By KATE GALBRAITH ///NYTimes
As solicitações têm lotado a caixa de e-mail das pessoas: pague um pouco mais pela eletricidade gerada por energia eólica, 100% limpa. Ou, de acordo com panfletos, compre “certificados de energia verde” para compensar suas emissões de gases estufa.
Quase um milhão de consumidores de energia elétrica adquiriu esse tipo de produto voluntariamente, e a quantidade fornecida deste tipo de energia quase triplicou desde 2005, em meio à crescente preocupação sobre as mudanças climáticas e a segurança na energia. Mas tais consumidores são minoria distinta, representando uma taxa de aquisição de cerca de apenas 2% dos planos das prestadoras de serviço.
A baixa aquisição levanta uma questão: se a grande maioria dos americanos é a favor de apoiar o governo na questão de energia limpa, como sugerem as pesquisas, por que tantas pessoas estão relutantes em adquiri tais planos quando comparam o preço extra que terão de pagar?
Uma das razões é que as pessoas consideram o preço adicional a ser pago alto demais. A energia solar e eólica geralmente custa mais do que a energia gerada por combustíveis fósseis. Enquanto muitas pessoas apoiam o princípio da energia alternativa, elas particularmente não querem gastar centenas de dólares a mais por eletricidade, especialmente na situação econômica atual.
Mas na cabeça de algumas pessoas, há outro motivo: será que esses programas realmente resultam em mais criações de projetos de energia renovável? O governo avaliou à questão, e disse que é difícil tirar uma conclusão geral. Os especialistas dizem acreditar que os programas de energia verde funcionam melhor que os outros.
“É um assunto polêmico. Não é um mercado de tamanho único”, disse Lori Bird, analista sênior do Laboratório Nacional de Energia renovável no Colorado e co-autor do relatório sobre mercados de energia verdade, publicado em setembro.
Ao menos um grande programa já teve problemas com os reguladores. No ano passado, o programa de energia verde da Florida Power and Light, chamado Sunshine Energy, foi fechado pelo Conselho de Serviços Públicos do Estado após uma auditoria descobrir que os centros de energia solar prometidos estavam muito aquém do cronograma. Havia mais de 38 mil consumidores e então o sexto maior do país, de acordo com o laboratório de energia renovável.
A auditoria também descobriu que a vasta maioria dos pagamentos feitos por proprietários foram direcionados para a administração e marketing.
“Nenhuma pessoa sensata teria contribuído com o programa Sunshine Energy se soubessem que aproximadamente 76,4% das contribuições seriam gastas com despesas de administração e marketing ao invés de energia renovável”, escreveu Nathan Skop, integrante do Conselho de Serviços Públicos da Flórida, em um comunicado sobre a decisão do fechamento.
Eric Silagy, vice-presidente de desenvolvimento da Florida Power and Light, disse em uma entrevista que o programa havia excedido os objetivos da energia renovável. “Sim, gastamos mais dinheiro na educação dos consumidores, mas não sei como o projeto poderia ser feito de outra forma”, disse.
De acordo com o relatório do laboratório nacional, no geral uma média de 19% do dinheiro que as prestadoras de serviços arrecadam com esses programas voluntários vai para promoção e marketing, e os números das prestadoras menores costumam ser bem maiores.
Cerca de um quarto das empresas do ramo no país fornecem programas de energia verde, e a forma como eles são estruturados variam. Na prática, nenhuma prestadora grande fornece 100% de energia renovável para nenhum cliente, porque a eletricidade de todos os tipos de fontes – carvão mineral, eólica, painéis solares – se associam em seus diversos fios. As companhias estão essencialmente coletando dinheiro extra, o qual eles prometem usar para dar apoio ao desenvolvimento da energia renovável, uma jogada que os consumidores consideram bem convincente.
“Está em questão o que é bom para o planeta”, disse Mark Renfrow, proprietário de Dalas que começou a pagar cerca de US$ 26 a mais por mês para sua fornecedora de eletricidade, a Direct Energy, pelo fornecimento de 100% de energia eólica.
Tipicamente, os preços adicionais influenciam nos equipamentos das fazendas eólicas e solares por meio da compra e venda de certificados de energia renovável. Muitas delas fornecem esses certificados, que servem para agregar um valor em dinheiro aos benefícios ambientais associados à energia renovável.
Por exemplo, o departamento de energia verde de uma empresa como a Con Edison, de Nova York, deve vender esse produto para seus clientes e então comprar certificados para essa quantidade de energia no mercado aberto. Defensores da energia limpa argumentam que esses pagamentos ajudam a construir novos centros, apesar de saberem que outros fatores, como financiamento bancário, têm papéis mais importantes.
Paul Copleman, porta-voz da Iberdrola Renewables, uma grande fomentadora do ramo, qualificou o sistema de pagamentos voluntários “como um componente essencial para o financiamento das fazendas eólicas”, apesar de dizer que nenhum projeto da Iberdrola em particular tenha sido construído para suprir essa demanda voluntária.
“Não estipulamos no começo do processo de desenvolvimento uma determinação para construir um projeto que suprisse o mercado voluntário especificamente”, disse Copleman por e-mail. “Mas sua presença proporciona flexibilidade e ajuda a melhorar projetos econômicos”.
Bob Harmon, chefe do gabinete de inovação da Bonneville Environmental Foundation, grupo sem fins lucrativos de Oregon que administra os pagamentos voluntários de fazendas eólicas e solares, disse que os projetos nos quais ele trabalhou, tipicamente, aumentaram a receita em cerca de 17% por causa desse tipo de pagamento. Além disso, ele acrescentou que essa quantidade representou um salto na margem de lucro da empresa, o suficiente para fazer a diferença na decisão de se um projeto deveria ou não seguir adiante. “Esse mercado está dando certo, está prosperando, é bom e deveria ser expandido”, disse Harmon.
Mas alguns defensores dos consumidores de eletricidade argumentam que os pagamentos fazem pouca diferença. Matthew Freedman, integrante da equipe de advogados da Utility Reform Network, grupo de advocacia voltado para o contribuinte na Califórnia, disse que a natureza de curto prazo desses compromissos voluntários com a energia verde significa que eles serão não terão sentido nos projetos de longo prazo como os de fazendas solares e eólicas.
“Poucas evidências sugerem que as aquisições dos clientes resultem em quaisquer novas contribuições ao poder renovável”, disse Freedman.
Os serviços da cidade de Palo Alto, Califórnia, têm a maior porcentagem de alistamento no país, com 21% da participação dos consumidores, de acordo com um estudo do laboratório do governo.
Mas para muitos grupos, mesmo aqueles defensores da sustentabilidade, o alto preço da energia limpa deixou as pessoas pensativas e hesitantes. No começo deste ano, o governo da cidade de Durango, no Colorado, parou de comprar energia renovável de sua fornecedora, economizando US$ 45 mil por ano. A eletricidade limpa custava 40% a mais – e o administrador da cidade, Ron Leblanc, ficou irritado porque parte desse pagamento foi usada para colocar painéis solares em uma escola de outra cidade.
“Pagar um valor adicional para investir em uma comunidade a 28 km de distância foi uma ofensa para muitos de nós”, disse, acrescentando que Durando estava explorando outras opções para desenvolver energia limpa localmente.
No Texas, a Austin Energy é a concessionária que mais fornece energia verde no país, comprando eletricidade de fazendas eólicas no leste do Texas. Mas o apetite de seus clientes por energia renovável diminuiu com o aumento dos preços.
No começo deste ano, ela pretendia vender apenas 1% da carga de energia eólica que fornecia aos consumidores – sem dúvida porque o programa necessitaria cobrar mais US$ 58 por mês pelo fornecimento de energia a uma casa de uma família americana comum. Isso é bem mais do que nos anos anteriores, o que é resultado de uma combinação de fatores, como o congestionamento das linhas de transmissão no Texas.
Desde então, a concessionária de energia têm cortado os preços, e Roger Duncan, gerente-geral da empresa, disse que a Austin Energy deve começar a mudar seu programa para que os custos da energia verde nos projetos futuros sejam distribuídos entre todos os consumidores – e não apenas aqueles que pagam valores extras voluntariamente.
“Se vamos fazer uma transição para a energia renovável”, disse Duncan, “você não pode depender de uma pequena porcentagem de consumidores para realizá-la”.
Leia o artigo em ingles:
http://www.nytimes.com/2009/11/17/business/energy-environment/17power.html?hpw
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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