Publicado em abril 6, 2012 por HCApesar do volume de empréstimos desembolsados para práticas sustentáveis no campo ter dobrado na safra agrícola 2011/2012, os níveis de acesso às chamadas linhas verdes ainda são irrisórios. A conclusão é do estudo Financiamento Agroambiental, lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que aponta gargalos na operacionalização desse incentivo econômico, a partir de entrevistas com 87 produtores e três agentes financeiros, desde 2010.
De acordo com a engenheira agrônoma Léa Vaz Cardoso, assessora do ISA, o financiamento impõe desafios tecnológicos ao produtor brasileiro. O carro-chefe dessas linhas de crédito é o Programa para a Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (ABC), lançado em 2010, que propõe modelos mistos de produção.
“As linhas financiam tecnologias um pouco mais complexas que as tradicionais, são sistemas diversificados. Quando você compara uma lavoura de soja em monocultivo, o pacote tecnológico é completamente conhecido. Quando coloca um sistema integrado como lavoura-pecuária-floresta, você passa a ter três produtos numa mesma área, com diferentes prazos e ciclos”, disse.
Um outro ponto, segundo a agrônoma, é que os agricultores não conhecem essas linhas diferenciadas. “O produtor até pode ter intenção de, por exemplo, recuperar Áreas de Proteção Permanente (APP), mas ainda não faz por questões financeiras. E ainda tem a indefinição de decisões sobre o novo Código Florestal e a burocracia ambiental, que assustam esse produtor”, disse a assessora.
A solução, na opinião de Léa Vaz Cardoso, está em investimentos em capacitação e na divulgação e promoção de tecnologias. A agrônoma ainda defende que os benefícios “verdes” sejam ampliados dentro de linhas de crédito tradicionais, incluindo uma espécie de “reconhecimento e premiação” aos agricultores que conservam ou recuperam APPs, por exemplo.“O agricultor incorre em um custo ao preservar essas áreas.
A gente está com uma legislação que está preste a mudar, mas o comando-controle sozinho não é suficiente. O instrumento econômico é complementar à legislação. E não há mal algum, na nossa visão, ajudar o agente econômico a cumprir a lei”, disse Léa Cardoso.
Ainda faltam três meses para o fim do ano agrícola (2011/2012), mas o Banco do Brasil já contabiliza R$ 430 milhões desembolsados. Em toda a safra anterior, o banco desembolsou pouco mais de R$ 230 milhões. A agrônoma do ISA considera que o incremento é resultado de uma ação maior do agente financeiro e do governo, mas alerta que o valor “ainda é marginal em relação aos outros créditos. Estamos falando em quase R$ 500 milhões para linhas sustentáveis, sendo que já foram emprestados mais de R$ 70 bilhões para outras práticas, ou seja, menos de 1% na conta”.
O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Clênio Severio Teribele, não acredita na insegurança dos produtores brasileiros. “Basta verificar o crescimento da produtividade no Brasil, que a gente atribui a competência dos nossos agropecuaristas”, disse. Mas o executivo do banco admite o desconhecimento do crédito e a falta de capacitação para a tomada do financiamento.
“O que a gente percebe é que o mercado ainda não conhece essas linhas. Temos dificuldade na obtenção de bons projetos. A assistência técnica não chega a todos os locais e precisamos que chegue”, disse Teribele, acresentando que o banco está investindo em uma rede de parcerias com cooperativas, agrônomos e técnicos, para o treinamento para elaboração de projetos. “Temos todos os motivos para acreditar no bom desempenho dessas linhas”, disse.
Reportagem de Carolina Gonçalves, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 09/04/2012
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Pesquisa da Esalq mostra que sustentabilidade da agricultura depende da mata ciliar
Publicado em julho 11, 2011 por HC
Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa demonstra a influência da largura e da conservação da mata ciliar em torno de rios e nascentes na qualidade do solo e da água para cultivos agrícolas. O estudo de Renata Santos Momoli aponta que águas contaminadas por agrotóxicos, sedimentos e esgoto se tornam inadequadas para o uso humano e nascentes soterradas reduzem o volume dos rios e comprometem a oferta de água. Florestas degradadas tornam-se ambientes inóspitos para diversos animais importantes na cadeia alimentar e expõem o solo às intempéries do clima, favorecendo a erosão. Os solos erodidos perdem sua fertilidade natural e modificam o equilíbrio dos ecossistemas.
A pesquisadora estudou a área do Cerrado brasileiro, por ser considerado uma região de expansão agrícola onde, teoricamente, os níveis de erosão são baixos e os solos são aptos à agricultura. “Porém, por tratar-se de uma região que sofre incidências de chuvas muito fortes e solos expostos pelo desmatamento, observou-se a perda da camada superficial e mais fértil do solo, abertura de voçorocas efêmeras e permanentes, deposição de sedimentos nas áreas mais baixas do relevo e assoreamento das nascentes pelo processo erosivo”, destaca. O estudo da dinâmica da sedimentação numa mata ciliar da região sul do estado de Goiás resultou numa interpretação mais integrada do ambiente para a proposição das dimensões que a mata ciliar deve possuir para promover a interceptação dos sedimentos derivados da erosão das áreas à montante.
Registros de 18 meses de observações revelaram que a maior parte da sedimentação ocorreu na borda da mata ciliar, sendo que em alguns pontos houve um aumento de mais de 35 cm no nível do solo, decorrente da deposição de sedimentos potencializada pela presença de grandes sulcos de erosão na área com cultivo agrícola. Além do mais, no interior da mata ciliar, alguns locais também apresentaram níveis acima de 30 cm de sedimentação, nesse caso, a sedimentação foi favorecida pela presença de árvores com raízes tabulares, as quais “barram” o fluxo de sedimentos, retendo ali, grande quantidade de material sólido transportado na enxurrada. Utilizando as árvores da mata ciliar como indicador da espessura do depósito de sedimentos ao longo do tempo foi possível a constatação de que grande parte de deposição de sedimentos (ao redor de 30 cm de altura) ocorreu nos últimos dez anos.
O fato confirma a grande proporção do impacto negativo da ocupação agrícola em áreas sensíveis como as zonas ripárias. Já em projetos de restauração de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) de mata ciliar deve ser considerado o uso de espécies arbóreas com raízes tabulares, pois as mesmas potencializam o efeito de filtro da floresta. O estudo ainda sinaliza que é interessante incluir no reflorestamento espécies que possuam anéis de crescimento bem demarcados pois podem, futuramente, servir como indicadores de alterações ambientais como, por exemplo, a datação de processos de erosão/sedimentação com resolução anual. “Esse estudo comprovou que grande parte do sedimento que se deposita na borda da mata ciliar recobre as diversas nascentes que ali afloram. Esse processo de assoreamento propicia o secamento das nascentes e a redução na produção de água”, explica a pesquisadora.
Conservação
Um conjunto de práticas de manejo conservacionistas (PMC), que visam à redução dos impactos causados pela erosão, são sugeridos no estudo. As PMCs englobam a cobertura do solo (por meio da palhada de plantio direto ou adubos verdes), o plantio em nível, a construção de terraços de infiltração e drenagem, o plantio de faixas ou cordões de vegetação para reduzir a velocidade da enxurrada e a preservação e recuperação da mata ciliar – APPs de beira de rios e ao redor de nascentes.
De acordo com a doutoranda, deve haver um esforço conjunto entre produtores rurais, pesquisadores e políticos no intuito de manter o equilíbrio do ecossistema para promover a perpetuidade da produtividade agrícola. “A proposta de redução da largura das matas ciliares (APPs de beira de rio e ao redor das nascentes) implica no comprometimento da longevidade do sistema agrícola no país”, alerta. ”A manutenção da floresta ao redor de rios e nascentes promove o aumento na qualidade de recursos naturais, como água e solo. A proteção dada pela copa das árvores, por exemplo, reduz o impacto da chuva sobre o solo, reduzindo a erosão. A presença de caules e raízes de árvores favorece a retenção da maior parte dos sedimentos na borda da mata, protegendo as nascentes que se encontram no interior da mata ciliar”.
A pesquisa conclui que é essencial que seja mantida a legislação sobre largura da mata ciliar até que estudos mais detalhados sobre a interpretação integrada do ambiente possam ser produzidos. A aprovação da redução da largura das APPs provocará o acúmulo de sedimentos sobre as nascentes e permitirá o fluxo livre da enxurrada até o leito dos rios. Como conseqüência desse processo, aumenta a carga de sólidos em suspensão e aumenta a sedimentação. A sedimentação tem como conseqüência o assoreamento dos rios e das nascentes.
O assoreamento favorece a ocorrência de inundações severas nas margens dos rios, ou seja, a redução da largura da mata ciliar resultará em impactos negativos cada vez mais intensos, maiores inundações, maiores níveis de sedimentação soterrando nascentes. Por isso, reduzir a largura das APPs de beira de rios e nascentes resultará no comprometimento da qualidade do solo, da água e dos ecossistemas. A pesquisa de Renata é descrita em tese de Doutorado apresentada no Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, sob orientação do professor Miguel Cooper, do Departamento de Ciência do Solo (LSO), da Esalq.
Alicia Nascimento Aguiar, da Assessoria de Comunicação da Esalq – Agência USP de Notícias
Matéria indicada por Valdir Lamim-Guedes para o EcoDebate, 11/07/2011
Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa demonstra a influência da largura e da conservação da mata ciliar em torno de rios e nascentes na qualidade do solo e da água para cultivos agrícolas. O estudo de Renata Santos Momoli aponta que águas contaminadas por agrotóxicos, sedimentos e esgoto se tornam inadequadas para o uso humano e nascentes soterradas reduzem o volume dos rios e comprometem a oferta de água. Florestas degradadas tornam-se ambientes inóspitos para diversos animais importantes na cadeia alimentar e expõem o solo às intempéries do clima, favorecendo a erosão. Os solos erodidos perdem sua fertilidade natural e modificam o equilíbrio dos ecossistemas.
A pesquisadora estudou a área do Cerrado brasileiro, por ser considerado uma região de expansão agrícola onde, teoricamente, os níveis de erosão são baixos e os solos são aptos à agricultura. “Porém, por tratar-se de uma região que sofre incidências de chuvas muito fortes e solos expostos pelo desmatamento, observou-se a perda da camada superficial e mais fértil do solo, abertura de voçorocas efêmeras e permanentes, deposição de sedimentos nas áreas mais baixas do relevo e assoreamento das nascentes pelo processo erosivo”, destaca. O estudo da dinâmica da sedimentação numa mata ciliar da região sul do estado de Goiás resultou numa interpretação mais integrada do ambiente para a proposição das dimensões que a mata ciliar deve possuir para promover a interceptação dos sedimentos derivados da erosão das áreas à montante.
Registros de 18 meses de observações revelaram que a maior parte da sedimentação ocorreu na borda da mata ciliar, sendo que em alguns pontos houve um aumento de mais de 35 cm no nível do solo, decorrente da deposição de sedimentos potencializada pela presença de grandes sulcos de erosão na área com cultivo agrícola. Além do mais, no interior da mata ciliar, alguns locais também apresentaram níveis acima de 30 cm de sedimentação, nesse caso, a sedimentação foi favorecida pela presença de árvores com raízes tabulares, as quais “barram” o fluxo de sedimentos, retendo ali, grande quantidade de material sólido transportado na enxurrada. Utilizando as árvores da mata ciliar como indicador da espessura do depósito de sedimentos ao longo do tempo foi possível a constatação de que grande parte de deposição de sedimentos (ao redor de 30 cm de altura) ocorreu nos últimos dez anos.
O fato confirma a grande proporção do impacto negativo da ocupação agrícola em áreas sensíveis como as zonas ripárias. Já em projetos de restauração de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) de mata ciliar deve ser considerado o uso de espécies arbóreas com raízes tabulares, pois as mesmas potencializam o efeito de filtro da floresta. O estudo ainda sinaliza que é interessante incluir no reflorestamento espécies que possuam anéis de crescimento bem demarcados pois podem, futuramente, servir como indicadores de alterações ambientais como, por exemplo, a datação de processos de erosão/sedimentação com resolução anual. “Esse estudo comprovou que grande parte do sedimento que se deposita na borda da mata ciliar recobre as diversas nascentes que ali afloram. Esse processo de assoreamento propicia o secamento das nascentes e a redução na produção de água”, explica a pesquisadora.
Conservação
Um conjunto de práticas de manejo conservacionistas (PMC), que visam à redução dos impactos causados pela erosão, são sugeridos no estudo. As PMCs englobam a cobertura do solo (por meio da palhada de plantio direto ou adubos verdes), o plantio em nível, a construção de terraços de infiltração e drenagem, o plantio de faixas ou cordões de vegetação para reduzir a velocidade da enxurrada e a preservação e recuperação da mata ciliar – APPs de beira de rios e ao redor de nascentes.
De acordo com a doutoranda, deve haver um esforço conjunto entre produtores rurais, pesquisadores e políticos no intuito de manter o equilíbrio do ecossistema para promover a perpetuidade da produtividade agrícola. “A proposta de redução da largura das matas ciliares (APPs de beira de rio e ao redor das nascentes) implica no comprometimento da longevidade do sistema agrícola no país”, alerta. ”A manutenção da floresta ao redor de rios e nascentes promove o aumento na qualidade de recursos naturais, como água e solo. A proteção dada pela copa das árvores, por exemplo, reduz o impacto da chuva sobre o solo, reduzindo a erosão. A presença de caules e raízes de árvores favorece a retenção da maior parte dos sedimentos na borda da mata, protegendo as nascentes que se encontram no interior da mata ciliar”.
A pesquisa conclui que é essencial que seja mantida a legislação sobre largura da mata ciliar até que estudos mais detalhados sobre a interpretação integrada do ambiente possam ser produzidos. A aprovação da redução da largura das APPs provocará o acúmulo de sedimentos sobre as nascentes e permitirá o fluxo livre da enxurrada até o leito dos rios. Como conseqüência desse processo, aumenta a carga de sólidos em suspensão e aumenta a sedimentação. A sedimentação tem como conseqüência o assoreamento dos rios e das nascentes.
O assoreamento favorece a ocorrência de inundações severas nas margens dos rios, ou seja, a redução da largura da mata ciliar resultará em impactos negativos cada vez mais intensos, maiores inundações, maiores níveis de sedimentação soterrando nascentes. Por isso, reduzir a largura das APPs de beira de rios e nascentes resultará no comprometimento da qualidade do solo, da água e dos ecossistemas. A pesquisa de Renata é descrita em tese de Doutorado apresentada no Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, sob orientação do professor Miguel Cooper, do Departamento de Ciência do Solo (LSO), da Esalq.
Alicia Nascimento Aguiar, da Assessoria de Comunicação da Esalq – Agência USP de Notícias
Matéria indicada por Valdir Lamim-Guedes para o EcoDebate, 11/07/2011
A falsa dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção agropecuária, artigo de Luiz A Martinelli , Carlos A Joly , Carlos A Nobre , Gerd Sparovek
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Unknown
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9/13/2011 04:41:00 AM
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agricultura,
conservação
Publicado em setembro 13, 2011 por HC
Este artigo mostra através da análise de dados censitários sobre uso da terra no Brasil que a possível dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção de alimentos na realidade não existe. Demonstramos que o Brasil já tem uma área desprovida de vegetação natural suficientemente grande para acomodar a expansão da produção agrícola. Demonstramos também que a maior expansão se dá nas áreas ocupadas pelas chamadas culturas de exportação ‘soja e cana-de-açúcar’ e não propriamente nas áreas ocupadas por arroz, feijão e mandioca, que são consumidos de forma direta pelo mercado nacional.
Pelo contrário, a área colhida de arroz e feijão tem inclusive decrescido nas últimas décadas, enquanto a área colhida de mandioca encontra-se praticamente constante há quadro décadas. Os maiores entraves para a produção de alimentos no Brasil não se devem a restrições supostamente impostas pelo Código Florestal, mas, sim, à enorme desigualdade na distribuição de terras, a restrição de crédito agrícola ao agricultor que produz alimentos de consumo direto, a falta de assistência técnica que o ajude a aumentar a sua produtividade, a falta de investimentos em infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção agrícola, a restrições de financiamento e priorização do desenvolvimento e tecnologia que permita um aumento expressivo na lotação de nossas pastagens.
Luiz A Martinelli
Universidade de São Paulo – USP
Centro de Energia Nuclear na Agricultura ? CENA, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000, Piracicaba, SP, Brasil
email: martinelli@cena.usp.br
Carlos A Joly
Universidade Estadual de Campinas – IB – UNICAMP
Departamento de Biologia Vegetal, Barão Geraldo, 13081-970 – Campinas, SP ? Brasil
Carlos A Nobre
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CST). INPE – CSTAv. dos Astronautas, nº 1758, Jardim da Granja, 12227-010 – São Jose dos Campos, SP ? Brasil
Gerd Sparovek
Departamento de Ciência do Solo . Escola Superior de Agricultura ?Luiz de Queiróz?
Avenida Pádua Dias 11, 13416-000 ? Piracicaba, SP ? Brasil
Martinelli, L.A.; Joly, C.A.; Nobre, C.A. e Sparovek, G. A falsa dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção agropecuária. Biota Neotrop . Oct/Dec 2010 vol. 10, no. 4. http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/abstract?point-of-view+bn00110042010 ISSN 1676-0603
leia o estudo na íntegra aqui
Este artigo mostra através da análise de dados censitários sobre uso da terra no Brasil que a possível dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção de alimentos na realidade não existe. Demonstramos que o Brasil já tem uma área desprovida de vegetação natural suficientemente grande para acomodar a expansão da produção agrícola. Demonstramos também que a maior expansão se dá nas áreas ocupadas pelas chamadas culturas de exportação ‘soja e cana-de-açúcar’ e não propriamente nas áreas ocupadas por arroz, feijão e mandioca, que são consumidos de forma direta pelo mercado nacional.
Pelo contrário, a área colhida de arroz e feijão tem inclusive decrescido nas últimas décadas, enquanto a área colhida de mandioca encontra-se praticamente constante há quadro décadas. Os maiores entraves para a produção de alimentos no Brasil não se devem a restrições supostamente impostas pelo Código Florestal, mas, sim, à enorme desigualdade na distribuição de terras, a restrição de crédito agrícola ao agricultor que produz alimentos de consumo direto, a falta de assistência técnica que o ajude a aumentar a sua produtividade, a falta de investimentos em infraestrutura para armazenamento e escoamento da produção agrícola, a restrições de financiamento e priorização do desenvolvimento e tecnologia que permita um aumento expressivo na lotação de nossas pastagens.
Luiz A Martinelli
Universidade de São Paulo – USP
Centro de Energia Nuclear na Agricultura ? CENA, Av. Centenário, 303, CEP 13416-000, Piracicaba, SP, Brasil
email: martinelli@cena.usp.br
Carlos A Joly
Universidade Estadual de Campinas – IB – UNICAMP
Departamento de Biologia Vegetal, Barão Geraldo, 13081-970 – Campinas, SP ? Brasil
Carlos A Nobre
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CST). INPE – CSTAv. dos Astronautas, nº 1758, Jardim da Granja, 12227-010 – São Jose dos Campos, SP ? Brasil
Gerd Sparovek
Departamento de Ciência do Solo . Escola Superior de Agricultura ?Luiz de Queiróz?
Avenida Pádua Dias 11, 13416-000 ? Piracicaba, SP ? Brasil
Martinelli, L.A.; Joly, C.A.; Nobre, C.A. e Sparovek, G. A falsa dicotomia entre a preservação da vegetação natural e a produção agropecuária. Biota Neotrop . Oct/Dec 2010 vol. 10, no. 4. http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/abstract?point-of-view+bn00110042010 ISSN 1676-0603
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Projeto aposta no cultivo da seringueira como fonte de renda e sustentabilidade
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Postado por
Unknown
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8/23/2011 09:35:00 AM
Marcadores:
agricultura,
iteb,
plantio da seringueira
Publicado em agosto 23, 2011 por HC
Pneus, preservativos, acessórios e calçados. Estes produtos, tão constantes na vida moderna, têm um material em comum na composição: a borracha natural. Mas ao contrário do que pode sugerir o senso comum, a produção da borracha não se restringe mais ao extrativismo na Amazônia, responsável pelo período áureo da região do século XIX até as primeiras décadas do século passado. Hoje, a hevicultura tem como base um planejamento racional e está mais distribuída pelo sudeste e centro-oeste do País. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, apenas os estados de São Paulo, Mato Grosso e Bahia são responsáveis por mais de 80% da produção nacional de borracha.
No Rio de Janeiro, um projeto apoiado pelo edital de Apoio à Inovação Tecnológica, da FAPERJ, segue esse movimento. Empreendedores do Instituto Tecnológico da Borracha apostam no cultivo da seringueira (Heveas brasiliensis) como fonte de renda e sustentabilidade para o município fluminense de Quatis, situado na histórica região do Vale do Paraíba. Segundo o diretor do instituto e coordenador da iniciativa, o economista Marcello Tournillon Ramos, o projeto é uma oportunidade para ajudar a disseminar o cultivo de borracha no estado, que ainda é inexpressivo. “O objetivo é criar uma infraestrutura para o cultivo da seringueira fluminense, para que o Rio de Janeiro participe mais ativamente da produção nacional. Contrariando o que muitos pensam, o clima e o solo fluminenses, com destaque para o Vale do Paraíba, são extremamente propícios a essa cultura”, afirma.
Renda e sustentabilidade
O projeto do Instituto Tecnológico da Borracha (Iteb), que tem entre seus parceiros a ONG Educa Mata Atlântica, propõe a introdução da seringueira como negócio socioambiental de longo prazo e reabilitação de áreas degradadas – em Quatis, inicialmente, para depois expandir a iniciativa para outras localidades do Vale do Paraíba. “A cultura da seringueira pode representar uma fonte de renda para os pequenos proprietários rurais da região. Ela pode gerar empregos diretos e indiretos e criar condições favoráveis para a fixação do homem no campo”, destaca Ramos. “Ao mesmo tempo, ela atende a legislação ambiental e pode ser uma importante aliada na preservação do meio ambiente”, completa.
Com esse propósito, criou-se um polo de desenvolvimento da cultura em uma propriedade rural situada às margens da estrada RJ -159, que liga Quatis ao distrito de Falcão. Lá, os pequenos produtores interessados recebem assistência técnica e formação adequada para cultivar a seringueira dentro dos parâmetros de sustentabilidade. “Os agricultores aprendem todo o processo de produção, desde a criação das mudas em viveiro, com enxerto clonal, passando pelo plantio, até a extração da borracha natural. Além da prática do manejo, eles recebem conhecimentos teóricos sobre o setor em geral e sobre os critérios de preservação ambiental”, diz Ramos.
O diretor do Instituto Tecnológico da Borracha recomenda aos agricultores que dividam seus terrenos em dois modelos de plantação: o modelo do seringal solteiro, ou seja, uma plantação só de seringueiras, e o modelo consorciado, que mistura seringueiras a outras espécies, como a pupunheira. “A seringueira demora seis anos para começar a produzir. Por isso, o modelo consorciado é interessante, já que a pupunheira dá frutos em dois anos, o que garante renda durante esse período de carência”, explica. O modelo consorciado também é ecologicamente correto. “O plantio de espécies diversificadas ajuda a recuperar com mais rapidez os solos degradados”, acrescenta Ramos, sugerindo que a atividade pode ser explorada em Áreas de Preservação Permanente (APP), como margens de rios e topos de morros.
Depois da atual etapa de capacitação dos agricultores familiares e pequenos produtores locais, o próximo passo será disponibilizar o plantio de 10 mil mudas de seringueiras, distribuídas em diversas propriedades da região. Ao todo, as árvores vão ocupar 20 hectares. Esse número terá um impacto positivo para o meio ambiente. A floresta de seringueira propicia a proteção do solo contra erosão e a proteção de nascentes e mananciais. Outro aspecto importante é que a Heveas brasiliensis é uma das espécies cultivadas com maior potencial de fixação dos gases causadores do efeito estufa, processo chamado de “sequestro de carbono”. “A estimativa é que os 10 mil pés de seringueira, em 15 anos, ‘sequestrem’ cinco mil toneladas de carbono equivalente (CO2e)”, ressalta Ramos.
Países asiáticos como Tailândia, Indonésia, Malásia, China e Vietnã são os mais importantes produtores mundiais de borracha natural. “Atualmente, o Brasil ocupa o nono lugar na produção mundial e precisa importar o produto para abastecer o mercado interno”, diz Ramos. A heveicultura gera receita e impostos com a venda da borracha natural, tanto in natura (látex virgem ou coágulo) quanto beneficiada – com produtos como o Granulado Escuro Brasileiro, conhecido como GEB-1. “Temos que suprir uma lacuna na produção interna de borracha do estado do Rio de Janeiro, que tem instalações da maior pneumática do mundo, a Michelin”, conclui. Também participam do projeto a educadora ambiental Vânia Velloso e a diretora do Educa Mata Atlântica, Rita de Souza.
Por Débora Motta, da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Considerada pelos países a principal causa do desmatamento, expansão agropecuária está fora das estratégias de REDD+
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Unknown
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6/09/2011 04:18:00 AM
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pecuária,
redd+,
redução do desmatamento
Publicado em junho 9, 2011 por HC Ecodebate
Pesquisa divulgada ontem (8/6) em Bonn alerta para a necessidade de incluir a expansão agropecuária nos debates sobre o mecanismo de REDD+ em discussão na ONU
A maioria dos países participantes em um esforço global para reduzir as emissões com efeito de estufa causados pela destruição das florestas cita a agricultura como a principal causa do desmatamento. Poucos, porém, fornecem detalhes sobre como abordar a conexão entre a agricultura e a silvicultura, de acordo com uma nova análise investigando o efeito das alterações climáticas na segurança alimentar.
Além disso, muitos desses países perseguem políticas públicas relacionadas à produção de alimentos, biocombustíveis e outros produtos destinados à comercialização e que têm o potencial de intensificar as pressões relacionadas à agricultura em áreas de floresta, oferecendo mais evidências da conexão entre a política agrícola e a política climática dentro do mecanismo do REDD+.
Atualmente, o desmatamento responde por cerca de 12 a 18 das emissões globais de gases de efeito estufa. E a maioria dessa perda ocorre quando as florestas são derrubadas para dar lugar à produção de alimentos e biocombustíveis.
“Não há como os governos terem estratégicas de REDD+ confiáveis a menos que sua prioridade seja direcionada à agricultura e segurança alimentar – Estes são os principais vetores da destruição florestal” disse Bruce Campbell, do Programa sobre Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar (CCAFS, na sigla em inglês). “A necessidade de se fazer essa conexão é urgente porque as demandas comerciais, as questões de segurança alimentar e os mandatos dos governos na direção da expansão agrícola só irão aumentar”.
Esses são alguns apontamentos divulgados em Bonn nesta semana durante as negociações técnicas organizados pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e que fazem parte de uma análise das propostas de REDD+ apresentadas por 20 países da África, Ásia e América Latina para o Carbon Partnership Facility, do Banco Mundial (FCPF). O FCPF tem US$ 345 milhões para os países em desenvolvimento se prepararem no futuro onde pagamentos financeiros significativos poderão ser ligados à preservação do carbono florestal. A pesquisa do CCAFS foi feita em parceria com a consultoria Lexema com sede em Vancouver, Canadá.
Agricultura e desmatamento
Dezesseis dos 20 países estudados citam a agricultura como o principal vetor de desmatamento e degradação florestal. Os outros quatro citaram mineração e exploração madeireira como o principal fator, mas indicaram que a agricultura estava entre os três primeiros. O estudo também descobriu países que têm como metas a produção de alimentos e de biocombustíveis aparentemente estão em conflito direto com suas prioridades de preservação florestal de REDD+.
Por exemplo, enquanto a Argentina tomou medidas exemplares para proteger suas florestas – incluindo um imposto sobre as exportações agrícolas para combater o desmatamento –, em 2006 foi criada uma lei naquele país que possibilita a utilização de óleos vegetais e gorduras animais para os biocombustíveis, cana-de-açúcar, milho e sorgo para o bioetanol. A Argentina também tem problemas com a forma de limitar a produção industrial de soja – muito utilizada como ração animal em todo o mundo – , que representa 70 por cento do desmatamento no país.
“Enquanto alguns países admitem que o setor agrícola precisa ser abordado em seus planos de REDD+, os todos os demais países são pressionados para definir como que determinações conflitantes de governos e de poderosos interesses econômicos, particularmente no que refere à agricultura industrial em larga escala (produção de óleo de palma ou de soja, por exemplo), serão conciliados com o seus bem-intencionados objetivos de REDD +”, disse Gabrielle Kissinger, autora do estudo.
Todas as propostas prontas, lucrativas atividades industriais e comerciais – muitas vezes ligados às políticas específicas de governo ou comerciais – se mostraram especialmente significativas na relação agricultura e desmatamento. No Vietnã, o cultivo de café, caju, pimentão, arroz, borracha e camarão para exportação está causando uma constante erosão de florestas. Na Costa Rica, o fator chave é que o governo promove as exportações de carne. Enquanto no México, a produção agrícola voltada para exportação, em parte, devido à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), desempenha um papel importante nos 82% do desmatamento causado pela agricultura e pastagens. A Indonésia não fornece detalhes sobre os vetores industriais do desmatamento, mas há evidências consideráveis em outros lugares de que as plantações em larga escala de palma é um fator importante na perda de milhões de hectares de turfeiras ricas em carbono.
Quase todos os países estudados – 15 de 20 – indicaram que estão em andamento esforços para a expansão da produção comercial e agrícola que atenderá os mercados urbanos e de exportação ou para satisfazer a crescente demanda internacional por biocombustíveis.
Vários países, em particular os da África Subsaariana e do Sudeste Asiático, citam os pequenos agricultores como os principais contribuintes para o desmatamento, mas parece existir uma diferente dinâmica com relação a estes objetivos agrícolas. Além disso, pesquisas recentes sugerem que o impacto dos pequenos agricultores nas florestas está diminuindo em relação aos de interesses comerciais.
“Esta claro que para se lidar com a agricultura como uma das causas do desmatamento, precisamos entender o que está gerando a expansão agrícola”, disse Lindiwe Majele Sibanda, da Rede de Pesquisa em Políticas Públicas em Agricultura e Recursos Naturais (Fanrpan). “Os pequenos agricultores precisam ter mais acesso às ferramentas e informações que necessitam para aumentar sua produtividade de forma mais eficaz e sustentável. Isto lhes permitirá gerenciar as responsabilidades complexas que têm para salvaguardar as preciosas áreas florestais e, ao mesmo tempo, assegurar que o desafio global de segurança alimentar continue a ser cumprido.”
Porém a pesquisa indica que a produção crescente de pequenos agricultores será um fator crucial para garantir que teremos comida suficiente para alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões em 2050. A maior parte desse crescimento deve ocorrer nas mesmas regiões da África, Ásia e América Latina, que são prioridades para as iniciativas de REDD+.
Modelo brasileiro
O estudo descobriu que o Brasil pode ser um potencial modelo para a forma de se impulsionar a produção agrícola e ao mesmo tempo, diminuir as taxas de desmatamento nos últimos seis anos. O Brasil se tornou uma potência agrícola global, ao mesmo tempo que usa apenas 6 por cento de suas terras aráveis. Ele tem feito isso, principalmente por meio de fortes compromissos transetoriais, um melhor monitoramento e incentivos financeiros, além de um esforço coordenado de desenvolvimento que enfatiza a qualidade do solo e cultivares de alto rendimento.
Um berço importante dos compromissos federais e estaduais é exemplificado pelos planos de REDD+ no estado do Acre, que engloba todos os solos e tipos de utilização, incluindo uma gama completa de usos agrícolas que com impacto nas florestas do Acre e poderá fornecer um modelo de como integrar estratégias de REDD+ com metas de produção agrícola.
Durante um evento paralelo na reunião de Bonn, realizado pela CCAFS e a FAO, alguns participantes observaram que os desafios do processo de REDD+ são em grande parte devido a uma negligência de longa data dos problemas fundamentais relacionados à segurança alimentar e à governança florestal nos países em desenvolvimento.
“De muitas maneiras, a maior parte da destruição da floresta reflete uma grande batalha sobre a terra, o que irá influenciar a forma como nós podemos produzir alimentos suficientes e biomassa de uma forma equitativa e sustentável”, disse Joachim von Braun, director do Centro de pesquisa para o desenvolvimento (ZEF) em Bonn.
Frances Seymour, diretora-geral do Centro Internacional para Pesquisa Florestal (CIFOR), disse que os estudos de sua instituição em regiões que sofrem uma perda significativa de florestas naturais mostram que mudanças na maneira como os governos apoiam as decisões de uso do solo local podem fazer uma diferença significativa.
“Se os governos estão empenhados em resolver os direitos posse da terra e o acesso aos recursos florestais, facilitando o planejamento justo e transparento de uso da terra, e levando em conta os serviços ambientais, eles podem apoiar a realização dos objetivos da agricultura e REDD +”, disse ela.
Lini Wollenberg, que coordena pesquisas em mitigação no CCAFS salientou que as estratégias REDD+ devem adotar iniciativas que possam tornar a agricultura mais compatível com a proteção da floresta. Isso inclui a ampliação de medidas, como sistemas de certificação ligada à produção agrícola sustentável, que poderia ser um incentivo financeiro para proteger as florestas.
Ela recomenda também que muito mais poderia ser feito para mudar a agricultura para áreas degradadas, mas ainda são capazes de serem produtivas e para promover atividades agrícolas que busquem um aumento no armazenamento de carbono, como os sistemas agroflorestais. “Há muitas maneiras de levar a agricultura para o processo do REDD+. É hora de os países começarem a investir seus fundos de REDD+ nesse objetivo”, disse ela.
* O Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas, Agricultura e Segurança Alimentar (CCAFS) da CGIAR é uma parceria estratégica entre CGIAR e a Parceria da Ciência do Sistema Terra (ESSP). O CCAFS reúne os melhores pesquisadores do mundo em ciências agrícolas, pesquisa, desenvolvimento, ciência do clima e da ciência da Terra para identificar e resolver as mais importantes interações, sinergias e intercâmbios entre as alterações climáticas, agricultura e segurança alimentar. O Centro líder do CGIAR é o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), em Cali, Colômbia. Para obter mais informações, visite www.ccafs.cgiar.org.
** Colaboração de Jaime Gesisky para o EcoDebate, 09/06/2011
Pesquisa divulgada ontem (8/6) em Bonn alerta para a necessidade de incluir a expansão agropecuária nos debates sobre o mecanismo de REDD+ em discussão na ONU
A maioria dos países participantes em um esforço global para reduzir as emissões com efeito de estufa causados pela destruição das florestas cita a agricultura como a principal causa do desmatamento. Poucos, porém, fornecem detalhes sobre como abordar a conexão entre a agricultura e a silvicultura, de acordo com uma nova análise investigando o efeito das alterações climáticas na segurança alimentar.
Além disso, muitos desses países perseguem políticas públicas relacionadas à produção de alimentos, biocombustíveis e outros produtos destinados à comercialização e que têm o potencial de intensificar as pressões relacionadas à agricultura em áreas de floresta, oferecendo mais evidências da conexão entre a política agrícola e a política climática dentro do mecanismo do REDD+.
Atualmente, o desmatamento responde por cerca de 12 a 18 das emissões globais de gases de efeito estufa. E a maioria dessa perda ocorre quando as florestas são derrubadas para dar lugar à produção de alimentos e biocombustíveis.
“Não há como os governos terem estratégicas de REDD+ confiáveis a menos que sua prioridade seja direcionada à agricultura e segurança alimentar – Estes são os principais vetores da destruição florestal” disse Bruce Campbell, do Programa sobre Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar (CCAFS, na sigla em inglês). “A necessidade de se fazer essa conexão é urgente porque as demandas comerciais, as questões de segurança alimentar e os mandatos dos governos na direção da expansão agrícola só irão aumentar”.
Esses são alguns apontamentos divulgados em Bonn nesta semana durante as negociações técnicas organizados pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e que fazem parte de uma análise das propostas de REDD+ apresentadas por 20 países da África, Ásia e América Latina para o Carbon Partnership Facility, do Banco Mundial (FCPF). O FCPF tem US$ 345 milhões para os países em desenvolvimento se prepararem no futuro onde pagamentos financeiros significativos poderão ser ligados à preservação do carbono florestal. A pesquisa do CCAFS foi feita em parceria com a consultoria Lexema com sede em Vancouver, Canadá.
Agricultura e desmatamento
Dezesseis dos 20 países estudados citam a agricultura como o principal vetor de desmatamento e degradação florestal. Os outros quatro citaram mineração e exploração madeireira como o principal fator, mas indicaram que a agricultura estava entre os três primeiros. O estudo também descobriu países que têm como metas a produção de alimentos e de biocombustíveis aparentemente estão em conflito direto com suas prioridades de preservação florestal de REDD+.
Por exemplo, enquanto a Argentina tomou medidas exemplares para proteger suas florestas – incluindo um imposto sobre as exportações agrícolas para combater o desmatamento –, em 2006 foi criada uma lei naquele país que possibilita a utilização de óleos vegetais e gorduras animais para os biocombustíveis, cana-de-açúcar, milho e sorgo para o bioetanol. A Argentina também tem problemas com a forma de limitar a produção industrial de soja – muito utilizada como ração animal em todo o mundo – , que representa 70 por cento do desmatamento no país.
“Enquanto alguns países admitem que o setor agrícola precisa ser abordado em seus planos de REDD+, os todos os demais países são pressionados para definir como que determinações conflitantes de governos e de poderosos interesses econômicos, particularmente no que refere à agricultura industrial em larga escala (produção de óleo de palma ou de soja, por exemplo), serão conciliados com o seus bem-intencionados objetivos de REDD +”, disse Gabrielle Kissinger, autora do estudo.
Todas as propostas prontas, lucrativas atividades industriais e comerciais – muitas vezes ligados às políticas específicas de governo ou comerciais – se mostraram especialmente significativas na relação agricultura e desmatamento. No Vietnã, o cultivo de café, caju, pimentão, arroz, borracha e camarão para exportação está causando uma constante erosão de florestas. Na Costa Rica, o fator chave é que o governo promove as exportações de carne. Enquanto no México, a produção agrícola voltada para exportação, em parte, devido à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), desempenha um papel importante nos 82% do desmatamento causado pela agricultura e pastagens. A Indonésia não fornece detalhes sobre os vetores industriais do desmatamento, mas há evidências consideráveis em outros lugares de que as plantações em larga escala de palma é um fator importante na perda de milhões de hectares de turfeiras ricas em carbono.
Quase todos os países estudados – 15 de 20 – indicaram que estão em andamento esforços para a expansão da produção comercial e agrícola que atenderá os mercados urbanos e de exportação ou para satisfazer a crescente demanda internacional por biocombustíveis.
Vários países, em particular os da África Subsaariana e do Sudeste Asiático, citam os pequenos agricultores como os principais contribuintes para o desmatamento, mas parece existir uma diferente dinâmica com relação a estes objetivos agrícolas. Além disso, pesquisas recentes sugerem que o impacto dos pequenos agricultores nas florestas está diminuindo em relação aos de interesses comerciais.
“Esta claro que para se lidar com a agricultura como uma das causas do desmatamento, precisamos entender o que está gerando a expansão agrícola”, disse Lindiwe Majele Sibanda, da Rede de Pesquisa em Políticas Públicas em Agricultura e Recursos Naturais (Fanrpan). “Os pequenos agricultores precisam ter mais acesso às ferramentas e informações que necessitam para aumentar sua produtividade de forma mais eficaz e sustentável. Isto lhes permitirá gerenciar as responsabilidades complexas que têm para salvaguardar as preciosas áreas florestais e, ao mesmo tempo, assegurar que o desafio global de segurança alimentar continue a ser cumprido.”
Porém a pesquisa indica que a produção crescente de pequenos agricultores será um fator crucial para garantir que teremos comida suficiente para alimentar uma população que deverá atingir 9 bilhões em 2050. A maior parte desse crescimento deve ocorrer nas mesmas regiões da África, Ásia e América Latina, que são prioridades para as iniciativas de REDD+.
Modelo brasileiro
O estudo descobriu que o Brasil pode ser um potencial modelo para a forma de se impulsionar a produção agrícola e ao mesmo tempo, diminuir as taxas de desmatamento nos últimos seis anos. O Brasil se tornou uma potência agrícola global, ao mesmo tempo que usa apenas 6 por cento de suas terras aráveis. Ele tem feito isso, principalmente por meio de fortes compromissos transetoriais, um melhor monitoramento e incentivos financeiros, além de um esforço coordenado de desenvolvimento que enfatiza a qualidade do solo e cultivares de alto rendimento.
Um berço importante dos compromissos federais e estaduais é exemplificado pelos planos de REDD+ no estado do Acre, que engloba todos os solos e tipos de utilização, incluindo uma gama completa de usos agrícolas que com impacto nas florestas do Acre e poderá fornecer um modelo de como integrar estratégias de REDD+ com metas de produção agrícola.
Durante um evento paralelo na reunião de Bonn, realizado pela CCAFS e a FAO, alguns participantes observaram que os desafios do processo de REDD+ são em grande parte devido a uma negligência de longa data dos problemas fundamentais relacionados à segurança alimentar e à governança florestal nos países em desenvolvimento.
“De muitas maneiras, a maior parte da destruição da floresta reflete uma grande batalha sobre a terra, o que irá influenciar a forma como nós podemos produzir alimentos suficientes e biomassa de uma forma equitativa e sustentável”, disse Joachim von Braun, director do Centro de pesquisa para o desenvolvimento (ZEF) em Bonn.
Frances Seymour, diretora-geral do Centro Internacional para Pesquisa Florestal (CIFOR), disse que os estudos de sua instituição em regiões que sofrem uma perda significativa de florestas naturais mostram que mudanças na maneira como os governos apoiam as decisões de uso do solo local podem fazer uma diferença significativa.
“Se os governos estão empenhados em resolver os direitos posse da terra e o acesso aos recursos florestais, facilitando o planejamento justo e transparento de uso da terra, e levando em conta os serviços ambientais, eles podem apoiar a realização dos objetivos da agricultura e REDD +”, disse ela.
Lini Wollenberg, que coordena pesquisas em mitigação no CCAFS salientou que as estratégias REDD+ devem adotar iniciativas que possam tornar a agricultura mais compatível com a proteção da floresta. Isso inclui a ampliação de medidas, como sistemas de certificação ligada à produção agrícola sustentável, que poderia ser um incentivo financeiro para proteger as florestas.
Ela recomenda também que muito mais poderia ser feito para mudar a agricultura para áreas degradadas, mas ainda são capazes de serem produtivas e para promover atividades agrícolas que busquem um aumento no armazenamento de carbono, como os sistemas agroflorestais. “Há muitas maneiras de levar a agricultura para o processo do REDD+. É hora de os países começarem a investir seus fundos de REDD+ nesse objetivo”, disse ela.
* O Programa de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas, Agricultura e Segurança Alimentar (CCAFS) da CGIAR é uma parceria estratégica entre CGIAR e a Parceria da Ciência do Sistema Terra (ESSP). O CCAFS reúne os melhores pesquisadores do mundo em ciências agrícolas, pesquisa, desenvolvimento, ciência do clima e da ciência da Terra para identificar e resolver as mais importantes interações, sinergias e intercâmbios entre as alterações climáticas, agricultura e segurança alimentar. O Centro líder do CGIAR é o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), em Cali, Colômbia. Para obter mais informações, visite www.ccafs.cgiar.org.
** Colaboração de Jaime Gesisky para o EcoDebate, 09/06/2011
Nitrogênio é apontado como novo vilão do ecossistema
Apesar de ser um elemento essencial à vida, em grandes quantidades o nitrogênio pode ser um verdadeiro problema ambiental.
E, de acordo com um novo estudo, as pessoas estão sobrecarregando os ecossistemas com nitrogênio pela queima de combustíveis fósseis e pelo aumento das atividades industriais e agrícolas que produzem nitrogênio. Segundo o estudo, esse excesso de nitrogênio gerado por atividades humanas polui as águas doces e zonas costeiras, e pode contribuir para a mudança climática. Todavia, tal dano ambiental poderia ser reduzido pela adoção de práticas sustentáveis.
O ciclo do nitrogênio – que existe há bilhões de anos – transforma formas não-biológicas do elemento encontradas na atmosfera em diversas formas biologicamente úteis que são necessárias aos seres vivos para criar proteínas, DNA e RNA, e por plantas, para crescer e fazer fotossíntese. Essa transformação é conhecida como fixação do nitrogênio.
E, de acordo com um novo estudo, as pessoas estão sobrecarregando os ecossistemas com nitrogênio pela queima de combustíveis fósseis e pelo aumento das atividades industriais e agrícolas que produzem nitrogênio. Segundo o estudo, esse excesso de nitrogênio gerado por atividades humanas polui as águas doces e zonas costeiras, e pode contribuir para a mudança climática. Todavia, tal dano ambiental poderia ser reduzido pela adoção de práticas sustentáveis.
O ciclo do nitrogênio – que existe há bilhões de anos – transforma formas não-biológicas do elemento encontradas na atmosfera em diversas formas biologicamente úteis que são necessárias aos seres vivos para criar proteínas, DNA e RNA, e por plantas, para crescer e fazer fotossíntese. Essa transformação é conhecida como fixação do nitrogênio.
Manejar para mitigar >>> Agencia Fapesp
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7/21/2010 05:23:00 AM
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10:10. redução de GEE,
agricultura,
Amazonia;mudanças climáticas,
arco do desmatamento,
Esalq,
manejo sustentavel,
Pantanal; Pecuária Organica
21/7/2010
Agência FAPESP – Evitar o desmatamento continua sendo a melhor estratégia para minimizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em regiões como o Estado de Mato Grosso, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado. Mas o manejo agrícola e o uso adequado do solo também podem contribuir consideravelmente para um futuro com menos emissões.
As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos que, utilizando um modelo biogeoquímico, fizeram uma estimativa dos impactos das emissões de GEE até 2050 em diferentes cenários de desmatamento e de usos do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso.
O estudo, realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade de Brown (Estados Unidos), será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O autor principal do estudo, Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena-USP, é coordenador do Projeto Temático “Impacto ambiental da expansão da agricultura no sudoeste da Amazônia”, apoiado pela FAPESP. Seu filho Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq-USP – o outro brasileiro envolvido no estudo –, concluiu em março o projeto “Modelagem da dinâmica da matéria orgânica do solo na zona de expansão agrícola do sudoeste da Amazônia: base para pesquisas em mudanças climáticas globais”, apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
De acordo com Pellegrino Cerri, o estudo surgiu de uma cooperação entre o grupo brasileiro e o norte-americano e é fruto direto do doutorado de Gillian Galford, primeira autora do artigo e aluna do Departamento de Geologia da Universidade de Brown.
O professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq explica que o desmatamento da vegetação nativa causa uma grande emissão de GEE. Mas, após o desflorestamento, também há emissões, que podem ser maiores ou menores dependendo do uso que for dado ao solo.
“Essas áreas originalmente cobertas por vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens, ou diretamente em áreas agrícolas. Ou podem servir primeiro à pecuária e depois à agricultura. A ideia do trabalho era estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conversão do uso do solo”, disse à Agência FAPESP.
Três GEE foram considerados no trabalho: dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso. Todas as unidades foram expressas em unidades de CO2 equivalente. Com uma abordagem integrada, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE de ecossistemas naturais e de ecossistemas agrícolas após o desmatamento em cenários futuros já utilizados na literatura. As estimativas foram feitas com um modelo biogeoquímico conhecido como Modelo de Ecossistemas Terrestres (TEM, na sigla em inglês).
“Estimamos que as emissões em Mato Grosso possam variar de 2,8 a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substancial – de 24% a 49% – das emissões futuras estimadas no estado. Assim, tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra terão papéis importantes para a cadeia de emissão de GEE. Os dois aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas”, disse.
Segundo Pellegrino Cerri, para validar os dados que seriam obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores partiram de cenários atuais em direção ao passado: foram feitas simulações em retrospectiva de cenários já conhecidos de emissões de GEE. Esse procedimento foi aliado a um extenso trabalho de campo.
“Com isso, pudemos comparar os resultados estimados pelo modelo com as nossas observações de campo. A validação dos dados foi feita com uma avaliação baseada em 12 testes estatísticos. Constatando o bom funcionamento do modelo, pudemos utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro”, explicou.
Após a conversão do uso do solo, se a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com a forma como as práticas agrícolas forem conduzidas. Uma das diferenças mais marcantes pode ser notada entre as produções que utilizam o preparo convencional do solo e as que usam a técnica de plantio direto.
“A técnica de plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não-mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas mudanças, as emissões de GEE são substancialmente menores”, disse.
Um dos problemas do preparo convencional do solo, segundo Pellegrino Cerri, é o uso excessivo de aração e gradagem: procedimentos que revolvem o solo com máquinas, invertendo suas camadas superficiais. Essas técnicas, importadas há muito tempo de países de clima temperado, não precisam ser utilizadas em excesso em regiões tropicais.
“Quando o solo é intensamente revolvido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decomposição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto, isso não ocorre. Em vez de usar o arado e a grade em toda a área plantada, o procedimento consiste em fazer um pequeno sulco apenas no local onde a semente é depositada. Como o solo não é revolvido as emissões se reduzem”, disse.
Remoção e rotação
O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e outros restos vegetais que não são aproveitados na colheita. Esses restos, no entanto, têm grandes porcentagens de carbono em sua composição que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção.
“Quando deixamos a palha no campo, ela vai sendo lentamente utilizada pelos microrganismos, transmitindo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes para o solo. É preciso lembrar que todo o carbono presente nessa palha – equivalente a cerca de 50% de sua composição – foi um dia dióxido de carbono que estava na atmosfera e foi sequestrado pela planta durante a fotossíntese”, disse o professor da Esalq.
A rotação de culturas é o terceiro aspecto que, ausente no preparo convencional do solo, poderia contribuir para reduzir emissões de GEE. Além da questão fitossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a doenças e, portanto, geram maior necessidade de uso de agrotóxicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo.
“Quando as culturas são alternadas periodicamente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo diferente tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, eles vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver uma rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodiversidade local”, explicou.
O artigo Estimating greenhouse gas emissions from land-cover and land-use change: Future scenarios of deforestation and agricultural management (doi: 10.1073/pnas.1000780107), de Carlos Clemente Cerri e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org.
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Evitar o desmatamento continua sendo a melhor estratégia para minimizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em regiões como o Estado de Mato Grosso, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado. Mas o manejo agrícola e o uso adequado do solo também podem contribuir consideravelmente para um futuro com menos emissões.
As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos que, utilizando um modelo biogeoquímico, fizeram uma estimativa dos impactos das emissões de GEE até 2050 em diferentes cenários de desmatamento e de usos do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso.
O estudo, realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade de Brown (Estados Unidos), será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O autor principal do estudo, Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena-USP, é coordenador do Projeto Temático “Impacto ambiental da expansão da agricultura no sudoeste da Amazônia”, apoiado pela FAPESP. Seu filho Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq-USP – o outro brasileiro envolvido no estudo –, concluiu em março o projeto “Modelagem da dinâmica da matéria orgânica do solo na zona de expansão agrícola do sudoeste da Amazônia: base para pesquisas em mudanças climáticas globais”, apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
De acordo com Pellegrino Cerri, o estudo surgiu de uma cooperação entre o grupo brasileiro e o norte-americano e é fruto direto do doutorado de Gillian Galford, primeira autora do artigo e aluna do Departamento de Geologia da Universidade de Brown.
O professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq explica que o desmatamento da vegetação nativa causa uma grande emissão de GEE. Mas, após o desflorestamento, também há emissões, que podem ser maiores ou menores dependendo do uso que for dado ao solo.
“Essas áreas originalmente cobertas por vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens, ou diretamente em áreas agrícolas. Ou podem servir primeiro à pecuária e depois à agricultura. A ideia do trabalho era estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conversão do uso do solo”, disse à Agência FAPESP.
Três GEE foram considerados no trabalho: dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso. Todas as unidades foram expressas em unidades de CO2 equivalente. Com uma abordagem integrada, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE de ecossistemas naturais e de ecossistemas agrícolas após o desmatamento em cenários futuros já utilizados na literatura. As estimativas foram feitas com um modelo biogeoquímico conhecido como Modelo de Ecossistemas Terrestres (TEM, na sigla em inglês).
“Estimamos que as emissões em Mato Grosso possam variar de 2,8 a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substancial – de 24% a 49% – das emissões futuras estimadas no estado. Assim, tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra terão papéis importantes para a cadeia de emissão de GEE. Os dois aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas”, disse.
Segundo Pellegrino Cerri, para validar os dados que seriam obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores partiram de cenários atuais em direção ao passado: foram feitas simulações em retrospectiva de cenários já conhecidos de emissões de GEE. Esse procedimento foi aliado a um extenso trabalho de campo.
“Com isso, pudemos comparar os resultados estimados pelo modelo com as nossas observações de campo. A validação dos dados foi feita com uma avaliação baseada em 12 testes estatísticos. Constatando o bom funcionamento do modelo, pudemos utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro”, explicou.
Após a conversão do uso do solo, se a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com a forma como as práticas agrícolas forem conduzidas. Uma das diferenças mais marcantes pode ser notada entre as produções que utilizam o preparo convencional do solo e as que usam a técnica de plantio direto.
“A técnica de plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não-mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas mudanças, as emissões de GEE são substancialmente menores”, disse.
Um dos problemas do preparo convencional do solo, segundo Pellegrino Cerri, é o uso excessivo de aração e gradagem: procedimentos que revolvem o solo com máquinas, invertendo suas camadas superficiais. Essas técnicas, importadas há muito tempo de países de clima temperado, não precisam ser utilizadas em excesso em regiões tropicais.
“Quando o solo é intensamente revolvido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decomposição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto, isso não ocorre. Em vez de usar o arado e a grade em toda a área plantada, o procedimento consiste em fazer um pequeno sulco apenas no local onde a semente é depositada. Como o solo não é revolvido as emissões se reduzem”, disse.
Remoção e rotação
O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e outros restos vegetais que não são aproveitados na colheita. Esses restos, no entanto, têm grandes porcentagens de carbono em sua composição que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção.
“Quando deixamos a palha no campo, ela vai sendo lentamente utilizada pelos microrganismos, transmitindo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes para o solo. É preciso lembrar que todo o carbono presente nessa palha – equivalente a cerca de 50% de sua composição – foi um dia dióxido de carbono que estava na atmosfera e foi sequestrado pela planta durante a fotossíntese”, disse o professor da Esalq.
A rotação de culturas é o terceiro aspecto que, ausente no preparo convencional do solo, poderia contribuir para reduzir emissões de GEE. Além da questão fitossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a doenças e, portanto, geram maior necessidade de uso de agrotóxicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo.
“Quando as culturas são alternadas periodicamente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo diferente tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, eles vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver uma rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodiversidade local”, explicou.
O artigo Estimating greenhouse gas emissions from land-cover and land-use change: Future scenarios of deforestation and agricultural management (doi: 10.1073/pnas.1000780107), de Carlos Clemente Cerri e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org.
Proteger floresta no Brasil faz bem para a agricultura dos EUA >>> Folha de São Paulo
Estudo diz que americano pode ganhar até US$ 270 bi em 2030 com queda no desmate
Está circulando entre parlamentares ruralistas um estudo que pode dar argumentos em favor de mudanças no Código Florestal.
Intitulado "Farms Here, Forests There" ("Fazendas Aqui, Florestas Lá", em inglês), o documento americano afirma que os agricultores dos EUA podem ganhar até US$ 270 bilhões em 2030 com a redução do desmatamento nos países tropicais.
O argumento é que a maior proteção às florestas prejudicará a produção de carne, soja, dendê e madeira em países como o Brasil.
Isso levaria a um aumento dos preços e à abertura de um buraco na oferta, que seria preenchido pelos EUA.
"Eliminar o desmatamento até 2030 limitará a receita para a expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo de jogo para os produtores americanos no mercado global de commodities", afirma o estudo.
LOBBY
O objetivo do documento, lançado no fim de maio pela ONG Avoided Deforestation Partners, é convencer senadores dos EUA ligados ao agronegócio, a aprovarem a lei de mudança climática em tramitação no Senado.
A lei prevê que os EUA possam negociar créditos de carbono ilimitados pelo desmatamento tropical evitado.
Ou seja, o país pagaria para manter a floresta em pé no Brasil, por exemplo, e poderia abater o carbono que seria emitido pelo desmate das próprias metas de corte de poluição. O Brasil tem se oposto nas negociações internacionais a permitir que a redução no desmate possa gerar créditos ilimitados.
O estudo corrobora a visão de que a conservação ambiental é uma desculpa dos países desenvolvidos para impor barreiras à agricultura do Brasil, mais competitiva.
Tal visão permeia o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que propõe reformar o Código Florestal reduzindo as áreas de mata protegidas em imóveis rurais. A proposta tramita numa comissão especial da Câmara dos Deputados.
Segundo Paulo Adário, do Greenpeace, fiar-se na nova pesquisa como subsídio para mudar a lei brasileira seria ruim para a bancada ruralista. "O estudo tem problemas sérios", afirma.
O principal, diz Adário, é não levar em conta que reduzir o desmate não diminui a fronteira agrícola brasileira.
"Só na Amazônia você tem 20 milhões de hectares de terras degradadas e abandonadas. Quando você para de desmatar, as terras já abertas ganham valor", afirma.
Citando um estudo de Gerd Sparovek, da USP, Adário afirma que é possível dobrar a produção no Brasil só usando áreas abertas e com alta aptidão agrícola.
Ele lembra que desde 2006 vigora uma moratória ao plantio de soja em áreas desmatadas na Amazônia, e nem a produção nem a produtividade caíram. "Neste ano ambas cresceram."
"O estudo faz projeções burras associando linearmente hectares de desmatamento a mais ou menos produto", pondera Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira.
"Assim, desconsidera que a determinante para a produção não é área e sim produtividade, especialmente nos países onde a produtividade média é baixa, o que é o caso das pastagens no Brasil."
Procurados, os autores do estudo não responderam aos pedidos de entrevista.
Claudio Angelo
Está circulando entre parlamentares ruralistas um estudo que pode dar argumentos em favor de mudanças no Código Florestal.
Intitulado "Farms Here, Forests There" ("Fazendas Aqui, Florestas Lá", em inglês), o documento americano afirma que os agricultores dos EUA podem ganhar até US$ 270 bilhões em 2030 com a redução do desmatamento nos países tropicais.
O argumento é que a maior proteção às florestas prejudicará a produção de carne, soja, dendê e madeira em países como o Brasil.
Isso levaria a um aumento dos preços e à abertura de um buraco na oferta, que seria preenchido pelos EUA.
"Eliminar o desmatamento até 2030 limitará a receita para a expansão agrícola e para a atividade madeireira nos países tropicais, nivelando o campo de jogo para os produtores americanos no mercado global de commodities", afirma o estudo.
LOBBY
O objetivo do documento, lançado no fim de maio pela ONG Avoided Deforestation Partners, é convencer senadores dos EUA ligados ao agronegócio, a aprovarem a lei de mudança climática em tramitação no Senado.
A lei prevê que os EUA possam negociar créditos de carbono ilimitados pelo desmatamento tropical evitado.
Ou seja, o país pagaria para manter a floresta em pé no Brasil, por exemplo, e poderia abater o carbono que seria emitido pelo desmate das próprias metas de corte de poluição. O Brasil tem se oposto nas negociações internacionais a permitir que a redução no desmate possa gerar créditos ilimitados.
O estudo corrobora a visão de que a conservação ambiental é uma desculpa dos países desenvolvidos para impor barreiras à agricultura do Brasil, mais competitiva.
Tal visão permeia o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que propõe reformar o Código Florestal reduzindo as áreas de mata protegidas em imóveis rurais. A proposta tramita numa comissão especial da Câmara dos Deputados.
Segundo Paulo Adário, do Greenpeace, fiar-se na nova pesquisa como subsídio para mudar a lei brasileira seria ruim para a bancada ruralista. "O estudo tem problemas sérios", afirma.
O principal, diz Adário, é não levar em conta que reduzir o desmate não diminui a fronteira agrícola brasileira.
"Só na Amazônia você tem 20 milhões de hectares de terras degradadas e abandonadas. Quando você para de desmatar, as terras já abertas ganham valor", afirma.
Citando um estudo de Gerd Sparovek, da USP, Adário afirma que é possível dobrar a produção no Brasil só usando áreas abertas e com alta aptidão agrícola.
Ele lembra que desde 2006 vigora uma moratória ao plantio de soja em áreas desmatadas na Amazônia, e nem a produção nem a produtividade caíram. "Neste ano ambas cresceram."
"O estudo faz projeções burras associando linearmente hectares de desmatamento a mais ou menos produto", pondera Roberto Smeraldi, da ONG Amigos da Terra Amazônia Brasileira.
"Assim, desconsidera que a determinante para a produção não é área e sim produtividade, especialmente nos países onde a produtividade média é baixa, o que é o caso das pastagens no Brasil."
Procurados, os autores do estudo não responderam aos pedidos de entrevista.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS PODEM DIMINUIR PRODUÇÕA AGRÍCOLA NO BRASIL///GOBONEWS
A agricultura é responsável por 24% do Produto Interno Bruto nacional. Por outro lado, é também uma das maiores fontes emissoras de gases de efeito estufa no Brasil.
A Farm on Every Floor . NYT,08/23
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Postado por
Unknown
em
8/24/2009 04:55:00 AM
Marcadores:
aeroponia,
agricultura,
hidroponia,
mudanças climáticas

Caso as mudanças climáticas e o crescimento da população continuem neste ritmo, em 50 anos a atividade de agricultura, como nós a conhecemos não existeirá mais. Significa que a maior parte da população não terá acesso á água e alimento. No entanto, uma solução pordemais surpreendente está se apresentando: trazer as fazendas para as cidades e plantar não no terreno plano , mas verticalmente em prédios especialmente construídos para estes fins.
Serão conhecidas como Fazendas Verticais.
As inundações e as secas que vêm com a mudança climática estão causando grandes estragos nas terras agrícolas tradicionais. Três recentes inundações (em 1993, 2007 e 2008), custaram bilhões de dólares dos Estados Unidos em culturas perdidas, além das devastadoras perdas na camada superficial do solo.
As mudanças nos padrões de chuva e temperatura poderão diminuir a produção agrícola da Índia em 30 por cento até ao final deste século. Além do mais, a população aumentará em breve, levando os agricultores sair de suas terras. A quantidade de terra arável por pessoa diminuiu de cerca de um acre em 1970 para cerca de meio acre em 2000 e deverá diminuir para cerca de um terço de um acre em 2050, de acordo com as Nações Unidas. Com bilhões de pessoas a mais por vir, antes mesmo de percebermos, o tradicional modelo de agricultura desenvolvido durante os últimos 12.000 anos não será mais uma opção sustentável.
..."Imagine uma fazenda vertical bem no no meio de uma grande cidade. A produção de alimentos aproveitaria as tecnologias de Hidropônia e Aeroponia. Ambos os métodos são de solo-livre. Hidroponia nos permite cultivar plantas em água e solução nutritiva, enquanto Aeropônia permite o crescimento em uma nuvem-névoa carregada de nutrientes. Estes métodos usam muito menos água do que as técnicas cultivo convencional, em alguns casos até 90 por cento menos..."
Veja outro artigo sobre Fazendas Verticais:http://www.treehugger.com/files/2009/03/vertica-farm-dubai-seawater.php
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