planeta e ser acessado de maneira inteligente por meio de algoritmos que permitem foco e seleção precisos. Esse é o tamanho da revolução da chamada economia do conhecimento. O conhecimento é um fator de produção cujo consumo não reduz o estoque.
BF – E começamos a assistir ao uso das redes sociais para a mobilização política. Como vê isso?
LD – O pano de fundo mais amplo para toda essa mobilização, além do twitter e das manifestações, é que os pobres hoje não são mais como os pobres de antigamente. Quando de meu primeiro trabalho, como jornalista do Jornal do Comércio do Recife, na área rural, pobre era sim, sinhô pra tudo, resignado, analfabeto. Hoje ninguém mais está dizendo sim, sinhô.
Passando por África, bem no interior, encontrei um descalço, indo a pé, com seu turbante. Tinha havido uma ruptura de chuvas – uma seca, falta de água para a colheita seguinte. Perguntei: “como vocês vão fazer com a safra?” Ele olhou para mim com tranquilidade e disse: “quero saber o que vocês vão fazer.” Viu meu carro, que sou branco, da capital… São muitos os informados, sabem que podem ter acesso a uma saúde decente para os filhos, direitos de cidadania. É um despertar prodigioso.
Há algumas cifras de referência que são úteis: somos sete bilhões de habitantes no planeta, dos quais quatro bilhões são “pessoas que não têm acesso aos benefícios da globalização”– como diz o Banco Mundial, educadamente, pois não gosta de dizer “pobres”. Um bilhão dessas pessoas passa fome, e 180 milhões são crianças. Destas, entre 10 e 11 milhões são reduzidas à morte, todo ano. São dados recentes da Unicef e da FAO. Não estamos matando, estamos deixando morrer, isso porque temos os recursos, os conhecimentos, as tecnologias.
Estamos vendo morrer 12 milhões de pessoas no Chifre da África, de AIDS já morreram 25 milhões – e estamos discutindo o valor das patentes. É insustentável. Em paralelo, há facilidade de adquirir informações que mudam a atitude das pessoas. Esses 2/3 da população mundial reduzidos à miséria estão em grande parte nas cidades, não mais isolados no campo. No Brasil, 96% dos domicílios têm tevê. Celular, então…
BF – Mesmo considerando que a tevê informa mal, deforma?
LD – Sem dúvida informa mal – mas as coisas chegam, circulam. Digamos que, com essa expansão do acesso ao conhecimento e acesso inteligente das mensagens, as pessoas podem traduzir o seu desespero individual na compreensão de que se trata de um processo social e não de sua própria incapacidade. Os pobres estão começando a compreender. Um padre latino-americano me falou certa vez: “se ajudo um pobre, dizem que sou santo; se pergunto por que razão ele é pobre, dizem que sou comunista.” Achei interessante…
De um lado temos esse imenso desafio ambiental – as situações críticas que estamos provocando; e de outro o desafio social – que está explodindo: até os índios Aymara estão se mobilizando. E tem um terceiro eixo, o caos financeiro que estão gerando, a desorganização do sistema produtivo. São tão gananciosos que querem fazer dinheiro com dinheiro, não sabem sequer financiar de maneira inteligente o processo produtivo, para ser remunerados com ele.
Estamos começando a entender as sinergias. Por exemplo, o permafrost da Sibéria, aquele gelo acumulado há séculos sobre toda a Sibéria, que não derretia no verão, só em parte, mas se mantinha congelado e branco, e portando refletia o calor – derreteu com o aquecimento global. São milhões de quilômetros quadrados hoje escuros, que absorvem, a invés de refletir o calor – gera-se um feedback do processo de aquecimento. Começamos a entender como interagem os diversos processos. É um exemplo a mais. Hoje entendemos a seriedade das situações, porque tudo está sendo estudado, e porque nos últimos anos e nas últimas décadas se fechou a fronteira estatística do planeta. Sabemos o que está acontecendo.
BF – Como assim?
LD – Não há mais “buraco negro” – regiões da África em que não se sabia quanta população há, por exemplo. Está tudo mapeado. Com o cruzamento dessas informações a gente consegue entender: estamos destruindo a água, que já é chamada de ouro azul. Em 200 anos teremos liquidado com o petróleo, que se acumulou em 200 milhões de anos. O petróleo fácil acaba nos próximos 20 anos. Liquidar com o petróleo, uma preciosidade que deve servir às gerações futuras da humanidade, para andar de moto e jet-ski ou ficar parado nas avenidas… haja bom senso!
Temos a liquidação da cobertura florestal do planeta – agora o eixo principal do desmatamento está na Indonésia. O Brasil conseguiu uma vitória fantástica, com Marina Silva e depois com Carlos Minc, que foi reduzir de 28 mil km² para 7 mil km² o desmatamento anual da Amazônia. Continua sendo um desastre, mas foi uma vitória. O governo Lula foi o primeiro a não colocar ministros do meio ambiente decorativos.
Pegando segmento por segmento, a gente constata os desastres, como por exemplo o da destruição da biodiversidade. Passamos a entender que as cadeias alimentares são todas conectadas, uma colabora com a outra, uma vive da outra – e fomos cortando uma por uma. No plano dos oceanos, como estamos emitindo mais dióxido de carbono, os oceanos absorvem mais e se tornam mais ácidos; com isso, fica reduzida a capacidade de formação óssea de tudo o que exige cálcio, como as conchas e os corais.
Tem um livro belíssimo do Fred Pearce, When Rivers Run Dry, Quando os ricos secam, em que ele conversa com grandes agricultores indianos. Eles têm bombas que puxam 12 metros cúbicos de água por hora, a 350 metros de profundidade, muito mais que a capacidade de reposição do sistema de chuvas local; o argumento é: “se não for eu, vai ser outro”. A pedido do governo africano, fui falar com uma empresa de pesca que estava exaurindo os recursos pesqueiros da África Ocidental. O argumento foi o mesmo: “meu amigo, tenho 100 milhões de dólares empatados em pesca industrial, tenho que recuperar o meu, e, francamente, se não for eu…”. Há uma corrida para ver quem chega primeiro, antes que acabe. Em nome do liberalismo econômico.
BF – Será possível construir uma governança global para cuidar do planeta?
LD – Estamos frente a uma mudança necessária de governança, o processo decisório tem que mudar. Globalmente. Na sua hierarquia completa, nos seus problemas planetários, cada problema planetário sendo enfrentado em cada cidade.
Em São Paulo andamos de carro a 14 km/h, em primeira e segunda. O paulistano perde 2h40m por dia em deslocamento no trânsito. O transporte individual sai imensamente caro, polui e as pessoas não se movem. Estive agora na China: Xangai tem 420 km de metrô. O trajeto diário escola-trabalho-casa, todo mundo no mesmo horário, é chutado para debaixo da terra, por eletricidade, que não polui. Estive em Beijin, Xangai e outras cidades, vi poucas motos movidas a gasolina: é tudo elétrico. Aqui no Brasil essa moto não entra por interesses das empresas tradicionais, japonesas e outras. O equivalente de uma Biz, só que elétrica, custa na China 350 reais. Um motorzinho elétrico, uma bateria, o resto é lataria e borracha. E não polui. A moto no nosso trânsito emite o equivalente a 6 carros.
O grande vetor dessa mudança necessária é o acesso ao conhecimento e à informação. Por que as pessoas aceitam pagar 160% de juros do cheque especial ao ano, no Santander? Porque elas não sabem que na Espanha o mesmo cheque especial, até 5 mil euros, custa 0% por 6 meses. As pessoas ignoram, por exemplo, que quando você compra vitamina C numa caixinha, o conteúdo efetivo de ácido ascórbico custou à empresa apenas três centavos. O resto é embalagem, publicidade – “uma tampinha que faz ‘poc’” – daí que apenas 1/3 da população tenham acesso à vitamina C.
A base produtiva dos países está mudando. Antigamente eram bens essencialmente materiais, hoje o principal eixo de atividade econômica não é indústria, não é agricultura – atividades por excelência do século XX. A gente sabe o que é agricultura e indústria, todo o resto chamamos de serviços, e dentro de serviços o que se vai encontrar são as políticas sociais: saúde, educação, cultura, segurança, habitação, esporte, lazer. Que são densos em mão de obra, em interações pessoais, e portanto densos em organização social.
O maior setor econômico dos Estados Unidos, hoje, 17% do PIB, é saúde. As atividades estão se deslocando para essa área, que funciona de maneira diferente: não se põe saúde em container, não tem concorrência da China. O IPad é feito na China, mas a educação, não.
Quais são os sistemas que funcionam no Brasil? Pastoral da Criança, Programa de Saúde da Família – porque política social é contato, é professor com aluno, são sistemas em rede, horizontais. Há um deslocamento planetário dos empregos, das atividades econômicas para os chamados bens de valor imaterial, e o imaterial casa muito bem com sistemas participativos descentralizados, gestão local, políticas urbanas, sistemas em rede. Isso significa que os movimentos sociais têm como crescer, não porque a gente é de esquerda e gosta de Ong, mas porque funciona. Não há uma organização no Brasil que se compare, em competitividade, com a Pastoral da Criança: com R$ 1,70 por criança/mês, atingiram 50% de redução de mortalidade infantil, 80% de redução de hospitalizações. Os planos de saúde comerciais ficam indignados com a eficiência do terceiro setor, os velhos interesses buscam criminalizar os movimentos sociais.
Não podemos olhar o século XXI com o olhar do século XX. Há um deslocamento intersetorial de onde estão os empregos e as atividades. O que leva à sociedade em rede, a Manuel Castells, a todas essas compreensões da reestruturação da sociedade.
BF – E isso potencializa a mobilização política?
LD – Isso gera uma base econômica para a sociedade articulada. Quando se produz tênis Nike, vai para fábrica, volta para casa e não organiza nada; despacha por conteiner, vende nas lojas, nos shoppings. Quando faz sistemas sociais, você articula a sociedade e a torna forte. Isso gera uma apropriação da política pela base da sociedade.
Uma coisa interessante: a Suécia, que é muito adiantada nesses processos, tem uma taxa de impostos elevada, de 60% – a nossa é baixa, de 35%. No entanto, de toda a massa de dinheiro dos impostos, de recurso público, 72% são administrados em nível local, diretamente com as comunidades. É uma política apropriada pela base, tem um aprofundamento da democracia, como em Boaventura dos Santos.
Gostaria de recomendar o meu pequeno livro Poder Local, da Brasiliense, e meu estudo As políticas sociais e transformação da sociedade, que ajudam a entender essa dinâmica. Está tudo no meu blog. No ensaio Democracia Econômica, também online, faço um painel de 20 eixos de grandes transformações. É um livro pequeno. Aliás, fiz um grande, A Reprodução social, e aí os alunos disseram: “professor, livro que fica de pé?!”. Nunca tinha pensado nesse critério.
BF – O senhor é otimista em relação ao futuro?
LD – Sou um pessimista ativo, digamos, faço tudo para as coisas melhorarem. Não acredito que haja pessoas boas e pessoas más – todos temos dimensões boas e más. Trata-se de criar instituições que tirem o melhor de nós. Há espaço para isso: estou vendo a multiplicação das organizações da sociedade civil, o surgimento da mídia alternativa, a conscientização sobre os desafios planetários, a indignação com a desigualdade, o funcionamento das políticas redistributivas. Só que uma coisa são as dinâmicas que melhoram os processos, e outra é a janela de tempo que temos – o petróleo está acabando, os mares estão contaminados, os rios nem se fala, as florestas estão acabando, a biodiversidade vai para o brejo e o clima está explodindo.
BF – Haverá tempo?
LD – É complicado, porque são processos de inércia muito profunda. Tome a imagem do Titanic: o cara vê o iceberg a 2 km, que é longe; mas 2 km para o Titanic já era, porque até ele começar a mudar de rumo, não dá tempo. Se começarmos a mudar um conjunto de emissões de dióxido de carbono hoje, até 2040 não mudou nada, as condições já estão dadas.
O Lester Brown, que é o melhor estudioso desses problemas, trabalha com a visão de que não sabemos onde vai se dar a ruptura. Como estão se exaurindo os aquíferos, muitos países, particularmente no Oriente Médio, já não têm mais grãos, porque não têm água para os cultivos, e então se tornaram importadores. Conforme vão se acelerando as contaminações e a liquidação dos aquíferos, haverá uma bolha alimentar. Já existe no planeta um bilhão de pessoas passando fome, e pode haver uma explosão muito mais violenta. Há necessidade de mudar o paradigma energético: estamos investindo mais em aeroportos, enquanto a Europa já saiu do aeroporto e está indo para os trens, está reduzindo a velocidade.
É difícil saber onde vai se gerar uma ruptura sistêmica e quais as conexões intersistêmicas dessas rupturas. A atitude é a da chamada precaução: tudo o que gera uma sociedade mais informada é legal, tudo o que articula, organiza a sociedade e lhe dá instrumentos de controle é bom, tudo que tira as patas das corporações de dentro do governo é bom. O que conscientiza, o que gera sistemas educacionais, o que gera um sistema aberto de acesso ao conhecimento, reduz patentes e copyright – são coisas que efetivamente podem funcionar, melhoram a resiliência do conjunto.
(Outras Palavras)

A população da China em 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

Publicado em novembro 23, 2012 por

 população da China em 2100

[EcoDebate] A China tem a maior população nacional entre todos os países do mundo, desde o início dos registros históricos das civilizações. O “Império do Meio” foi também a maior economia do mundo até o século XVIII. Agora, no século XXI, a China volta, em um patamar mais elevado, a disputar a hegemonia econômica mundial.

A população da China era de 550,8 milhões de habitantes em 1950 e chegou a 1,34 bilhão em 2010. Mas não deve ultrapassar 1,4 bilhão de habitantes e, provavelmente, será ultrapassada pela Índia a partir do ano 2025. A divisão de população da ONU estima, para o ano de 2050, uma população de quase 1,5 bilhão de habitantes na hipótese alta, de 1,29 bilhão na hipótese média e de 1,13 bilhão na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 1,59 bilhões de habitantes, na alta, de 941 milhões, na média, e somente 506 milhões na hipótese baixa.

Ou seja, a população da China pode variar entre 506 milhões e 1,59 bilhão de habitantes em 2100, dependendo fundamentalmente do comportamento das taxas de fecundidade e um pouco menos da migração. No caso da hipótese baixa, a China pode chegar em 2100 com uma população menor do que a que tinha em 1950.

A China tem uma área de 9.596.960 km2, maior do que a área territorial do Brasil. A densidade demográfica em 2010 era de 140 habitantes por km2, bem superior do que a densidade brasileira de 23 hab/km2, mas bem abaixo da densidade demográfica da Índia que estava em 373 hab/km2 em 2010.
Depois de um longo período de declínio econômico, de invasão estrangeira e de guerra civil que empobreceu o país, o Partido Comunista tomou o poder na China continental em 1º de outubro de 1949, enquanto o partido Kuomintang (KMT), que estava no poder desde a instauração da República, migrou para a ilha de Formosa (Taiwan).

No quinquênio 1950-55 a taxa de fecundidade total (TFT) estava em 6,1 filhos por mulher e caiu para 5,4 filhos por mulher no quinquênio seguinte. Porém, com a desorganização econômica e política da Revolução Cultural a TFT voltou a crescer e ficou em 6 filhos por mulher no quinquênio 1965-70. O timoneiro Mao Tsé-Tung chegou a dar várias declarações favoráveis ao crescimento demográfico e à utilização da população como uma arma do poderio do país.

Porém, o alto crescimento populacional se tornou insustentável. Como dizem os chineses: “Ren tai duo!” (demasiada gente!). No iníco dos anos 70 – ainda na época de Mao Tsé-Tung – o governo adotou uma política para incentivar a a redução do número de nascimentos por meio de três objetivos: a) uma fecundidade menor, b) retardar o nascimento do primeiro filho e c) aumentar o espaçamento entre os nascimentos. Esta política ficou conhecida como: “fecundidade menor, mais tardia e com maior espaçamento entre os filhos” (fewer, later, longer). Com isto, a TFT caiu para 4,8 filhos por mulher em 1970-75 e para 2,9 filhos por mulher em 1975-80.

Mas a despeito da grande queda da fecundidade nos anos 70, o governo comunista adotou a política de controle da natalidade mais draconia já adotada no mundo. A política do filho único, começou em 1979, e a taxa de fecundidade caiu para 2 filhos por mulher em 1990-95 e chegou a 1,6 filhos em 2005-10. O resultado é que a população continuou aumentando apenas porque a estrutura etária era jovem (crescimento pela inércia demográfica), mas o ritmo de incremento tem se desacelerado rapidamente e a população deve começar a diminuir antes de 2030. Segundo a Agencia official Xinhua, o 18o Congresso do PCC, de novembro de 2012, dicutiu um relatório propondo mudanças na política populacional, pois os dirigentes estão preocupados com o rápido processo de envelhecimento do país.

A divisão de população da ONU estima, na hipótese média, que a TFT vai ficar em 1,8 filhos por mulher em 2050 e em 2 filhos em 2100. Na hipótese alta se acrescenta 0,5 filho para cima e na hipótese baixa se reduz 0,5 filho. Ou seja, se a TFT chinesa ficar em torno de 1,5 ou 1,6 filho por mulher nas próximas décadas, a população da China pode seguir a hipótese baixa e ficar com um montante na casa dos 500 milhões de habitantes em 2100.

A redução da fecundidade na china possibilitou uma mudança na estrutura etária gerando um bônus demográfico que foi bem aproveitado e criou as condições para se retirar cerca de 600 milhões de chineses da situação de pobreza extrema. Porém, a política de filho desrespeita os direitos reprodutivos e gerou um grande desequilíbrio na razão de sexo, pois como a população tem preferência por filhos do sexo masculino, exite muito fetocídio feminino (e femicídio), tendo como resultado um superávit de 52 milhões de homens a mais do que mulheres. Na idade de casar, o excesso de homens (ou a falta de mulheres) torna inviável todos encontrarem uma parceira para casamento. Não é raro homens comprarem ou sequestrarem uma esposa, reforçando as desigualdades de gênero no país.

A China tem sido o país que apresentou o maior crescimento econômico da história, com uma taxa anual de variação do PIB em torno de 10% entre 1980 e 2011. A taxa de mortalidade infantil caiu de 122 mortes por mil nascimentos em 1950-55 para 22 por mil em 2005-10 e a esperança de vida subiu de 44,6 anos para 73 anos no mesmo período. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) subiu de 0,4 em 1980 para 0,68 em 2010. Mas a China, que já disputa o título de primeira potencia econômica mundial, ainda tem muito que avançar na área social.

Em termos ambientais os desafios são ainda maiores, pois o país sofre com a desertificação, a poluição dos rios e lagos, a falta de saneamento básico e a poluição do ar nas cidades. Segundo o relatório Planeta Vivo 2012, da WWF, a China possui uma pegada ecológica per capita de 2,13 hectares globais (gha), mas possui uma biocapacidade per capita muito menor, de somente 0,87 gha. Portanto, o déficit ambiental do país era superior a 200%, em 2008.

Ou seja, a pegada ecológica era mais de 3 vezes a biocapacidade do país. A pegada ecológica total da China (2,13 gha per capita vezes 1,359 bilhão de habitantes) é de 2,89 bilhões de hectares globais (gha), enquanto a pegada ecológica total dos Estados Unidos (7,19 gha per capita vezes 305 milhões de habitantes) é de 2,19 bilhões de gha. A China era responsável pela emissão de 2,4 bilhões de toneladas de CO2 em 1990, passou para 8,3 bilhões em 2010 e 8,9 bilhões em 2011, sendo o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

Por isto, a China é atualmente o país que mais impacta o meio ambiente global e tem investido no mercado de commodities e comprado alimentos e matérias-primas de outros países do mundo com maior biocapacidade e com superávits ambientais. Portanto, o país mais populoso do mundo afeta não só o seu próprio meio ambiente, mas tem um impacto negativo no resto do mundo.
O decrescimento da população da China nas próximas décadas vai aliviar um pouco a pressão ambiental, mesmo porque os níveis de poluição tornam impossível manter o crescimento dos últimos anos. Mas o país terá que fazer um esforço muito maior para mudar o padrão de produção e consumo no sentido de fazer a pegada ecológica caber dentro da disponibilidade de sua biocapacidade, respeitando as fronteiras planetárias da China e da Terra.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 23/11/2012

VÉSPERA DE COP: Baixa emissão de carbono é escolha acertada para o desenvolvimento sustentável da China

Baixa emissão de carbono é escolha acertada para o desenvolvimento sustentável da China
2012-11-22 15:14:21 cri
Nas vésperas da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, a ser realizada em Doha, a Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma da China publicou o Relatório Anual sobre Políticas e Ações da China para Lidar com as Mudanças Climáticas. O documento introduz integralmente as principais políticas e medidas adotadas pelo país para diminuir a emissão de carbono e adaptar se às mudanças climáticas. Na coletiva de imprensa realizada no mesmo dia, o vice-diretor da Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Reforma da China, Xie Zhenhua, assinalou que o país vai se esforçar para controlar a emissão de gases de estufa e que a exigência no sentido de o país acabar totalmente com as emissões não é justa ou razoável.
O desenvolvimento verde com baixa emissão de carbono é a condição para conseguir um desenvolvimento sustentável, e que se tornou um consenso na comunidade internacional. Xie Zhenhua afirmou na coletiva que neste respeito, não há grande diferença entre a China e outros países desenvolvidos. O desenvolvimento verde, o investimento na reciclagem, e baixa emissão de carbono, é uma seleção inevitável da China no conceito de desenvolvimento científico e sustentável.
"A China tem uma grande população e é um país relativamente pobre em recursos. Os recursos per capita da China, que apóia o desenvolvimento econômico chinês, é menor do que a metade da cifra mundial. Atualmente as questões sobre os recursos, energia e meio ambiente já limitam o desenvolvimento do país. Não temos outras escolhas além do desenvolvimento verde, apostar na reciclagem e baixa emissão de carbono, e que pode elevar à eficiência na utilização de recursos e energia. Para realizar o objetivo de construção de uma sociedade moderadamente confortável e desenvolvimento sustentável."
Atualmente a emissão total de dióxido de carbono na China ainda é muito alta. Xie Zhenhua recordou que mesmo com um grande desafio pela frente, a emissão será diminuída com os esforços de todo o país.
"De uma forma geral, a emissão de carbono dos países desenvolvidos revela uma tendência de diminuição, quando o seu Produto Interno Bruto per capita varia entre US$ 40 e 50 mil. Atualmente a cifra da China é somente US$ 5 mil. A emissão da China é alta devido à sua grande população. Claro que não vamos seguir o caminho dos países desenvolvidos, onde a emissão só diminui quando o PIB per capita atinge os US$ 50 mil. Vamos avançar no caminho da modernização socialista com características chinesas."
Um alto oficial chinês assinalou ainda que a questão prioritária da Conferência em Doha é refletir na "responsabilidade comum mas diferenciada". Os países desenvolvidos devem realizar uma diminuição significativa das emissões. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento devem adotar medidas positivas para lidar com as mudanças climáticas, com a premissa do apoio financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos. A China já assumiu o compromisso e está a tomar medidas sem o apoio financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos.
"Prometemos diminuir entre 40% e 45% a emissão de carbono até 2020, em comparação com a cifra de 2005. Durante os cinco anos passados, já conseguimos diminuir 20% e tentaremos ainda diminuir 17% nos próximos cinco anos."
Acerca da perspectiva da Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas em Doha, Xie disse:
"Espero que o resultado da negociação seja adequado ou aceitável para todos os países. A China sempre tem uma atitude positiva e aberta. Estamos dispostos a participar da negociação sobre os objetivos para depois de 2020, quando concluirmos as negociações sobre as metas para antes de 2020."
Xie Zhenhua concluiu que com uma atitude positiva e construtiva, a China vai promover o processo de lidar com as mudanças climáticas em conjunto com outros países.
Tradução: Xia Ren
Revisão: João Pimenta

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