Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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China lidera ações de combate à mudança climática, aponta estudo

No entanto, país ainda enfrenta graves problemas como a poluição.
EUA também lideram ações; crise econômica ajudou a baixar emissões.

Do G1, em São Paulo

A Agência espacial americana (Nasa) divulga imagem de satélite que mostram a névoa espessa de poluição que cobre Pequim, capital da China, no início do ano. Estudo aponta que o país se tornou protagonista no combate às mudanças climáticas (Foto: Reuters/Nasa/Terra - Modis)

A China está rapidamente assumindo um papel de liderança global frente às mudanças climáticas, protagonismo que é dividido com os Estados Unidos, revela um estudo publicado nesta segunda-feira (29), o qual alertou que as emissões globais de gases de efeito estufa continuam a crescer com força.
O informe da Comissão do Clima, uma organização independente sediada na Austrália, intitulado "A década crítica: ação internacional contra as mudanças climáticas" oferece um panorama geral das ações empreendidas nos últimos nove meses.

O documento é divulgado ao mesmo tempo em que inicia uma nova rodada de negociações climáticas da Organização das Nações Unidas, em Bonn, sobre como estimular as ações contra esse processo que já dura duas décadas, tem sido marcado por disputas processuais e defesa de interesses nacionais.

Segundo a agência France Presse, o estudo revelou que todas as grandes economias do mundo têm políticas em andamento para abordar a questão, mas que a China assume um papel de liderança ao fortalecer suas respostas, 'dando passos ambiciosos para inserir as energias renováveis à sua matriz'.
'"A China está acelerando as ações", afirmou Tim Flannery, co-autor do estudo e figura chave da Comissão do Clima, que reúne cientistas internacionalmente reconhecidos, assim como líderes políticos e de negócios.

"Depois de anos de um forte crescimento do uso do carvão, ele começou a se estabilizar. Estão começando a colocar em andamento sete esquemas de comércio de emissões, que cobrirão 250 milhões de pessoas", afirmou.
saiba mais

Apesar das ações, desde o começo do ano as grandes cidades do país, como Pequim e Xangai, sofrem constantemente com névoas densas de poluição. O governo precisou intervir e anunciou em janeiro que iria divulgar novas regras sobre como a capital da China deve reagir à perigosa poluição do ar.
As regras vão formalizar medidas pontuais tomadas anteriormente, incluindo o fechamento de fábricas, corte na queima de carvão e a proibição de certas classes de veículos nas estradas nos dias em que a poluição atingir níveis inaceitáveis.

Parceria
O estudo acrescentou que a China, que este mês concordou em trabalhar com os Estados Unidos para fazer frente ao aquecimento global, quer "posicionar os dois países na liderança mundial em energias renováveis". "Qualquer que seja a razão, os resultados falam por si. A China está rapidamente movendo-se rumo ao topo da liderança no que diz respeito às mudanças climáticas", afirmou Flannery.

Segundo o estudo, só em 2012 a China investiu US$ 65,1 bilhões em energias limpas, 20% mais que em 2011, um feito comparação com outros países e que representou 30% de todos os investimentos dos membros do G20 no ano passado.
O informe apontou ainda que a capacidade elétrica chinesa a partir da energia solar se expandiu 75% no ano passado, enquanto o volume de eletricidade gerada a partir do vento em 2012 foi 36% maior do que em 2011.

Os Estados Unidos, que ao lado da China produzem 37% das emissões mundiais de gases estufa, também fortaleceram significativamente sua resposta às mudanças climáticas, investindo US$35,6 bilhões em energias renováveis no ano passado, sendo superados apenas por Pequim.

Crise econômica "ajudou" a frear emissões
O informe destacou que o impacto do declínio econômico e a mudança progressiva do carvão para o gás manteve Washington no caminho de alcançar suas metas de redução de emissões em 17% em 2020 com base nos níveis de 2005.

"Foram estabelecidos importantes alicerces que são propensos a ter um impacto duradouro nas próximas décadas", acrescentou, apontando para a Califórnia, a nona maior economia do mundo, e que inicia um esquema de comércio de emissões em janeiro.
Mais da metade dos Estados americanos agora tem políticas para encorajar o uso das energias renováveis. Além de China e Estados Unidos, atualmente 98 países assumiram compromissos para limitar suas emissões.

"A energia renovável aumenta em todo o mundo, com a capacidade solar crescendo 42% e eólica, 21% em apenas um ano", disse Flannery. "Com tanto dinamismo global, esta é claramente o início da era da energia limpa", emendou. Mas apesar dos avanços, o informe alertou que as ações ainda não são suficientes. "As emissões continuam a crescer.

‘Numeros’ do Clima: 1/5, artigo de Alexandre Costa

Números
Na semana que se encerrou ontem, tive a oportunidade de discutir a questão climática em dois eventos: a exibição do documentário “6 graus” no Projeto “Arte e Crítica”, na Universidade Estadual do Ceará e a mesa de abertura do “Seminário Ecossocialista” do PSOL-CE.
“Seminário Ecossocialista”

Em ambas as situações, ficou claro para mim que existe a necessidade de construir o entendimento, por parte das pessoas, de que o aquecimento global é um fenômeno real, já presente e em aceleração, de que o mesmo é motivado pelo acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera terrestre e de que o aumento da concentração desses gases se dá em virtude das atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis. Há, também, que se deixar a mensagem de que o corpo científico que trabalha na construção da Ciência do Clima, investigando, publicando, elaborando os relatórios do IPCC (e, no Brasil, do PBMC), etc., é uma comunidade séria e confiável e que, na eterna imperfeição e incompletude da Ciência, apresenta ao público a última palavra do conhecimento na área e de que se há erros nas projeções anteriores do IPCC, a maioria desses erros se dá ao se subestimar a velocidade das mudanças (vide degelo do Ártico e elevação do nível dos oceanos).
Mas percebi que há algo que causa impacto, ao falarmos. São determinados números, que mostram como é crítico agir com rapidez para deter a locomotiva descontrolada do aquecimento global (Nesse sentido, por experiência própria, vi como a campanha “Do the Math”, de Bill McBibben e da 350.org é interessante). E aí, resolvi colocá-los de forma sintética aqui:
0,8°C – É o aquecimento global já ocorrido desde a era pré-industrial. Ainda que aparentemente modesto, já é suficiente para provocar alterações na distribuição de eventos extremos, principalmente de ondas de calor e produzir redução significativa em diversas geleiras e no gelo marinho do Ártico.
2°C – É o aquecimento considerado como um limiar crucial, que se deve evitar a fim de que diversos ecossistemas marinhos e terrestres não entrem em colapso e para que determinados mecanismos de retroalimentação do aquecimento global não sejam disparados, fazendo com que este ganhe, irreversivelmente, vida própria.
3°C – É a melhor estimativa da chamada sensibilidade do sistema climático, isto é, o aquecimento esperado em função da duplicação da concentração atmosférica de CO2, explicada em maiores detalhes neste texto.
280 ppm – É a concentração de CO2, que permaneceu praticamente constante, por cerca de 10 mil anos, antes do período pré-industrial.
350 ppm – Concentração de CO2 atmosférico que, segundo estudos científicos, é o limite máximo para o qual se espera uma estabilização do clima em condições similares àquelas em que a civilização humana floresceu e à qual a biota terrestre se adaptou nos últimos milhares (e até centenas de milhares ou milhões) de anos. Esse limite foi ultrapassado em 1988, como mostro neste texto.
391 ppm – É o valor da concentração de CO2 atmosférico que foi ultrapassado pela média anual de 2011. Em 2012, essa média (que será divulgada no início de janeiro) deve chegar a 393-394 ppm. Ainda que essa concentração parasse de crescer, ela já nos levaria (após algumas décadas, até o sistema climático chegar próximo do novo equilíbrio) a um aquecimento duas vezes maior do que o já verificado em relação à era pré-industrial. Além da influência sobre o clima, esse valor elevado de concentração de dióxido de carbono na atmosfera tem levado à acidificação dos oceano e a uma mortandade brutal de corais, pequenos moluscos e de vários organismos que dependem da fixação de carbonato de cálcio para permanecerem vivos. Vários deles estão na base da cadeia alimentar e sua morte pode transformar os oceanos em vastos cemitérios azuis.
450 ppm – É a concentração de CO2-equivalente (isto é, considerando o efeito do metano, óxido nitroso, halocarbonetos, aerossóis, etc.) que deve ser evitada, a fim de que o aquecimento global fique limitado a dois graus. A um crescimento de mais de 2 ppm/ano, como tem sido a tendência, o risco de se chegar a esse valor em duas décadas ou menos é enorme.
10.000 anos – Tempo em que as concentrações de CO2 atmosférico se estabilizaram em torno de 280 ppm, após o final do Último Máximo Glacial
800.000 anos – Duração do registro paleoclimático da concentração gases de efeito estufa e estimativa de temperatura obtidos estudando-se o gelo da Antártica. Em todo esse período, o CO2 atmosférico oscilou de valores ligeiramente abaixo de 200 ppm (nos períodos glaciais ou “eras do gelo”) a no máximo 300 ppm (durante os chamados “interglaciais”, que aconteceram aproximadamente a cada 100 mil anos)
3.000.000 de anos – Provavelmente o que é preciso retroceder no tempo, a fim de se encontrar concentrações atmosféricas de CO2 acima de 400 ppm.
565 bilhões de toneladas – Quantidade de carbono fóssil (no petróleo, carvão e gás natural) que se pode queimar sem que se ultrapasse o limite de 450 ppm
2795 bilhões de toneladas - Quantidade de carbono nas jazidas fósseis (petróleo, carvão e gás natural) já comprovadamente conhecidas
3700 bilhões de toneladas - Estimativa da quantidade de carbono existente em todas as jazidas fósseis.
1/5 - Fração do carbono fóssil em jazidas comprovadas que pode ser queimada sem colocar sob risco extremamente severo o sistema climático terrestre.
É possível e necessário respeitar esse último número. Não sem uma intervenção séria no processo produtivo, claro, mas é factível. Há que se substituir rapidamente a matriz energética, saindo de fontes fósseis para fontes renováveis (solar, eólica, maremotriz, etc.), inclusive com geração de energia nas próprias cidades, em escala residencial. Há que se aumentar a eficiência energética. Há que se mudar radicalmente o modo de nos transportarmos, com ênfase no transporte público não-poluente e no multimodalismo. Há que se incidir seriamente sobre a questão do consumismo, reduzindo a voracidade de nossa espécie por energia, neste atual estilo de vida. Há que se estabelecer mecanismos de regulação severos que assegurem maior durabilidade dos produtos, que impeçam a obsolescência programada e que garantam a logística reversa. Se isso implica em abrir mão de supérfluos, tipo o celular da moda, o SUV ou o capitalismo, que o façamos…
Alexandre Costa, Fortaleza, Ceará, Brazil, é Ph.D. em Ciências Atmosféricas, Professor Titular da Universidade Estadual do Ceará.
Artigo indicado pelo Autor e originalmente publicado em seu blogue pessoal [O que você faria se soubesse o que eu sei?] e republicado pelo EcoDebate, 18/12/2012

Fontes de energia têm perspectivas diferentes no Brasil

Matriz eólica é grande aposta. Nuclear, hidrelétrica, solar e de biomassa estão nos planos
Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Publicado em 13/06/2011, 18:45
Última atualização às 20:56
São Paulo – A projeção de um crescimento econômico médio de 4,5% ao ano até 2020 leva o Brasil a um inevitável investimento na produção de energia elétrica. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima que a capacidade instalada passe de 110 mil para 170 mil megawatts até o fim da década. Para isso, a aposta envolve diversificação da matriz energética, com aposta na eólica, sem descartar pequenas hidrelétricas, energia solar, nuclear e de biomassa.

O consumo per capita voltará em 2017 ao nível mais alto da história, registrado em 2001, ano em que houve racionamento no fornecimento. De lá para cá, uso mais racional, ampliação da capacidade e aumento da eficiência energética melhoraram a situação, mas há um longo caminho a percorrer.

O Plano Decenal de Energia da EPE, divulgado neste mês, indica que as hidrelétricas continuarão como prioridade. Dos R$ 100 bilhões destinados a investimentos a serem contratados, 55% são destinados a esta fonte, que hoje representa 76% da matriz energética. Embora passe a representar 67% do total até 2020, a produção vai crescer de 82,9 mil para 115,1 mil megawatts, fundamentalmente ancorada em usinas instaladas na Amazônia.

A seguir, as perspectivas para as principais fontes de energia nos próximos anos:

Eólica
A energia eólica desponta como grande aposta na matriz energética brasileira. Em 2010, comandou o leilão de fontes renováveis e chegou a um preço muito mais baixo que o imaginado. Com isso, a EPE estima que essa fonte responda por 7% da capacidade instalada até 2020, contra 1% atualmente.

Pesquisadores da Coppe, núcleo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indicam que os bons sinais não significam que o Brasil deva ficar preso a esta fonte. Em relatório emitido em maio, eles comentam o trabalho que desenvolveram junto ao IPPC, painel da ONU sobre mudanças climáticas, e asseguram que o país está fadado a ser um “seguidor de tecnologia” da energia eólica.

Pequenas centrais hidrelétricas
As PCHs, como são conhecidas, têm processo mais rápido de construção que as grandes centrais hidrelétricas, que têm uma avaliação ambiental mais rigorosa. O que é bom para a produção de energia, no entanto, pode ser um obstáculo em termos de impacto. “Temos problemas muito sérios com PCHs porque falta rigor na aprovação, se fiscaliza menos e se exige menos condições. Cada município tem uma regra diferente, o que traz problemas”, critica Gesmar Rosa dos Santos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Solar
A energia solar ainda engatinha no Brasil. Se a eólica conseguiu se desenvolver com a chegada de fabricantes estrangeiros e o gradativo processo de produção local de alguns componentes, a solar ainda não tem exploração comercial e a primeira planta solar começou a ser instalada no Ceará, em parceria entre estado e iniciativa privada. Espera-se para este ano uma definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a comercialização do excedente de pequenos geradores, como prédios, por exemplo.

Ruberval Baldini, presidente da Associação Brasileira de Energias Renováveis e Meio Ambiente (Abeama), considera que este é um grande equívoco e, pior, não está sendo corrigido, mesmo com o enorme potencial do Brasil, abastecido por sol durante a maior parte do ano. “Onde esta energia está em avanço há alguns anos tem metade da nossa insolação. Isso justificaria um esforço do governo.”

Nuclear
Os riscos na usina nuclear de Fukushima, abalada pelo terremoto que assolou o Japão neste ano, fizeram o governo recuar na intenção de instalar novas usinas. Ao menos temporariamente, já que o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, não descarta voltar a apostar nesta tecnologia. “Temos que considerar que o Brasil tem um grande potencial, domina o enriquecimento (de urânio) e tem a sexta reserva de urânio do mundo. Portanto, não devemos considerar que vamos abrir mão dessa tecnologia.”

As usinas de Angra 1 e Angra 2 asseguram atualmente 2.007 megawatts, aumentando para 3.412 em 2016, com a inauguração de Angra 3. O longo prazo para construção dessas usinas, somado ao risco, deve dificultar os planos de ampliação.

Biomassa
A biomassa vai mais que dobrar a participação na capacidade instalada brasileira, passando de 4.496 megawatts atualmente para 9.163 megawatts em 2020. A EPE estima que a maior parte virá da energia gerada por cana-de-açúcar, mas admite que há problemas neste campo. A maior parte dos usineiros prefere reaproveitar parte da energia gerada pelo bagaço na própria produção de açúcar e etanol, sem comercializá-la com o Sistema Integrado Nacional.

Santos, do Ipea, não acredita que vá se cumprir a projeção de que a biomassa a partir da cana represente 3,4% da potência instalada até 2020. O grande problema é que a produção de energia está diretamente atrelada às oscilações do mercado de etanol e de açúcar, que levam o produtor a aumentar ou diminuir sua área plantada. Em outras palavras, fica difícil fazer projeções. “É um setor que se move por um conjunto de fatores, incluindo incentivos governamentais, isenção tributária, garantia de mistura do etanol anidro na gasolina.”

Potencial dos oceanos
O painel da ONU para mudanças climáticas concluiu que o Brasil tem um potencial enorme de exploração do potencial energético a partir das ondas do mar. A tecnologia, que vem sendo estudada na Europa, poderia ser aplicada a praticamente todo o litoral nacional, com reduzidos impactos ambientais. Para os pesquisadores da Coppe, o Brasil, principal detentor da tecnologia de exploração do petróleo a altíssimas profundidades, não teria qualquer dificuldade em explorar esta técnica. “Esse é um campo em que o Brasil pode fazer a diferença. Justamente porque a tecnologia ainda não está madura, há uma janela de oportunidades para quem quer investir e sair na frente”, apontou o professor Segen Stefen em comunicado da UFRJ.

Exploração de trabalho contamina produção de etanol

Publicado em fevereiro 22, 2011 por HC

Trabalhadores recebem por produção, o que leva muitos a morrerem de exaustão
Estudo revela as condições das famílias dos camponeses responsáveis pelo corte da cana-de-açúcar

Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP identificou os efeitos que a migração sazonal de camponeses do Vale do Jequitinhonha – para o corte de cana-de-açúcar e produção de açúcar e etanol – causa nas famílias desta localidade, considerada uma das mais pobres do país.

O estudo faz parte da tese de doutorado da geógrafa Lúcia Cavalieri e levou cinco anos para ser concluído. A pesquisa de campo, que coletou dados durante quatro meses, foi realizada em duas comunidades rurais: Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor, ambas localizadas no município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.

Segundo dados do estudo, apenas em 2007, cerca de 7.000 homens da região de Araçuaí, deixaram sua família e sua terra e migraram para cortar cana na produção industrial do açúcar e do álcool no interior do estado de São Paulo. De acordo com a pesquisadora, o estudo, além de ser um importante para o campesinato brasileiro, evidencia o outro viés da produção de etanol e de açúcar.“Além dos homens fazerem um trabalho degradante nas plantações de cana-de-açúcar, eles também ficam cerca de nove meses longe de suas famílias. Isso causa grande desgaste emocional e desestruturação familiar. Esse é o custo que uma parcela das famílias brasileiras paga para obtermos a, equivocadamente chamada, energia limpa proveniente do etanol da cana-de-açúcar”, infere Lúcia.

Famílias

O pesar não é apenas dos bóias-frias que partem. “As mulheres são as que mais sofrem neste processo”, afirma a pesquisadora, “são mulheres fortes, que trabalham na terra, exercem atividades domésticas e que ainda são responsáveis por conceder aos serviços básicos e de educação. Contudo, sentem a ausência das relações familiares e dos maridos, que passam ao menos nove meses longe”.

Contudo, estas famílias ainda permanecem nos seus municípios de origem, mantendo uma migração temporária. Este aspecto peculiar, segundo a pesquisadora, deve-se às comunidades possuírem uma identidade muito forte e um sentimento de pertencimento àquela porção de terra e àquele modo de vida. “O dia a dia e o tratar da terra faz muito sentido. Mais sentido do que a vida fora da comunidade”.

Usinas de etanol
Os baixos salários pagos pelas usinas de processamento de cana-de-açúcar aos cortadores influi diretamente na qualidade de vida destes. “Por receberem por produção (toneladas/dia) e não por horas de trabalho, muitos cortadores morrem por exaustão, no intuito de auferir um pouco mais de renda à família”, expõe a pesquisadora.

Segundo ela, o argumento ambiental não pode prevalecer sobre os aspectos sociais. “Enquanto as usinas recebem incentivos governamentais para a produção de etanol, em grandes porções de terras, as famílias dos cortadores, continuam em situação econômica e social precárias”, conclui.

5 países que mais investem em energia renovável no mundo

Postado por SEMEIA JAHU 

O ser humano não vive mais sem energia, porém, isso não significa que para utilizá-la ou fabricá-la seja necessário poluir. Energias limpas são alternativas sustentáveis que podem suprir e movimentar a economia.

De acordo com o Instituto para Diversificação da Energia (IDEA), em 2020, cerca de 42,3% do total da geração de eletricidade virá de fontes renováveis. Leia, abaixo, a lista dos cinco países que mais investem em energias alternativas do mundo:

Espanha
O país se tornou o maior produtor mundial de energia solar térmica em meados de 2010, com 432 MW instalados. Ele é o segundo na Europa com maior capacidade de geração energética com placas fotovoltaicas, podendo produzir mais de 3.400 MW.

A Espanha também dá largos passos na produção de energia eólica. Atualmente, possui projetos que produzem 727 MW e a capacidade instalada de geração eólica ultrapassa os 19.000 MW.

Portugal
A capacidade instalada de geração de energia limpa no país cresceu mais de três vezes de 2004 a 2009 com o Pelamis Wave Power, primeiro parque de geração energética a partir das ondas do mar – de 1,220 MW para 4,307MW.

As fontes renováveis são responsáveis por 17% de toda a energia produzida em Portugal. Desse percentual, 56,6% provém das hidroelétricas, 33% das eólicas, 7,5% da biomassa e o restante da a produção fotovoltaica, biogás e resíduos sólidos urbanos.

China
A China possui a maior quantidade de turbinas eólicas em operação do mundo (50%) e o responsável por isso foram os altos investimentos para projetos internos. No primeiro semestre de 2010, Pequim chegou a investir 10 bilhões de dólares no setor; a metade do que o resto do mundo junto investiu (20,5 bilhões de dólares).

A previsão é que o país chegue a produzir mais 375 GW em 2020, com o investimento acumulado de 620 bilhões de dólares.

Índia
O governo indiano lançou no início de 2010 um plano de 19 bilhões de dólares para gerar 20.000 MW de energia solar até 2022. Para que a chamada Missão Solar Nacional funcionasse, a Índia criou um sistema que obriga às empresas distribuidoras de energia a comprar uma quantidade determinada de energias renováveis, o Renewable Purchase Obligation (POR).

Alemanha
A energia renovável na Alemanha representa 16% da produção total. O governo alemão pretende que esse percentual chegue a 80% em 2050, e os incentivos fiscais para alcançar essa meta não são poucos. Nos próximos anos o país deve receber um investimento de cerca de 6,62 bilhões de dólares, que deverão servir para projetos de parques eólicos off-shore (fora da costa). Além disso, outros 1 bilhão de dólares devem sair do bolso da Vattenfal, produtora de aerogeradores, para construir uma fazenda com capacidade instalada de 288 MW, em 2012.

Leia mais: Eco4Planet

Abrir caminho para o etanol

29/11/2010
Agência FAPESP – “A biomassa é, de longe, a mais viável fonte sustentável de combustíveis líquidos que, por sua vez, continuarão a ser necessários por muito tempo, se não indefinidamente.” A afirmação é de uma carta publicada na edição atual da revista Science, de autoria de Lee Lynd, professor da Thayer School of Engineering do Dartmouth College, e de Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e professor titular da Universidade Estadual de Campinas.

O texto é uma resposta a reportagem publicada pela mesma revista em sua edição de 13 de agosto, em seção especial sobre energias alternativas. De autoria do jornalista Robert Service, a reportagem identifica fatores que contribuiriam para a eventual queda do entusiasmo nos Estados Unidos com relação ao etanol celulósico e observa que decisões políticas adotadas este ano poderão moldar a nascente indústria de biocombustíveis no país por décadas.

“O principal plano do governo dos Estados Unidos para reduzir sua dependência do petróleo com a produção comercial do etanol celulósico corre grande perigo, o que ressalta as complexas forças técnicas, econômicas e políticas que se contrapõem aos esforços globais para criar alternativas viáveis aos combustíveis fósseis”, disse Service.

Para Brito Cruz e Lynd, é importante que seja feita a distinção entre “o fundamental e o efêmero” e que as políticas tenham como base o que realmente importa, não circunstâncias momentâneas.

O primeiro ponto, segundo eles, é que combustíveis líquidos continuarão muito requisitados, mesmo em cenário de adoção em massa de alternativas como a eletricidade, por exemplo.

Economia do hidrogênio: uma introdução

Marcelo Linardi
Data: 08/11/2010
O conceito de um novo sistema de conversão de energia chamado Célula a Combustível começa a despertar interesse cada vez maior na população em geral, deixando de ser um tema restrito à comunidade técnico-científica e empresarial. Este conceito vem sempre associado à crescente preocupação de preservação ambiental, a automóveis elétricos não poluidores e à geração distribuída de energia com maior eficiência. Porém, o conceito de células a combustível é bem mais abrangente, e se insere na chamada “economia do hidrogênio”. O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo e foi identificado pela primeira vez pelo cientista britânico Henry Cavendish, em 1776, sendo denominado de “ar inflamável”.

O gás hidrogênio (H2) não está presente na natureza em quantidades significativas sendo, portanto, um vetor energético, ou seja, um armazenador de energia. Para sua utilização, energética ou não, deve ser extraído de uma fonte primária que o contenha. A energia contida em 1,0 kg de hidrogênio corresponde à energia de 2,75 kg de gasolina. Entretanto, devido à sua massa específica (0,0899 kgNm-3 a 0°C e 1 atm), a energia de um litro de hidrogênio equivale à energia de 0,27 litro de gasolina.

O peso da mancha >>> Diario de Pernambuco

Miriam Leitão



A entrada dos seis homens e duas mulheres, vestidos de preto, ontem, na Casa Branca, confirmou que o vazamento do Golfo afetará a indústria do petróleo no mundo. Na reunião com o presidente Barack Obama, os executivos da British Petroleum foram avisados que terão que fazer um fundo de US$ 20 bilhões para as compensações. O valor pode crescer.

O maior desastre ambiental dos Estados Unidos obrigou o presidente Barack Obama a fazer o seu primeiro pronunciamento do Salão Oval para tentar salvar seu próprio projeto político. No ano das decisivas eleições de meio de mandato, a popularidade do presidente tem afundado a cada novo sofrimento causado pelo vazamento de petróleo no mar. Ele joga a chance de um segundo mandato nessa reação.

É absolutamente improvável que depois de tudo isso a exploração de petróleo no mar continue a mesma. Os custos serão mais altos pela obrigatoriedade de medidas de segurança muito mais rigorosas do que as atuais; a regulação será mais forte; os prêmios de seguro mais caros; a energia limpa será mais valorizada; uma das maiores companhias do mundo pode desaparecer. Neste momento, está temporariamente suspensa a exploração no mar na Noruega e nos Estados Unidos.

A BP é hoje uma empresa com um gigantesco passivo ambiental e financeiro. Pode não sobreviver e é a operadora do maior campo petrolífero na América do Norte, o PrudhoeBay, e uma das cinco maiores refinadoras de petróleo do Texas.

Obama anunciou a criação de um fundo independente no qual a BP terá que depositar "o dinheiro que for necessário" para pagar as indenizações e o custo de recuperação da economia da região afetada pelo vazamento. Os advogados da Casa Branca e da BP negociaram o valor do aporte no fundo em US$ 20 bilhões, mas no mercado a estimativa é que o fundo pode acabar tendo que chegar a US$ 60 bilhões. Ontem, a empresa anunciou que não pagará dividendos aos acionistas este ano.

O presidente americano, ao falar do Salão Oval, disse que vai mudar a regulação, nomeou um procurador federal para ser o novo chefe da agência reguladora, criticou a hostilidade contra os reguladores e a promiscuidade da regulação entre regulador e regulado. No Brasil, nos últimos anos, surgiram as duas tendências: o Ibama é acusado de intransigente e inimiga do progresso; as agências reguladoras no governo Lula foram enfraquecidas, partidarizadas e algumas passaram a ser braços dos regulados.

Uma comissão de moradores, estados, negócios afetados vai traçar um plano de recuperação que será financiado pela BP. Uma comissão nacional vai investigar as causas do desastre. "O país tem o direito de saber por que houve a tragédia", disse Obama. "Por gerações, famílias mantiveram estilo de vida à beira do mar que pode ter se perdido para sempre. Vamos lutar por meses ou anos contra os efeitos do vazamento", afirmou. Ele acrescentou que na indústria da exploração de petróleo, nada foi tão grande e tão fundo quanto o campo da BP, e por isso foram testados os limites da tecnologia desenvolvida pelo ser humano. E pelo visto, reprovados.

Tudo isso evidentemente serve de alerta para o Brasil porque a exploração de petróleo do pré-sal será ainda maior e mais funda do que a dos campos do Golfo do México. A regulação tem que ser mais rigorosa e transparente, o princípio da precaução precisa ser levado a sério, um fundo contra desastre precisa ser constituído, os reguladores têm que ser independentes. A mudança no regime de exploração de petróleo no Brasil foi formulada com dois objetivos: tirar proveitos político-eleitorais da mudança do modelo, e retirar tributos recolhidos pelos estados produtores. Não houve preocupação com aumento da proteção do meio ambiente, nem de medidas de prevenção de riscos.

A estimativa feita ontem era que 60 mil barris por dia estão saindo do vazamento de petróleo para o mar do Golfo. Há uma semana, o cálculo era de 25 mil barris. O valor de mercado da BP caiu 48%. A ação era negociada a US$ 60 em 20 de abril e na terça-feira estava em US$ 31.

Obama disse no pronunciamento que "agora é a hora da atual geração adotar a energia limpa. Neste momento, milhares de trabalhadores estão construindo novas turbinas de energia eólica e painéis solares. Mas temos que acelerar a transição." Citou a China como investidor em energia limpa. Ele disse que nos Estados Unidos falam e falam há décadas sobre a redução da dependência do petróleo, e permanecem dependentes.

Isso é que acabou sendo a principal crítica feita a ele pelos especialistas. A de que faltaram medidas concretas para acelerar essa transição, como disse Andrew Revkin, do site Dot Eearth, do NYT. Na opinião de Revkin, Obama foi vago sobre uma das propostas que apoiou durante a campanha, o Cap and Trade, (cotas e comércio de carbono, que criaria um mercado compulsório de carbono nos Estados Unidos). Obama referiu-se a "um plano" no Congresso, o que é na verdade a lei proposta pelo senador democrata, ex-candidato à presidência, John Kerry e pelo senador independente Joe Lieberman.

A imprensa cobrou. A CNN ao fim do discurso dele na noite da terça-feira cortou para um auditório com pessoas das comunidades atingidas. E a crítica foi exatamente que era preciso mais objetividade. Ou seja, o governo americano foi duro com a BP, mas terá que endurecer ainda mais com toda a indústria de exploração de petróleo no mar se quiser reverter a situação desfavorável junto à opinião pública.

Cem por cento limpeza /// FIEC

Por GEVAN OLIVEIRA
Empresário cearense desenvolve o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energia eólica e solar
Não tem mais volta. As tecnologias limpas – aquelas que não queimam combustível fóssil – serão o futuro do planeta quando o assunto for geração de energia elétrica. E, nessa onda, a produção eólica e solar sai na frente, representando importantes fatias na matriz energética de vários países europeus, como Espanha, Alemanha e Portugal, além dos Estados Unidos. Também está na dianteira quem conseguiu vislumbrar essa realidade, quando havia apenas teorias, e preparou-se para produzir energia sem agredir o meio ambiente. No Ceará, um dos locais no mundo com maior potencial energético (limpo), um ‘cabeça chata’ pretende mostrar que o estado, além de abençoado pela natureza, é capaz de desenvolver tecnologia de ponta.

O professor Pardal cearense é o engenheiro mecânico Fernandes Ximenes, proprietário da Gram-Eollic, empresa que lançou no mercado o primeiro poste de iluminação pública 100% alimentado por energias eólica e solar. Com modelos de 12 e 18 metros de altura (feitos em aço), o que mais chama a atenção no invento, tecnicamente denominado de Produtor Independente de Energia (PIE), é a presença de um avião no topo do poste.

Feito em fibra de carbono e alumínio especial – mesmo material usado em aeronaves comerciais –, a peça tem três metros de comprimento e, na realidade, é a peça-chave do poste híbrido. Ximenes diz que o formato de avião não foi escolhido por acaso. A escolha se deve à sua aerodinâmica, que facilita a captura de raios solares e de vento. "Além disso, em forma de avião, o poste fica mais seguro. São duas fontes de energia alimentando-se ao mesmo tempo, podendo ser instalado em qualquer região e localidade do Brasil e do mundo", esclarece.
Tecnicamente, as asas do avião abrigam células solares que captam raios ultravioletas e infravermelhos por meio do silício (elemento químico que é o principal componente do vidro, cimento, cerâmica, da maioria dos componentes semicondutores e dos silicones), transformando-os em energia elétrica (até 400 watts), que é armazenada em uma bateria afixada alguns metros abaixo. Cumprindo a mesma tarefa de gerar energia, estão as hélices do avião. Assim como as naceles (pás) dos grandes cata-ventos espalhados pelo litoral cearense, a energia (até 1.000 watts) é gerada a partir do giro dessas pás.


Cada poste é capaz de abastecer outros três ao mesmo o tempo. Ou seja, um poste com um "avião" – na verdade um gerador – é capaz de produzir energia para outros dois sem gerador e com seis lâmpadas LEDs (mais eficientes e mais ecológicas, uma vez que não utilizam mercúrio, como as fluorescentes compactas) de 50.000 horas de vida útil dia e noite (cerca de 50 vezes mais que as lâmpadas em operação atualmente; quanto à luminosidade, as LEDs são oito vezes mais potentes que as convencionais). A captação (da luz e do vento) pelo avião é feita em um eixo com giro de 360 graus, de acordo com a direção do vento.

À prova de apagão
Por meio dessas duas fontes, funcionando paralelamente, o poste tem autonomia de até sete dias, ou seja, é à prova de apagão. Ximenes brinca dizendo que sua tecnologia é mais resistente que o homem: "As baterias do poste híbrido têm autonomia para 70 horas, ou seja, se faltarem vento e sol 70 horas, ou sete noites seguidas, as lâmpadas continuarão ligadas, enquanto a humanidade seria extinta porque não se consegue viver sete dias sem a luz solar".


O inventor explica que a ideia nasceu em 2001, durante o apagão. Naquela época, suas pesquisas mostraram que era possível oferecer alternativas ao caos energético. Ele conta que a caminhada foi difícil, em função da falta de incentivo – o trabalho foi desenvolvido com recursos próprios. Além disso, teve que superar o pessimismo de quem não acreditava que fosse possível desenvolver o invento. "Algumas pessoas acham que só copiamos e adaptamos descobertas de outros. Nossa tecnologia, no entanto, prova que esse pensamento está errado. Somos, sim, capazes de planejar, executar e levar ao mercado um produto feito 100% no Ceará. Precisamos, na verdade, é de pessoas que acreditem em nosso potencial", diz.

Mas esse não parece ser um problema para o inventor. Ele até arranjou um padrinho forte, que apostou na ideia: o governo do estado. O projeto, gestado durante sete anos, pode ser visto no Palácio Iracema, onde passa por testes. De acordo com Ximenes, nos próximos meses deve haver um entendimento entre as partes. Sua intenção é colocar a descoberta em praças, avenidas e rodovias.

O empresário garante que só há benefícios econômicos para o (possível) investidor. Mesmo não divulgando o valor necessário à instalação do equipamento, Ximenes afirma que a economia é de cerca de R$ 21.000 por quilômetro/mês, considerando-se a fatura cheia da energia elétrica. Além disso, o custo de instalação de cada poste é cerca de 10% menor que o convencional, isso porque economiza transmissão, subestação e cabeamento. A alternativa teria, também, um forte impacto no consumo da iluminação pública, que atualmente representa 7% da energia no estado. "Com os novos postes, esse consumo passaria para próximo de 3%", garante, ressaltando que, além das vantagens econômicas, existe ainda o apelo ambiental. "Uma vez que não haverá contaminação do solo, nem refugo de materiais radioativos, não há impacto ambiental", finaliza Fernandes Ximenes.


Vento e sol
Com a inauguração, em agosto do ano passado, do parque eólico Praias de Parajuru, em Beberibe, o Ceará passou a ser o estado brasileiro com maior capacidade instalada em geração de energia elétrica por meio dos ventos, com mais de 150 megawatts (MW). Instalada em uma área de 325 hectares, localizada a pouco mais de cem quilômetros de Fortaleza, a nova usina passou a funcionar com 19 aerogeradores, capazes de gerar 28,8 MW. O empreendimento é resultado de uma parceria entre a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a empresa Impsa, fabricante de aerogeradores. Além dessa, a parceria prevê a construção de dois outros parques eólicos – Praia do Morgado, com uma capacidade também de 28,8 MW, e Volta do Rio, com 28 aerogeradores produzindo, em conjunto, 42 MW de eletricidade. Os dois parques serão instalados no município de Acaraú, a 240 quilômetros de Fortaleza.

Se no litoral cearense não falta vento, no interior o que tem muito são raios solares. O calor, que racha a terra e enche de apreensão o agricultor em tempos de estiagem, traz como consolo a possibilidade de criação de emprego e renda a partir da geração de energia elétrica. Na região dos Inhamuns, por exemplo, onde há a maior radiação solar de todo o país, o potencial é que sejam produzidos, durante o dia, até 16 megajoules (MJ – unidade de medida da energia obtida pelo calor) por metro quadrado.

Essa característica levou investidores a escolher a região, especificamente o município de Tauá, para abrigar a primeira usina solar brasileira. O projeto está pronto e a previsão é que as obras comecem no final deste mês. O empreendimento contará com aporte do Fundo de Investimento em Energia Solar (FIES), iniciativa que dá benefícios fiscais para viabilizar a produção e comercialização desse tipo de energia, cujo custo ainda é elevado em relação a outras fontes, como hidrelétricas, térmicas e eólicas.

A usina de Tauá será construída pela MPX – empresa do grupo EBX, de Eike Batista – e inicialmente foi anunciada com uma capacidade de produção de 50 MW, o que demandaria investimentos superiores a US$ 400 milhões. Dessa forma, seria a segunda maior do mundo, perdendo apenas para um projeto em Portugal. No entanto, os novos planos da empresa apontam para uma produção inicial de apenas 1 MW, para em seguida ser ampliada, até alcançar os 5 MW já autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os equipamentos foram fornecidos pela empresa chinesa Yingli.

Segundo o presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Antônio Balhmann, essa ampliação dependerá da capacidade de financiamento do FIES. Aprovado em 2009 e pioneiro no Brasil, o fundo pagaria ao investidor a diferença entre a tarifa de referência normal e a da solar, ainda mais cara. "A energia solar hoje é inviável financeiramente, e só se torna possível agora por meio desse instrumento", esclarece. Ao todo, estima-se que o Ceará tem potencial de geração fotovoltaica de até 60.000 MW.

Também aproveitando o potencial do estado para a energia solar, uma empresa espanhola realiza estudos para definir a instalação de duas térmicas movidas a esse tipo de energia. Caso se confirme o interesse espanhol, as terras cearenses abrigariam as primeiras termossolares do Brasil. A dimensão e a capacidade de geração do investimento ainda não estão definidas, mas se acredita que as unidades poderão começar com capacidade entre 2 MW a 5 MW.


Bola da vez

De fato, em todas as partes do mundo, há esforços cada vez maiores e mais rápidos para transformar as energias limpas na bola da vez. E, nesse sentido, números positivos não faltam para alimentar tal expectativa. Organismos internacionais apontam que o mundo precisará de 37 milhões de profissionais para atuar no setor de energia renovável até 2030, e boa parte deles deverá estar presente no Brasil. Isso se o país souber aproveitar seu gigantesco potencial, especialmente para gerar energias eólica e solar. Segundo o Estudo Prospectivo para Energia Fotovoltaica, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o dever de casa no país passa, em termos de energia solar, por exemplo, pela modernização de laboratórios, integração de centros de referência e investimento em desenvolvimento de tecnologia para obter energia fotovoltaica a baixo custo. Também precisará estabelecer um programa de distribuição de energia com sistemas que conectem casas, empresas, indústria e prédios públicos.

"Um dos objetivos do estudo, em fase de conclusão, é identificar as oportunidades e desafios para a participação brasileira no mercado doméstico e internacional de energia solar fotovoltaica", diz o assessor técnico do CGEE, Elyas Ferreira de Medeiros. Por intermédio desse trabalho, será possível construir e recomendar ações estratégicas aos órgãos de governo, universidades e empresas, sempre articuladas com a sociedade, para inserir o país nesse segmento. Ele explica que as vantagens da energia solar são muitas e os números astronômicos. Elyas cita um exemplo: em um ano, a Terra recebe pelos raios solares o equivalente a 10.000 vezes o consumo mundial de energia no mesmo período.

O CGEE destaca, em seu trabalho, a necessidade de que sejam instituídas políticas de desenvolvimento tecnológico, com investimentos em pesquisa sobre o silício e sistemas fotovoltaicos. Há a necessidade de fomentar o desenvolvimento de uma indústria nacional de equipamentos de sistemas produtivos com alta integração, além de incentivar a implantação de um programa de desenvolvimento industrial e a necessidade de formação de profissionais para instalar, operar e manter os sistemas fotovoltaicos.

RENOVÁVEIS TERÃO ATÉ 80% DOS EMPRÉSTIMOS DO BID /// Agencia Ambiente Energia

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) planeja, para os próximos três anos, que até 80% dos futuros empréstimos para a área de energia sejam destinados a projetos de fontes renováveis de energia – biomassa, geotérmica, solar, eólica e hidrelétrica, contra os atuais 30%.

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Segundo o BID, melhorias no processo de regulação e a queda dos custos dos equipamentos impulsionaram a demanda de investimentos em projetos de energias renováveis na América Latina e no Caribe, em particular para empreendimentos de geração eólica.

O BID, em 2009, destinou US$ 1,2 bilhão em financiamentos para projetos do setor privado, sendo que um terço se voltou a financiar projetos de energia renovável e eficiência energética na região. “Vários países da região desejam diversificar suas fontes de energia e estão mudando o seu marco regulatório para atrair mais investimentos em energia limpa”, comentou Hans Schulz, gerente geral do Departamento de Financiamento Estruturado e Corporativo do BID.

A expectativa é que a demanda de energia na América Latina aumente 50% até 2030, exigindo investimentos da ordem de US$ 1,5 trilhão. Projeção da Agência Internacional de Energia mostra que somente na próxima década a região precisará de um incremento de 26% na sua capacidade instalada de geração de energia. Segundo ele, sem financiamento de longo prazo, os projetos de energias renováveis não podem virar realidade. “Por isso, o apoio multilateral tem sido essencial para que muitos projetos de energia verde se tornem realidade”, comenta, descatando os prazos dos financiamentos do BID que chegam a até 15 anos, contra os cinco anos dos bancos comerciais.



Energia eólica - Nos últimos anos, a demanda por financiamento por projetos de geração eólica ganhou mais espaço na carteira do BID, uma vez que os novos materiais e desenhos de turbinas reduziram o custo por MW. Com isso, a eólica passou a ser uma alternativa atraente para governos e empresas da América Latina. Em dezembro do ano passado, por exemplo, a entidade aprovou financiamento de US$ 102 milhões para dois projetos de energia eólica, num total de 318 MW, para o estado de Oaxaca, no México.[1]

O BID também financia projetos de energia limpa e eficiência energética por meio de empréstimos e doações a governos de seus 26 países membros mutuários. No ano passado, o banco mais que duplicou os financiamentos para melhorar o meio ambiente, enfrentar a mudança climática e incentivar as energias renováveis. Foram aprovados 33 novos empréstimos para projetos verdes nos setores privado e público, num total de mais de US$ 3,5 bilhões. Do total de projetos, 15 deles, num total de US$ 2,1 bilhões, foram destinados a mudança climática e as energias renováveis.

Energia Verde ou só Propaganda?

By KATE GALBRAITH ///NYTimes

As solicitações têm lotado a caixa de e-mail das pessoas: pague um pouco mais pela eletricidade gerada por energia eólica, 100% limpa. Ou, de acordo com panfletos, compre “certificados de energia verde” para compensar suas emissões de gases estufa.

Quase um milhão de consumidores de energia elétrica adquiriu esse tipo de produto voluntariamente, e a quantidade fornecida deste tipo de energia quase triplicou desde 2005, em meio à crescente preocupação sobre as mudanças climáticas e a segurança na energia. Mas tais consumidores são minoria distinta, representando uma taxa de aquisição de cerca de apenas 2% dos planos das prestadoras de serviço.

A baixa aquisição levanta uma questão: se a grande maioria dos americanos é a favor de apoiar o governo na questão de energia limpa, como sugerem as pesquisas, por que tantas pessoas estão relutantes em adquiri tais planos quando comparam o preço extra que terão de pagar?

Uma das razões é que as pessoas consideram o preço adicional a ser pago alto demais. A energia solar e eólica geralmente custa mais do que a energia gerada por combustíveis fósseis. Enquanto muitas pessoas apoiam o princípio da energia alternativa, elas particularmente não querem gastar centenas de dólares a mais por eletricidade, especialmente na situação econômica atual.

Mas na cabeça de algumas pessoas, há outro motivo: será que esses programas realmente resultam em mais criações de projetos de energia renovável? O governo avaliou à questão, e disse que é difícil tirar uma conclusão geral. Os especialistas dizem acreditar que os programas de energia verde funcionam melhor que os outros.

“É um assunto polêmico. Não é um mercado de tamanho único”, disse Lori Bird, analista sênior do Laboratório Nacional de Energia renovável no Colorado e co-autor do relatório sobre mercados de energia verdade, publicado em setembro.

Ao menos um grande programa já teve problemas com os reguladores. No ano passado, o programa de energia verde da Florida Power and Light, chamado Sunshine Energy, foi fechado pelo Conselho de Serviços Públicos do Estado após uma auditoria descobrir que os centros de energia solar prometidos estavam muito aquém do cronograma. Havia mais de 38 mil consumidores e então o sexto maior do país, de acordo com o laboratório de energia renovável.

A auditoria também descobriu que a vasta maioria dos pagamentos feitos por proprietários foram direcionados para a administração e marketing.

“Nenhuma pessoa sensata teria contribuído com o programa Sunshine Energy se soubessem que aproximadamente 76,4% das contribuições seriam gastas com despesas de administração e marketing ao invés de energia renovável”, escreveu Nathan Skop, integrante do Conselho de Serviços Públicos da Flórida, em um comunicado sobre a decisão do fechamento.

Eric Silagy, vice-presidente de desenvolvimento da Florida Power and Light, disse em uma entrevista que o programa havia excedido os objetivos da energia renovável. “Sim, gastamos mais dinheiro na educação dos consumidores, mas não sei como o projeto poderia ser feito de outra forma”, disse.

De acordo com o relatório do laboratório nacional, no geral uma média de 19% do dinheiro que as prestadoras de serviços arrecadam com esses programas voluntários vai para promoção e marketing, e os números das prestadoras menores costumam ser bem maiores.

Cerca de um quarto das empresas do ramo no país fornecem programas de energia verde, e a forma como eles são estruturados variam. Na prática, nenhuma prestadora grande fornece 100% de energia renovável para nenhum cliente, porque a eletricidade de todos os tipos de fontes – carvão mineral, eólica, painéis solares – se associam em seus diversos fios. As companhias estão essencialmente coletando dinheiro extra, o qual eles prometem usar para dar apoio ao desenvolvimento da energia renovável, uma jogada que os consumidores consideram bem convincente.

“Está em questão o que é bom para o planeta”, disse Mark Renfrow, proprietário de Dalas que começou a pagar cerca de US$ 26 a mais por mês para sua fornecedora de eletricidade, a Direct Energy, pelo fornecimento de 100% de energia eólica.

Tipicamente, os preços adicionais influenciam nos equipamentos das fazendas eólicas e solares por meio da compra e venda de certificados de energia renovável. Muitas delas fornecem esses certificados, que servem para agregar um valor em dinheiro aos benefícios ambientais associados à energia renovável.

Por exemplo, o departamento de energia verde de uma empresa como a Con Edison, de Nova York, deve vender esse produto para seus clientes e então comprar certificados para essa quantidade de energia no mercado aberto. Defensores da energia limpa argumentam que esses pagamentos ajudam a construir novos centros, apesar de saberem que outros fatores, como financiamento bancário, têm papéis mais importantes.

Paul Copleman, porta-voz da Iberdrola Renewables, uma grande fomentadora do ramo, qualificou o sistema de pagamentos voluntários “como um componente essencial para o financiamento das fazendas eólicas”, apesar de dizer que nenhum projeto da Iberdrola em particular tenha sido construído para suprir essa demanda voluntária.

“Não estipulamos no começo do processo de desenvolvimento uma determinação para construir um projeto que suprisse o mercado voluntário especificamente”, disse Copleman por e-mail. “Mas sua presença proporciona flexibilidade e ajuda a melhorar projetos econômicos”.

Bob Harmon, chefe do gabinete de inovação da Bonneville Environmental Foundation, grupo sem fins lucrativos de Oregon que administra os pagamentos voluntários de fazendas eólicas e solares, disse que os projetos nos quais ele trabalhou, tipicamente, aumentaram a receita em cerca de 17% por causa desse tipo de pagamento. Além disso, ele acrescentou que essa quantidade representou um salto na margem de lucro da empresa, o suficiente para fazer a diferença na decisão de se um projeto deveria ou não seguir adiante. “Esse mercado está dando certo, está prosperando, é bom e deveria ser expandido”, disse Harmon.

Mas alguns defensores dos consumidores de eletricidade argumentam que os pagamentos fazem pouca diferença. Matthew Freedman, integrante da equipe de advogados da Utility Reform Network, grupo de advocacia voltado para o contribuinte na Califórnia, disse que a natureza de curto prazo desses compromissos voluntários com a energia verde significa que eles serão não terão sentido nos projetos de longo prazo como os de fazendas solares e eólicas.

“Poucas evidências sugerem que as aquisições dos clientes resultem em quaisquer novas contribuições ao poder renovável”, disse Freedman.
Os serviços da cidade de Palo Alto, Califórnia, têm a maior porcentagem de alistamento no país, com 21% da participação dos consumidores, de acordo com um estudo do laboratório do governo.

Mas para muitos grupos, mesmo aqueles defensores da sustentabilidade, o alto preço da energia limpa deixou as pessoas pensativas e hesitantes. No começo deste ano, o governo da cidade de Durango, no Colorado, parou de comprar energia renovável de sua fornecedora, economizando US$ 45 mil por ano. A eletricidade limpa custava 40% a mais – e o administrador da cidade, Ron Leblanc, ficou irritado porque parte desse pagamento foi usada para colocar painéis solares em uma escola de outra cidade.

“Pagar um valor adicional para investir em uma comunidade a 28 km de distância foi uma ofensa para muitos de nós”, disse, acrescentando que Durando estava explorando outras opções para desenvolver energia limpa localmente.

No Texas, a Austin Energy é a concessionária que mais fornece energia verde no país, comprando eletricidade de fazendas eólicas no leste do Texas. Mas o apetite de seus clientes por energia renovável diminuiu com o aumento dos preços.

No começo deste ano, ela pretendia vender apenas 1% da carga de energia eólica que fornecia aos consumidores – sem dúvida porque o programa necessitaria cobrar mais US$ 58 por mês pelo fornecimento de energia a uma casa de uma família americana comum. Isso é bem mais do que nos anos anteriores, o que é resultado de uma combinação de fatores, como o congestionamento das linhas de transmissão no Texas.

Desde então, a concessionária de energia têm cortado os preços, e Roger Duncan, gerente-geral da empresa, disse que a Austin Energy deve começar a mudar seu programa para que os custos da energia verde nos projetos futuros sejam distribuídos entre todos os consumidores – e não apenas aqueles que pagam valores extras voluntariamente.

“Se vamos fazer uma transição para a energia renovável”, disse Duncan, “você não pode depender de uma pequena porcentagem de consumidores para realizá-la”.

Leia o artigo em ingles:
http://www.nytimes.com/2009/11/17/business/energy-environment/17power.html?hpw

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