09 de Julho de 2010.
Seminário na Câmara dos Deputados debate questão dos recursos educacionais abertos
Apesar de comprar 60% dos livros didáticos vendidos pelas editoras e de ser responsável por 40% do faturamento gerado pelo segmento, o Poder Público não tem nenhum direito sobre o conteúdo adquirido
Em outras palavras, o governo financia a produção de livros didáticos - inclusive com isenção fiscal -, mas não pode dispor dos textos como bem entender, por meio de cópias em papel ou na internet, por exemplo. Os dados são do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da USP (Gpopai).
Esse modelo de aquisição de livros didáticos no Brasil foi questionado nesta quinta-feira (8/7) no seminário "Recursos Educacionais Abertos: desafios e perspectivas", realizado pelas comissões de Educação e Cultura; e de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Os recursos educacionais abertos são materiais que podem ser alterados, ampliados e compartilhados por todas as pessoas.
Para os educadores, em vez de comprar as publicações em papel o governo deveria investir na aquisição do conteúdo. Segundo o pesquisador do Gpopai Bráulio Araújo, essa medida reduziria os custos de impressão e de distribuição, pois o material poderia ser impresso mais próximo ao destino. Além disso, haveria a possibilidade de textos ficarem disponíveis para o público. "Os autores também se beneficiariam, já que poderiam concorrer em licitações do conteúdo. As editoras não fariam mais a pré-seleção [dos autores]", afirmou Araújo.
Ainda de acordo com o Gpopai, o valor gasto pelo governo com as publicações por ano varia entre R$ 200 milhões e R$ 650 milhões, dependendo se o ano for de troca ou de reposição do material. No entanto, a concentração dos gastos limita ainda mais o poder de barganha. Aproximadamente 90% dos títulos escolhidos pelos professores da rede pública são editados por apenas sete grupos editoriais.
Democratização
A democratização do acesso a publicações didáticas também foi defendida pela professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carolina Rossini, que é coordenadora de projeto sobre recursos educacionais abertos. "Os recursos educacionais pagos pelo contribuinte devem ser abertos, ter acesso livre", defendeu.
De acordo com ela, além de permitir a consulta e impressão do material, a nova política para livros didáticos deve dar ao professor a possibilidade de enriquecer e aperfeiçoar o material, num sistema semelhante ao da wikipedia. "Isso já é feito em muitos países e é uma mudança para ser realizada ao longo de uma década. O Brasil já tem projetos que encorajam essa participação, mas ainda faltam recursos operacionais legais e técnicos", afirmou Carolina.
Livro público
Uma das iniciativas para a elaboração de livro didático público foi concretizada no Paraná. Lá, em 2005, professores da rede pública foram convidados a participar de uma edição colaborativa que deveria ser usada no ensino médio. "Partimos do princípio de valorizar o trabalho do professor na sala de aula", explicou a representante da Secretaria de Educação do estado, Mary Lane Hutner.
O resultado foi um livro público, que pode ser totalmente reproduzido, e muito mais barato. A impressão sai até por R$ 12. Mesmo com a edição do material, o trabalho feito em colaboração pelos professores continua em um portal na internet. As publicações de textos ou experiências valem pontos para promoção na carreira. "O nosso objetivo é valorizar a capacidade intelectual do professor e a apropriação do conhecimento", declarou.
Economia
Segundo o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que sugeriu a realização do seminário, além de representar economia para o governo, um modelo com acesso livre viabilizaria a agregação de conhecimento. Ele lembrou que não há restrições legais ao compartilhamento de publicações, desde que exista uma licença legal adequada. "De qualquer forma, pode-se pensar em ajustes na legislação para simplificar esse processo", ressaltou.
(Agência Câmara)
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Nova profissão para jovens ajuda a acabar com o abuso do álcool /// UOL- Folha SP
Ouça em: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/gilberto-dimenstein/GILBERTO-DIMENSTEIN.htm
gilberto dimenstein
26 de abril de 2010
Alconsciência
No último fim de semana aconteceu uma festa diferente: trata-se de uma balada movida a rap e a funk em que será proibida a entrada de bebida alcoólica e de drogas. Se alguém acender um "baseado", vai levar uma advertência; se insistir, a festa vai terminar para todos. As rígidas normas não foram estipuladas por adultos, mas pelos próprios jovens de Heliópolis, a maior favela de São Paulo.
É a primeira vez que jovens de comunidades populares recebem treinamento profissional em comunicação para alertar seus colegas sobre os perigos das substâncias psicoativas - o álcool, em particular. O trabalho, desenvolvido por dois anos, focou da publicidade ao jornalismo.
Estimular bandas de funk, hip-hop, samba e pagode a produzir letras que despertem o interesse dos jovens pela saúde faz parte desse projeto de marketing. As baladas são gratuitas e já atraíram os talentos locais, o que significa sucesso na certa.
Todos sabemos que o consumo abusivo de álcool e a juventude constituem uma combinação altamente explosiva. Por isso um projeto como esse, se for bem-sucedido, tende a ganhar escala nacional.
Em gestação há três meses, o projeto partiu da ideia de que os adultos não encontrariam linguagem mais apropriada para falar sobre álcool com os adolescentes. Mas os jovens teriam a limitação de não conhecer técnicas de marketing, publicidade e jornalismo. Assim se delineava a ideia de criar agentes comunitários de comunicação.
Habituada a fazer as mais diversas parcerias, com nomes que vão de Antonio Candido a Ruy Ohtake, a comunidade de Heliópolis obteve apoio da iniciativa privada (AmBev) para oferecer formação aos jovens.
Ali se desenvolve o conceito de bairro-educador.
O objetivo é conscientizar o jovem e, ao mesmo tempo, os donos de bares, estimulando-os a cumprir a lei e a não vender bebidas a menores de 18 anos. Parte da campanha será focada também nos pais.
O que se busca é prevenir o problema. Se já é difícil cuidar de jovens abastados, que têm acesso a recursos médicos e a apoio psicológico, imagine a arduidade da tarefa na periferia, carente de tudo e cheia de famílias desestruturadas.
A Universidade Federal de São Paulo desenvolve um programa que trata, ao mesmo tempo, o filho e os pais, na suposição de que a família desinformada mais atrapalha do que ajuda.
Para se dedicarem diariamente ao projeto, os agentes comunitários de comunicação recebem uma bolsa mensal e devem estar matriculados na escola.
Recebem aulas de redação e aprendem técnicas de montagem de sites, além de design gráfico para a produção de cartazes. Há também aulas sobre saúde, que os levam a entender como as substâncias psicoativas alteram o cérebro.
Também vão aprender a criar programas de rádio e televisão, além de peças de publicidade. A rádio Heliópolis transformou-se numa espécie de Redação-escola.
São apoiados por publicitários de uma agência profissional (Repense) na produção dos slogans e no planejamento de marketing.
Entendeu-se que uma das maneiras mais eficazes de falar com o jovem seria o olho no olho. Decidiu-se, portanto, promover uma balada por mês, com as bandas locais, que, depois, farão uma gravação num estúdio profissional, com direito a videoclipe. Adolescentes serão convidados a mostrar suas produções em artes plásticas, literatura (poesia e conto), vídeos, grafite e moda. Já há, no bairro, uma confecção com um ateliê-escola.
Um dos pontos da estratégia de marketing é a premiação, com produtos, dos bares que aderirem à campanha. Cada dono de bar premiado será apresentado como uma espécie de herói local em peças publicitárias e nos programas.
Ainda não se sabe se tudo isso vai funcionar. Está sendo realizada uma pesquisa qualitativa para avaliar a percepção dos jovens sobre o abuso do álcool. Daqui a dois anos, será feita uma nova medição, que vai oferecer pistas sobre o desempenho da experiência.
Independentemente do resultado, o projeto está conectando mais comunidades populares do eixo Rio-São Paulo, como Paraisópolis.
A experiência de Heliópolis pode até dar errado, mas, se isso ocorrer, não terá sido por falhas técnicas. O fato é que esse caminho costuma dar certo quando se faz da juventude uma fonte de soluções.
Basta lembrar que o instigante nome do projeto, Alconsciência, foi inventado pelos próprios jovens, depois de ouvirem seus colegas.
PS- Para conhecer a dimensão da tragédia que envolve o álcool e a juventude, coloquei uma série de artigos no meu site http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/
gilberto dimenstein
26 de abril de 2010
Alconsciência
No último fim de semana aconteceu uma festa diferente: trata-se de uma balada movida a rap e a funk em que será proibida a entrada de bebida alcoólica e de drogas. Se alguém acender um "baseado", vai levar uma advertência; se insistir, a festa vai terminar para todos. As rígidas normas não foram estipuladas por adultos, mas pelos próprios jovens de Heliópolis, a maior favela de São Paulo.
É a primeira vez que jovens de comunidades populares recebem treinamento profissional em comunicação para alertar seus colegas sobre os perigos das substâncias psicoativas - o álcool, em particular. O trabalho, desenvolvido por dois anos, focou da publicidade ao jornalismo.
Estimular bandas de funk, hip-hop, samba e pagode a produzir letras que despertem o interesse dos jovens pela saúde faz parte desse projeto de marketing. As baladas são gratuitas e já atraíram os talentos locais, o que significa sucesso na certa.
Todos sabemos que o consumo abusivo de álcool e a juventude constituem uma combinação altamente explosiva. Por isso um projeto como esse, se for bem-sucedido, tende a ganhar escala nacional.
Em gestação há três meses, o projeto partiu da ideia de que os adultos não encontrariam linguagem mais apropriada para falar sobre álcool com os adolescentes. Mas os jovens teriam a limitação de não conhecer técnicas de marketing, publicidade e jornalismo. Assim se delineava a ideia de criar agentes comunitários de comunicação.
Habituada a fazer as mais diversas parcerias, com nomes que vão de Antonio Candido a Ruy Ohtake, a comunidade de Heliópolis obteve apoio da iniciativa privada (AmBev) para oferecer formação aos jovens.
Ali se desenvolve o conceito de bairro-educador.
O objetivo é conscientizar o jovem e, ao mesmo tempo, os donos de bares, estimulando-os a cumprir a lei e a não vender bebidas a menores de 18 anos. Parte da campanha será focada também nos pais.
O que se busca é prevenir o problema. Se já é difícil cuidar de jovens abastados, que têm acesso a recursos médicos e a apoio psicológico, imagine a arduidade da tarefa na periferia, carente de tudo e cheia de famílias desestruturadas.
A Universidade Federal de São Paulo desenvolve um programa que trata, ao mesmo tempo, o filho e os pais, na suposição de que a família desinformada mais atrapalha do que ajuda.
Para se dedicarem diariamente ao projeto, os agentes comunitários de comunicação recebem uma bolsa mensal e devem estar matriculados na escola.
Recebem aulas de redação e aprendem técnicas de montagem de sites, além de design gráfico para a produção de cartazes. Há também aulas sobre saúde, que os levam a entender como as substâncias psicoativas alteram o cérebro.
Também vão aprender a criar programas de rádio e televisão, além de peças de publicidade. A rádio Heliópolis transformou-se numa espécie de Redação-escola.
São apoiados por publicitários de uma agência profissional (Repense) na produção dos slogans e no planejamento de marketing.
Entendeu-se que uma das maneiras mais eficazes de falar com o jovem seria o olho no olho. Decidiu-se, portanto, promover uma balada por mês, com as bandas locais, que, depois, farão uma gravação num estúdio profissional, com direito a videoclipe. Adolescentes serão convidados a mostrar suas produções em artes plásticas, literatura (poesia e conto), vídeos, grafite e moda. Já há, no bairro, uma confecção com um ateliê-escola.
Um dos pontos da estratégia de marketing é a premiação, com produtos, dos bares que aderirem à campanha. Cada dono de bar premiado será apresentado como uma espécie de herói local em peças publicitárias e nos programas.
Ainda não se sabe se tudo isso vai funcionar. Está sendo realizada uma pesquisa qualitativa para avaliar a percepção dos jovens sobre o abuso do álcool. Daqui a dois anos, será feita uma nova medição, que vai oferecer pistas sobre o desempenho da experiência.
Independentemente do resultado, o projeto está conectando mais comunidades populares do eixo Rio-São Paulo, como Paraisópolis.
A experiência de Heliópolis pode até dar errado, mas, se isso ocorrer, não terá sido por falhas técnicas. O fato é que esse caminho costuma dar certo quando se faz da juventude uma fonte de soluções.
Basta lembrar que o instigante nome do projeto, Alconsciência, foi inventado pelos próprios jovens, depois de ouvirem seus colegas.
PS- Para conhecer a dimensão da tragédia que envolve o álcool e a juventude, coloquei uma série de artigos no meu site http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/
Criança e consumo, artigo de Frei Betto /// Ecodebate
Especialistas no tema debaterão como prevenir e reduzir os efeitos da publicidade de produtos e serviços destinados a crianças e adolescentes.
A população com idade inferior a 12 anos é hipervulnerável à comunicação mercadológica devido ao mimetismo próprio da infância, à falta de discernimento, à afirmação da personalidade, à dificuldade de distinguir desejo e necessidade. ‘Formar cidadãos ou consumistas?’, eis a questão.
Nessa cultura hedonista em que os valores sonegados da subjetividade são pretensamente substituídos pelo valor agregado da posse de bens e serviços, crianças e jovens se vêem ameaçados pela incidência alarmante da obesidade precoce, a violência (inclusive nas escolas), a sexualidade irresponsável, o consumo de drogas, o estresse familiar e a degradação das relações sociais.
Com a laicização crescente da sociedade ocidental que, com razão, repudia o fundamentalismo religioso, a moral perde seu anteparo na vivência da fé; as ideologias altruístas, em crise, cedem lugar ao individualismo egocêntrico; a tecnociência aprimora meios de relacionamento virtual em detrimento da alteridade real e da inter-relação comunitária e coletiva.
Vivemos, como Sócrates, na terceira margem do rio: os deuses do Olimpo já não oferecem parâmetros éticos, e a razão depara-se com a própria insuficiência frente à avassaladora pressão mercantilizadora de todas as dimensões da existência. Onde, nos mais jovens, o idealismo, a abnegação, a ânsia pelo transcendente, o sonho de mudar o mundo?
Na contramão da tendência imperante, o projeto do Instituto Alana disponibiliza instrumentos de apoio e informações sobre direitos do consumidor nas relações de mercado que envolvam crianças e adolescentes. Produz e distribui conhecimento acerca do impacto do consumismo na formação desse público, fomenta a reflexão a respeito da influência da mídia e da comunicação mercadológica na vida, nos hábitos e nos valores de pessoas em idade de formação.
O projeto Criança e Consumo engloba três áreas: jurídico-institucional; comunicação e eventos; pesquisa e educação. A área jurídico-institucional recebe denúncias de práticas de comunicação mercadológica – principalmente publicidade veiculada em TV, internet e revistas – consideradas abusivas. Em contato com as empresas responsáveis pela peça publicitária, faz-se notificação para que cesse a veiculação do apelo comercial.
A área de comunicação e eventos promove debates e seminários para discutir e divulgar essas questões. A de educação e pesquisa estuda de maneira multidisciplinar a temática e divulga no site (http://www.criancaeconsumo.org.br/) bibliografia concernente ao tema.
A partir dessas iniciativas, o projeto contribui para a formação de uma consciência crítica e cidadã sobre os aspectos negativos da mercantilização da infância e da juventude.
No início de março, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sinalizou que as novas regras sobre publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis, a serem divulgadas, não oferecerão proteção especial ao público infantil.
Isabella Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo, alertou para as graves conseqüências dessa decisão, que exclui todos os artigos de proteção à infância, como o veto ao uso de desenhos em publicidade, à promoção de alimentos e bebidas nocivas em escolas e de ofertas com brindes. Segundo ela, isso significa o poder público negligenciar os direitos das crianças e adolescentes, declinando-os em favor de interesses privados.
Crianças não podem ser tratadas como consumidoras comuns. Merecem tratamento diferenciado. É preciso levar em conta o trabalho da força-tarefa criada em 2009 pelo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), voltado à proteção de consumidores hipervulneráveis. Essa força-tarefa conta com a participação do Instituto Alana, do grupo de comunicação social do Ministério Público Federal, da Anvisa e do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Induzir a criança ao consumismo precoce é inflar o desejo na direção de ambições desmedidas. E quanto maior o anseio, mais profundo o buraco no coração e, portanto, a frustração e os sintomas depressivos. Perversa intuição profissional faz com que o traficante de drogas conheça bem essa patologia e dela saiba tirar proveito.
Frei Betto é escritor, assessor de movimentos sociais e membro do conselho do Instituto Alana, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
Artigo originalmente publicado no Correio da Cidadania, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
EcoDebate, 19/03/2010
A população com idade inferior a 12 anos é hipervulnerável à comunicação mercadológica devido ao mimetismo próprio da infância, à falta de discernimento, à afirmação da personalidade, à dificuldade de distinguir desejo e necessidade. ‘Formar cidadãos ou consumistas?’, eis a questão.
Nessa cultura hedonista em que os valores sonegados da subjetividade são pretensamente substituídos pelo valor agregado da posse de bens e serviços, crianças e jovens se vêem ameaçados pela incidência alarmante da obesidade precoce, a violência (inclusive nas escolas), a sexualidade irresponsável, o consumo de drogas, o estresse familiar e a degradação das relações sociais.
Com a laicização crescente da sociedade ocidental que, com razão, repudia o fundamentalismo religioso, a moral perde seu anteparo na vivência da fé; as ideologias altruístas, em crise, cedem lugar ao individualismo egocêntrico; a tecnociência aprimora meios de relacionamento virtual em detrimento da alteridade real e da inter-relação comunitária e coletiva.
Vivemos, como Sócrates, na terceira margem do rio: os deuses do Olimpo já não oferecem parâmetros éticos, e a razão depara-se com a própria insuficiência frente à avassaladora pressão mercantilizadora de todas as dimensões da existência. Onde, nos mais jovens, o idealismo, a abnegação, a ânsia pelo transcendente, o sonho de mudar o mundo?
Na contramão da tendência imperante, o projeto do Instituto Alana disponibiliza instrumentos de apoio e informações sobre direitos do consumidor nas relações de mercado que envolvam crianças e adolescentes. Produz e distribui conhecimento acerca do impacto do consumismo na formação desse público, fomenta a reflexão a respeito da influência da mídia e da comunicação mercadológica na vida, nos hábitos e nos valores de pessoas em idade de formação.
O projeto Criança e Consumo engloba três áreas: jurídico-institucional; comunicação e eventos; pesquisa e educação. A área jurídico-institucional recebe denúncias de práticas de comunicação mercadológica – principalmente publicidade veiculada em TV, internet e revistas – consideradas abusivas. Em contato com as empresas responsáveis pela peça publicitária, faz-se notificação para que cesse a veiculação do apelo comercial.
A área de comunicação e eventos promove debates e seminários para discutir e divulgar essas questões. A de educação e pesquisa estuda de maneira multidisciplinar a temática e divulga no site (http://www.criancaeconsumo.org.br/) bibliografia concernente ao tema.
A partir dessas iniciativas, o projeto contribui para a formação de uma consciência crítica e cidadã sobre os aspectos negativos da mercantilização da infância e da juventude.
No início de março, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sinalizou que as novas regras sobre publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis, a serem divulgadas, não oferecerão proteção especial ao público infantil.
Isabella Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo, alertou para as graves conseqüências dessa decisão, que exclui todos os artigos de proteção à infância, como o veto ao uso de desenhos em publicidade, à promoção de alimentos e bebidas nocivas em escolas e de ofertas com brindes. Segundo ela, isso significa o poder público negligenciar os direitos das crianças e adolescentes, declinando-os em favor de interesses privados.
Crianças não podem ser tratadas como consumidoras comuns. Merecem tratamento diferenciado. É preciso levar em conta o trabalho da força-tarefa criada em 2009 pelo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), voltado à proteção de consumidores hipervulneráveis. Essa força-tarefa conta com a participação do Instituto Alana, do grupo de comunicação social do Ministério Público Federal, da Anvisa e do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Induzir a criança ao consumismo precoce é inflar o desejo na direção de ambições desmedidas. E quanto maior o anseio, mais profundo o buraco no coração e, portanto, a frustração e os sintomas depressivos. Perversa intuição profissional faz com que o traficante de drogas conheça bem essa patologia e dela saiba tirar proveito.
Frei Betto é escritor, assessor de movimentos sociais e membro do conselho do Instituto Alana, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
Artigo originalmente publicado no Correio da Cidadania, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
EcoDebate, 19/03/2010
Economia, tecnologia e movimentos sociais /// IHU
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Unknown
em
2/26/2010 06:41:00 AM
Marcadores:
comunicação,
consumo emeio ambiente.educação economica,
ética;movimentows sociais,
propriedade intelectual,
sociedade da informação,
sociedade digital
Entrevista especial com Luciano Sathler
“A técnica sempre está a serviço de uma ética, e precisamos impor à técnica atual uma ética humanista, para que possamos ter um mundo diferente”, opina o professor.
Confira a entrevista.
Nesta entrevista, concedida pelo professor Luciano Sathler à IHU On-Line, por telefone, a economia e os objetivos dos movimentos sociais são analisados a partir da perspectiva do desenvolvimento das tecnologias. Assim, o entrevistado diz que os movimentos sociais precisam “adotar a web 2.0 de maneira mais intensa” e, para isso, capacitar-se “para entender os problemas da questão dos direitos de propriedade intelectual”. “É hora de aproveitarmos as brechas que a Internet possibilita para enfrentarmos, especialmente, as chamadas indústrias da comunicação”, afirma.
Luciano Sathler é publicitário formado na PUC-Minas, com mestrado e doutorado em Administração, pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor no Grupo Anhanguera Educacional e na Universidade Metodista de São Paulo. É também vice-presidente, na América Latina, da World Association for Christian Communication. Durante o Mutirão da Comunicação, que aconteceu no início do mês, Luciano apresentou a palestra Economia e Comunicação na Era Digital.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como devemos pensar a economia a partir desta era cada vez mais digital?
Luciano Sathler – Na verdade, estamos vivendo na sociedade da informação. Quem tem o poder nesta sociedade é quem domina as tecnologias de informação e comunicação, desde a produção e inovação, até o uso de tecnologias. O poder também está naqueles que são capazes de produzir conteúdo relevante e bem avaliado pelo mercado, e tecnologias que extrapolam a tecnologia da informação e comunicação. Uma das características da sociedade da informação é que a digitalização ultrapassa fronteiras. Temos a digitalização para as questões de biotecnologia, nanotecnologia e robótica, na própria produção das fábricas, nos serviços financeiros, etc. Ou seja, todas as áreas produtivas da nossa sociedade passam a ter que, obrigatoriamente, buscar um diferencial a partir da tecnologia.
Quando falamos de poder, há uma convergência do poder econômico, político e simbólico. Isso tende a "Não existe técnica amoral ou neutra"
convergir nos diferentes tempos da sociedade humana. Hoje, a convergência desses poderes está em poucas mãos, que dominam a questão da tecnologia. Então, o que temos que pensar, em termos de economia e de poder, é que, se queremos uma sociedade mais inclusiva e democrática, e não apenas em termos eleitorais, mas no que diz respeito aos direitos humanos de forma geral, precisamos que a população aprenda, primeiro, a dominar a tecnologia, especialmente o que chamamos de digitalização, e isso significa um domínio da técnica, para que possamos impor valores ético-humanistas cristãos a ela. Não existe técnica amoral ou neutra. A técnica sempre está a serviço de uma ética, e precisamos impor à técnica atual uma ética humanista e cristã, para que possamos ter um mundo diferente.
IHU On-Line – Você já afirmou que digital é convergir. A economia já assimilou essa lógica da convergência?
Luciano Sathler – Sim, a economia já assimilou isso. Atualmente, são raríssimas as empresas que podem sobreviver sem o suporte da informática. Quando falamos de digital, estamos agregando questões da informática, de seu domínio e de qual conteúdo irá compor esse digital. Temos conteúdo de entretenimento, comerciais, militares, entre outros. A economia já é digitalmente convergente nesse sentido. A questão é que nós, dos movimentos populares, ainda não nos preparamos adequadamente para enfrentar essa convergência.
IHU On-Line – Como e quando essa preparação irá acontecer?
Luciano Sathler – Existem diversas formas de atuar. Falo nós, especificamente, enquanto movimentos sociais e de igrejas, que buscam uma transformação do mundo. Assim, precisamos, primeiro, entender uma nova forma de atuação política. Temos que entrar mais firmes na discussão de questões relacionadas à ciência e à tecnologia. Temos que entrar com maior clareza em questões relacionadas à inovação. Temos que entrar com maior competência na luta pela educação e capacitação profissional mais adequada no nosso país. E precisamos entender que a cidadania passa, obrigatoriamente, pela busca da emancipação científica e tecnológica. Isso que temos hoje não é mais o suficiente.
Se lemos Norberto Bobbio [1], percebemos que a máquina do poder, tanto governamental quanto "Temos que aprender a usar a comunicação para chegar no povo verdadeiramente, não nos mesmos de sempre"
econômica, tende a deixar as pessoas falarem para não prestarem atenção. Quais são os fóruns que realmente fazem diferença? Temos que aprender a fazer lobby no Congresso. Temos que aprender a usar a comunicação para chegar no povo verdadeiramente, não nos mesmos de sempre. E precisamos ser capazes de entender que, se o nosso cidadão não estiver educado e capacitado para uma emancipação científica e tecnológica, sempre estaremos em uma posição de dependência dos países ricos.
IHU On-Line – De que forma precisamos, então, nos reorganizar?
Luciano Sathler – Precisamos mudar nossa forma de protestar. Precisamos adotar a web 2.0 de maneira mais intensa e nos capacitar para entender os problemas da questão dos direitos de propriedade intelectual. Além disso, é hora de aproveitarmos as brechas que a Internet possibilita para enfrentarmos, especialmente, as chamadas indústrias da comunicação. É conveniente fazer circular um discurso alternativo e que seja compreendido pela população.
IHU On-Line – Que mudanças no ambiente informacional se destacam no que diz respeito ao desenvolvimento dos mercados e governos latino-americanos?
Luciano Sathler – No ambiente informacional, a grande mudança que o mundo inteiro está sentindo é a quebra da cadeia básica de valor nos mercados de conteúdo criativo. Antes da Internet, alguém criava um conteúdo e um outro publicava, já o varejista vendia esse conteúdo e aí vinha o consumidor informacional. Havia, portanto, os intermediários entre uma etapa e outra. A grande revolução que está acontecendo, e isso afeta todos os setores, tanto de educação e de entretenimento, quanto de governos, é que a Internet permite quebrar essa cadeia na medida em que possibilita ao criador de conteúdo falar diretamente com o consumidor, sem nenhum atravessador. Essa é a revolução que vivemos hoje e sobre a qual as empresas e governos já estão se reposicionando. Portanto, nós, enquanto movimentos sociais e igrejas, temos que assumir uma posição de vanguarda para usarmos bem essa possibilidade.
IHU On-Line – Quais os principais paradigmas da produção descentralizada e não-comercial para a economia atual?
Luciano Sathler – As chamadas rede colaborativas permitem essa produção descentralizada, segundo Benkler [2] radicalmente descentralizada, da informação. E o que mais cresce hoje é a produção descentralizada da informação sem fins comerciais. Para que isso seja promovido por nossas organizações, temos que ter, basicamente, cinco atitudes: 1) envolver as pessoas para que participem das redes colaborativas de construção do conhecimento; 2) estimular as pessoas para criar novos conteúdos dentro dessas redes; 3) os conteúdos também precisam ser discutidos, e a discussão deve ser promovida, não sendo unilateral à criação; 4) Além disso, temos que promover o que foi discutido para a realização de novas audiências e, desta forma, ampliar o alcance da nossa mensagem; 5) e, por fim, precisamos medir o resultado do que estamos promovendo. Isso, hoje, é muito fácil de ser feito por meio de algumas ferrramentas que a própria web 2.0 nos traz. O mais comum antes era as pessoas colocarem um conteúdo no ar e pronto. Não se importavam com quem estava lendo. Agora, temos condições de medir para realmente acompanharmos qual conteúdo está sendo mais discutido, como está sendo discutido, e coisas desse tipo.
Notas:
[1]Norberto Bobbio foi um filósofo político, historiador do pensamento político e senador vitalício italiano.
[2]Yochai Benkler é um professor da Escola de Direito na Universidade de Harvard, que escreve sobre a Internet e o surgimento da economia da sociedade em rede, bem como sobre a organização da infraestrutura, por exemplo, a comunicação sem fios.
“A técnica sempre está a serviço de uma ética, e precisamos impor à técnica atual uma ética humanista, para que possamos ter um mundo diferente”, opina o professor.
Confira a entrevista.
Nesta entrevista, concedida pelo professor Luciano Sathler à IHU On-Line, por telefone, a economia e os objetivos dos movimentos sociais são analisados a partir da perspectiva do desenvolvimento das tecnologias. Assim, o entrevistado diz que os movimentos sociais precisam “adotar a web 2.0 de maneira mais intensa” e, para isso, capacitar-se “para entender os problemas da questão dos direitos de propriedade intelectual”. “É hora de aproveitarmos as brechas que a Internet possibilita para enfrentarmos, especialmente, as chamadas indústrias da comunicação”, afirma.
Luciano Sathler é publicitário formado na PUC-Minas, com mestrado e doutorado em Administração, pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor no Grupo Anhanguera Educacional e na Universidade Metodista de São Paulo. É também vice-presidente, na América Latina, da World Association for Christian Communication. Durante o Mutirão da Comunicação, que aconteceu no início do mês, Luciano apresentou a palestra Economia e Comunicação na Era Digital.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como devemos pensar a economia a partir desta era cada vez mais digital?
Luciano Sathler – Na verdade, estamos vivendo na sociedade da informação. Quem tem o poder nesta sociedade é quem domina as tecnologias de informação e comunicação, desde a produção e inovação, até o uso de tecnologias. O poder também está naqueles que são capazes de produzir conteúdo relevante e bem avaliado pelo mercado, e tecnologias que extrapolam a tecnologia da informação e comunicação. Uma das características da sociedade da informação é que a digitalização ultrapassa fronteiras. Temos a digitalização para as questões de biotecnologia, nanotecnologia e robótica, na própria produção das fábricas, nos serviços financeiros, etc. Ou seja, todas as áreas produtivas da nossa sociedade passam a ter que, obrigatoriamente, buscar um diferencial a partir da tecnologia.
Quando falamos de poder, há uma convergência do poder econômico, político e simbólico. Isso tende a "Não existe técnica amoral ou neutra"
convergir nos diferentes tempos da sociedade humana. Hoje, a convergência desses poderes está em poucas mãos, que dominam a questão da tecnologia. Então, o que temos que pensar, em termos de economia e de poder, é que, se queremos uma sociedade mais inclusiva e democrática, e não apenas em termos eleitorais, mas no que diz respeito aos direitos humanos de forma geral, precisamos que a população aprenda, primeiro, a dominar a tecnologia, especialmente o que chamamos de digitalização, e isso significa um domínio da técnica, para que possamos impor valores ético-humanistas cristãos a ela. Não existe técnica amoral ou neutra. A técnica sempre está a serviço de uma ética, e precisamos impor à técnica atual uma ética humanista e cristã, para que possamos ter um mundo diferente.
IHU On-Line – Você já afirmou que digital é convergir. A economia já assimilou essa lógica da convergência?
Luciano Sathler – Sim, a economia já assimilou isso. Atualmente, são raríssimas as empresas que podem sobreviver sem o suporte da informática. Quando falamos de digital, estamos agregando questões da informática, de seu domínio e de qual conteúdo irá compor esse digital. Temos conteúdo de entretenimento, comerciais, militares, entre outros. A economia já é digitalmente convergente nesse sentido. A questão é que nós, dos movimentos populares, ainda não nos preparamos adequadamente para enfrentar essa convergência.
IHU On-Line – Como e quando essa preparação irá acontecer?
Luciano Sathler – Existem diversas formas de atuar. Falo nós, especificamente, enquanto movimentos sociais e de igrejas, que buscam uma transformação do mundo. Assim, precisamos, primeiro, entender uma nova forma de atuação política. Temos que entrar mais firmes na discussão de questões relacionadas à ciência e à tecnologia. Temos que entrar com maior clareza em questões relacionadas à inovação. Temos que entrar com maior competência na luta pela educação e capacitação profissional mais adequada no nosso país. E precisamos entender que a cidadania passa, obrigatoriamente, pela busca da emancipação científica e tecnológica. Isso que temos hoje não é mais o suficiente.
Se lemos Norberto Bobbio [1], percebemos que a máquina do poder, tanto governamental quanto "Temos que aprender a usar a comunicação para chegar no povo verdadeiramente, não nos mesmos de sempre"
econômica, tende a deixar as pessoas falarem para não prestarem atenção. Quais são os fóruns que realmente fazem diferença? Temos que aprender a fazer lobby no Congresso. Temos que aprender a usar a comunicação para chegar no povo verdadeiramente, não nos mesmos de sempre. E precisamos ser capazes de entender que, se o nosso cidadão não estiver educado e capacitado para uma emancipação científica e tecnológica, sempre estaremos em uma posição de dependência dos países ricos.
IHU On-Line – De que forma precisamos, então, nos reorganizar?
Luciano Sathler – Precisamos mudar nossa forma de protestar. Precisamos adotar a web 2.0 de maneira mais intensa e nos capacitar para entender os problemas da questão dos direitos de propriedade intelectual. Além disso, é hora de aproveitarmos as brechas que a Internet possibilita para enfrentarmos, especialmente, as chamadas indústrias da comunicação. É conveniente fazer circular um discurso alternativo e que seja compreendido pela população.
IHU On-Line – Que mudanças no ambiente informacional se destacam no que diz respeito ao desenvolvimento dos mercados e governos latino-americanos?
Luciano Sathler – No ambiente informacional, a grande mudança que o mundo inteiro está sentindo é a quebra da cadeia básica de valor nos mercados de conteúdo criativo. Antes da Internet, alguém criava um conteúdo e um outro publicava, já o varejista vendia esse conteúdo e aí vinha o consumidor informacional. Havia, portanto, os intermediários entre uma etapa e outra. A grande revolução que está acontecendo, e isso afeta todos os setores, tanto de educação e de entretenimento, quanto de governos, é que a Internet permite quebrar essa cadeia na medida em que possibilita ao criador de conteúdo falar diretamente com o consumidor, sem nenhum atravessador. Essa é a revolução que vivemos hoje e sobre a qual as empresas e governos já estão se reposicionando. Portanto, nós, enquanto movimentos sociais e igrejas, temos que assumir uma posição de vanguarda para usarmos bem essa possibilidade.
IHU On-Line – Quais os principais paradigmas da produção descentralizada e não-comercial para a economia atual?
Luciano Sathler – As chamadas rede colaborativas permitem essa produção descentralizada, segundo Benkler [2] radicalmente descentralizada, da informação. E o que mais cresce hoje é a produção descentralizada da informação sem fins comerciais. Para que isso seja promovido por nossas organizações, temos que ter, basicamente, cinco atitudes: 1) envolver as pessoas para que participem das redes colaborativas de construção do conhecimento; 2) estimular as pessoas para criar novos conteúdos dentro dessas redes; 3) os conteúdos também precisam ser discutidos, e a discussão deve ser promovida, não sendo unilateral à criação; 4) Além disso, temos que promover o que foi discutido para a realização de novas audiências e, desta forma, ampliar o alcance da nossa mensagem; 5) e, por fim, precisamos medir o resultado do que estamos promovendo. Isso, hoje, é muito fácil de ser feito por meio de algumas ferrramentas que a própria web 2.0 nos traz. O mais comum antes era as pessoas colocarem um conteúdo no ar e pronto. Não se importavam com quem estava lendo. Agora, temos condições de medir para realmente acompanharmos qual conteúdo está sendo mais discutido, como está sendo discutido, e coisas desse tipo.
Notas:
[1]Norberto Bobbio foi um filósofo político, historiador do pensamento político e senador vitalício italiano.
[2]Yochai Benkler é um professor da Escola de Direito na Universidade de Harvard, que escreve sobre a Internet e o surgimento da economia da sociedade em rede, bem como sobre a organização da infraestrutura, por exemplo, a comunicação sem fios.
EDUCAÇÃO: Para que Ser tenha mais valor do que Ter

Na tese de doutorado intitulada “Procedimentos utilizados pelas famílias na educação econômica de seus filhos”, a autora Valéria Cantelli procura lançar luz sobre o problema.
“Os tempos estão difíceis para as famílias, pois os valores se relativizam e, em muitos lares, ter parece mais relevante do que ser. É importante refletir sobre como enfrentar as pressões da sociedade de consumo”.
A educação econômica é um novo campo na área do conhecimento social, com estudos pioneiros desenvolvidos no país por pesquisadores da Faculdade de Educação da Unicamp. Esses pesquisadores atuam no Laboratório de Psicologia Genética (LPG), sob a coordenação da professora Orly Zucatto Mantovani de Assis, orientadora desta tese de doutorado e de outros estudos realizados sobre o tema (veja texto nesta página). “Há muitos trabalhos nas áreas de marketing, publicidade, economia, mas poucos no âmbito da educação e da psicologia”, informa Valéria Cantelli.
A autora explica que a pesquisa foi realizada em uma amostra com 270 famílias de uma cidade da Região Metropolitana de Campinas, com pelo menos um filho em idades entre 3 e 16 anos. “Procurei equilibrar os grupos em relação aos estratos socioeconômicos (baixo, médio e alto) e à constituição familiar: biparental (a tradicional, com ambos os pais vivendo no lar), monoparental (no caso deste estudo, apenas com a mãe assumindo o cuidado dos filhos) e recomposta (de uma nova união, na qual existam filhos de um vínculo anterior). A coleta de dados ocorreu a partir de um questionário criado exclusivamente para este trabalho”.
Dentre os principais achados do estudo, Valéria Cantelli destaca que as famílias, no geral, acreditam que a educação econômica deva fazer parte da formação das crianças, mas não promovem ações sistemáticas para fomentar hábitos e condutas adequadas para o consumo. “O comportamento dos pais e seus procedimentos para educar os filhos nessa questão são intuitivos e não planejados. É pequeno o número de famílias que adotam condutas simples como elaborar uma lista de compras, registrar as despesas do dia e utilizar a mesada como forma de entrega de dinheiro para os filhos”.
A autora acrescenta que as crianças ouvem sobre a importância de controlar o dinheiro e de poupar, mas presenciam, cotidianamente, os adultos realizando compras impulsivas, recorrendo frequentemente ao cartão de crédito e ao cheque pré-datado. “Observa-se ainda a ausência de práticas voluntárias de poupança e economia doméstica. Essas condutas refletem a distância entre o que os pais dizem fazer e o modelo que oferecem para a educação dos filhos”.
De acordo com a pesquisadora, ainda que as famílias implementem ações de forma espontânea, como respostas às demandas dos filhos, o nível socioeconômico apareceu como a variável de maior diferenciação entre os grupos. “As famílias de estrato alto se destacam por maior sistematização do planejamento, além de ser mais disseminada entre elas a adoção da mesada. Ainda assim, é comum darem mais dinheiro aos filhos ao longo do mês, atendendo a outras solicitações. A mesada não é uma forma de ensinar a administrar o dinheiro, tomar decisões sobre os gastos e se planejar para atingir objetivos futuros”.
Chamou a atenção de Valéria Cantelli o número expressivo de famílias, em todos os níveis, que disponibilizam dinheiro ou fazem compras para os filhos sempre que pedem. A prerrogativa de atender prontamente às solicitações das crianças também demonstra a dificuldade em proporcionar o aprendizado da escolha, ensinado-as a diferenciar o essencial do supérfluo. “Para os pais de maior nível socioeconômico, esta é uma forma de se fazerem presentes diante do pouco tempo que passam com os filhos; já os de menor nível, não querem que as crianças passem por privações e procuram proporcionar para elas as oportunidades que não tiveram”.
Poupança
Outro dado interessante é o pequeno número de famílias preocupadas em controlar as despesas domésticas e realizar práticas voluntárias de poupança, embora todas queiram que os filhos aprendam a poupar. “O cofrinho de moedas e a caderneta de poupança, por exemplo, visam à educação dos filhos, mas mesmo essas ações não chegam a assumir um caráter pedagógico: as crianças não participam de etapas importantes deste processo, como registrar as entradas ou doações, acompanhar a ida ao banco e conversar sobre a regularidade e o objetivo dos depósitos – ações que fazem parte da dinâmica de socialização e resultam em uma maior educação econômica”.
A pesquisadora atenta inclusive para um movimento contrário, provocado pelo acesso fácil ao crédito e pelo conceito de felicidade ligada ao consumo. “Percebe-se atualmente certa banalização da dívida nos vários grupos sociais, principalmente na classe média, onde as famílias não veem como algo ruim a ideia de comprar agora e pagar depois. É a saída que esses pais encontram diante da pressão no contexto social e da publicidade para que consigam satisfazer imediatamente os próprios desejos e os dos filhos”.
Valéria Cantelli lembra que os pais de hoje foram criados num período em que a inflação no Brasil tornava impossível qualquer planejamento. “Eles não foram preparados para lidar de forma mais inteligente com o dinheiro e muitos se sentem despreparados para ensinar os filhos a enfrentar os apelos do consumismo. Isso resulta em uma lacuna preocupante na formação das novas gerações, que extrapola o âmbito econômico e alcança uma dimensão ética: ao vincular a felicidade à aquisição bens, o modelo social atual atrela a construção da identidade de crianças e jovens à ideia de que para ser, precisam ter”.
Mãe sozinha
Com relação à variável da estrutura familiar, a autora encontrou em lares chefiados por mães um maior envolvimento dos filhos no planejamento do orçamento e uma análise sistemática da situação financeira antes das compras. “O uso menos frequente de cheques pré-datado ou cartão de crédito na família monoparental indica melhor controle dos gastos. Este elemento deve ser destacado, pois a conduta do responsável direto pela criança serve de referência para a formação de hábitos mais equilibrados em relação ao consumo”.
No caso de pais que estão vivendo uma segunda união, a pesquisa aponta que este grupo vê como prioritária o ensino de práticas de economia e poupança para os filhos. “Há uma forte preocupação em ensinar hábitos de economia e poupança como forma de ajudá-los a usar de forma responsável o dinheiro. O diálogo e as negociações estão presentes e revelam a opção por práticas educativas mais coerentes com um estilo democrático de criação dos filhos”.
Valéria Cantelli, afinal, defende o resgate de comportamentos mais austeros como forma de enfrentar os tempos de consumismo. “Assumir uma postura mais racional pode nos ajudar a educar a vontade de consumo. Os pais não devem ceder. Devem ensinar a criança a diferenciar o que compramos por necessidade e o que compramos porque queremos; ensinar a esperar para ganhar um presente. São importantes aprendizagens que devemos ajudar a criança a realizar”.
Linha de pesquisa já rendeu quatro teses
A pesquisadora Valéria Cantelli afirma que a educação econômica já aparece nos programas curriculares de escolas européias e americanas, mas no Brasil existem apenas iniciativas isoladas, notadamente em unidades particulares. “Os parâmetros curriculares nacionais trazem abertura para a introdução da educação para o consumo como tema transversal, mas não se observa a consolidação deste trabalho nas escolas”.
Para a pesquisadora, os professores também não se acham preparados para atender a esta demanda, visto que muitas das suas condutas ligadas ao mundo econômico foram construídas informalmente, além de apresentarem baixo nível de alfabetização nesta matéria, como ficou demonstrado em outras pesquisas do Laboratório de Psicologia Genética. “A educação econômica não pode ser tratada como um conteúdo curricular isolado. O mundo econômico é um dos pilares da vida social e, por isso, precisa de um tratamento interdisciplinar, englobando crenças, valores e hábitos do indivíduo e do meio em que ele está inserido”.
Os vários trabalhos da linha de pesquisa coordenada pela professora Orly Mantovani de Assis estão fundamentados nos estudos da pesquisadora chilena Marianela Denegri Coria, da Universidade de Temuco (Chile). “A professora Denegri está envolvida com o tema há mais de uma década e colabora com as investigações do nosso laboratório. Seus estudos têm servido de referência para muitos dos trabalhos que vêm sendo realizados aqui no Brasil”.
Além da pesquisa de Valéria Cantelli – “Procedimentos utilizados pelas famílias para a educação econômica de seus filhos” (2009) –, foram defendidas pelo grupo do LPG mais três teses de doutorado e outras duas encontram-se em andamento. A primeira foi defendida em 2007 por Regina Araújo, que investigou o desenvolvimento do pensamento econômico em crianças de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental. Em 2008, Sonia Bessa da Silva verificou o nível de alfabetização econômica de estudantes de pedagogia, e também propôs um programa de formação que permitissem aos futuros professores trabalhar o tema com as crianças.
No último mês de agosto, Maria Fernanda Ortiz defendeu a tese “Educação para o consumo: diagnóstico da compreensão do mundo econômico do aluno da educação de jovens e adultos”. Há mais dois trabalhos em andamento, ambos também de doutorado, cujos resultados serão conhecidos no início de 2010: um sobre os hábitos familiares, de consumo e culturais de crianças e pré-adolescentes, e outro relacionando consumo e meio ambiente.
Valéria Cantelli informa que o grupo de pesquisas em educação econômica está para ser formalizado. “Nosso compromisso, além de abrir essa linha de investigação, é com a composição de um banco de dados que possa subsidiar as práticas de pais e professores na organização de ações educativas. O objetivo último é contribuir para que as crianças desenvolvam noções econômicas básicas, permitindo a elas se situar diante da sociedade de consumo como pessoas conscientes, críticas, responsáveis e solidárias”.
Artigo de Luis Fujimoto, Jornal da UNICAMP.
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