Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Relatório avalia os impactos das mudanças climáticas na Europa, confirmando necessidade urgente de adaptação

Publicado em novembro 29, 2012 por

 
Relatório avalia os impactos das mudanças climáticas na Europa, confirmando necessidade urgente de adaptação

A mudança climática está afetando todas as regiões da Europa, causando uma série de impactos sobre a sociedade e o meio ambiente. Impactos são esperados no futuro, potencialmente causando custos elevados danos, de acordo com a última avaliação publicada pela Agência Européia do Ambiente.
O relatório “As mudanças climáticas, impactos e vulnerabilidade na Europa 2012” [Climate change, impacts and vulnerability in Europe 2012] indica que temperaturas médias mais elevadas foram observadas em toda a Europa, bem como diminuição da precipitação nas regiões no sul e aumento da precipitação no norte da Europa. A camada de gelo da Groenlândia, o gelo do mar Ártico e muitas geleiras em toda a Europa estão derretendo, a cobertura de neve diminuiu e a maioria dos solos permafrost estão descongelando.

Eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas causaram grandes danos, com custos crescentes, em toda a Europa nos últimos anos. Enquanto são necessárias mais provas para discernir o papel desempenhado pela mudança do clima nessa tendência crescente e avaliar a atividade humana em áreas sujeitas a risco tem sido um fator chave. Futuras alterações climáticas deverão potencializar essa vulnerabilidade, na medida em que eventos climáticos extremos devem se tornar mais intensos e freqüentes. Se as sociedades européias não se adaptarem, os custos dos danos também continuarão a crescer, de acordo com o relatório.

Algumas regiões serão menos capazes de se adaptar às mudanças climáticas do que outras, em parte devido a disparidades econômicas em toda a Europa, diz o relatório. Os efeitos da mudança climática poderiam aprofundar essas desigualdades.
Jacqueline McGlade, Diretora Executiva da AEA, disse: “A mudança climática é uma realidade em todo o mundo, e a extensão e a velocidade da mudança é cada vez mais evidente. Isto significa que todas as partes da economia, incluindo as famílias, precisam se adaptar, bem como reduzir as emissões.”

Observando a mudança do clima e projeções – as principais conclusões
A última década (2002-2011) foi a mais quente já registrada na Europa, com a temperatura do solo europeu 1,3° C mais quente do que a média no período pré-industrial. Várias projeções do modelo mostram que a Europa poderia ser de 2,5 a 4° C mais quente, ao final do século 21, em relação à média de 1961-1990.

Especialistas dizem que o Brasil não está preparado para os impactos das mudanças climáticas

 

Nova Friburgo, deslizamento de encosta

Especialistas dizem que país não tem planejamento estratégico para minimizar os efeitos em setores como agricultura, energia e migração regional. Pesquisa mostra o Brasil como o 58º em vulnerabilidade.

As imagens dos deslizamentos de terra causados por fortes chuvas e que deixaram centenas de mortos na região serrana do Rio de Janeiro, no início de 2011, ou dos refugiados da seca no Nordeste estão firmes na cabeça de muitos brasileiros. Mas esses são apenas dois dos vários exemplos dos impactos das mudanças climáticas no Brasil. Muitas vezes, os efeitos delas são ainda piores por causa da falta de estrutura das cidades brasileiras.

“O Brasil não está totalmente preparado para as mudanças climáticas e seus impactos. Os pontos fracos do Brasil estão relacionados à sua infraestrutura e ao fato de ser um país de enorme extensão e com uma grande população pobre”, frisa o cientista-chefe do Instituto de Adaptação Global (GAIN, em inglês), Ian Noble. Uma recente pesquisa do instituto mostrou que, no quesito vulnerabilidade, o Brasil está na 58ª posição entre 176 países.

Segundo os cientistas, cada região brasileira sofre de forma diferente com os impactos das mudanças climáticas. No Sul e no Sudeste, o maior problema são as chuvas cada vez mais intensas – e, com elas, os perigos cada vez maiores para as pessoas que vivem em encostas. Já o Centro-Oeste e principalmente o Nordeste vão passar por secas cada vez mais frequentes. No Centro-Oeste, algumas regiões de savana deverão virar caatinga. Já partes da floresta tropical úmida da Amazônia deverão se converter em serrado e savana.

Agricultura, energia e migração
A agricultura é o setor econômico mais vulnerável às condições climáticas. As temperaturas mais altas e a variação do regime de chuvas podem obrigar uma série de culturas – como arroz, café, soja e milho – a se deslocar para áreas onde as condições climáticas sejam mais favoráveis. “Isso gera transtornos para a economia e o setor agrícola”, comenta Saulo Rodrigues Filho, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB).

O setor energético brasileiro também é vulnerável, pois depende do regime de chuvas e das hidrelétricas. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o nível dos reservatórios é o menor em dez anos e caiu para menos da metade nas principais hidrelétricas do país, o que cria o risco de apagões.
O governo federal responde com medidas de curto prazo, como a queima de petróleo para produzir eletricidade. “O governo brasileiro não entende o atual problema como uma vulnerabilidade do setor energético diante das mudanças climáticas”, afirma Cláudio Szlafszstein, do núcleo de meio ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Quanto à migração regional, o agravamento das adversidades climáticas poderá fazer ressurgir os refugiados do clima, principalmente na região Nordeste. “As condições climáticas do semiárido nordestino poderão ficar mais adversas e, com isso, deve haver um grande fluxo migratório”, afirmou Saulo Filho.

Szlafszstein lembra que o Brasil vivencia o problema da migração interna da população por fatores climáticos há muito tempo, principalmente a nordestina por causa da seca. “Enquanto estudiosos e a ONU usam o termo ‘migrações climáticas’, no Brasil a seca e seus impactos são tidos como problemas crônicos”, comenta.

Avanços?
O pesquisador Saulo Filho, da UnB, avalia que o governo brasileiro avançou no combate às mudanças climáticas com a adoção de medidas e de políticas em sintonia com o que a ciência diz ser necessário para minimizar os impactos. Um passo importante foi o fato de o Brasil ter apresentado uma redução voluntária na emissão de gases do efeito estufa, não prevista no protocolo de Kyoto, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas realizada em 2009 em Copenhage.
Outra ação importante foi implementada também em 2009, com a criação da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que visa elaborar planos contra os impactos das mudanças climáticas para diversos setores da economia.

“São avanços importantes, o Brasil caminhou na direção certa. Mas seria preciso muito mais do que isso no que diz respeito à adaptação e ao combate à vulnerabilidade. Nesses pontos, ainda temos muito por fazer”, afirma Saulo Filho.
Szlafszstein diz que o governo brasileiro não tem um planejamento estratégico para diminuir os impactos das mudanças climáticas. “Há numerosas intenções e propostas, mas elas se destacam por serem isoladas, com escasso nível de implementação, e por serem orientadas para diminuir as emissões de gases-estufa, com pouca atenção para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas.”

Além disso, o discurso de preocupação com as questões ambientais é acompanhado por políticas que vão no sentido contrário, como o incentivo à produção de automóveis e à extração de petróleo.
Sistema de alerta
A tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, é considerado o maior desastre climático do Brasil. Na época, mais de 900 pessoas morreram por causa dos deslizamentos, que deixaram milhares de desabrigados.

Para evitar novas tragédias, o governo federal criou em dezembro de 2011 o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). O objetivo do centro de pesquisa é alertar, com até duas horas de antecedência, sobre o risco de deslizamentos de encostas.
De acordo com Carlos Nobre, secretário de políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o governo tem a meta – ambiciosa, segundo ele – de diminuir o número de mortos, feridos, desabrigados e desalojados em 80% nos próximos anos. “Com o sistema de alerta, a Defesa Civil pode conduzir um processo organizado de evacuação dos moradores, que podem ir para um lugar seguro. O sistema elabora, diariamente, alertas para todo o país”, diz Nobre.

Pensar de forma preventiva
Segundo Saulo Filho, é importante agir de forma preventiva e não apenas remediar os erros. Ele cita um estudo do professor britânico Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, segundo o qual ações preventivas são cinco vezes mais econômicas.
Saulo Filho afirma que governantes, políticos e até mesmo alguns setores da sociedade ainda resistem em aceitar o tema como prioritário na hora de elaborar políticas e adotar medidas.
“O ser humano quer ter 100% de certeza de que tudo que está ocorrendo com o clima se deve à ação humana. Mas a complexidade do sistema não permite fazer interpretações tão exatas e tão precisas. Isso torna mais difícil convencer os políticos, e essa é uma das barreiras a serem quebradas nos próximos anos”, afirma.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Alexandre Schossler
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 27/11/2012

Quantidade de gases efeito estufa na atmosfera atingiu novo recorde em 2011, alerta relatório da ONU

Publicado em novembro 21, 2012 por

 Quantidade de gases efeito estufa na atmosfera atingiu novo recorde em 2011, alerta relatório da ONU

A quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera atingiu um novo recorde em 2011, afirmou hoje (20) a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Entre 1990 e 2011 houve um aumento de 30% na força radioativa– o efeito do aquecimento sobre o clima – por causa do dióxido de carbono (CO2) e outros gases que retêm o calor de longa duração.

Desde o início da era industrial, em 1750, cerca de 375 bilhões de toneladas de carbono foram liberados na atmosfera como o CO2, provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis, de acordo com boletim da OMM, lançado hoje, Gases de Efeito Estufa 2011, que tem como foco especial o ciclo do carbono. Cerca de metade desse dióxido de carbono permanece na atmosfera, sendo o restante absorvido pelos oceanos e pela biosfera terrestre .

“Esses bilhões de toneladas de dióxido de carbono adicionais em nossa atmosfera permanecerão lá por séculos, fazendo com que nosso planeta se aqueça ainda mais e tenha um impacto sobre todos os aspectos da vida na Terra”, disse o Secretário-Geral da OMM, Michel Jarraud. “As emissões futuras só vão piorar a situação”.

“Até agora, sumidouros de carbono absorveram quase a metade do dióxido de carbono emitido pelos seres humanos na atmosfera, mas isso não vai necessariamente continuar no futuro. Já vimos que os oceanos estão se tornando mais ácidos como resultado da absorção de dióxido de carbono, com possíveis repercussões para a cadeia alimentar submarina e recifes de coral. Há muitas interações adicionais entre gases de efeito estufa, a biosfera da Terra e os oceanos, e precisamos aumentar a nossa capacidade de monitoramento e do conhecimento científico, a fim de entender melhor estes fenômenos “, disse Jarraud.

A agência observou que o dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais importante emitido pelas atividades humanas, e é responsável por 85% do aumento da força radioativa durante a última década. Também é o gás de efeito estufa mais importante de longa duração; os outros são o metano e o óxido nitroso.

Informe da ONU Brasil, publicado pelo EcoDebate, 21/11/2012

Investidores globais pedem ação contra riscos climáticos


20 de novembro de 201218h09 atualizado 18h54

Uma coalizão formada pelos maiores investidores mundiais propôs na terça-feira que os governos intensifiquem sua ação contra a mudança climática e reforcem seus investimentos em energias limpas, sob risco de perder trilhões de dólares em investimentos e em prejuízos às suas economias. Em uma carta aberta, a aliança de investidores institucionais, responsáveis por gerirem US$ 22,5 trilhões em ativos, disse que o rápido aumento nas expansões de gases do efeito estufa e os fenômenos climáticos mais extremos estão elevando os riscos para os investimentos em nível global.

O grupo defendeu um diálogo entre investidores e governos para reformular as políticas climáticas e energéticas. O apelo ocorre menos de uma semana antes do início da importante reunião climática da ONU em Doha, no Catar. Quase 200 nações vão se reunir lá entre os dias 26 de novembro e 7 de dezembro para tentar prorrogar o Protocolo de Kyoto, o atual plano, em vigor até o final do ano, destinado a restringir as emissões de gases do efeito estufa nas nações desenvolvidas.
No domingo, o Banco Mundial disse que as atuais políticas climáticas implicam que o mundo está se encaminhando para um aquecimento de até 4ºC até 2100. Isso desencadearia letais ondas de calor e secas, reduziria a oferta de alimentos e elevaria o nível dos mares. "As atuais políticas são insuficientes para evitar impactos sérios e perigosos em decorrência da mudança climática", disse o grupo de investidores dos EUA, Europa, Ásia e Austrália.
Os investimentos e fundos de pensão de milhões de pessoas correm riscos por causa da demora dos governos em exigirem maiores reduções das emissões e em oferecerem um apoio mais generoso a energias mais limpas.
O grupo disse que as políticas corretas levariam os investidores institucionais a aumentarem significativamente seus investimentos em energias limpas e na eficiência energética, citando políticas em vigor que liberaram bilhões de dólares em investimentos em energias renováveis na China, nos EUA e na Europa. Mas muitas economias continuam dependendo fortemente de combustíveis fósseis poluentes, como o carvão, e é preciso implementar políticas que acelerem a transição para uma energia mais limpa, segundo os investidores.
Eles divulgaram sete pontos de ação que deveriam ser priorizados pelos governos, inclusive o corte de subsídios aos combustíveis fósseis e a ampliação dos mercados de carbono. O grupo disse ainda que a reeleição de Barack Obama como presidente dos EUA e a mudança na liderança do regime chinês são oportunidades para realizar negociações climáticas mais rigorosas.
"Fortes políticas governamentais de redução do carbono são um imperativo urgente", disse Chris Davis, diretor de programas de investimentos da Ceres, coalizão de investidores e grupos ambientalistas com sede nos EUA.
"O furacão Sandy, que causou mais de US$ 50 bilhões em prejuízos econômicos, é típico do que podemos esperar se nenhuma ação for tomada e a tendência de aquecimento continuar", disse Davis, que também trabalha na Rede de Investidores para o Risco Climático, que agrupa cem investidores institucionais com patrimônio superior a US$ 11 trilhões.

 

Data: 05/11/2012 11:49
Por: Redação Tn / Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil

O Brasil, apesar de possuir água e comida em abundância, uma economia sólida e ser politicamente estável, está deixando a sua população em uma situação muito perigosa em caso de eventos climáticos extremos. Isto por causa de sua fraca infraestrutura, da falta de investimentos públicos e privados, da corrupção e do crescimento desordenado das cidades.
Esta é a conclusão que se pode tirar do GAIN Index 2012, um ranking criado pelo Instituto de Adaptação Global (GAIN, em inglês) que classificou 176 países conforme sua resiliência às mudanças climáticas. Desta lista, o Brasil aparece em 58o no geral, sendo que ficou 47o em vulnerabilidade e apenas em 71o em prontidão.
O resultado mediano em vulnerabilidade reflete as qualidades naturais do país, como grandes bacias hidrográficas, gigantesca produção de alimentos e estar localizado em uma região que não é passagem tradicional dos piores eventos climáticos, como furacões. Se apenas isso fosse levado em conta, o Brasil estaria entre os menos vulneráveis. Porém, também são analisadas questões de infraestrutura e urbanização, é aí que a situação se complica.
O histórico de décadas de crescimento desordenado das cidades deixam os brasileiros, especialmente os mais pobres, mais vulneráveis do que deveriam estar. Ocupação de encostas são um problema em diversas partes do país e a cada ano novas tragédias acontecem para nos lembrar disso.

No quesito de prontidão, são analisados a economia, os dados sociais e a governança. Mesmo com sua grande economia, a sexta maior do planeta, o Brasil aparece muito mal na classificação por causa da fraca atuação do governo. Pouco ainda se pensa em mudanças climáticas e não se investe o suficiente em ações de adaptação e de defesa civil. Fatores como corrupção e o pequeno engajamento do setor privado também pesam.
Entretanto, a avaliação final do GAIN é de que o Brasil possui boas condições para realizar ações de mitigação e adaptação, inclusive sem depender da ajuda internacional.
Desde que começou a ser divulgado o ranking, em 1995, o Brasil tem flutuado entre as posições 57 a 70. No ano passado, o país ficou em 63º. Segundo o GAIN, as dez nações mais resilientes do mundo são: Dinamarca, Suíça, Austrália, Noruega, Reino Unido, Nova Zelândia, Irlanda, Finlândia, Países Baixos e Suécia.
A posição final no ranking é estabelecida após o cálculo de sua prontidão menos o valor designado para a sua vulnerabilidade. Assim, mesmo países localizados em áreas de risco podem estar melhor no índice porque já possuem políticas de adaptação. O presidente do GAIN chama a atenção para a realidade das mudanças climáticas, cujos efeitos já são sentidos por todo o planeta.
“Nos últimos anos estamos vendo pessoas sofrendo, companhias sendo fechadas e postos de trabalhos sendo perdidos por causa de eventos climáticos. Da Tailândia até os Estados Unidos, as mudanças climáticas são uma ameça para a vida e para a economia”, afirmou Juan José Daboub.
A entidade aponta alguns exemplos de como o clima fora do comum prejudicou milhares de pessoas nos últimos anos. No fim de 2011, uma enchente sem precedentes na Tailândia matou mais de 700 pessoas, resultou no fechamento de 800 fábricas e provocou a demissão de 450 mil trabalhadores, o que teve impactos nos preços de equipamentos para computador no mercado internacional. Outras enchentes semelhantes também causaram mortes e destruição nas Filipinas e no Paquistão. Já na Austrália e nos Estados Unidos o problema foi a seca, que elevou os preços dos alimentos em todo o planeta.
Aqui no Brasil, enchentes e deslizamentos se repetem a cada verão resultando em centenas de mortes. Agora, em 2012, o país registrou as mais altas temperaturas já vistas no mês de outubro e está atravessando o ano mais seco desde 1929, com grandes impactos econômicos e para a geração de energia.
“Podemos somar nesta lista de eventos extremos recentes o furacão Sandy. A maior tempestade a atingir a região de Nova York na história deve causar prejuízos de mais de US$ 20 bilhões”, declarou Daboub.
Os números mais recentes sobre os impactos do Sandy apontam para 74 mortos e a possibilidade de uma queda do crescimento econômico dos EUA no último trimestre de 2012 dos previstos 1,6% para até 1%.

GEO-5: apenas quatro de 90 metas ambientais têm avanço

Data: 11/06/2012 11:39

Por: Redação TN / Jornal da Ciência


No momento em que o mundo negocia um novo acordo sobre desenvolvimento sustentável, a ser assinado na cúpula Rio+20, a ONU afirmou que apenas quatro dos 90 objetivos ambientais mais importantes acertados internacionalmente nos últimos 40 anos tiveram avanços significativos. O número é inferior ao de objetivos que tiveram retrocesso: oito no total. Outros 40 registraram poucos avanços e 24 praticamente não apresentaram nenhum progresso. Além disso, 14 não puderam ser avaliados devido à falta de dados mensuráveis.

As informações constam da quinta edição do relatório Panorama Ambiental Global, o GEO-5, divulgado no último dia 6/6 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Segundo o órgão, houve avanço significativo nos objetivos de erradicação do uso de substâncias nocivas à camada de ozônio, eliminação do uso de chumbo em combustíveis, ampliação do acesso a fontes de água potável e aumento das pesquisas sobre a poluição dos mares.

Mas os esforços para o combate às mudanças climáticas e para a preservação dos estoques pesqueiros, por exemplo, praticamente não deram resultado. E a proteção dos recifes de corais teve retrocesso – desde 1980, eles sofreram redução de 38%.

Mensagem

Para o diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, o relatório é uma mensagem direta para os líderes que se reunirão na Rio+20, conferência sobre desenvolvimento sustentável que começa na próxima semana na cidade. Segundo ele, é “chocante” que o mundo não tenha conseguido avançar na maioria dos acordos ambientais.

Steiner diz, porém, que o relatório não passa apenas uma “mensagem de fracasso”. A segunda parte do documento é voltada para a análise de políticas que contribuem para o desenvolvimento sustentável. Com a divulgação, o Pnuma espera que essas iniciativas possam ganhar escala.

Também presente ao lançamento do relatório, a coordenadora executiva da Rio+20 atribuiu a falta de implementação dos acordos já firmados ao fato de que os líderes políticos e empresariais ainda não incorporaram o desenvolvimento sustentável ao centro de suas políticas. Henrietta Elizabeth Thompson avalia que a conferência não está fadada a ver o mesmo acontecer com seus acordos porque o cenário atual é “diferente”. Como exemplo, ela citou o fato de que neste ano, pela primeira vez, o Banco Mundial reuniu ministros da Economia de todo o mundo para discutir o desenvolvimento sustentável.

Outros fatores que, segundo ela, terão impacto positivo sobre a Rio+20 são a existência de mais informações científicas sobre a necessidade de mudanças e a maior presença de líderes empresariais nas discussões.

De acordo com Fatoumata Keita-Ouane, do setor científico do Pnuma, a pesquisa mostrou que os objetivos são implementados com mais sucesso quando vinculados a metas numéricas e com prazos definidos. Uma das discussões na Rio+20 é justamente o estabelecimento dos chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que poderiam englobar metas nas áreas de energia e erradicação da pobreza, por exemplo.

Inércia

Presente na divulgação do relatório do Pnuma, Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) apontou a importância do relatório para a conscientização mundial e decorrente tomada de ações. “Temos que quebrar essa inércia e esperamos que a Rio+20 seja o momento de isso acontecer. Quando os fatos são embasados em ciência, no melhor da ciência, não adianta fazer de conta, no estilo ‘eu não acredito, não quero ouvir’. Se os fatos estão mostrando vários desequilíbrios importantes e poucos progressos, a ação tem que ser correspondente”, propôs.

Apesar de mostrar que os objetivos ambientais firmados na Rio 92 não foram cumpridos, o relatório do Pnuma ressalva que há esperança de melhoria do cenário global. Neste aspecto, o documento cita o Brasil como exemplo positivo, em decorrência da adoção de medidas preventivas, devido à implantação do sistema de monitoramento de desmatamento da Amazônia por satélites.

Nobre destacou que “o Brasil está na vanguarda mundial em vários pontos. É o único país em desenvolvimento que tem metas para a redução da emissão dos gases e que tem legitimidade para assumir posição de liderança na Rio+20″, ressaltou. Para ele, o conhecimento científico traduz com precisão o censo de urgência do cenário atual.

Em sua apresentação, Nobre alertou que “já passamos do ponto em que poderemos ter o futuro que queremos, e que estamos próximos do limite”. O secretário assinalou, ainda, que a diminuição da biodiversidade é um dos pontos mais alarmantes e disse que o desaparecimento do gelo no Polo Norte é praticamente irreversível, afetando não apenas o clima global, mas também a vida polar e marinha. Ele defendeu, também, a implantação de uma política pública mundial para evitar o aquecimento global, uma vez que estudos comprovam que a Floresta Amazônica não resistiria a uma elevação de quatro graus na temperatura.

América Latina

O capítulo ‘América Latina e Caribe’ do relatório divulgado pelo Pnuma levanta questões sobre a gestão ambiental na região. “Muitos países da região não têm leis ambientais robustas”, diz Keisha Garcia, pesquisadora de Trinidad e Tobago e uma das coordenadoras do capítulo. “No geral, o meio ambiente é visto como algo isolado e não está entre as preocupações políticas centrais dos países.”

Quase 80% da população dos 33 países da América Latina e Caribe vive em cidades, o que torna a região uma das mais urbanizadas do mundo. O aumento da população produz vários desafios. Embora a região seja rica em recursos hídricos, a expansão populacional, a urbanização e o mau gerenciamento tornam problemático o suprimento de água no futuro.

A região concentra cerca de 70% das espécies do mundo, mas registra grandes perdas de biodiversidade. As múltiplas ameaças abrangem desde a mudança climática, até pressão demográfica e práticas insustentáveis de manejo da terra. A conversão de ecossistemas naturais em sistemas produtivos é, atualmente, um dos maiores fatores de impacto sobre a biodiversidade. “Políticas que envolvam as comunidades locais são chave para encontrar soluções”, lembra a pesquisadora Keisha.

O uso da terra é um problema frequente na região. Em muitos lugares, a agricultura e a pecuária são produzidas de forma não sustentável, lembra o estudo. “Desde 1960, as terras agriculturáveis aumentaram 86% na América Latina, 46% na África e 36% na Ásia, coincidindo com um grande desmatamento nas três regiões no período”, diz o estudo. Na América do Sul, a terra usada para agricultura aumentou 18% entre 1970 e 2009 e a pecuária, 31%. Práticas de integração pecuária e lavoura usadas em propriedades do cerrado brasileiro aumentam a produtividade e são citadas como bons exemplos.

O capítulo menciona os impactos que a região sofre com a mudança climática, e lista uma série de casos que merecem ser vistos com lupa. A construção de casas populares com critérios sustentáveis no Brasil é um dos exemplos, assim como o Bolsa Verde, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e que pretende beneficiar 73 mil pequenos agricultores e comunidades tradicionais.

* Com informações de agências de notícias.

Clima – para onde vamos só com boas intenções? artigo de Washington Novaes

Publicado em dezembro 19, 2011 por HC/Ecodebate

[O Estado de S.Paulo] O mundo das palavras é sempre muito fértil, costuma permitir interpretações diferentes para o mesmo objeto descrito – às vezes, até contraditórias entre elas. Quando esse mundo das palavras adentra o território da diplomacia, os resultados podem ser ainda mais surpreendentes – e este é o caso do desfecho da reunião da Convenção do Clima, no último domingo, em Durban. Como as negociações continuavam emperradas, a linguagem diplomática encarregou-se de superar as últimas resistências a uma declaração de intenções, considerada por muitos participantes e representantes de governos – inclusive o brasileiro – como um “documento histórico”, em que “todos os países convergiram para o mesmo objetivo”.

E aonde se chegou, afinal? Exatamente ao que estava previsto há meses e foi registrado em artigo neste espaço: por falta de consenso entre os participantes – que impossibilita aprovar documentos que tornem obrigatórias as decisões -, ficar-se-ia apenas numa declaração de intenções, em que os países anunciariam o desejo de chegar até 2015 (ou 2020) a um documento “vinculante” (obrigatório), com os signatários se comprometendo a reduzir, a partir daí, suas emissões de gases poluentes que intensificam mudanças climáticas. A declaração de Durban foi mais longe ao não estabelecer sanções para quem não cumprir o prometido.

Paralelamente, aprovou-se uma prorrogação, até 2017 (como queriam os países-ilhas, União Europeia e Brasil propunham 2020) do Protocolo de Kyoto, pelo qual, em 1997, se estabeleceu que os países industrializados reduziriam suas emissões em 5,2%, calculadas sobre as de 1990. Até hoje essa decisão não foi cumprida, os países industrializados aumentaram suas emissões. Mas era importante ter em vigor um documento como o de Kyoto, porque a ele está vinculado o Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, pelo qual um país industrializado (ou uma de suas empresas) pode financiar em outro país projeto que leve à redução de emissões e contabilizar essa redução em seu balanço próprio. E hoje há um “mercado mundial de carbono” que já envolve muitos bilhões de dólares; como ficaria sem o protocolo? Então, Kyoto continua. E com todos fechando os olhos para a ausência de Japão, Rússia, Canadá e para a falta de consenso.

Será cumprida a intenção aprovada nesse roteiro de Durban? Os antecedentes não levam a muito otimismo. Em 2008, na Indonésia, aprovou-se o chamado “roteiro de Bali”, pelo qual se desenhou o caminho que deveria levar em 2009, na reunião da convenção em Copenhague, a um acordo com obrigações de redução de emissões. Mas na Dinamarca a diferença de posições entre EUA e países industrializados, de um lado, e os “emergentes”, de outro, fechou as portas a um acordo – com os emergentes lembrando que a obrigação mais antiga e maior de reduzir emissões era dos industrializados e os industrializados dizendo que sem os emergentes de nada adiantaria a decisão, já que estes são hoje os maiores emissores (China, Índia e Brasil estão entre os cinco maiores). Com o impasse em Copenhague, transferiu-se a decisão para 2010 em Cancún. Mas ali o impasse também persistiu.

Agora, aprovada a declaração de Durban, incluídos os emergentes, pergunta-se: o Congresso dos EUA aprovará a redução de emissões no país, desbloqueando o caminho – ao contrário do que tem feito até agora? E se os EUA ou outro país não cumprirem, o que acontecerá? Não há sanções previstas. A primeira proposta de texto dizia que ele teria força legal, mas o impasse levou a uma redação que tornou tudo mais vago, ao ser modificada para “um resultado acordado, com força legal”, que possa ser aprovado em 2015 e entre em vigor em 2020, com metas obrigatórias de redução de emissões para todos os países. Também se aprovou a criação do fundo que porá US$ 100 bilhões anuais de contribuintes industrializados à disposição de outros países para enfrentarem os problemas do clima. Mas não se definiu quem contribuirá e com quanto. Nem com que tecnologias.

Curiosamente, o Brasil, depois de receber de ambientalistas o troféu “Fóssil do Dia”, pela proposta de novo Código Florestal, recebeu também elogios do secretário-geral do Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner, pois, a seu ver, o País não deve ser criticado por causa desse projeto, “porque nenhum país fez o que o Brasil fez para combater emissões nos últimos dois anos”. É discutível, se considerados os compromissos de redução como “voluntários” e verificáveis só quando possível confrontá-la com o que seriam esses poluentes em 2020.

Além disso, há outros estudos a demonstrar que o País continua emitindo acima de dez toneladas anuais de carbono por habitante, segundo estudo do renomado Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial. A própria redução de emissões na área do desmatamento precisa ser encarada com cautela, uma vez que tomou como base de comparação anos de desmatamento muito mais alto e grande parte da redução coincidiu com a crise econômica de 2008-2009 e queda das vendas de produtos amazônicos. De qualquer forma, ainda é um desmatamento alto, acima de 6 mil quilômetros quadrados anuais, sem levar em consideração áreas cobertas por nuvens (que impedem o registro por satélites) ou onde o desmatamento é seletivo, sem corte raso de toda a vegetação.

Para completar: cientistas dizem que para não haver uma expansão dramática nos “eventos climáticos extremos” não se devem ultrapassar 2 graus Celsius no aumento da temperatura da Terra (já subiu 0,8 grau) – e para isso as emissões não podem superar 32 bilhões de toneladas anuais de carbono (mas com aumento de 6%, em 2010 elas já chegaram a 30,6 bilhões de toneladas). Superado esse ponto, a temperatura poderá aumentar entre 3,5 e 5 graus neste século. Iniciar só em 2020 o cumprimento das intenções de Durban é compatível com essa advertência?

Washington Novaes, jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo

COP17, em Durban: Cresce apoio por um novo tratado climático com metas obrigatórias

Publicado em dezembro 9, 2011 por HC
Ganhou força nesta quinta-feira, graças a uma aliança entre países pobres e ricos, uma proposta da União Europeia para que um novo tratado climático com metas obrigatórias seja definido até 2015 para entrar em prática depois de 2020.

A UE se disse animada com os avanços registrados durante a Conferência Climática da ONU na cidade sul-africana de Durban, que termina na sexta-feira. Reportagem de Nina Chestney e Barbara Lewis, da Reuters.

Num sinal dessa nova abertura às negociações, o Brasil – economia emergente com participação ativa nas negociações climáticas – anunciou sua intenção de aceitar metas obrigatórias para a redução das emissões de gases do efeito estufa.

“Acho que é possível”, disse a jornalistas o negociador Luiz Alberto Figueiredo, quando questionado sobre a chance de a conferência de Durban terminar com a definição de um prazo para a definição do novo tratado.

“Somos a favor de negociar um instrumento juridicamente vinculante que abranja a fase após 2020. As partes estão se movendo para isso, é uma questão de completar as negociações. Todos os países estarão dentro, e estarão condicionados por esse novo instrumento”, acrescentou.

Pela proposta da UE, o novo tratado seria definido dentro de quatro anos, para entrar em vigor em 2020. Uma parte importante do atual tratado climático, o Protocolo de Kyoto, expira no final de 2012, e até agora a renovação foi inviabilizada por divergências entre países desenvolvidos e emergentes a respeito das obrigações de cada um.

O representante norte-americano nas negociações, Todd Stern, disse que os EUA apoiam a proposta europeia, e o ministro canadense do Meio Ambiente, Peter Kent, anunciou que seu país selou uma parceria com pequenas nações insulares que estão ameaçadas de literalmente sumirem do mapa por causa da elevação do nível dos mares – uma das consequências mais palpáveis da mudança climática.

“Não estamos estabelecendo uma meta rígida quanto a essa data… mas 2015 seria uma meta razoável para montarmos um novo regime de (combate à) mudança climática”, disse Kent.

“Se pudermos chegar a algo antes de 2015, seria bom; se demorar mais, tudo bem… mas não podemos deixar Durban sem um acordo firme”, declarou.

Com essa perspectiva de acordo, deve crescer a pressão para que os dois maiores poluidores entre os países emergentes – China e Índia – participem de um futuro tratado vinculante. Pelo Protocolo de Kyoto, só países industrializados têm metas a cumprir, embora os EUA tenham se retirado do tratado.

ADESÃO DOS MENOS DESENVOLVIDOS
Um grupo de 48 países entre os menos desenvolvidos (sendo 5 países africanos e 43 pequenas nações insulares) também anunciou seu apoio ao cronograma europeu de negociações.

Mas alguns delegados alertaram que as negociações podem desandar na sexta-feira, último dia do evento, já que as datas e a forma jurídica exata do futuro tratado ainda não foram definidas.

Uma fonte da UE disse que os negociadores dos EUA continuam se opondo a metas específicas, por não terem mandato para negociarem um tratado juridicamente vinculante. A legislação ambiental é alvo de intensas disputas no Congresso dos EUA, que precisaria ratificar qualquer tratado.

“Eles podem concordar com um mapa que leve a lugar nenhum, mas não com um mapa que leve a um tratado juridicamente vinculante, que é o que a UE deseja”, disse uma fonte europeia, pedindo anonimato e referindo-se aos negociadores norte-americanos.

Anteriormente, os EUA diziam apoiar discussões que levassem a um acordo para a redução de emissões, mesmo que ele fosse juridicamente vinculante, mas que não se comprometeriam com datas ou resultados específicos.

“É completamente deslocado sugerir que os EUA estejam propondo adiarmos a ação para 2020″, disse o norte-americano Stern a jornalistas. “A UE propôs um mapa (que leve a um futuro tratado). Nós apoiamos isso.”

(Reportagem adicional de Jon Herskovitz, Andrew Allan, Agnieszka Flak e Michael Szabo)
Matéria da Reuters, no Estadao.com.br

O impasse no clima e seus altos preços, artigo de Washington Novaes

Publicado em outubro 24, 2011 por HC
[O Estado de S.Paulo] A pouco mais de um mês do início da próxima reunião da Convenção do Clima (na última semana de novembro), na África do Sul, o impasse continua total e os dirigentes da ONU já não escondem a certeza de que nenhum acordo importante será conseguido lá – embora os chamados “desastres naturais” (entre eles os provocados por mudanças climáticas) tenham atingido, segundo o Banco Mundial, 2,6 bilhões de pessoas no mundo na última década, ou 1 bilhão mais que na década anterior (Estado, 28/3). A média de desastres passou de 15 por ano na década de 1980-1990 para 370 na década seguinte e os prejuízos foram 15 vezes maiores que nos anos 50. Segundo a Oxfam (O Globo, 18/1), desde 1975 os “desastres naturais” (que incluem terremotos, tsunamis, etc.) já mataram 2,2 milhões de pessoas. Atualmente são 250 milhões atingidas a cada ano, que chegarão a 375 milhões em 2015.

Nos últimos 25 anos a temperatura média da Terra foi mais alta que a média do século 20. O ano passado, juntamente com 2005, foi o mais quente de todos tempos. Segundo a revista Scientific American (AP, 28/6), a relação entre mudanças climáticas e “eventos extremos” já não é apenas uma teoria, é um fato comprovado.

De pouco têm valido os apelos do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao lembrar que até 2060 a população da Terra será 50% maior que a de 1999 e levará a mais aumentos de emissões de gases poluentes – por isso será preciso reduzi-los já em pelo menos 50%. Mas eles estão aumentando: em 2010, conforme a Agência Internacional de Energia, chegaram ao recorde de 30,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, 5% mais que em 2008. Segundo os cientistas, se as emissões passarem de 32 bilhões de toneladas anuais, será impossível impedir que a temperatura terrestre suba mais que 2 graus Celsius, mesmo com as reduções planejadas nas emissões até 2050. Entre 1990 e 2010, as emissões dos EUA aumentaram 5%; as da China, 10%; e as da Índia, 9%. As da União Europeia (UE) e da Rússia diminuíram 27% (Science Daily, 22/9. E o mundo ainda tem 1,3 bilhão de pessoas sem energia elétrica.

Os impasses na convenção não mudaram. Os países emergentes dizem que a obrigação de reduzir as emissões é dos países industrializados, que emitem desde o início da Revolução Industrial. Os países ricos dizem que sem os emergentes não adiantará nenhum acordo, porque eles já emitem mais que os industrializados. E o próprio Protocolo de Kyoto, que obriga os industrializados a reduzirem em 5,2% suas emissões, expira em 2012, sem que haja vislumbre de novo acordo. Com isso deixaria de vigorar o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que permite a uma empresa ou país industrializado financiar projetos que levem à redução de emissões em outro país e contabilizar esse ganho em seu próprio balanço. Já foram feitos cerca de 3 mil projetos nessa área.

A presidente Dilma disse na ONU que o Brasil espera avanços importantes em Durban, embora os cientistas digam que os impasses refletem os grandes conflitos econômicos entre as principais nações do mundo, agravados pela crise financeira. Quem vai investir em redução de emissões? Como destinar US$ 30 bilhões para os países mais pobres enfrentarem o drama do clima, e mais US$ 100 bilhões por ano até 2020, como foi acenado na reunião de Copenhague (2009)? Os EUA continuam emitindo 16 toneladas anuais de CO2 por habitante, ante 8,1 toneladas na UE e 6,6 na China. O Brasil, segundo o Banco Mundial e o consultor Nicholas Stern, entre 10 e 11 toneladas por habitante/ano.

Uma das consequências do panorama, segundo Ban Ki-moon (Independent, 22/9), é o avanço da desertificação no mundo: cerca de 40% das terras, onde vivem 2 bilhões de pessoas, já são áridas ou semiáridas. A cada ano são atingidos mais 12 milhões de hectares, onde poderiam ser produzidos 20 milhões de toneladas anuais de alimentos, para um mundo que caminha para ter 10 bilhões de pessoas. Já as chuvas intensas têm hoje 20% mais probabilidade de acontecer (Nature, em O Globo, 17/2). No Paquistão, nas últimas semanas, foram 270% mais intensas que as tradicionais, inundaram 73% das terras de cultura e atingiram 8 milhões de pessoas, 1,3 milhão de casas, deixaram 1,5 milhão de desabrigados e 220 mortos. No leste da Índia foram 4 milhões os atingidos, 150 mil desabrigados e 60 mortes. No Camboja, 141 mortos. Na Tailândia, 26 de 77 províncias sob a água e 28 mortes. E 42 milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas em 20 anos por causa dos desastres. As seguradoras perderam US$ 36 bilhões no ano passado.

E tudo se pode agravar. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, com o panorama atual a tendência é de que a temperatura da Terra suba 2,4 graus (já subiu quase 0,8) até 2020.

Pior de todas é a situação das ilhas do Pacífico, já enfrentando a elevação do nível do oceano e tendo de promover migrações e comprar áreas em outros países. Já decidiram ir à Corte Internacional de Haia pedir que os países industrializados sejam responsabilizados por isso e arquem com os custos (UN News Service, 23/9). A secretária da Convenção do Clima, Cristiana Figueres, tem dito (The Guardian, 10/10) que as empresas precisam contabilizar em seus custos os que decorrem de suas emissões de poluentes.

Não é preciso insistir na gravidade da situação brasileira, que já povoa as páginas dos jornais. Mas um estudo da Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental (setembro de 2011) diz que as temperaturas em várias regiões brasileiras vão subir de 2 a 3 graus, o índice de umidade vai cair e o índice hídrico terá uma “diminuição notável” até 2050. Em 2010, segundo a Agência Nacional de Águas, quase 20% dos municípios brasileiros decretaram estado de emergência ou de calamidade por causa de desastres climáticos.

Essa é a dimensão do impasse no mundo.

Washington Novaes, jornalista. E-mail: wlrnovaes@uol.com.br
Artigo originalmente publicado no O Estado de S.Paulo.
EcoDebate, 24/10/2011

A Conferência de Durban (COP17) e a morte do Protocolo de Kyoto

Publicado em outubro 20, 2011 por HC/ecodebate
A morte do Protocolo de Kyoto – Há poucas chances que a reunião de cúpula do mês que vem em Durban produza um acordo de redução das emissões – ou seja, o mundo em breve vai ficar sem metas obrigatórias para redução de CO2. A Europa pode logo estar sozinha na luta contra o aquecimento global. Reportagem de Christian Schwärgerl e Gerald Traufetter, em Der Spiegel.

Uma catástrofe climática se abateu sobre o Ministério de Relações Exteriores em Berlim, no início da semana passada. Políticos e diplomatas do mundo todo estavam participando de uma conferência para discutir como o aquecimento global afetará o mundo. Eles examinaram cenários que mostravam como milhões de pessoas que habitam em áreas costeiras teriam que escapar do alagamento, o que aconteceria com os direitos de exploração de pesca e mineral de nações insulares quando elas não mais existirem e como a China e a Rússia se beneficiariam de um Ártico sem gelo.

Em uma declaração, o Ministério de Relações Exteriores disse que pretendia “abordar aberta e criativamente” os perigos da mudança climática. O exercício seria o de ajudar a “encontrar novos caminhos de cooperação internacional”.

Mas a crença que o aquecimento global pode ser detido por meio de cooperação internacional é enganosa. O Protocolo de Kyoto, o único acordo mundial do clima, em breve vai expirar. É muito provável que o meio mais importante até hoje para compelir nações industrializadas a reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa torne-se uma mera nota de rodapé da história. Os atuais acordos de redução de CO2 vão expirar no final de 2012, e há uma enorme resistência a novas metas.

Os ministros do meio ambiente e negociadores de aproximadamente 200 nações que vão viajar para Durban, África do Sul, no final de novembro para a mais recente conferência de clima mundial, estão a uma longa distância de injetar nova vida ao processo de Kyoto.

Christiana Figueres, secretária executiva de Mudanças Climáticas da ONU, afirma audaciosamente que há “um forte desejo de todos os lados de que haja uma decisão política” em Durban. Mas essa decisão provavelmente não envolverá acordos de redução de CO2 obrigatória no futuro. “O encontro em Durban pode se tornar um momento de luto”, adverte Reimund Schwarze, do Centro de Serviços do Clima em Hamburgo, que analisa a política climática em nome do governo alemão.

Otimismo de Merkel esvaeceu-se
Quando Angela Merkel, então ministra do meio ambiente alemã, voltou da reunião de cúpula do clima da ONU em 1997, na cidade imperial japonesa de Kyoto, ela estava exausta após longas noites de negociações. Mas ela também estava orgulhosa. As nações industrializadas prometeram reduzir suas emissões de gases de efeito estufa pelo período de 2008 até 2012 em 5% em relação aos níveis de 1990. A conferência foi um “marco na história da proteção ambiental”, disse ela, notando que um “processo irreversível” para reduzir as emissões de gases de efeito estufa tinha sido iniciado.

Apesar dos países industrializados alcançarem a meta estabelecida em 1997, Merkel, hoje chanceler da Alemanha, perdeu quase todo o otimismo que tinha na época. De fato, ela agora adverte que as negociações internacionais podem virar um “enorme desapontamento”.

Para deter o aquecimento global, seria necessária uma redução muito maior e mais veloz dos níveis de CO2 do que o Protocolo de Kyoto produziu até hoje. Mas isso não está nem perto no horizonte. As reduções das emissões até agora são primariamente resultado de crises econômicas e do colapso da indústria do antigo bloco soviético. Distante da nobre retórica, petróleo, gás natural e carvão continuam sendo a fundação da prosperidade moderna. Grandes nações industrializadas como Austrália e Canadá até aumentaram suas emissões.

Pouco restou do “processo irreversível” de Merkel para proteger o ambiente. Nas economias emergentes como a China, que produz bens de consumo para o mercado mundial, as emissões cresceram tanto que agora excedem em muito as dos EUA e da Europa. Apesar da crise econômica, as emissões mundiais de CO2 resultantes do consumo de energia alcançaram uma nova alta recorde de 33 bilhões de toneladas no ano passado, um aumento de 45% sobre os níveis de 1990.

Energia limpa como “palavra feia”
O Protocolo de Kyoto nunca foi ratificado pelos EUA, e o país continua se negando a submeter-se a compromissos internacionais para redução do consumo de energia por preocupação que isso possa custar empregos. “Energia limpa se tornou palavra feia nos EUA”, disse um assessor do presidente Barack Obama durante recente visita a Berlim.

E agora outros países importantes, tais como Japão, Canadá e Rússia, estão se recusando a comprometer-se com novos alvos de CO2 para o período após 2012 enquanto a Índia e a China não cooperarem. Os poderes emergentes estão pedindo ações decisivas das nações industrializadas antes de fazerem qualquer coisa, criando um ciclo vicioso.

“Sem novas metas de reduções, Kyoto não passa de um pacote vazio”, diz o economista ambiental Schwarze. Em tempos de crise financeira, muitos políticos aparentemente não dão muita importância a uma ameaça que só vai liberar toda sua fúria após muitos anos. Além disso, erros e deslizes prejudicaram a credibilidade de cientistas do clima. Em particular, uma previsão incorreta sobre o derretimento das geleiras do Himalaia pelo Conselho Intergovernamental de Mudança Climática (Ipcc, das iniciais em inglês) deu aos oponentes da proteção climática nova munição.

Comprar tempo
Os europeus são os únicos que ainda estão lutando por novas metas obrigatórias dentro da estrutura do Protocolo de Kyoto. Na última semana, a Comissária do Clima da UE, Connie Hedegaard, e os ministros do meio ambiente de 27 países membros da UE concordaram em fazer uma campanha para maiores negociações em Durban, mas com o período de transição até 2015, apesar dos níveis de redução de CO2 expirarem em 2012. É uma tentativa de comprar tempo e manter o Protocolo de Kyoto artificialmente vivo, apesar de já estar clinicamente morto.

O mal-estar começou em 2009, se não antes. Na conferência do clima da ONU em Copenhague, os europeus, especialmente a chanceler Merkel, fracassaram em sua tentativa de alcançar um amplo tratado do clima. Os EUA e três potências emergentes, China, Índia e Brasil, se alinharam contra a Europa e bloquearam a adoção de metas obrigatórias. Nenhum deles quis permitir que países estrangeiros dissessem quanto combustível fóssil poderiam queimar em suas fábricas, carros e prédios.

Na superfície, o governo alemão está lutando por um novo acordo e regularmente reúne tomadores de decisão do mundo para tentar salvar o que ainda pode ser salvo. Mas as preparações para se retirar do protocolo já estão ocorrendo há algum tempo. Privadamente, nenhum negociador alemão ainda acredita que o protocolo de Kyoto possa ser salvo. “Na melhor das hipóteses, a UE pode assumi-lo sozinha, mas a região representa apenas 15% das emissões mundiais”, diz um estrategista de clima do governo. O “único resultado seria que, após Durban, os 27 parlamentos europeus teriam que ratificar metas de CO2 que nós já perseguimos na UE.”

Desde a reunião de Copenhague, a alternativa prática ao tratado de clima foi a criação de uma lista informal. Cada país inscreve voluntariamente suas metas nacionais de proteção do clima nesse documento. Haveria algum tipo de mecanismo para monitorar o cumprimento dessas metas, mas não haveria quaisquer consequências para os países que não cumprissem suas próprias metas. Diante dessa abordagem capenga, é provável que nas próximas décadas o aquecimento global exceda os 2 graus Celsius definidos pela ONU como limite para um mundo perigosamente superaquecido.

Não há plano estabelecido para impedir que isso aconteça. Em vez disso, no final de novembro, os diplomatas em Durban vão se concentrar em pequenos detalhes de um possível grande tratado, tais como um “Fundo Verde do Clima”, criado para canalizar bilhões de euros de países ricos para os pobres para patrocinar um desenvolvimento econômico amigável ao meio ambiente. Outros projetos envolverão a criação de incentivos financeiros para proteger florestas intactas.

Política do clima em seu ponto baixo
A secretária de clima da ONU, Figueres, admite que tudo isso está longe de ser o suficiente para evitar o perigoso aquecimento do planeta. “A soma total das atuais promessas nacionais de reduzir as emissões mundiais é 40% inferior à necessária para se manter o aquecimento abaixo de 2 graus Celsius, e essa diferença terá que ser enfrentada no futuro”, diz ela.

Jochem Marotzke, diretor do Instituto Max Planck de Meteorologia em Hamburgo e presidente Consórcio do Clima Alemão, acredita que a política do clima mundial atingiu seu ponto baixo e que tanto os políticos quanto o público estão perdendo o interesse em questões climáticas. “Mas não podemos negociar contra o clima”, adverte Marotzke.

“Os cientistas estão cada vez mais convencidos de seus resultados, mas os cidadãos estão cada vez mais saturados”, diz o climatologista Hans Von Storch, diretor do Instituto de Pesquisa Costeira em Geesthacht perto de Hamburgo. De acordo com Storch, a preocupação pública com a mudança climática vem declinando há quatro anos. Ele também vê a apatia como consequência dos tons cada vez mais estridentes e alarmistas que os ambientalistas e até alguns cientistas chamaram atenção para si mesmos nos últimos anos.

Isso não impediu o Ministério de Relações Exteriores alemão de simular cenários de mudança climática na semana passada. Os comentários da ministra de Estado Cornelia Pieper na presença de ministro de meio ambiente de Bangladesh e das Maldivas pareceu quase uma capitulação. Ela observou que precisamos nos preparar para administrar um mundo “marcado pelo aquecimento global e outras mudanças climáticas”.

Traduzido do alemão por Christopher Sultan e do inglês por Deborah Weinberg
Tradução: Deborah Weinberg
Reportagem [The Death of the Kyoto Process] de Der Spiegel, no UOL Notícias.

Conferências climáticas: impasses internacionais. Entrevista com Ronaldo Serôa da Motta

Publicado em setembro 16, 2011 por HC
As Conferências do Clima que reúnem representantes de todos os países para pensar alternativas ao aquecimento global e às mudanças climáticas reproduzem o “confronto do mercado internacional de mercadorias, quer dizer, um confronto econômico entre Estados Unidos e China pela produção e o consumo”, declara Ronaldo Serôa da Motta à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.

Apesar de serem os países mais relutantes em participar de um acordo global, China e EUA são “os que mais têm desenvolvido e exportado tecnologia de baixo carbono. A potência econômica desses países faz com que o desenvolvimento tecnológico e produtivo seja muito grande, o que acaba também atraindo o desenvolvimento da economia de baixo carbono”, assinala.

De acordo com o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, as nações deveriam ter chegado a um acordo global para dar continuidade a Kyoto, que finaliza em 2012. Entretanto, o impasse internacional continua: “Pelas declarações da Índia, África do Sul, China e Brasil, os países em desenvolvimento se negam a aceitar qualquer discussão se não for renovado o Protocolo de Kyoto e, em contrapartida, os países ricos só renovam o Protocolo se os emergentes se comprometerem com o acordo”.

Ronaldo Serôa da Motta é doutor em Economia pela University College London, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação para as áreas de Pesquisa e Relações Internacionais, ex-diretor de Políticas Ambientais do Ministério do Meio Ambiente. É professor de Economia da Regulação e Defesa da Concorrência e de Economia Ambiental do IBMEC/RJ. Também leciona Regulação Econômica e Regulação Ambiental em cursos de MBA da FGV-RJ, PUC-Rio e UFRJ.

Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que avanços foram obtidos nas duas últimas conferências sobre o clima (Copenhague e Cancún)?

Ronaldo Serôa da Motta – Copenhague e Cancún, para muitos, foram um retrocesso porque em Copenhague não foi firmado um acordo global vinculante. No final da conferência alguns países apresentaram ofertas de redução de emissões voluntárias. Por outro lado, em Cancún, alguns avanços foram mais materializados na área de financiamentos através da criação de um fundo do clima que pudesse financiar ações de mitigação e adaptação em países que não tivessem capacidade de financiamento e, principalmente, da criação de algum instrumento ou mecanismo que valorizasse as reduções de emissões de gases do efeito estufa no controle do desmatamento em área florestal e na proteção de florestas.

Houve avanços em outros mecanismos da Convenção, os quais são considerados necessários: os países em desenvolvimento, a partir do Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação – REED, se comprometeram com o esforço global no combate ao aquecimento do planeta. É importante lembrar que a Convenção do Clima não diferencia países desenvolvidos e países em desenvolvimento: a China hoje é o maior emissor anual de gases do efeito estufa, mas não é a principal causa do estoque de gases no planeta porque esse estoque de gases é decorrente de 200 anos e o país começou a crescer recentemente, da mesma maneira que o Brasil. Então, a responsabilidade é dos países desenvolvidos. Neste espírito a Convenção foi definida. Sempre ficou muito claro e evidente que a responsabilidade é comum, mas diferenciada, de acordo com o desenvolvimento e a capacidade de financiamento de cada país.
Brasil
O Brasil está muito confortável nesta situação porque as emissões brasileiras são basicamente oriundas do desmatamento e, ao serem reduzidas, não afetam a economia interna, diferentemente da China e da Índia, onde a principal fonte de emissão de gases é a energética. Portanto, se fossem reduzir as emissões de gases, esses países precisariam mudar relativamente o preço da energia e isso afetaria a economia como um todo. No caso do Brasil, o desmatamento gera um impacto regional e não afeta todos os setores econômicos. Portanto, é muito difícil para países como China e Índia, nesta decolagem econômica de desenvolvimento que estão vivendo, se comprometerem a reduzir o consumo energético de maneira drástica.

O Brasil tem uma matriz energética limpa. Daqui a 20 anos, quando o país estiver com desmatamento zero, conforme o compromisso assumido, terá que reduzir emissões e se preocupar particularmente com a emissão de gases do efeito estufa gerada pelo esgoto e pelos resíduos sólidos. Essa preocupação é positiva e terá um impacto local, pois o país irá melhorar o tratamento de lixo, de esgoto e diminuir o desmatamento.

A grande dúvida é saber o que o Brasil fará com o gás do pré-sal no futuro. Certamente o país vai ter incentivos para termelétricas e, ao mesmo tempo, vai se comprometer em manter uma matriz energética limpa. Mas esse será um debate para os próximos 20 anos.

IHU On-Line – O que dificultou, em sua opinião, a renovação do Protocolo de Kyoto nas últimas Conferências do Clima?

Ronaldo Serôa da Motta – Se pudesse resumir, diria que se reproduz nessas Conferências do Clima o confronto do mercado internacional de mercadorias, quer dizer, um confronto econômico entre Estados Unidos e China pela produção e consumo. Nessa situação, a Europa tenta se aproveitar do vácuo desses dois países. Como o Brasil está em “alta” na mídia e é visto como uma nova força de liderança econômica, o que se vê é a reprodução de um cenário político e econômico mundial: a dificuldade é os Estados Unidos e a China aceitarem fazer um esforço para reduzir emissões de gases do efeito estufa.

A China alega que o esforço dos EUA deve ser maior porque a economia norte-americana já está desenvolvida, enquanto que grande parte da população chinesa está fora da sociedade de consumo. Por outro lado, os Estados Unidos alegam uma concorrência desleal com a China em função da taxa de câmbio, o que deixa os norte-americanos menos competitivos. A China, em contrapartida, diz que os EUA estão querendo boicotar o seu crescimento. Na outra esfera, a Índia alega que sua população é dez vezes mais pobre que a brasileira e a chinesa e que, portanto, precisa se desenvolver.

O Brasil, por mais que tenha melhorado economicamente, também enfrenta problemas de desigualdade e tem aspiração de desenvolvimento. Portanto, o papel do país é quase que de mediador entre os outros países.

A comunidade europeia não está interessada em julgar que país deve emitir mais ou menos gases, pois ela já está contribuindo para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. E assumiu esse compromisso porque, em caso de crise climática, será a região mais afetada em termos de civilidade climática, redução da produtividade agrícola, falta de água. Claro que países pobres também serão afetados.

O contexto é este: se China e Estados Unidos se comprometerem com metas, os outros países também irão aderir a um acordo. Enquanto as grandes economias não se resolverem, o Brasil fica apoiando a China e tentando fazer um acordo global, mas sempre com a visão de um país em desenvolvimento.

Desenvolvimento e tecnologia
É curioso que, ao mesmo tempo em que China e EUA relutam em participar de um acordo, são, por outro lado, os países que mais têm desenvolvido e exportado tecnologia de baixo carbono. A potência econômica desses países faz com que o desenvolvimento tecnológico e produtivo seja muito grande, o que acaba também atraindo o desenvolvimento da economia de baixo carbono.

Apesar disso, os estudos mostram que os progressos voluntários dos Estados Unidos, China, Brasil e Europa ainda são pouco para evitar o desastre do aumento da temperatura de dois graus até 2100. Então, a busca de mais incentivo para a economia de baixo carbono é insuficiente para resolver os problemas climáticos, porque o esforço é muito maior do que as vantagens econômicas atuais. Tem que haver uma política de incentivo e subsídio a tecnologias de baixo carbono e impostos sobre o uso de tecnologias de alto carbono. Nenhum país está querendo fazer isso de forma muito acintosa – exceto a comunidade europeia –, porque isso reduz essa capacidade de desenvolvimento.

Estamos vivendo esta situação e não ousaria dizer quando ela vai se resolver. Sabemos quais são os riscos. Os países se comprometeram em 1996 a reduzir 6% das emissões. Esse acordo finaliza em 2012 e já deveriam ter elaborado um novo acordo para o segundo período, mas não ele ainda foi conseguido em Copenhague, nem em Cancun. E, pelas declarações da Índia, África do Sul, China e Brasil, os países em desenvolvimento se negam a aceitar qualquer discussão se não for renovado o Protocolo de Kyoto e, em contrapartida, os países ricos só renovam o Protocolo se os emergentes se comprometerem com o acordo.

Então, a conjuntura atual indica que, além de não se chegar a um acordo global mais forte, vão se perder os acordos feitos até então. Veremos um retrocesso: os países estão escolhendo quem vai colocar a culpa em quem pelo fracasso climático. A opinião pública se preocupa com isto e espera que os governantes tenham a capacidade de articular um acordo que evite um grande desastre no futuro.

IHU On-Line – Com a elaboração da Política Nacional sobre Mudanças do Clima, o Brasil se comprometeu em reduzir entre 36,1 e 38,9% as emissões projetadas até 2020. Sendo este um compromisso nacional voluntário, qual a expectativa em relação ao cumprimento da meta? O esforço nacional para reduzir as emissões de gases do efeito estufa deve se concentrar em algum setor específico (agropecuária, energético, preservação de florestas)?

Ronaldo Serôa da Motta – Esta mudança do Marco Regulatório de 2009 foi um grande avanço, inovou, porque, até então, o Brasil não tinha um Marco Regulatório. Além disso, foi uma proposta muito ousada no controle do desmatamento e, em segundo lugar, na redução da emissão de carbono na agricultura brasileira, que é uma das mais intensivas em carbono. Nossa vantagem territorial também leva a um custo elevado de transporte, e é lógico que a expansão da fronteira agrícola do centro-oeste significa maior custo em transporte. Então, se a agricultura brasileira quiser manter o grau de competitividade de hoje, terá que mudar algumas práticas para o futuro. Esse é um grande desafio para a agricultura.

O desmatamento tem sido reduzido em função da política governamental atuante, a qual está em xeque com o novo Código Florestal. A lei tem objetivos e planos corretos, mas a implementação está iniciando. Por enquanto, as iniciativas não estão dando certo, em particular na formulação dos planos setoriais por parte do governo. Por outro lado, o setor privado deveria participar deste plano, dizendo como pode contribuir, mas eles utilizam uma tática de não atuar de forma efetiva, de ficar aguardando, porque não há interesse.

Então, há uma falha de governança. O Brasil não está conseguindo avançar, agora é natural que isto aconteça em qualquer novo Marco Regulatório. Toda vez que o governo tenta mudar as regras do jogo há uma posição negativa.

IHU On-Line – De acordo com esta Política Nacional, os setores de agropecuária e energia precisam se comprometer com as metas de redução das emissões de gases. A indústria, por enquanto, fica de fora deste esforço?

Ronaldo Serôa da Motta – A indústria não irá participar desse esforço inicial de reduzir as emissões até 2020 porque ela representa 10% das emissões. Se o país tiver que obrigar a indústria a cortar 50% das emissões, ela irá produzir muito pouco. Então, o mais importante, e o mundo inteiro concorda com isto, é o Brasil reforçar os esforços no controle do desmatamento, comprometendo-se em reduzir 5%; mais 15% na agricultura, 15% na energia e 5% na indústria.

A indústria brasileira ainda está preocupada em melhorar as condições de trabalho, formar mais mão de obra, pagar dívidas, importar equipamentos novos. Então o meio ambiente não é algo que preocupa. Mas isso pode ser um tiro no pé, porque a mudança tecnológica vai acontecer tão rapidamente que daqui a dez anos as indústrias não conseguirão competir com os chineses porque, ao construírem novas empresas, else (os chineses) aplicam o capital mais rico possível. A economia chinesa está renovando seu estoque de capital em um curto espaço de tempo. Enquanto isso, o crescimento brasileiro esbarra nos investimentos. Então, daqui 15 anos, a China vai ser muito mais rica. O pequeno capital brasileiro ainda não acordou para isso e não tem como acordar sem a ajuda do governo no sentido de informar sobre a tecnologia gratuita e exigir um cumprimento mandatório.

IHU On-Line – O REED tem sido um bom instrumento para os países cumprirem as metas de emissão de gases do efeito estufa?

Ronaldo Serôa da Motta – Poderia ser, mas não é. O REED tem um grande programa que chamamos de vazamento. Um país tem uma floresta e recebe dinheiro para manter a floresta em pé, mas aí eu pego o seu dinheiro, compro outra floresta e a desmato. Essa atitude é diferente, por exemplo, de eu pegar meu carro e, em vez de colocar gasolina, colocar álcool e andar 10 km. Essa seria uma opção energética que tem uma redução de emissão no ato. Na floresta não ocorre isso; se a floresta pegar fogo e eu desmatar outra, não vai se reduzi as emissões. Então, a permanência do vazamento é uma coisa muito séria. É preciso cercar o processo de validação e verificação, que é muito mais complexo. Por isso o REED foi rejeitado. Vai demorar alguns anos para se preparar a fim de não haver vazamento. No dia em que se conseguir isso, países como o Brasil, Indonésia, Malásia e alguns países da África poderão receber créditos pela preservação. É uma opção barata. Nós precisamos fazer um estudo para ver até que ponto o custo direto é barato, se tiver um efeito no controle do desmatamento.

IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à Rio+20 e a proposta de debater sobre economia verde como alternativa para combater a pobreza?

Ronaldo Serôa da Motta – Tenho uma expectativa muito grande em relação à economia verde, porque pode haver crescimento econômico, consumo e redução da pobreza.

Entretanto, dificilmente um governo que se reelege de quatro em quatro anos estará preparado do ponto de vista técnico. Continuará o mesmo problema político, pois nenhum país está disposto politicamente a aderir a uma mudança. Ainda discutiremos muito esse assunto e talvez possamos emergir com uma nova consciência e percepção.

(Ecodebate, 16/09/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação

‘Os desastres naturais estão aumentando’, constata o pesquisador Carlos Nobre

Publicado em setembro 8, 2011 por HC
“O aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas”, ´é uma das preocupações de Carlos Nobre, pesquisador, e hoje secretário do Ministério da Ciência e Tecnologia

Segundo ele, “o mínimo que se estima de aumento do nível do mar no século 21 é de 50 centímetros. Há cidades que estão à beira da linha costeira atual, que não será a linha costeira daqui a 100 anos”.

Eis a entrevista.

* Onde estão os maiores efeitos das mudanças climáticas no Brasil?

O evento mais notável que temos é a região metropolitana de São Paulo. A chuva se torna cada vez mais intensa lá. São dois fatores que contribuem para isso: o aquecimento global e a urbanização da cidade. Vou mostrar ao público que os desastres naturais estão aumentando e que isso está ligado, em parte, às mudanças climáticas.

* O que é esse projeto que o senhor vai apresentar?

Criamos um centro que tem a função principal de gerar e disseminar alertas de desastres naturais, na iminência de inundações e deslizamentos de encostas que poderão afetar populações de risco, como o que ocorreu em Santa Catarina ou no Rio de Janeiro. No caso do deslizamento de encostas, a ideia é de alertar as pessoas entre duas e seis horas de antecedência. Duas horas já é o suficiente se houver um sistema de defesa civil bem articulado e funcional para salvar as vidas.

* Que políticas públicas poderiam contribuir para a questão das mudanças climáticas no RS?

As mudanças climáticas são inevitáveis até certo ponto, e as dos próximos 20, 30 anos já foram determinadas pelas emissões que já fizemos. Por isso, temos de nos adaptar. As políticas públicas têm de ir na direção da adaptação a essas mudanças que já se tornaram inevitáveis. Por exemplo, uma agricultura mais resistente aos extremos climáticos, com espécies mais adaptadas a condições de seca. Temos de pensar também no fato inequívoco de que a temperatura está subindo. No Rio Grande do Sul, é muito frio atualmente para se plantar café, mas no futuro pode ser um clima adequado para esse cultivo. Além disso, o aumento da frequência de estiagens tem impacto no abastecimento de água das cidades, e as prefeituras têm de planejar seu abastecimento de água em razão às mudanças climáticas previstas.



* Que outras adaptações serão necessárias?

Outra preocupação é o aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas. O mínimo que se estima de aumento do nível do mar no século XXI é de 50 centímetros. Há cidades que estão à beira da linha costeira atual, que não será a linha costeira daqui a 100 anos. Então nós temos de nos adaptar, avaliar o que é necessário fazer em cada cidade, em cada atividade costeira. Desastres naturais estão ficando mais intensos, e serão intensificados ainda mais no futuro, como, por exemplo, as estiagens e as chuvas intensas no Rio Grande do Sul. Devemos evitar que as pessoas ocupem áreas de risco extremo, planícies de inundação de rios, áreas costeiras muito próximas ao nível de mar. É necessário investir e promover a educação ambiental.

* O inverno no RS foi marcado por três precipitações de neve, o que não ocorria há 17 anos. Isso pode estar associado às mudanças climáticas?

Pode. Um evento individual não se pode atribuir ao aquecimento global. Em relação a ter nevado três vezes, as pessoas podem erroneamente pensar que isso não pode estar ligado ao aquecimento global. Neve precisa de muito frio, como o de uma frente fria, e também de umidade elevada. Um planeta mais quente não impede que uma massa de ar fria proveniente das latitudes subpolares atinja as regiões subtropicais. É reflexo do aquecimento global o aumento da quantidade de neve nas nevascas.

(Ecodebate, 08/09/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

PD em ciências da atmosfera com Bolsa da FAPESP

14/06/2011

Agência FAPESP – O Projeto Temático “Narrowing the uncertainties on aerosol and climate changes in São Paulo State - Nuances-SPS”, apoiado pela FAPESP, tem uma vaga de Bolsa de Pós-Doutorado.

O projeto tem como objetivo estudar o impacto da cidade de São Paulo na emissão de aerossóis atmosféricos e gases de efeito estufa e o impacto das mudanças climáticas sobre a sua qualidade do ar.

O projeto busca melhorar o conhecimento científico em fontes emissoras (combustíveis fósseis e de biomassa), formação de aerossóis atmosféricos e gases de efeito estufa e modelagem atmosférica, propiciando melhor planejamento das estratégias de controle de emissões e avaliação de cenários de impacto das mudanças climáticas no Brasil.

Pretende-se ainda ampliar a interação entre os produtos gerados pela modelagem de qualidade do ar e seus impactos por meio do acoplamento com modelos de avaliação de risco ambiental (saúde da população de aglomerados urbanos).

A pesquisa está baseada no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e faz parte de um grande projeto que busca entender os impactos das mudanças climáticas atuais na região metropolitana de São Paulo.

Esse projeto envolve trabalhos de pesquisas com outras instituições envolvidas, dentre elas o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), a Faculdade de Saúde Pública da USP, a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH - USP Leste), a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e outras.

É importante ter motivação e habilidade para organizar tarefas de pesquisa com independência. É esperado que o candidato saiba trabalhar em equipe, com desenvoltura na redação de relatórios e artigos científicos.

Outras informações podem ser obtidas por e-mail endereçado para Dra. Maria de Fátima Andrade: mftandra@model.iag.usp.br. Interessados devem enviar os seguintes documentos até 24 de junho de 2011: currículo vitae completo, três cartas de recomendação e carta descrevendo o interesse de trabalhar no projeto.

A vaga está aberta a brasileiros e estrangeiros. O selecionado receberá Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP (no valor de R$ 5.333,40 mensais), Reserva Técnica e Auxílio Instalação. A Reserva Técnica de Bolsa de PD equivale a 15% do valor anual da bolsa e tem o objetivo de atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas à atividade de pesquisa.

O bolsista de PD, caso resida em domicílio diferente e precise se mudar para a cidade onde se localiza a instituição sede da pesquisa, poderá ter direito a um Auxílio Instalação. Mais informações sobre a Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP estão disponíveis em www.fapesp.br/bolsas/pd.

Outras vagas de Bolsas de Pós-Doutorado, em diversas áreas do conhecimento, estão publicadas no site FAPESP-Oportunidades, em http://www.oportunidades.fapesp.br/.

'Inclusão e clima são escudos contra crise' /// PNUD

Administradora-geral do PNUD afirma que fórmula de desenvolvimento passa por crescimento inclusivo e o combate às mudanças climáticas
da PrimaPagina
Os países menos desenvolvidos – grupo formado pelas 48 nações mais pobres do mundo – precisam lidar com o binômio crescimento inclusivo e combate às mudanças climáticas para encontrar o caminho do progresso e se tornar mais resilientes aos choques externos, afirmou nesta terça-feira (10) a administradora-geral do PNUD, Helen Clark, durante a 4ª Conferência da ONU sobre os Países Menos Desenvolvidos, realizada em Istambul, capital da Turquia, entre 9 e 13 de maio.

Resiliência é a capacidade de um objeto retomar seu estado original mesmo após ser atingido por alguma força externa. Aplicado a um país, indica o poder de, depois de um choque causado por determinada conjuntura internacional, voltar ao ponto em que estava antes. Segundo Helen Clark, "fortalecer a resiliência (a choques externos) deve ser parte integrante da política de desenvolvimento e do planejamento dos países menos desenvolvidos."

A administradora do PNUD ressalta que os reflexos da crise global puderam ser percebidos na queda do PIB (Produto Interno Bruto) per capita e no aumento da pobreza, e lembra que a nova alta dos preços de alimentos pode minar os avanços em desenvolvimento humano.

Helen Clark completa que a solução para tornar esses países mais resistentes seria adotar medidas norteadas por dois princípios: promoção do crescimento inclusivo e combate a vulnerabilidades climáticas. "Medidas para melhorar a agricultura são especialmente importantes, pois o sucesso (dessas políticas agrícolas) sustenta o desenvolvimento econômico, a redução da pobreza, a segurança alimentar e subsistência para todos", afirma.

Ainda para fomentar o crescimento inclusivo, é importante gerar trabalho decente e definir investimentos em saúde, educação e infraestrutura física. Já a questão ambiental deve também ser prioridade para os governos das  48 nações mais pobres. "Em algumas estimativas, 40% de todas as mortes relacionadas a desastres naturais de todos os tipos durante o período de 2000 a 2010 estiveram nos países menos desenvolvidos", lembra Helen Clark.

Recuperar-se dos desastres requer dinheiro. No mesmo período, essas nações experimentaram recorde de perdas econômicas (US$ 14,1 bilhões no total), com Bangladesh e Mianmar em pior situação, ressalta a administradora do PNUD, afirmando que a melhor forma de combater as mudanças climáticas é investindo na redução do risco dos desastres.

"Forte apoio da comunidade internacional é importante, incluindo parcerias com os doadores tradicionais e agências multilaterais, e por meio do rápido crescimento da cooperação Sul-Sul e triangular", afirma Helen Clark.

Conferência
Durante a 4ª Conferência da ONU sobre os Países Menos Desenvolvidos foi lançado o relatório "Integração Regional e Desenvolvimento Humano: Caminho a ser Seguido na África".

O documento afirma que investimentos regionais integrados em matéria de energia, em conjunto com políticas que favoreçam os pobres, poderiam resultar em aumento acumulado de 10% no padrão de vida do continente africano entre 2012 e 2020.

"Agora se reconhece o potencial que a integração regional tem de promover um maior crescimento econômico", comentou Helen Clark. Os vínculos da região poderiam também ter um impacto positivo sobre o crescimento da renda e na redução da pobreza no âmbito nacional, ao oferecer melhor acesso aos serviços públicos e estabelecer políticas mais acertadas para a sustentabilidade do meio ambiente.

Segundo o relatório, laços regionais mais estreitos poderiam dar aos países menos desenvolvidos novas formas de políticas industriais e comerciais que levassem a uma maior variedade nos setores comerciais, pois a economia da maioria dessas nações depende, em grande medida, dos produtos agrícolas como algodão e café, além dos minerais.

Impulso silencioso na luta contra as alterações climáticas

17 Janeiro2011 12:11

Achim Steiner

 O processo de negociações de um novo tratado global sobre as alterações globais tem sido marcado, nos últimos dois anos, por muitos altos e baixos.

Muitas pessoas consideram mesmo que está a terminar a oportunidade para chegar a um acordo.

Mas desistir não é uma opção. A última ronda de negociações, que decorreu no passado mês de Dezembro em Cancún, no México, colocou, novamente, as negociações no caminho adequado, apesar de a um ritmo e dimensão que vai sem dúvida deixar muitos observadores frustrados.

O presidente mexicano, Felipe Calderón, e a secretária executiva das Nações Unidas para as alterações climáticas merecem o reconhecimento pelos avanços alcançados em áreas importantes como a reflorestação, um novo Fundo Verde de apoio às nações em desenvolvimento e a confirmação das promessas de redução de emissões feitas em Dezembro de 2009 na conferência de Copenhaga.

Mas, tal como ficou claro pelos modelos climáticos do Programa Ambiental das Nações Unidas apresentados antes da Cimeira de Cancún, existe uma diferença significativa entre o que tem sido prometido pelos países em termos de redução de emissões e o que é necessário para evitar que a temperatura global suba mais do que 2º C, para não falar da meta de 1,5º C necessária para proteger muitas ilhas de baixa altitude.

Apesar de alguns ganhos, essa diferença - que de acordo com o cenário mais optimista, equivale às emissões de carbono de todos os automóveis, autocarros e camiões do mundo - continua a existir no período pós Cancún. De facto, ninguém deveria subestimar a dimensão do desafio que vamos enfrentar na África do Sul, anfitriã das próximas negociações, para alcançar um novo acordo vinculativo que permita reduzir esta diferença e garantir o financiamento necessário para colocar o Fundo Verde em funcionamento.

No entanto, enquanto a cimeira de Cancún lutava para chegar a uma conclusão, outra cimeira não oficial, que decorria muito próximo, também chegava ao fim. Esta cimeira paralela juntou chefes de Estado, governos regionais e locais, empresários e sociedade civil e analisou em que medida e a que velocidade alguns sectores da sociedade vão fazer a transição para um futuro de baixo carbono e criar as economias verdes com tecnologias limpas do século XXI.

As políticas reflectem este "momentum": de acordo com algumas estimativas, o presidente mexicano está a transformar o seu país com o mercado eólico de mais rápido crescimento. Além disso, o México vai abandonar, progressivamente, as velhas e ineficientes lâmpadas até 2014. O país acabou de retirar do mercado 850 mil frigoríficos ineficientes para os trocar por modelos modernos energeticamente eficientes e deverá fazer o mesmo com milhões de outros modelos nos próximos anos. Os lares mexicanos que instalarem sistemas de poupanças de energia, como aquecedores a energia solar, vão ter direito a hipotecas verdes com taxas de juro mais baixas.

O México não é o único país a adoptar uma estratégia nacional de transição para uma economia verde de baixo carbono e eficiente em termos de recursos. O Uruguai, por exemplo, anunciou uma estratégia para gerar metade da sua electricidade a partir de fontes de energia renovável até 2015.

Sessenta governos regionais e locais, responsáveis por 15% das emissões globais de gases com efeito de estufa, também estão a tomar medidas. O Québec e São Paulo, para citar apenas dois exemplos, querem reduzir as emissões em 20% até 2020 face aos níveis de 1990.

Grandes empresas, de bancos a companhias aéreas, também estão a contribuir. A retalhista norte-americana Wal-Mart, por exemplo, prevê reduzir as emissões equivalentes a 3,8 milhões de automóveis, implementando medidas de eficiência energética nas suas lojas chinesas.

De facto, o mundo está a assistir a uma extraordinária mobilização de projectos e políticas a nível nacional que estão a mudar as economias pela via da redução das emissões de carbono. No Quénia, a criação de uma nova tarifa está a permitir a expansão de fontes de energia eólica e geotermal. A Indonésia está não só a tentar resolver a desflorestação, como, a partir do próximo mês, vai começar a abandonar com os subsídios aos combustíveis fósseis para os automóveis privados. Muitos países e empresas estão a dar passos importantes, assinalando, assim, que não estão reféns do calendário lento das negociações oficiais.

Tudo isto pode levar muitas pessoas a questionar se precisamos mesmo de longas negociações internacionais e cimeiras climáticas das Nações Unidas. Mas a verdade é que a situação actual foi em grande parte catalisada pelas metas, calendários e mecanismos existentes nos tratados das Nações Unidas e, em particular, pelo "momentum" gerado pela, muitas vezes criticada, Cimeira de Copenhaga, em 2009.

Este "momentum" poderá continuar a crescer caso seja alcançado um novo tratado global que não só traga certezas aos mercados do carbono e desencadeie rápidos investimentos em tecnologias limpas, mas também garanta que os países mais vulneráveis não são marginalizados. O actual desafio é unir estes objectivos para que se reforcem mutuamente.

Só assim o mundo terá a oportunidade de lutar contra a subida da temperatura global, e evitar que esta suba mais do que 2º C ao longo deste século, intensificar a capacidade de resistência contra as alterações climáticas e transformar, verdadeiramente, as estruturas de energia do passado - e depois as perspectivas de desenvolvimento para seis mil milhões de pessoas no futuro.

Achim Steiner é vice secretário-geral das Nações Unidas e director executive do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP).

Ministra Izabella Teixeira se diz otimista com negociação na COP 16

'Tenha a sensação de Nagoya', disse, lembrando reunião que deu resultado.
Ban-ki Moon espera que conferência avance para um 'amplo acordo'.
Dennis Barbosa
Do G1, em Cancún
"Tenho a mesma sensação que tinha durante o processo de Nagoya, e tivemos resultados", disse, referindo-se à negociação sobre biodiversidade ocorrida na cidade japonesa em outubro, quando surpreendentemente foi aprovado um pacote de medidas para frear a destruição da variedade de espécies, incluindo um protocolo internacional de regras sobre o uso de recursos genéticos.

"Hoje estou otimista. Acredito que possamos chegar a novos arranjos. Mas há desafios, claro, do contrário a presidência não nos teria chamado", comentou Izabella Teixeira.

A chanceler mexicana Patricia Espinosa, que preside a COP 16, pediu que Brasil e Reino Unido discutissem com os outros países envolvidos formas de superar o impasse em relação a um prolongamento do Protocolo de Kyoto. Ela pediu a outros pares de nações desenvolvidas e em desenvolvimento - como Suécia e Granada, ou Espanha e Argélia - que busquem soluções para outros gargalos da conferência.

Secretário-geral
Ban Ki-moon, ao centro, com a secretária para Mudanças Climáticas da ONU, Christiana Figueres, à sua esquerda. (Foto: Dennis Barbosa/G1)O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também se juntou aos negociadores do clima no México e acompanha as discussões. "Não há solução mágica para as mudanças climáticas", disse a jornalistas, acrescentando esperar que Cancún resulte num "amplo acordo".

Ele destacou que a proteção das florestas, a adaptação às mudanças climáticas nos países pobres, a transferência de tecnologias, o financiamento dos países em desenvolvimento e uma decisão a respeito do Protocolo de Kyoto, devem ser prioritários nas negociações.

Um dos pontos mais complicados da COP 16 é a discussão sobre a continuidade do protocolo. O Japão já disse que é contra. Aprovado em 1997, trata-se do único instrumento legalmente vinculante (de cumprimento obrigatório), em que países desenvolvidos se comprometem a reduzir suas emissões de gases causadores de efeito estufa. Como ele expira em 2012 e não há um acordo para substituí-lo, discute-se que seja prorrogado, para que não haja um período sem acordo algum.

"O Protocolo de Kyoto é o unico legalmente vinculante para reduzir emissões que temos no momento. Espero que aqui em Cancún façam progresso, mesmo que não cheguem a um acordo final (sobre o protocolo)", disse Ban Ki-moon.

UNFCCC: Veja as emissoes de GEE por Naçao

Grafico da ONU permite visualizar as emissoes de gases que provocam o efeito estufa, por naçao, seu crescimento desde o ano de 1990 ate o 2008.A visualizaçao ainda oferece a possibilidade de  examinar por tipo de emissao. Por exemplo; Uso da Terra, Energia, Processos Industriais,Agricultura, Residuos e Bunker.Permite ainda observar as emissoes por cada naçao.

Brasil perderá o equivalente a um PIB até 2050, diz levantamento

De Brasília - Vinícius Tavares

Na perspectiva macroeconômica de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2050, as mudanças climáticas provocarão uma perda equivalente ao crescimento do PIB em um ano inteiro, ou seja, perdas entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões. A conclusão é das que integram uma série de textos do Boletim Regional Urbano e Ambiental sobre Mudanças Climáticas divulgado nesta quarta-feira (22) pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), em Brasília.

Segundo artigo assinado pelos pesquisadores Sergio Margullis e Carolina Dubeux, estima-se que sem a mudança do clima, o PIB brasileiro seria de R$ 15,3 trilhões daqui a 40 anos. Já no cenário que inclui a mudança climática, haveria uma perda média anual para o cidadão brasileiro entre R$ 534 e R$ 1.603.

Segundo o artigo, as regiões norte e nordeste serão as mais afetadas pelas mudanças no clima no Brasil. Na Amazônia, o aquecimento pode atingir elevação entre sete e 8 graus Celsius em 2100, o que pode provocar a “savanização” deste bioma.

Apesar das projeções, o impacto das mudanças climáticas sobre os recursos naturais, a economia e as sociedades do mundo é ainda incerta. Sobre este tema, o boletim reuniu textos de formuladores de políticas públicas, debatedores, representantes da Embrapa, professores universitários, pesquisadores e representantes do setor empresarial.

O boletim traz informações sobre temas ligados à agricultura, ao seqüestro de carbono e as negociações internacionais envolvendo as emissões de gases tóxicos que provocam o efeito estufa e devem orientar o governo a adotar medidas preventivas para preparar o país a enfrentar estes impactos.

Informação & Conhecimento