Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

O conto de duas COPs

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A CoP18 está sendo chamada de "a conferência da transição". Não se engane: por trás de uma capa de normalidade burocrática existe muito a ser decidido. E com urgência!
 
A UNFCCC não só transmite várias sesssões e coletivas de imprensa ao vivo, como mantém os vídeos para quem quiser conferir o que foi dito. É a prova documental da esquizofrenia que reina no Centro Nacional de Convenções do Qatar. De um lado, temos as presidências da UNFCCC, da CoP e os países desenvolvidos destacando os avanços alcançados ao longo do processo de negociações, notadamente a perspectiva de um segundo período de comprometimento do Protocolo de Quioto e a Plataforma de Durban, que unifica as negociações, juntando países desenvolvidos e em desenvolvimento em um mesmo camimho. Por outro lado, temos justamente os países em desenvolvimento, em sua multiplicidade de grupos de negociação - G77, SICA, BASIC, LMG, AOSIS, LDC, etc. - e as organizações não governamentais apontando alguns "senões" ao retrato oficlal dos trabalhos.
 
O primeiro ponto que destacamos é com relação ao próprio Protocolo de Quioto. Pois embora importante, trata-se de um mecanismo com alcance e ambições aquém do que precisamos. A finalização do LCA, que é uma outra suposta vitória, deveria ter acontecido na fatídica CoP15, em Copenhague. Estamos comemorando um atraso de três anos em um mundo com emissões crescentes e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. E ao fechamento lacônico destes dois caminhos de negociação acena-se com um novo trilho de negociações que não deixou claro pontos básicos, como a questão financeira. Não é de se estranhar, portanto, que este tópico tenha sido citado por todos os grupos que se manifestaram na plenária de abertura - incluindo um forte discurso da União Européia, defendendo maior ambição e comprometimento, e dos pequenos países insulares (AOSIS), colocando em xeque a confiabilidade do processo, que está levando à assinatura de um contrato em branco: sem recursos claros de agora até 2020, quando começa a valer o acordo gerado pela plataforma de Durban, e sem qualquer garantia do que acontecerá de 2020 em diante. Afinal, se nem o fundo verde, anunciado em 2009, está operacional por falta de recursos, que certeza há do que sequer foi negociado?
 
Some-se a isso o fato básico de que as metas de redução prometidas até o momento são insuficientes para manter o aumento global de temperatura abaixo dos 2 graus centígrados e você entenderá porque, ao contrário de outras CoPs, os aplausos na cerimônia de abertura foram tão mornos, quase protocolares. A exceção foi o momento em que Christiana Figueres, presidente ds UNFCCC, declarou que espera que os trabalhos se encerrem na sexta, 7 de dezembro - ou seja, dentro do tempo regulamentar. O foco na burocracia do processo, as declarações esquivas para imprensa e o clima de "CoP de transição" tentam esconder, embaixo de um manto de suposta normalidade, que continuamos aquém do que precisamos - e, esquizofrenicamente, falando uma coisa e fazendo outra.
 
O engajamento da sociedade é crítico para mudar este quadro: escreva para o congressista que você elegeu, manifeste-se na seção de cartas do jornal que você lê, tuite, divulgue sua indignação pelo Facebook. Na cerimônia de abertura, a sociedade teve meros 30 segundos para se manifestar (*). Isso mesmo: 30 segundos. Por isso, é muito importante que você nos ajude ocupando os espaços democráticos da opinião pública. De uma forma ou outra, precisamos lembrar quem está negociando aqui que, no fim das contas, é de vidas humanas - é de gente! - que estamos falando.
 
(*) esta é a íntegra do discurso do representante das ONGs ambientalistas: "Nos foram concedidos 30 segundos para expressar a visão da CAN, que congrega mais de 700 ONGs de todo o mundo. É impossível dizer algo significativo sobre o mais importante desafio enfrentado pela humanidade em 30 segundos. Então somos forçados a nos limitar, nesta intvenção, a registrar nosso protesto contra a exclusão das vozes da sociedade civil deste processo vital."

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