Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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'Economist' alerta para perigos de 'fraquezas' do Brasil para a economia

Atualizado em 18 de maio, 2012 - 06:00 (Brasília) 09:00 GMT
 
Plantação de soja no Brasil
Revista cita agribusiness como um dos setores em que há oportunidades no Brasil
Um artigo na edição desta semana da revista britânica The Economist diz que o Brasil tem pontos fortes "reais", mas que o governo deveria "se preocupar mais com as suas fraquezas".
Apesar de elogiar o desemprego baixo, o aumento dos salários e o investimento estrangeiro direto batendo recordes, o artigo diz que o governo é responsável por grande parte do "custo Brasil".

"A carga de impostos não só subiu de 22% do PIB em 1988 para 36% hoje, mas o sistema tributário é absurdamente complexo. A maior parte do dinheiro vai para aposentadorias supergenerosas e para um pesado governo esbanjador, em vez de ser transferida para os pobres", diz o texto.
Segundo a revista, a presidente Dilma Rousseff vem trabalhando para lidar com alguns destes problemas - tentando eliminar o déficit fiscal, cortando impostos para alguns setores da indústria e apostando na modernização de aeroportos -, mas "seus esforços para baixar os custos são tímidos demais; ela foi responsável pelo tolo novo regime protecionista no setor de petróleo; e a impressão de que ela está preparada para aceitar um crescimento abaixo de 4%", o que, para a publicação, afastaria investimentos do Brasil, prejudicando seus eleitores mais pobres.
"Uma taxa de crescimento de 3,5% pode parecer generosa para padrões ocidentais, mas está abaixo tanto do que o Brasil precisa para dar continuidade aos recentes ganhos sociais quanto do que poderia ser", diz o texto.

Investidores estrangeiros

Uma outra reportagem sobre o Brasil publicada na mesma edição da revista afirma que investidores estrangeiros e aqueles que os aconselham demonstram uma abordagem nova e menos empolgada em relação ao país.
Como um dos exemplos dessa nova abordagem, o artigo cita texto recente de Ruchir Sharma, analista do Morgan Stanley, na revista Foreign Affairs, no qual afirma que o Brasil subiu com os preços das commodities e irá cair com eles.
Segundo a Economist, após ter conquistado estabilidade macroeconômica e redução da desigualdade de renda e registrado uma recuperação rápida da crise econômica mundial e crescimento de 7,5% em 2010, no ano passado o país cresceu apenas 2,7%, abaixo dos outros Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul).
A revista diz ainda que são necessários "ganhos de produtividade, mais poupança e investimento" para dar um novo impulso à economia brasileira. "Mas não há sinal disso", diz o texto.
A reportagem cita a recente desvalorização do real frente ao dólar e o fato de a taxa básica de juros estar em 9% e com perspectivas de baixar ainda mais como "vitórias há muito esperadas" pelo governo brasileiro.
"Nenhuma, porém, foi suficiente para reverter uma recente mudança de clima contra o Brasil", diz o texto.

Fraquezas

A revista diz também que, para alguns analistas, "intervenções políticas suplantaram uma moeda supervalorizada como o maior risco no Brasil", e menciona ainda o caso da nacionalização da YPF pela Argentina no mês passado e o fato de o Brasil não ter criticado publicamente o vizinho.
"Isso é arriscado", diz a revista. "O Brasil realmente é diferente da Argentina, mas estrangeiros talvez não percebam isso."

A reportagem cita ainda a recente ameaça de multas à Chevron e de prisão de seus executivos, após um vazamento de óleo, que teria provocado questionamentos de possíveis investidores sobre se no Brasil um deslize pode levar ao risco de ter seu passaporte confiscado.
No entanto a revista conclui que, apesar dos problemas e da previsão de crescimento modesto por alguns anos, há ainda muitas oportunidades no Brasil, como nos setores de agribusiness e mineração

Mudança Climática e conflito social estão associados?

Por Sérgio Abranches, do Ecopolítica
Eventos climáticos extremos podem ter tido efeito importante nos levantes populares no Oriente Médio e Norte da África? A mudança climática já está afetando as relações sociais?

A questão pode parecer uma dessas vias forçadas para alertar sobre a mudança climática. Mas não é. É uma preocupação relevante e essa conexão já vem sendo estudada por cientistas das mais diversas áreas, climatologistas, ecologistas, sociólogos, economistas. A pergunta é mais complexa do que ela aparenta à primeira vista. Ela indaga sobre duas relações nada triviais: entre eventos climáticos extremos e mudança climática e entre anomalias climáticas e conflito social.

Os cientistas resistem sempre a atribuir a emergência de eventos climáticos extremos específicos à mudança climática. Argumentam, com razão, que não há base científica para associar um evento em particular ao fenômeno global e de longo prazo da mudança climática. Mas o climatologista Kevin Trenberth, diretor da Seção de Análise Climática do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, nos Estados Unidos, defendeu recentemente uma visão diferente desse problema, conhecido na ciência climática como “o problema da atribuição”. Em entrevista exclusiva ao editor do blog Climate Progress, o físico Joseph Romm, Trenberth disse que:

Os cientistas sempre começam com a afirmação de que não se pode atribuir um evento isolado à mudança climática. Mas ela tem uma influência sistemática sobre todos esses eventos climáticos atuais, segundo ele, por causa do fato de que há mais vapor d’água circulando na atmosfera do que se tinha, digamos, trinta anos atrás. É uma quantidade extra de 4% de vapor d’água. Ele aumenta a força das tempestades, dá mais umidade para essas tempestades e é ruim que o público não veja isto como uma manifestação da mudança climática. A perspectiva é que esse tipo de coisa só aumentará e piorará no futuro.

A quantidade de gases estufa na atmosfera, segundo a maioria dos cientistas, já tem um efeito de aceleração do aquecimento da Terra. Portanto, a mudança climática decorrente deve ser vista como um processo em curso com tendência de agravamento ao longo do tempo. Ou seja, é de longo prazo, mas as coisas não acontecem todas no futuro de uma vez só. Vão acontecendo progressivamente, com aumento de frequência e intensidade.

E qual a relação com os fatos no Oriente Médio e na África do Norte?

Tivemos um período atípico de grande quantidade de eventos climáticos extremos em 2010 e no início deste ano. Secas, enchentes, ondas de calor e frio, tempestades intensas, nevascas, queimadas. Esses eventos afetaram negativamente a produção agrícola mundial em todas as partes do mundo: os casos mais exemplares foram no Casaquistão, na Rússia, no Canadá, na Austrália, nos Estados Unidos, na China e no Brasil. O resultado foi uma forte alta dos preços internacionais das commodities agrícolas e inflação de preços de alimentos. Uma inflação climática.

O blog Climate Progress organizou uma série de referências de cientistas e da imprensa a essas relações. Entre elas, estudo dos economistas Rabah Arezki, do FMI, e Markus Brückner, da Universidade de Adelaide na Austrália. Eles estudaram o efeito de variações nos preços internacionais de alimentos sobre as instituições democráticas e conflitos internos em mais de 120 países, entre 1970 e 2007. Essa análise mostra que existe uma clara relação para os países de baixa renda: observa-se a deterioração das instituições democráticas e o aumento da incidência de conflitos de rua, demonstrações anti-governo, e movimentos de massa.

Por que nos países de baixa renda? Nos países de renda alta essa relação não é significativa. Porque quanto menor a renda do país, maior a participação dos alimentos no orçamento doméstico e, portanto, maior a sensibilidade da população a elevações fortes do preço da comida.

Estudos históricos mostram que há relação entre mudança climática e colapso social. Quebras de safra e consequente elevação dos preços de comida são causas frequentes de levantes populares e revoluções na história da sociedade moderna e contemporânea. A história do próprio Egito registra casos históricos de conflitos associados ao preços dos grãos (infelizmente não tenho cópia digital deste artigo). Na Índia, também foram muitos os episódios. O mais notável talvez tenha sido a “revolta dos grãos” de 1918, provocada por desabastecimento e elevação de preços dos grãos resultante de monções com chuvas excepcionalmente fracas.

Em vários desses episódios históricos a relação era direta: a elevação dos preços dos alimentos causava a revolta. No caso atual, as causas são outras. Para entender o que se passa no Egito, por exemplo, é preciso distinguir entre o que causa o descontentamento profundo e o que detona a revolta. O que causou o descontentamento foi a própria tirania. Um governo autocrático, um ditador no poder por 30 anos, uma administração corrupta. Repressão, censura, prisões arbitrárias, tortura. No plano social, muita pobreza, imensa desigualdade de renda e de riqueza, falta de perspectiva de mobilidade social para os jovens. Nos últimos anos houve várias manifestações de protesto, todas duramente reprimidas, mas nenhuma do porte da revolta de massas que começou no dia 25.

O que detona o levante das massas? Uma conjuntura, isto é, uma convergência de fatores, antes dissociados, que se encontram e formam “a gota d’água”, provocam a virada, o tipping point, que levam um protesto como outros inúmeros se transformar em explosão de descontentamento geral, em revolta incontrolável e espontânea da massa.

No Egito houve fatores econômicos, políticos e aceleradores importantes que criaram essa conjuntura. O econômico foi a elevação dos preços dos alimentos, que atingiu duramente as famílias mais pobres. A subida dos preços do petróleo, moradia e educação, bateu no orçamento da classe média. Esse choque de preços ocorreu em uma economia debilitada, na qual o desemprego de jovens é muito alto. O desemprego agrava uma situação de baixa mobilidade social, anulando as perspectivas de futuro dos jovens. Em alguns casos, jovens com qualificação sofrem descenso social, sendo forçados a trabalhar em setores de baixa qualificação. O desespero dos jovens se transmite facilmente para os pais e famílias.

O fator político foi a notícia de que o filho de Hosni Mubarak, Gamal Mubarak, seria seu sucessor, provavelmente já como candidato nas eleições de cartas marcadas previstas para setembro. A possibilidade de uma dinastia Mubarak provocou enorme rejeição, em um país de passado dinástico.

O quadro sócio-econômico no Egito não é muito diferente do que se observa nos outros países. Na Tunísia, no Sudão, mesmo na Arábia Saudita, há tirania, muita pobreza, desigualdade de renda e riqueza, desemprego de jovens e elevação de preços de alimentos. Ouvi recentemente entrevista de um dos príncipes sauditas, na CNN, falando que a situação em seu país é diferente, mas que há, realmente, insatisfação com o aumento de preços dos alimentos e da moradia. O governo aumentou os salários para que pudessem absorver o custo adicional. A evidência mostra que subsídios e aumentos salariais para compensar os efeitos da inflação alimentar têm efeito temporário e acabam por realimentar os preços.

No Egito, o aumento dos preços dos alimentos foi muito forte, como se vê no gráfico em - http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Inflation-in-Egypt.jpg.

Os preços dos alimentos subiram 40% e os de moradia e educação, mais de 10%. Os pobres são sensíveis à inflação nos alimentos e na moradia. A classe média à inflação na educação, na moradia e nos combustíveis.

O que acelerou a revolta e permitiu que se transformasse em um movimento de massa, muito rapidamente? As mídias e redes sociais e o efeito-demonstração do levante na Tunísia, que se propagou por essas vias digitais. É evidente que as mídias e redes sociais não fazem revoluções. Elas são uma revolução na forma como nos comunicamos e trocamos informação. Nisso têm sido revolucionárias. Mas, na sociologia dos conflitos sociais seu papel é de acelerador e transmissor, permitindo, por exemplo, o contágio inicial, que depois passa a se dar por contato físico, nas ruas e nas praças, e na propagação de eventos que acabam tendo o efeito de aumentar a propensão à ação.

Além disso, podem ter o efeito de prolongar o contágio. A sociologia já decifrou como terminam os processos por contágio, como os arrastões, por exemplo: quando não há mais pessoas a contagiar e a cadeia se quebra. As redes e mídias sociais – no caso do Egito principalmente o SMS – trazem mais pessoas para o movimento e realimentam o contágio.

Não é por acaso que essas revoltas ocupam as ruas e praças das cidades. O meio urbano é muito mais propício ao contágio das massas. O crescimento da população com acesso à telefonia celular dá o principal instrumento de contágio.
 Veja os gráficos para o Egito (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Egypt-Mobile-subs.jpg ) e a Tunísia (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Tunisia-Mobile-subs.jpg).

Mas a internet teve importante papel de manter o mundo informado sobre o que se passava no Egito, provavelmente evitando um banho de sangue, e na comunicação entre os egípcios. E por isso o governo fechou o acesso à Web.

Nada é simples nesse processo. Estamos falando da convergência de processos complexos no sistema climático, no sistema social e na sociedade global. Essa convergência só aumentará nos próximos anos e décadas. Viveremos mais turbulência climática e social, no meio de uma revolução científica e tecnológica sem precedentes.

Para ouvir o comentário do autor na rádio CBN acesse http://www.ecopolitica.com.br/2011/02/02/mudanca-climatica-e-conflito-social-estao-associados/.

Ouro Preto e Mariana, 300 anos de geração de riqueza, exclusão social e degradação ambiental >>> Ecodebate

Valdir Lamim-Guedes


Se, por um instante, você pensar em todas aquelas montanhas de minério retiradas de Mariana, Ouro Preto e outras cidades do Quadrilátero Ferrífero, vale a pena refletir: o que é feito de toda a renda gerada por esta atividade?”

[Jornal da Ciência] No mês de julho comemoram-se os aniversários das cidades mineiras de Ouro Preto (dia 8, 312 anos) e Mariana (dia 16, “Dia de Minas”, 314 anos). Nas solenidades públicas realizadas nestas datas sempre é ressaltado um passado de glórias.

No entanto, certos aspectos deste período são deixados de lado, construindo uma história parcial, que contribui pouco para a melhoria da qualidade de vida da maior parte da população destas cidades.

A região de Ouro Preto foi a principal área de extração de ouro nos séculos XVIII e XIX. Foram enviadas a Portugal, oficialmente, oitocentas toneladas de ouro no século XVIII, sem contar o que circulou de forma ilegal, bem como o que ficou na colônia ornando as suntuosas igrejas.

Ouro Preto e Mariana passaram por um rápido processo de urbanização, com Vila Rica (atual Ouro Preto) sendo a cidade mais populosa da América Latina, com cerca de 40 mil pessoas em 1730 e, algumas décadas após, chegando a abrigar 80 mil pessoas. Nesta época, Nova York possuía menos da metade desse número de habitantes e a vila de São Paulo não tinha mais que oito mil habitantes.

Foram construídos vários prédios públicos, um rico casario e muitas igrejas (a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Ouro Preto, apresenta 400 quilos de ouro e 400 quilos de prata em sua decoração), conjunto este construído para representar a riqueza gerada ali. Outra característica foi a grande concentração de escravos, que viviam em péssimas condições, por causa do trabalho árduo e debilitante – um retrato escancarado das desigualdades sociais da época.

Outra herança deste período foi a degradação ambiental. Em diversos relatos de viajantes naturalistas que passaram pela região, existem menções a degradação dos corpos d’água (assoreamento, ausência de mata ciliar, águas barrentas) e a devastação das florestas (solo exposto, vegetação em inicio de regeneração e queimadas).

Ao longo do século XIX a produção do ouro teve forte redução, tanto pelo fim dos estoques auríferos de fácil extração (depósitos de aluvião, principalmente) como pelo assoreamento dos rios causado pelo uso de técnicas inadequadas de extração do ouro, que dificultavam a exploração aurífera.

O Barão von Eschwege, que viveu em Ouro Preto no início do século XIX, observou: “revolvendo-se freqüentemente as cabeceiras dos rios, estas se carregam cada vez mais de lama, a qual se foi depositando sobre a camada rica, alcançando de ano para ano maior espessura, tal como vinte, trinta e até mesmo cinqüenta palmos. Por este motivo, as dificuldades tornaram-se tão grandes, que não se pode mais atingir o cascalho virgem”.

O retrato da época é uma mistura de riqueza e pobreza, com grande degradação ambiental. Mas isto não é o que ocorre hoje? A propaganda em torno da necessidade do desenvolvimento econômico baseado na utilização de nossos recursos naturais traz um falso dilema: proteger ou desenvolver. É facilmente observável que a renda advinda da extração das nossas riquezas naturais não é dividida igualitariamente aqui no Brasil (lê-se: em quase todo o mundo) e, no nosso caso, isto nunca foi feito.

Num dos bairros mais antigos de Mariana, cuja ocupação data do inicio do século XVIII, e que foi uma das principais áreas de extração de ouro em morros, existe um local, chamado Gogô, localizado no Morro de Santana – tombado em parte como patrimônio histórico e paisagístico, por causa da existência de diversas ruínas que compõem a área. Apesar de tantas riquezas terem sido retiradas dali, o Gogô é um dos bairros mais pobres de Mariana, onde a população sofre com riscos sociais, sendo a falta de perspectivas para o futuro uma verdade cotidiana.

Mas se, por um instante, você pensar em todas aquelas montanhas de minério retiradas de Mariana, Ouro Preto e outras cidades do Quadrilátero Ferrífero, vale a pena refletir: o que é feito de toda a renda gerada por esta atividade? Nas duas cidades aniversariantes no mês de julho, as denúncias de desvio de verbas e de outros crimes são recorrentes; por exemplo, denúncias de compra de votos nas últimas eleições – Mariana já está no terceiro prefeito desde as eleições de 2008. Estaria aí uma das respostas para a escassez de dinheiro público na região.

Parece estranha a falta de verbas nestas duas cidades, mas isto “parece” ocorrer, sobretudo com o dinheiro saindo por furos no cofre municipal.

Entre muitos problemas que ocorrem nestas duas cidades pode-se ressaltar: uma grande preocupação com o aspecto visual dos principais pontos turísticos das cidades e um abandono quase que por completo das áreas que não são de interesse turístico. O transporte coletivo é deficitário, faltam médicos, escolas em condições precárias e o tráfico de drogas (como o crack) tem agravado a violência. Há grande informalidade do trabalho, já que a mineração absorve apenas uma pequena parte da mão-de-obra disponível, sendo que isto já acontecia na época do ciclo do ouro, na qual apenas 5% da população estava diretamente envolvida na exploração mineral.

O fim dado ao dinheiro público e às riquezas geradas nestas duas cidades é o mesmo de 300 anos atrás. Estes recursos ficam concentrados nas mãos de poucos, enquanto que a maioria da população está a mercê do descaso do poder público. É possível constatarmos que estas duas cidades continuam sendo colônias de exploração, quase 188 anos depois da Independência do Brasil do domínio português. De onde se retiram as riquezas naturais e as melhorias sociais não são alcançadas pela a população local, ficando apenas um passivo ambiental.

Isto é o resultado de trezentos anos de uma história que tem seu brilho encoberto por uma camada escura, deixando-a obscurecida, assim como o ouro paladiado, que tem sua beleza apagada por uma camada de minério escuro.

Valdir Lamim-Guedes (dirguedes{at}yahoo.com.br) é mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

* Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado, no Jornal da Ciência, SBPC, C e-mail 4044, de 02 de Julho de 2010.

EcoDebate, 05/07/2010

Para 90,1% dos brasileiros, violência está aumentando no país /// Agencia Brasil

Luana Lourenço

Repórter da Agência Brasil
Brasília - A violência está aumentando no país, na avaliação de 90,1% dos brasileiros. A constatação é de pesquisa inédita feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) sobre os valores mais importantes para a população.

O tipo de violência que mais incomoda quem vive no país ainda é a dos bandidos, apontada por 56% dos entrevistados. Para 23%, o pior tipo de violência é a familiar, seguida da violência no bairro, no trânsito e nas escolas.

“Mesmo que só existam estatísticas de homicídio e crimes, há outros tipos de violência que as pessoas revelam. E essa percepção da violência é um dado importante, porque é o que as pessoas vivem, o critério que utilizam para decidir se vão sair de casa ou não, fazer uma coisa ou outra”, explicou o economista sênior do Pnud e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil, Flávio Comim.

Além da percepção da violência, o Pnud avaliou a relação entre os valores considerados importantes pelos brasileiros e a educação. Para 77% das pessoas, a família é mais importante para o desempenho dos estudantes do que a própria escola.

A relevância do chamado “efeito família” na educação mostra que a escola tem perdido credibilidade como formadora de valores. No entanto, na hora de apontar as causas para o problema, há um jogo de empurra-empurra, que leva professores a acharem que o problema é dos pais e vice-versa.

De acordo com o levantamento, os brasileiros acreditam que, além da relação direta com o aumento das possibilidades de emprego, a educação pode ajudar a resolver problemas como a violência, a corrupção e a falta de respeito na sociedade.

Segundo Comim, as preocupações dos brasileiros reveladas pela pesquisa apontam a necessidade de políticas cada vez mais integradas para resolver os problemas sociais do país.

“É preciso aumentar a integração entre políticas, entre a vida e a escola e a vida e a casa. Melhorar só as escolas sem política da mesma dimensão para o apoio as famílias e medidas para a segurança não resolve o problema da violência na escola, por exemplo”, avalia.

Os resultados do Perfil dos Valores Brasileiros (PVB) farão parte do Relatório de Desenvolvimento Humano 2009/2010, que o Pnud deve lançar em agosto.

Edição: Juliana Andrade

Entrevista (Marina Silva) - O Brasil é uma potência ambiental e tem que fazer jus a isso ///IHU UNISINOS














Antes de subir no palco do Anfiteatro Pe. Werner da Unisinos, na tarde do último dia 27 de janeiro, para participar do 4º Seminário de Políticas Sociais, atividade organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, e integrada ao Fórum Social Mundial 2010, a senadora e pré-candidata à presidência da República pelo Partido Verde – PV, Marina Silva, aceitou conceder a entrevista que segue à IHU On-Line. Nela, ela fala sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte, sobre sua pré-candidatura à presidência, sobre o PV e o PSOL, sobre as prioridades para o Brasil, entre elas a proposta de melhor explorar o potencial ambiental do país, e sobre meio ambiente e sua relação com o crescimento econômico. Para a senadora, “é preciso requalificar essa história de crescimento pelo crescimento. O crescimento não é um fim em si mesmo. Ele é uma ferramenta, um instrumento para o desenvolvimento. E o desenvolvimento que nós advogamos é aquele que seja sustentável em todos os aspectos: econômico, ambiental, social e cultural”. Em sua palestra, Marina Silva falou ao lado do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, sobre o papel público das políticas na garantia dos direitos sociais.


Marina Silva está em seu segundo mandato no Senado Federal, com duração até 31 de janeiro de 2011. De janeiro de 2003 a maio de 2008, foi ministra do Meio Ambiente do governo Lula, de onde saiu no dia 13 de maio de 2008. Atualmente, Marina Silva participa como membro titular das comissões de Meio Ambiente, e de Constituição e Justiça e preside a subcomissão temporária do Fórum das Águas das Américas e do Fórum Mundial das Águas. Graduada em História, foi também professora, líder estudantil, sindical, vereadora e deputada estadual, além de ter cursado pós-graduação em Psicopedagogia. A biografia de Marina Silva fez com que ela fosse escolhida pelo jornal britânico The Guardian, em 2007, uma das 50 pessoas em condições de ajudar salvar o planeta.



Confira a entrevista.

IHU On-Line - Como sente as críticas feitas a você em relação a sua posição sobre Belo Monte?

Marina Silva – Primeiro é preciso saber a natureza das críticas. Porque, se é em relação a uma declaração que foi atribuída a mim em um jornal de circulação nacional, não condiz com a verdade. Quando eu me referi aos aproveitamentos hídricos da Amazônia eu estava falando de um modo geral, não especificamente em Belo Monte. Então, foi feita uma certa inflexão no sentido de colocar na minha boca algo que eu não disse. Logo, as críticas no mínimo foram injustas.



IHU On-Line - Mas então qual é a sua posição sobre Belo Monte?

Marina Silva – A minha posição em relação à Belo Monte é de que não teve um processo transparente até agora, que as comunidades não foram ouvidas - pelo menos eles estão dizendo que não foram ouvidos adequadamente. O Brasil ratificou a convenção 169, que pressupõe a audiência correta das comunidades indígenas, e isso não foi feito. Um empreendimento dessa magnitude não pode acontecer sem uma forte participação da sociedade. Então, a minha posição em relação à Belo Monte é de que o licenciamento, desde o início, negou a complexidade do empreendimento, mesmo que tenham sido feitos estudos para reposicioná-lo, ainda está muito aquém daquilo que os segmentos envolvidos, sobretudo as populações locais, gostariam que estivesse: o plano de desenvolvimento para a área de abrangência, a auscultação correta das comunidades. Agora, em relação à viabilidade ou não do empreendimento, isso é algo que se discute no mérito. E daí os licenciadores e o governo, que estão à frente do processo, têm que analisar a viabilidade ambiental, a viabilidade técnica e a oportunidade de conveniência. E como eu não sou o governo, não tenho condição de aferir, nesse momento, os processos que estão em curso.



IHU On-Line – Pensando na sua eleição como presidente do Brasil. Quais seriam suas primeiras medidas, nos primeiros 100 dias? Quais suas principais metas e prioridades?

Marina Silva – Com certeza, acho que seria precipitado alguém que está na condição de pré-candidata já ficar falando em primeiros cem dias. Mas isso faz parte da alimentação do sonho.



IHU On-Line – Mas na sua visão o que é mais urgente para o Brasil?

Marina Silva – O que é mais urgente para todos os brasileiros é que esse país assuma o que ele é. O Brasil é uma potência ambiental, tem que fazer jus à potência ambiental que é. Para isso, é preciso que faça os investimentos corretos, para que a potência econômica que se avizinha – estão dizendo que, em breve, o Brasil será a quinta potência econômica do mundo – seja algo a ser compatibilizado em termos mais felizes, mais cuidadosos, com a saúde, com a educação, com a cultura, com a diversidade e com a proteção dos recursos naturais.



IHU On-Line - Como você pretende tratar na sua campanha da conciliação entre crescimento econômico e desenvolvimento sustentável?

Marina Silva – Primeiro, é preciso requalificar essa história de crescimento pelo crescimento. O crescimento não é um fim em si mesmo. Ele é uma ferramenta, um instrumento para o desenvolvimento. E o desenvolvimento que nós advogamos é aquele que seja sustentável em todos os aspectos: econômico, ambiental, social e cultural. Essa tradução será feita progressivamente, na mudança de paradigma da relação das indústrias com os recursos naturais, com o uso de novas tecnologias, que possam ser menos poluentes, que possam contaminar menos, que assumam esse papel da responsabilidade social e ambiental. Na agricultura também, que possamos ter uma produção sustentável, evitando os processos extensivos, lançando mão de práticas e tecnologias que nos levem a menos destruição das florestas, da biodiversidade, à maior preservação dos rios e córregos, até porque as catástrofes ambientais que estão acontecendo, prejudicando a economia e ceifando vidas, tem muito a ver com esse modelo predatório.



IHU On-Line – E como você vê a questão do carbono zero?

Marina Silva – Nós trabalhamos com a ideia da economia de baixo carbono. Essa é uma economia que, infelizmente, ainda não temos em nenhum lugar do mundo. Portanto, todos estamos no páreo para dar uma contribuição. E o Brasil talvez seja o país que reúne as melhores condições, pois tem um potencial enorme para fontes de energia limpa e segura, e isso já é uma vantagem e um diferencial em relação até mesmo aos países desenvolvidos. O Brasil tem milhões de hectares de área agricultável, em condições de ter uma produção agrícola altamente significativa, sem precisar destruir as suas florestas, seja o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica e a Amazônia. Então, o Brasil é o país que pode investir muito fortemente na economia de baixo carbono, desde que faça os investimentos corretos, no tempo correto e que tenha visão. Tendo a visão, podemos estabelecer os processos; tendo a visão e os processos, vamos, aos poucos, criando as estruturas e, com certeza, uma parte desta estrutura o Brasil já tem. Porque ele se difere de outros países que podem até ter a vontade, mas não têm os recursos naturais. O Brasil tem um grande potencial para a produção de energia de biomassa, energia solar, eólica, sem falar no grande potencial de hidroeletricidade que, se trabalhado corretamente, com os planos de desenvolvimento sustentável para a área de abrangência dos investimentos, é possível fazer esses aproveitamentos. Claro que temos um olhar panorâmico para o conjunto, e depois um olhar específico para cada empreendimento, para evitar injustiças e danos ambientais.



IHU On-Line - Como você se posiciona em relação às alianças políticas do PV e à perda do apoio do PSOL à sua candidatura?

Marina Silva – Em primeiro lugar, o PV não tem alianças políticas ainda. O PSOL era uma negociação que vinha sendo feita, sabendo que havia dificuldades. Não é uma perda, porque não tinha ainda uma aliança. Era uma conversa que existia. E nós já sabíamos que havia dificuldade de parte a parte, não só da parte do PSOL com o PV, mas também da parte do PV com o PSOL. O que havia era uma grande vontade minha e da senadora Heloisa Helena de ficarmos juntas. Mas nós ficaremos juntas independentemente da aliança, porque eu vou apoiá-la lá em Alagoas.

(IHU Unisinos, 29/01/2010)

PROGRESSO. QUE PROGRESSO??////J. Stiglitz ////OECD

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Leia neste artigo como está sendo defendido um novo olhar sobre a concepção do PIB- Produto Interno Bruto, macro-indicador que mede a riqueza de uma nação.
A abordagem proposta preconiza que "Recursos Naturais" e "Grau de Felicidade das Pessoas" são variáveis que devem ser incorporadas na estrutura do novo modelo, pois representam um importantíssimo contexto até então nunca mensurado e contabilizado.

No gráfico abaixo segue uma visão proporcional de cada país vis-a-vis o seu PIB tal como ele é mensurado hoje.
Tradução LBF

Mapa-Mundi sob a Ótica do PIB Atual.
by Joseph Stiglitz
"A crise economica global tem destinado forte atenção á retomada do Crescimento.Mas o que Crescimento necessáriamente significa?Progresso?
O que pensar sobre fatores como Meio-ambiente e Felicidade que são complementares ao Crescimento? Medir o Progresso real das Nações demanda novos indicadores.Um grande projeto em escala global está sendo desenvolvido, e é sobre isto este artigo."

"Nós democratas temos uma medida muito diferente do que constitui progresso neste país". Estas foram palavras de Barack Obama quando ele aceitou a nomeação do Partido Democrata para concorrer à presidência em agosto de 2008. Muitas décadas antes disso, durante a última Grande Depressão, outro presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, era muito consciente sobre a escassez e limitações das medidas existentes que mediam o progresso material. Pegue o seu discurso do Estado da União em 1934, quando Roosevelt advertiu que "a maioria esmagadora do nosso povo procurar uma maior oportunidade para a humanidade prosperar e encontrar a felicidade. Eles reconhecem que o bem-estar humano não cresceu e não crescerá apenas com o materialismo simples e luxo, mas que ela pode progredir através da integridade, altruísmo, responsabilidade e justiça ... ".

Desenvolver medidas que realmente capturam o progresso é um tema caro ao meu coração e na verdade é o foco da "Comissão de Medição de Desempenho Econômico eo Progresso Social", lançada em 2008 pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, e que estou presidindo (ver www.stiglitz -sen-fitoussi.fr). A Comissão é formada por alguns dos grandes pensadores do mundo e pesquisadores, e inclui quatro outros laureados pelo premio Nobel: Kenneth Arrow, James Heckman e Daniel Kahneman, como membros e Amartya Sen como conselheiro.

O trabalho da comissão está intimamente ligado ao Projeto Global sobre a mensuração do progresso das sociedades. Este importante projeto da OCDE revelou-se muito oportuno hoje por conta da atual crise multidisciplinar que o mundo atravessa: econômica, alterações climáticas e as desigualdades globais. Assim os modelos e idéias atuais são compreensivelmente questionados e colocados à prova.
Nos últimos três anos, o Projeto Global foi dirigindo sua atenção para novos conjuntos de indicadores econômicos, sociais e ambientais, numa tentativa de compor um quadro abrangente e apresentar como o nosso mundo está realmente ocorrendo. Este trabalho já está provando ser de valor inestimável para a tarefa da própria Comissão.

PIB no banco dos réus

A Comissão iniciou os estudos em três áreas de investigativas para medir o progresso: primeiro, o PIB e como ele pode ser prorrogado ou modificado; segundo, o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente, e como o desempenho econômico e progresso social dizem respeito a eles, e em terceiro lugar, a qualidade de vida, incluindo métricas para descobrir como as pessoas realmente se sentem sobre suas vidas e seu próprio bem-estar.

Durante 60 anos o produto interno bruto, ou PIB, tem sido o critério pelo qual o mundo tem medido e entendido o seu progresso econômico e social. No entanto, ele não conseguiu capturar alguns dos fatores que fazem a diferença na vida das pessoas e que contribuem para sua felicidade, como segurança, lazer, distribuição de renda e um ambiente limpo, incluindo os tipos de fatores que predizem que o próprio crescimento precisa ser sustentável.

Além disso, há outro problema para resolver que é o gap existente entre as medidas de variáveis tão importantes como o crescimento econômico, inflação, desigualdade e mobilidade social, e percepções do público. A Renda pode aumentar, mas as pessoas se sentem mais pobres, ou a inflação pode cair e ainda assim as pessoas vêem os preços aumentarem em seu comércio local. Esta diferença entre estatísticas e percepções muitas vezes é tão ampla e generalizada, que não pode ser descartada como uma ilusão ou o resultado de histeria pública. E isso contribui para a falta de confiança em quem produz e dependem dessas estatísticas.

O que pode ser feito? Esta é a pergunta diante de Enrico Giovannini, da OCDE e sua equipe, o primeiro dos três grupos de trabalho que criamos.
Para ser justo, o PIB possui pontos fortes como medidas de atividade econômica baseadas em mercado e criação de riqueza, se não ele próprio (PIB) não teria durado tanto tempo. Se a produção está crescendo ou se os gastos com bens e serviços aumentam ou diminuem, o PIB constitui um bom ponto de partida. Trata-se ainda de uma medida aproximada, e o grupo está trabalhando para aprimorá-la. Mas há problemas mais fundamentais. Por exemplo, o PIB não contabiliza o esgotamento dos recursos naturais ou os danos ambientais, mais do contabiliza a depreciação do capital. Medir o progresso deve levar em conta o esgotamento dos recursos naturais.

Outro desafio é encontrar uma melhor forma de medir a distribuição de renda e as disparidades entre ricos e pobres. Uma maneira é através da identificação de renda média: metade de todos os assalariados é superior a essa renda, a outra metade está abaixo dela. Nos EUA onde o PIB per capita aumentou quase continuamente, nos últimos anos, a renda média caiu de forma absoluta, muito menos como uma relação de renda média, o que significa uma abertura mais ampla de renda. Mas medianas são limitadas, pois não revelam o que está acontecendo nos extremos, como os super-ricos ou muito pobres. Nenhum número pode refletir plenamente o que está acontecendo nas nossas sociedades complexas.

Outro problema é como capturar dados referentes ás muitas famílias economicamente ativas que empreendem serviços diários, mas que não aparecem nas contas do país, tais como limpeza, cozinha e puericultura. De fato, um estudo recente realizado na Alemanha e Finlândia, mostrou que a produção doméstica não medida corresponde a entre 30 e 40% do seu PIB.

Quebrando a noz ambiental

Para muitos, é aqui que mensurar o progresso realmente deve fazer a diferença. Todos sabemos que a atividade econômica humana esgota os recursos naturais e gera danos ao nosso frágil meio ambiente, mas os economistas e os governos têm sido lentos em incorporá-las em suas medições. Como podemos gerenciar o meio-ambiente em nossos processos de pensamento normal, modelos e ações? Duas décadas após o chamado Relatório Brundtland, que em 1987 lançou o "desenvolvimento sustentável" como uma meta política, a resposta pode estar perto. Os resultados apresentados em algumas recentes grandes conferências internacionais, como o Fórum Mundial da OCDE em Istambul em junho de 2007 e da conferência da EU -Além do PIB, realizada em novembro daquele ano,forneceu aspectos mais otimistas.

Uma idéia que surgiu a partir desses debates é um quadro ambicioso chamado Sistema Integrado de Contabilidade Ambiental e Econômica. Geoffrey Heal, da Universidade Columbia leva nosso segundo grupo de trabalho para esclarecer esse quadro e quantificar o impacto no bem-estar pessoal nos aspectos qualidade do ar, ruído e espaço físico. Essas características podem ser convertidas em, digamos, uma métrica monetária para mudanças na qualidade do ar? Ou poderia um índice mais geral? Quando a poluição afeta claramente algumas áreas mais do que outros, que tipo de medidas que devemos adotar?

Depois há a questão de medir a sustentabilidade. Os ambientalistas estão preocupados com razão, pois o nosso ambiente natural é frágil, e os padrões de consumo e de produção nos países industriais avançados de hoje não são sustentáveis. Nós não estamos apenas esgotando recursos naturais não renováveis. Em algumas áreas, a perda de espécies, é irreversível e provoca danos ecológicos. Seria possível construir uma medida de "riqueza natural" e avaliar o que está acontecendo com ele?

Estes estão entre os desafios que o nosso segundo grupo de trabalho está se ocupando em resolver.

Qualidade de vida: um novo paradigma?

A maioria das pessoas iria concordar que há mais vida do que apenas acumular capital, mas é improvável que eles concordem sobre a forma de definir “qualidade de vida". Houve muitas tentativas de medir isso, procurando maneiras objetivas de se capturar o que é inerentemente um conceito subjetivo. Recentes avanços em diversas ciências sociais, no entanto, sugeriram que existem formas confiáveis e replicáveis de verificar certos aspectos de bem-estar e qualidade de vida e percepções subjetivas relativas ao fenômeno objetivo, como atividades baseadas em mercado, por exemplo.

O terceiro grupo de trabalho, presidido por Alan Krueger, da Universidade Princeton, está liderando essa busca de métricas das características que dão á vida o seu verdadeiro valor e escolheu quatro abordagens possíveis.

Primeiro, eles saíram para encontrar medidas compostas para a qualidade de vida através da agregação de indicadores objetivos, baseados em experiências pessoais com relação à boa saúde, boa educação, liberdade política e opressão, etc.

Segundo, eles estão descobrindo como as pessoas gastam seu tempo e como e quanto de prazer retiram das coisas que realizam todos os dias. Em teoria, um único critério qualitativo poderia descrever experiências hedonistas. Isso já foi tentado, e utilizado para comparar a França e os EUA, com resultados que mostram que, apesar de maior renda, as mulheres francesas, em particular realmente dedicar mais tempo a atividades prazerosas do que as mulheres americanas fazem.

A terceira abordagem é pedir às pessoas para oferecer um amplo julgamento qualitativo sobre a vida como um todo. Esta abordagem pode gera uma leitura singular, por exemplo, que a metade da América "prospera", enquanto a outra metade "luta". Esta abordagem pode ir além da captação de níveis médios de satisfação de um país para revelar as desigualdades nos níveis de satisfação.

Finalmente, o questionário pede que as pessoas classifiquem (e avaliem) a importância atribuída a fatores como renda equivalente, lazer, saúde, segurança no emprego e assim por diante. Esta renda equivalente “fatora” a abordagem em quanto as pessoas estariam dispostas a pagar por estes ativos não-tangiveis, e assim avança para uma medida mais ampla da qualidade de vida.

O que vem depois?

A Comissão sobre a Medição de Desempenho Econômico e Progresso Social vai entregar seu relatório em abril de 2009 e tenho certeza de que nossas conclusões estimularão um debate proveitoso, tanto intelectual quanto político. Que medida que afeta o que fazemos. Nós nunca vamos ter medidas perfeitas e nós precisamos de medidas diferentes para diferentes fins. Mas nosso trabalho até agora tem mostrado que há espaço considerável para melhorar a nossa ação. Há reformas que podem ser instituídas imediatamente, outras exigirão pesquisas complementares.

Espero também que o projeto global continue em frente, através do reforço da sua rede mundial, trabalhando com centros de pesquisa para o avanço de novas formas de medir o progresso da sociedade e promover este trabalho fundamental, que é tão essencial para os políticos tomadores de decisões e outras partes interessadas, incluindo o público em geral.

A participação de instituições-chave como o Banco Mundial, o Programa das Nações Unidas e da Comissão Européia no projeto, significa que temos uma oportunidade histórica para levar essa agenda vital para a próxima fase e fazer as mudanças reais que precisamos. Através do trabalho da nossa Comissão e do projeto global, estamos contribuindo para este esforço.

Produzir melhor, mais verdadeiras, formas de medir o desempenho econômico, ambiental e social, é um passo fundamental no progresso para a construção de um mundo melhor.

Joseph Stiglitz is a renowned professor, author and the 2001 Nobel laureate in economics.


For the complete declaration issued at Istanbul, 30 June 2007, go to www.oecd.org/oecdworldforum






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