Publicado em dezembro 6, 2011 por HC
O especialista em direito ambiental internacional e professor da Escola de Sustentabilidade da Universidade do Estado do Arizona, Daniel Bodanksy, apresenta três cenários possíveis para a Conferência de Durban no artigo “Qual o futuro provável do Protocolo de Kyoto? Durban e além”, publicado em agosto de 2011 no site do Projeto de Acordos Climáticos de Harvard. Por Flávia Dourado, para o UOL Ciência e Saúde.
Veja abaixo os cenários:
Três possíveis cenários para Durban
Não se chega a nenhum acordo sobre um segundo período de compromissos Segundo Bodansky, esse é o cenário mais provável para Durban. Se essa hipótese se concretizar, os países ficarão, por um período indefinido, isentos de metas legalmente vinculantes de redução. Assim, os limites para as emissões de carbono ficariam restritos aos compromissos não-mandatórios assumidos pelas partes nas conferências de Copenhagen e de Cancún. O autor afirma que este cenário contribuiria para o avanço da agenda firmada nestas conferências, que inclui, além das metas voluntárias, um novo sistema de financiamento internacional para auxiliar os países em desenvolvimento e um mecanismo para avaliar as ações nacionais de mitigação do aquecimento global.
Chega-se a um acordo sobre um segundo período para o Protocolo de Kyoto
Este seria o cenário mais improvável, dado à existência de graves obstáculos políticos, como a dissidência de alguns países e o pouco tempo disponível para as negociações. Garantir um novo período exigiria a aprovação de três quartos dos signatários de Kyoto e a extensão só poderia entrar em vigor 90 dias após a tomada da decisão. “Então, para evitar um intervalo entre o primeiro e o segundo período, seria necessário que 143 países concordassem com a emenda [que determina a extensão do Protocolo] até o dia 3 de outubro de 2012, algo praticamente impossível, dada o prazo necessário para a ratificação doméstica”, explica.
Chega-se a um acordo não-mandatório de comprometimento com um segundo período
Neste cenário, com média probabilidade de se concretizar, o comprometimento das partes com as metas de redução seria voluntário, e não obrigatório, como acontece no Protocolo de Kyoto. Na prática, não haveria grandes diferenças entre este e o segundo cenário, visto que, em geral, as medidas legalmente vinculantes não resultam em sanções internacionais, ainda que tenham mais credibilidade. Bodansky afirma que “o Protocolo de Kyoto tem tido pouca ou nenhuma influência na contenção das emissões de algumas partes, como o Canadá. Potencialmente, um acordo político [não-mandatório] definindo um segundo período teria gravidade e visibilidade comparável à extensão do Protocolo”. Além disso, por se tratar de um compromisso voluntário, mais flexível que os acordos obrigatórios, as partes teriam maior disposição para assumir metas mais ambiciosas.
EcoDebate, 06/12/2011
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Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Políticas climáticas em risco nos Estados Unidos
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3/16/2011 08:30:00 AM
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Amazonia;mudanças climáticas,
desemprego nos eua,
energy;carbon emissions;climate change;national cap-and-trade;energy efficient economy;epa,
Obama
Data: 16/03/2011 12:03
Por: Redação TN / Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil
Em uma decisão com alto poder simbólico, o subcomitê de Energia da câmara de deputados dos Estados Unidos aprovou a retirada da autoridade da Agência de Proteção Ambiental (EPA) de estabelecer regras para as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) e também rejeitou o conceito de que o dióxido de carbono seja uma ameaça para a população. Agora, será a vez do Comitê de Energia e Comércio da Câmara votar, e com grande possibilidade aprovar, a mesma medida nas próximas semanas.
Tudo aponta para que o Congresso norte-americano, atualmente predominantemente republicano, deve mesmo reverter boa parte dos avanços climáticos nos Estados Unidos. Os republicanos, e alguns democratas, alegam que as decisões da EPA nada fizeram além de prejudicar a economia e afugentar indústrias para outros países.
“As regulamentações da EPA são tentativas de burocratas não eleitos pelo povo de implementar medidas impopulares como o mercado cap-and-trade, que já foi rejeitado pelo Congresso no ano passado”, afirmou o Fred Upton, presidente do Comitê de Energia e Comércio.
A EPA classificou em dezembro de 2009 os gases do efeito estufa como uma ameaça a saúde pública e o bem estar da população americana, o que permitiu que eles fossem incluídos no Clean Air Act. Dessa forma, a agência conseguiu chamar para si a responsabilidade de elaborar regras para controlar as emissões. O que foi aprovado pela Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos.
Uma das regras criadas prevê que a partir deste ano as indústrias e usinas de energia são obrigadas a obter permissões para a emissão de GEEs quando forem aumentar sua capacidade ou reequipar suas instalações. A EPA dará as permissões apenas para as empresas que demonstrarem que utilizaram as melhores tecnologias disponíveis na revitalização das unidades. Esta regra cobre grandes unidades industriais que são responsáveis por 70% das emissões provenientes de fontes estacionárias nos EUA.
Medidas desse tipo impulsionaram os opositores ao EPA a unir forças e agir para retirar da agência sua autoridade.Muitos republicanos alegam que o aquecimento global é apenas uma teoria e que nenhuma ação deveria ser tomada agora. Esta é a mesma posição dos inúmeros lobbies das indústrias de carvão, petróleo e de outros setores que vêm sendo afetados pelas decisões da EPA. Esses lobbies exercem grande influência nos congressistas e atuam abertamente para enfraquecer a agência.
Porém, para o deputado republicano Ed Whitfield, presidente do subcomitê de Energia, a questão principal não é a veracidade das mudanças climáticas e sim as ações da EPA.
“A nossa decisão não leva em conta se o aquecimento global é uma realidade ou não, apenas demonstra a insatisfação do Congresso com os rumos adotados pelo governo e principalmente pela EPA”, explicou Whitfield.
Faltou Coragem
As criticas à administração Obama não vem apenas dos republicanos, muitos aliados do governo acreditam que faltou empenho do presidente para fazer passar as leis climáticas e energéticas no ano passado ou ainda antes, quando ele tinha um grande apoio popular e contava com a maioria do Congresso.
“Nós nunca saberemos o que o presidente poderia ter conseguido...porque ele nem mesmo tentou!”, afirmou ao New York Times Joseph J. Romm, antigo oficial do Departamento de Energia e um dos mais influentes escritores sobre mudanças climáticas nos EUA.
Segundo Romm, Obama se tornou muito tímido com relação às políticas climáticas, o que fica claro nos atuais discursos do presidente, que raramente adotam as palavras “mudanças climáticas” ou “aquecimento global”. Obama prefere agora falar em “segurança energética”, “economia limpa” e “novas tecnologias”. Essa alteração de estratégia aconteceu depois do fracasso da legislação climática no ano passado. Obama passou de um ferrenho defensor de um cap-and-trade no estilo do mercado de emissões da União Européia, para apenas um incentivador de energias limpas.
Se a onda conservadora realmente conseguir retirar da EPA a independência de regulamentar as emissões de GEEs, nada poderá evitar que os Estados Unidos se tornem de uma vez por todas o grande obstáculo nas negociações climáticas internacionais que buscam um acordo global.
Por: Redação TN / Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil
Em uma decisão com alto poder simbólico, o subcomitê de Energia da câmara de deputados dos Estados Unidos aprovou a retirada da autoridade da Agência de Proteção Ambiental (EPA) de estabelecer regras para as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) e também rejeitou o conceito de que o dióxido de carbono seja uma ameaça para a população. Agora, será a vez do Comitê de Energia e Comércio da Câmara votar, e com grande possibilidade aprovar, a mesma medida nas próximas semanas.
Tudo aponta para que o Congresso norte-americano, atualmente predominantemente republicano, deve mesmo reverter boa parte dos avanços climáticos nos Estados Unidos. Os republicanos, e alguns democratas, alegam que as decisões da EPA nada fizeram além de prejudicar a economia e afugentar indústrias para outros países.
“As regulamentações da EPA são tentativas de burocratas não eleitos pelo povo de implementar medidas impopulares como o mercado cap-and-trade, que já foi rejeitado pelo Congresso no ano passado”, afirmou o Fred Upton, presidente do Comitê de Energia e Comércio.
A EPA classificou em dezembro de 2009 os gases do efeito estufa como uma ameaça a saúde pública e o bem estar da população americana, o que permitiu que eles fossem incluídos no Clean Air Act. Dessa forma, a agência conseguiu chamar para si a responsabilidade de elaborar regras para controlar as emissões. O que foi aprovado pela Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos.
Uma das regras criadas prevê que a partir deste ano as indústrias e usinas de energia são obrigadas a obter permissões para a emissão de GEEs quando forem aumentar sua capacidade ou reequipar suas instalações. A EPA dará as permissões apenas para as empresas que demonstrarem que utilizaram as melhores tecnologias disponíveis na revitalização das unidades. Esta regra cobre grandes unidades industriais que são responsáveis por 70% das emissões provenientes de fontes estacionárias nos EUA.
Medidas desse tipo impulsionaram os opositores ao EPA a unir forças e agir para retirar da agência sua autoridade.Muitos republicanos alegam que o aquecimento global é apenas uma teoria e que nenhuma ação deveria ser tomada agora. Esta é a mesma posição dos inúmeros lobbies das indústrias de carvão, petróleo e de outros setores que vêm sendo afetados pelas decisões da EPA. Esses lobbies exercem grande influência nos congressistas e atuam abertamente para enfraquecer a agência.
Porém, para o deputado republicano Ed Whitfield, presidente do subcomitê de Energia, a questão principal não é a veracidade das mudanças climáticas e sim as ações da EPA.
“A nossa decisão não leva em conta se o aquecimento global é uma realidade ou não, apenas demonstra a insatisfação do Congresso com os rumos adotados pelo governo e principalmente pela EPA”, explicou Whitfield.
Faltou Coragem
As criticas à administração Obama não vem apenas dos republicanos, muitos aliados do governo acreditam que faltou empenho do presidente para fazer passar as leis climáticas e energéticas no ano passado ou ainda antes, quando ele tinha um grande apoio popular e contava com a maioria do Congresso.
“Nós nunca saberemos o que o presidente poderia ter conseguido...porque ele nem mesmo tentou!”, afirmou ao New York Times Joseph J. Romm, antigo oficial do Departamento de Energia e um dos mais influentes escritores sobre mudanças climáticas nos EUA.
Segundo Romm, Obama se tornou muito tímido com relação às políticas climáticas, o que fica claro nos atuais discursos do presidente, que raramente adotam as palavras “mudanças climáticas” ou “aquecimento global”. Obama prefere agora falar em “segurança energética”, “economia limpa” e “novas tecnologias”. Essa alteração de estratégia aconteceu depois do fracasso da legislação climática no ano passado. Obama passou de um ferrenho defensor de um cap-and-trade no estilo do mercado de emissões da União Européia, para apenas um incentivador de energias limpas.
Se a onda conservadora realmente conseguir retirar da EPA a independência de regulamentar as emissões de GEEs, nada poderá evitar que os Estados Unidos se tornem de uma vez por todas o grande obstáculo nas negociações climáticas internacionais que buscam um acordo global.
Mudança de papel
20/12/2010
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Por ser um dos países que mais pode sofrer as consequências do aquecimento global – que coloca em risco a Floresta Amazônica, entre outros pontos –, o Brasil deveria assumir um papel de liderança nas negociações climáticas internacionais e o compromisso de diminuir suas emissões de gases de efeito estufa antes de outros países entrarem em acordo.
A afirmação foi feita por Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante a conferência internacional Getting Post 2010 – Biodiversity Targets Right, realizada pelo Programa Biota-FAPESP, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Bragança Paulista (SP). A reunião, que terminou no dia 15 de dezembro, marcou o encerramento do Ano Internacional da Biodiversidade.
De acordo com Fearnside, apesar de ter anunciado no início de dezembro, durante a 16ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP-16), no México, o plano de cortar entre 36% a 39% as emissões de gases estufa até 2020, o Brasil ainda não tem uma meta clara nesse sentido e com valor legal.
“O que o Brasil apresentou na COP-16 foi um objetivo que pretende atingir até 2020 e que pode mudar ao longo desses anos caso seja difícil atingi-lo. É diferente de uma meta estabelecida em uma Convenção Climática Internacional, que não pode ser revogada”, disse à Agência FAPESP.
Segundo o cientista, o Brasil também foi um dos últimos países a endossar o artigo 2 da Convenção do Clima, assinada em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), que estabeleceu o objetivo de evitar que os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera atingissem níveis perigosos para o funcionamento do sistema climático global.
Na COP-15, realizada em 2009 em Copenhagen, na Dinamarca, foi somente depois que mais de cem outros países assinarem uma declaração reconhecendo que a temperatura média do planeta não poderia subir mais do que 2º C até o fim deste século sem incorrer em consequências drásticas para o planeta que o Brasil também endossou o documento, apontou Fearnside.
“O Brasil esteve longe de ser o líder nessa negociação sobre o que seria uma mudança climática perigosa”, disse o vencedor do Prêmio Fundação Conrado Wessel em Ciência Aplicada ao Meio Ambiente em 2004 e que em 2006 foi identificado pela Thomson-ISI como o segundo cientista mais citado no mundo sobre aquecimento global.
Ainda menos emissões
De acordo com Fearnside, apesar de a COP-15 ter representado um avanço na definição do que representaria uma mudança climática perigosa, ainda não foi decidido quanto equivaleria em termos de concentração de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa na atmosfera o aumento de até 2º C na temperatura média do planeta.
Um dos números mais propalados é o de 4.150 partes por milhão de volume de emissão de carbono. Mas, segundo Fearnside, esse número representa apenas 50% da probabilidade de se conseguir manter o aumento da temperatura média do planeta no limite de 2º C, que também é a faixa de resistência às mudanças climáticas da Floresta Amazônica.
“É muito importante que o Brasil, sendo um dos países que mais pode perder com o aquecimento global, jogue seu peso nessa discussão para que esse número caia para 400 partes por milhão ou menos. O país ainda não se posicionou em relação a esse problema e não pode aceitar o risco de que esse limite seja ultrapassado, ou colocará em risco a existência da Floresta Amazônica”, afirmou.
Segundo Fearnside, atualmente a concentração de gases de efeito estufa na Amazônia é de 389 partes por milhão. Mas, nos últimos anos, esse índice vem aumentando e, combinado com o aumento da emissão de aerossóis (partículas em suspensão na atmosfera), está provocando a diminuição de chuvas na região.
O resultado desse fenômeno, segundo Fearnside, são secas extremas como as que ocorreram na parte sul da Amazônia em 2005 e em 2010, e o aumento do risco de incêndios na floresta.
“Esse cenário tende a ser muito pior no futuro e em poucas décadas. Se a concentração de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa ultrapassar 400 partes por milhão, maiores serão as possibilidades de ocorrer outras secas extremas na Amazônia nos próximos anos”, disse.
Mais informações sobre a conferência Getting Post 2010 – Biodiversity Targets Right: www.biota2010-targets.com.br
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Por ser um dos países que mais pode sofrer as consequências do aquecimento global – que coloca em risco a Floresta Amazônica, entre outros pontos –, o Brasil deveria assumir um papel de liderança nas negociações climáticas internacionais e o compromisso de diminuir suas emissões de gases de efeito estufa antes de outros países entrarem em acordo.
A afirmação foi feita por Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante a conferência internacional Getting Post 2010 – Biodiversity Targets Right, realizada pelo Programa Biota-FAPESP, Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em Bragança Paulista (SP). A reunião, que terminou no dia 15 de dezembro, marcou o encerramento do Ano Internacional da Biodiversidade.
De acordo com Fearnside, apesar de ter anunciado no início de dezembro, durante a 16ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP-16), no México, o plano de cortar entre 36% a 39% as emissões de gases estufa até 2020, o Brasil ainda não tem uma meta clara nesse sentido e com valor legal.
“O que o Brasil apresentou na COP-16 foi um objetivo que pretende atingir até 2020 e que pode mudar ao longo desses anos caso seja difícil atingi-lo. É diferente de uma meta estabelecida em uma Convenção Climática Internacional, que não pode ser revogada”, disse à Agência FAPESP.
Segundo o cientista, o Brasil também foi um dos últimos países a endossar o artigo 2 da Convenção do Clima, assinada em 1992 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), que estabeleceu o objetivo de evitar que os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera atingissem níveis perigosos para o funcionamento do sistema climático global.
Na COP-15, realizada em 2009 em Copenhagen, na Dinamarca, foi somente depois que mais de cem outros países assinarem uma declaração reconhecendo que a temperatura média do planeta não poderia subir mais do que 2º C até o fim deste século sem incorrer em consequências drásticas para o planeta que o Brasil também endossou o documento, apontou Fearnside.
“O Brasil esteve longe de ser o líder nessa negociação sobre o que seria uma mudança climática perigosa”, disse o vencedor do Prêmio Fundação Conrado Wessel em Ciência Aplicada ao Meio Ambiente em 2004 e que em 2006 foi identificado pela Thomson-ISI como o segundo cientista mais citado no mundo sobre aquecimento global.
Ainda menos emissões
De acordo com Fearnside, apesar de a COP-15 ter representado um avanço na definição do que representaria uma mudança climática perigosa, ainda não foi decidido quanto equivaleria em termos de concentração de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa na atmosfera o aumento de até 2º C na temperatura média do planeta.
Um dos números mais propalados é o de 4.150 partes por milhão de volume de emissão de carbono. Mas, segundo Fearnside, esse número representa apenas 50% da probabilidade de se conseguir manter o aumento da temperatura média do planeta no limite de 2º C, que também é a faixa de resistência às mudanças climáticas da Floresta Amazônica.
“É muito importante que o Brasil, sendo um dos países que mais pode perder com o aquecimento global, jogue seu peso nessa discussão para que esse número caia para 400 partes por milhão ou menos. O país ainda não se posicionou em relação a esse problema e não pode aceitar o risco de que esse limite seja ultrapassado, ou colocará em risco a existência da Floresta Amazônica”, afirmou.
Segundo Fearnside, atualmente a concentração de gases de efeito estufa na Amazônia é de 389 partes por milhão. Mas, nos últimos anos, esse índice vem aumentando e, combinado com o aumento da emissão de aerossóis (partículas em suspensão na atmosfera), está provocando a diminuição de chuvas na região.
O resultado desse fenômeno, segundo Fearnside, são secas extremas como as que ocorreram na parte sul da Amazônia em 2005 e em 2010, e o aumento do risco de incêndios na floresta.
“Esse cenário tende a ser muito pior no futuro e em poucas décadas. Se a concentração de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa ultrapassar 400 partes por milhão, maiores serão as possibilidades de ocorrer outras secas extremas na Amazônia nos próximos anos”, disse.
Mais informações sobre a conferência Getting Post 2010 – Biodiversity Targets Right: www.biota2010-targets.com.br
FAPESP e FAPERJ lançam chamada sobre mudanças climáticas
29/10/2010
Agência FAPESP
A FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) lançam chamada de propostas para seleção de projetos de pesquisa cooperativos e intercâmbio de pesquisadores e estudantes em áreas de pesquisa ligadas às mudanças climáticas globais.
Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a instituições de ensino superior ou pesquisa, públicas ou privadas, no Estado de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro.
Os projetos de pesquisa conjuntos deverão criar conhecimento científico e formar competências e alianças estratégicas em áreas relacionadas ao tema mudanças climáticas globais, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Espera-se que os projetos de pesquisa incentivem a implementação de projetos inovadores de pesquisa, envolvendo estudantes de nível superior, e que seus resultados gerem publicações de artigos científicos e propriedade intelectual.
“O acordo FAPERJ-FAPESP cria mais uma oportunidade para que pesquisadores no Estado de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro desenvolvam projetos de pesquisa conjuntamente. Desta forma, esperamos criar sinergias e aumentar a capacidade nacional para a criação de conhecimento científico sobre mudanças climáticas globais levando a um aumento do impacto da ciência brasileira neste tema tão importante”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
“Há muito vimos trabalhando na perspectiva do lançamento de um edital conjunto entre as duas agências, o que se tornou possível após a assinatura do acordo de cooperação científica. A área escolhida diz, por si, da importância do edital. Ambos os Estados têm pesquisadores de excelência na área e que, certamente, em um trabalho conjunto, contribuirão para o desenvolvimento científico e tecnológico, e também para a formação de recursos humanos qualificados”, disse Jerson Lima, diretor científico da FAPERJ.
As propostas selecionadas serão cofinanciadas pela FAPESP e pela FAPERJ. Aplicam-se todas as normas da FAPESP às propostas apresentadas por pesquisadores vinculados a instituições sediadas em São Paulo e, da FAPERJ às propostas apresentadas por pesquisadores vinculados a instituições sediadas no Rio de Janeiro.
Entre os temas de interesse da chamada estão as Consequências das mudanças climáticas globais no funcionamento dos ecossistemas, com ênfase em biodiversidade e nos ciclos de água, carbono e nitrogênio, Balanço de radiação na atmosfera, aerossóis, gases-traço e mudanças dos usos da terra” e Dimensões humanas das mudanças climáticas globais”.
Serão selecionados até 30 projetos de pesquisa. A FAPESP e a FAPERJ reservam até R$ 2,5 milhões cada uma para a chamada, totalizando R$ 5 milhões.
As propostas devem ser submetidas à FAPESP como Auxílios Regulares à Pesquisa com duração de até 24 meses e à FAPERJ como Projetos Específicos com duração de até dois anos. Um mesmo pesquisador só poderá submeter uma proposta. As propostas deverão ser encaminhadas até 4 de fevereiro de 2011.
As missões de intercâmbio de pesquisadores e estudantes poderão totalizar 60 dias por pessoa por ano de duração do projeto.
Mais informações sobre a chamada: www.fapesp.br/materia/5935
Agência FAPESP
A FAPESP e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) lançam chamada de propostas para seleção de projetos de pesquisa cooperativos e intercâmbio de pesquisadores e estudantes em áreas de pesquisa ligadas às mudanças climáticas globais.
Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a instituições de ensino superior ou pesquisa, públicas ou privadas, no Estado de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro.
Os projetos de pesquisa conjuntos deverão criar conhecimento científico e formar competências e alianças estratégicas em áreas relacionadas ao tema mudanças climáticas globais, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Espera-se que os projetos de pesquisa incentivem a implementação de projetos inovadores de pesquisa, envolvendo estudantes de nível superior, e que seus resultados gerem publicações de artigos científicos e propriedade intelectual.
“O acordo FAPERJ-FAPESP cria mais uma oportunidade para que pesquisadores no Estado de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro desenvolvam projetos de pesquisa conjuntamente. Desta forma, esperamos criar sinergias e aumentar a capacidade nacional para a criação de conhecimento científico sobre mudanças climáticas globais levando a um aumento do impacto da ciência brasileira neste tema tão importante”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
“Há muito vimos trabalhando na perspectiva do lançamento de um edital conjunto entre as duas agências, o que se tornou possível após a assinatura do acordo de cooperação científica. A área escolhida diz, por si, da importância do edital. Ambos os Estados têm pesquisadores de excelência na área e que, certamente, em um trabalho conjunto, contribuirão para o desenvolvimento científico e tecnológico, e também para a formação de recursos humanos qualificados”, disse Jerson Lima, diretor científico da FAPERJ.
As propostas selecionadas serão cofinanciadas pela FAPESP e pela FAPERJ. Aplicam-se todas as normas da FAPESP às propostas apresentadas por pesquisadores vinculados a instituições sediadas em São Paulo e, da FAPERJ às propostas apresentadas por pesquisadores vinculados a instituições sediadas no Rio de Janeiro.
Entre os temas de interesse da chamada estão as Consequências das mudanças climáticas globais no funcionamento dos ecossistemas, com ênfase em biodiversidade e nos ciclos de água, carbono e nitrogênio, Balanço de radiação na atmosfera, aerossóis, gases-traço e mudanças dos usos da terra” e Dimensões humanas das mudanças climáticas globais”.
Serão selecionados até 30 projetos de pesquisa. A FAPESP e a FAPERJ reservam até R$ 2,5 milhões cada uma para a chamada, totalizando R$ 5 milhões.
As propostas devem ser submetidas à FAPESP como Auxílios Regulares à Pesquisa com duração de até 24 meses e à FAPERJ como Projetos Específicos com duração de até dois anos. Um mesmo pesquisador só poderá submeter uma proposta. As propostas deverão ser encaminhadas até 4 de fevereiro de 2011.
As missões de intercâmbio de pesquisadores e estudantes poderão totalizar 60 dias por pessoa por ano de duração do projeto.
Mais informações sobre a chamada: www.fapesp.br/materia/5935
Políticas públicas para mudanças climáticas
FAPESP 18/10/2010
Esses números lançam ao estado um enorme desafio para reduzir as emissões e já estimularam a implantação de várias políticas públicas, entre as quais a ativação do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, ocorrida na sexta-feira (15/10).
O tema foi tratado em mesa durante o fórum “Mudanças Climáticas Globais – Desafios e oportunidades de pesquisa”, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nos dias 14 e 15 de outubro. A mesa teve a participação do diretor-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Fernando Reis, do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e do diretor do Instituto de Estudos Avançados da Faculdade de Economia e Administração da USP, Jacques Marcovitch.
“As emissões de CO2 em São Paulo são tímidas em relação aos países desenvolvidos, mas, ao se considerar o índice de ocupação do solo, são emissões superiores à média nacional”, disse Reis.
Por Fabio Reynol, de Campinas (SP)
Agência FAPESP – Se o Estado de São Paulo fosse um país estaria em 39º no ranking das nações que mais emitem dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Em 2003, foram 83 milhões de toneladas do gás, praticamente um quarto do montante brasileiro.Esses números lançam ao estado um enorme desafio para reduzir as emissões e já estimularam a implantação de várias políticas públicas, entre as quais a ativação do Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, ocorrida na sexta-feira (15/10).
O tema foi tratado em mesa durante o fórum “Mudanças Climáticas Globais – Desafios e oportunidades de pesquisa”, realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) nos dias 14 e 15 de outubro. A mesa teve a participação do diretor-presidente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Fernando Reis, do diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, e do diretor do Instituto de Estudos Avançados da Faculdade de Economia e Administração da USP, Jacques Marcovitch.
“As emissões de CO2 em São Paulo são tímidas em relação aos países desenvolvidos, mas, ao se considerar o índice de ocupação do solo, são emissões superiores à média nacional”, disse Reis.
Cidades verticais, civilização rural?, artigo de Washington Novaes
Tendencia de Urbanização é Crescente, principalmente nos países em desenvolvimento (Laercio Bruno Filho)
Artigo de Washington Novaes, jornalista especializado em Meio Ambiente
Já chegamos a mais de 50% da população global vivendo em áreas urbanas - o que amplia muito certas necessidades, como as de transporte, energia, habitação, alimentação industrializada etc
.
Artigo publicado em "O Estado de SP":Na época em que morou no Rio de Janeiro, de meados da década de 1960 ao início da de 1980, o autor destas linhas se assustava com a rapidíssima verticalização da até ali amena "Cidade Maravilhosa", a partir da derrubada do gabarito de quatro pavimentos nas praias de Ipanema e do Leblon, seguida pelo início da ocupação intensa de São Conrado e da Barra da Tijuca, até então lugares quase só de piqueniques e praias prolongadas dos poucos donos de automóveis.
Dizia, por isso, em tom de blague, que chegaria o dia em que derrubariam o Pão de Açúcar para, com o material de demolição, aterrar a Lagoa Rodrigo de Freitas e, nela e nos vizinhos Jockey Club e Jardim Botânico, erguer imensos edifícios.
Os transportes e as mudanças climáticas no Brasil
TN Sustentavel
"Isso se deve à escalada da mobilidade de bens e pessoas, fruto do processo de globalização. Se de um lado, a intensificação do comércio internacional associada aos hábitos de consumo aumentam as emissões de GEEs, de outro, a expansão urbana provoca uma maior utilização de veículos automotores".
Ainda, segundo o relatório, considerando o quadro de emissões brasileiras, os transportes ostentam 9% do total: "Tal dado é coerente com o atual contexto nacional, no qual a matriz de transporte é majoritariamente rodoviária, com 58% do total da quilometragem existente".
Com relação às normas com incidência em mitigação e/ou adaptação, dividiram a pesquisa em "Padrões de emissões atmosféricas veiculares", "Manutenção de veículos e inspeção veicular obrigatória", "Adição obrigatória de biocombustível à gasolina ou diesel e da qualidade dos combustíveis e incentivo à utilização de biocombustíveis", "Controle do tráfego" e "A importância dos instrumentos de planejamento".
Data: 30/08/2010 11:45
Por: Redação TN / Adriana Vargas, Planeta Verde
O trabalho "Diagnóstico da legislação: identificação das normas com incidência em mitigação e adaptação às mudanças climáticas - Transportes", de autoria de Paula Lavratti, Coordenadora Técnica do Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, e Vanêsca Buzelato Prestes, Coordenadora-Geral, apresenta dados do Brasil sobre os transportes. Ao relacionarem as mudanças climáticas com o tema, destacam que o setor tem sido apontado como a fonte emissora de gases de efeito estufa com maior e mais rápido crescimento, com cerca de 2,5% ao ano. Por: Redação TN / Adriana Vargas, Planeta Verde
"Isso se deve à escalada da mobilidade de bens e pessoas, fruto do processo de globalização. Se de um lado, a intensificação do comércio internacional associada aos hábitos de consumo aumentam as emissões de GEEs, de outro, a expansão urbana provoca uma maior utilização de veículos automotores".
Ainda, segundo o relatório, considerando o quadro de emissões brasileiras, os transportes ostentam 9% do total: "Tal dado é coerente com o atual contexto nacional, no qual a matriz de transporte é majoritariamente rodoviária, com 58% do total da quilometragem existente".
Com relação às normas com incidência em mitigação e/ou adaptação, dividiram a pesquisa em "Padrões de emissões atmosféricas veiculares", "Manutenção de veículos e inspeção veicular obrigatória", "Adição obrigatória de biocombustível à gasolina ou diesel e da qualidade dos combustíveis e incentivo à utilização de biocombustíveis", "Controle do tráfego" e "A importância dos instrumentos de planejamento".
Cientistas começam a abandonar a cautela e apontam no caos climático, evidências do aquecimento global
Paquistão. Neste mês, o país do Sudeste Asiático enfrenta as piores inundações dos últimos 80 anos. Pelos menos 1,4mil pessoas morreram e outras 20 milhões foram afetadas. Foto: Arif Ali/Agence France-Presse-Getty Images/NYT
No caos climático, evidências do aquecimento global – Cientistas americanos começam a abandonar a cautela e a apontar o aumento da temperatura causado pelo homem como origem de desastres
No caos climático, evidências do aquecimento global – Cientistas americanos começam a abandonar a cautela e a apontar o aumento da temperatura causado pelo homem como origem de desastres
Mudança climática deve piorar desigualdade de renda no país
Por Nilbberth Silva - nilbberth.silva@usp.br
Publicado em 12/agosto/2010
Editoria : Meio ambiente
Nordeste e centro-oeste perdem com mudança na agricultura. Sudeste ganhaAté 2020, as transformações que a agricultura do Brasil deve sofre com as mudanças climáticas vão contribuir para diminuir o produto interno bruto (PIB) em 0,29% e piorar a desigualdade de renda. É o que mostra uma simulação feita pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pelo economista Gustavo de Moraes.
ICID 2010: Brasil sedia conferência sobre clima e desenvolvimento em regiões semiáridas >>> Ecodebate
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7/21/2010 05:30:00 AM
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A ICID 2010 será em Fortaleza, de 16 a 20 de agosto. O objetivo é discutir os efeitos das mudanças climáticas e suas implicações em regiões semiáridas
Fortaleza, no Ceará, receberá em agosto a Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas – ICID 2010. O encontro, que envolve mais de 90 países da África, Ásia e América Latina, e cerca de dois mil participantes, tem como meta incluir de forma efetiva as questões relacionadas aos efeitos do aquecimento global em regiões áridas e semiáridas nas agendas de debates nacionais e internacionais.
Organizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – em parceria com os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, o Governo do Ceará e outras entidades governamentais e de pesquisa nacionais e internacionais -, a ICID 2010 vai gerar, consolidar e sintetizar dados e estudos sobre mudanças climáticas e identificar ações para promoção do desenvolvimento seguro e sustentável nas regiões semiáridas.
A expectativa é de que os atores envolvidos nessa agenda, incluindo formuladores de políticas públicas, cientistas, representantes de organismos internacionais, sociedade civil e iniciativa privada tenham a oportunidade de compartilhar experiências e o conhecimento adquirido em questões ligadas às regiões semiáridas nos últimos 20 anos, como variabilidade, vulnerabilidades, impactos socioeconômicos e ambientais, ações de adaptação e desenvolvimento sustentável. Eles deverão elaborar recomendações que auxiliem na criação e implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável dessas áreas.
Estimativas mostram que cerca de 35% da população mundial vivem em terras áridas e semiáridas, que correspondem a 41% da superfície do planeta. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), essas terras serão afetadas pelas alterações no clima mundial. Apesar desse cenário, os habitantes dessas áreas ainda são sub-representados em discussões como a COP-15.
No Brasil, 1.482 municípios do semiárido, que concentram a maior parte da pobreza do País, são afetados diretamente pelo problema, segundo dados do Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. Estudos indicam ainda que quase 20% do semiárido brasileiro será atingido de forma grave, tendo reflexos ambientais e socioeconômicos, como a deterioração do solo e comprometimento da produção de alimentos, extinção de espécies nativas e degradação dos recursos hídricos.
Organizada em quatro temáticas principais – Clima e Meio Ambiente; Clima e Desenvolvimento Sustentável; Governança e Desenvolvimento Sustentável e Processos Políticos e Instituições, a ICID pretende transformar intenções em resultados práticos de desenvolvimento, e acelerar, assim, o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), de redução da vulnerabilidade, da pobreza e da desigualdade.
A Conferência, que ocorrerá 18 anos após a realização da primeira ICID, realizada no início de 1992 como preparatória para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) – a Rio 92, também vai explorar sinergias entre as Convenções das Nações Unidas relativas ao desenvolvimento de regiões semiáridas. O encontro funcionará, portanto, como um agente integrador de teorias, modelos e ações que possam atualizar o conhecimento sobre o tema e subsidiar a realização da Conferência das Nações Unidas vinte anos mais tarde, a Rio+20.
A primeira Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Áridas e Semiáridas ocorreu em 1992, também em Fortaleza. Em sua primeira edição, o encontro contou com cerca de 1,2 mil participantes de 45 países. Criada como um evento preparatório para a Rio 92, a ICID forneceu dados e informações científicas sobre as regiões semiáridas no mundo e conseguiu abrir os olhos da inteligência nordestina para os problemas dessas áreas no Brasil.
A primeira ICID teve um enorme impacto, tanto no âmbito nacional quanto no internacional. “Os trabalhos exibidos durante a primeira ICID foram levados para a Rio 92, assim como a declaração de Fortaleza, com recomendações de políticas públicas para as regiões áridas e semiáridas. Muitos participantes do evento, oriundos da África e da Ásia, também chegaram à Rio 92 como negociadores”, destaca Antônio Rocha Magalhães, coordenador executivo da Conferência. A primeira edição da ICID também serviu como fator decisivo para a criação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
Vários estudos e publicações que servirão como subsídios para o encontro de 2010 foram derivados dos debates que entraram em pauta na primeira ICID. Entre a primeira e a segunda edição da Conferência, três convenções foram aprovadas e entraram em operação: a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD); a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e o Protocolo de Kyoto; e a Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade (UNCBD). Todas elas contribuem, em sinergia, para fortalecer o combate à desertificação e preservar a biodiversidade presente nas regiões áridas e semiáridas em todo o planeta. A expectativa é de que a ICID 2010 tenha o mesmo impacto como conferência preparatória em eventos dessa natureza, como a Rio+20.
Texto de Cadija Tissiani, do MMA, publicado pelo EcoDebate, 21/07/2010
Fortaleza, no Ceará, receberá em agosto a Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas – ICID 2010. O encontro, que envolve mais de 90 países da África, Ásia e América Latina, e cerca de dois mil participantes, tem como meta incluir de forma efetiva as questões relacionadas aos efeitos do aquecimento global em regiões áridas e semiáridas nas agendas de debates nacionais e internacionais.
Organizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) – em parceria com os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, o Governo do Ceará e outras entidades governamentais e de pesquisa nacionais e internacionais -, a ICID 2010 vai gerar, consolidar e sintetizar dados e estudos sobre mudanças climáticas e identificar ações para promoção do desenvolvimento seguro e sustentável nas regiões semiáridas.
A expectativa é de que os atores envolvidos nessa agenda, incluindo formuladores de políticas públicas, cientistas, representantes de organismos internacionais, sociedade civil e iniciativa privada tenham a oportunidade de compartilhar experiências e o conhecimento adquirido em questões ligadas às regiões semiáridas nos últimos 20 anos, como variabilidade, vulnerabilidades, impactos socioeconômicos e ambientais, ações de adaptação e desenvolvimento sustentável. Eles deverão elaborar recomendações que auxiliem na criação e implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável dessas áreas.
Estimativas mostram que cerca de 35% da população mundial vivem em terras áridas e semiáridas, que correspondem a 41% da superfície do planeta. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), essas terras serão afetadas pelas alterações no clima mundial. Apesar desse cenário, os habitantes dessas áreas ainda são sub-representados em discussões como a COP-15.
No Brasil, 1.482 municípios do semiárido, que concentram a maior parte da pobreza do País, são afetados diretamente pelo problema, segundo dados do Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca. Estudos indicam ainda que quase 20% do semiárido brasileiro será atingido de forma grave, tendo reflexos ambientais e socioeconômicos, como a deterioração do solo e comprometimento da produção de alimentos, extinção de espécies nativas e degradação dos recursos hídricos.
Organizada em quatro temáticas principais – Clima e Meio Ambiente; Clima e Desenvolvimento Sustentável; Governança e Desenvolvimento Sustentável e Processos Políticos e Instituições, a ICID pretende transformar intenções em resultados práticos de desenvolvimento, e acelerar, assim, o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), de redução da vulnerabilidade, da pobreza e da desigualdade.
A Conferência, que ocorrerá 18 anos após a realização da primeira ICID, realizada no início de 1992 como preparatória para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) – a Rio 92, também vai explorar sinergias entre as Convenções das Nações Unidas relativas ao desenvolvimento de regiões semiáridas. O encontro funcionará, portanto, como um agente integrador de teorias, modelos e ações que possam atualizar o conhecimento sobre o tema e subsidiar a realização da Conferência das Nações Unidas vinte anos mais tarde, a Rio+20.
A primeira Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Áridas e Semiáridas ocorreu em 1992, também em Fortaleza. Em sua primeira edição, o encontro contou com cerca de 1,2 mil participantes de 45 países. Criada como um evento preparatório para a Rio 92, a ICID forneceu dados e informações científicas sobre as regiões semiáridas no mundo e conseguiu abrir os olhos da inteligência nordestina para os problemas dessas áreas no Brasil.
A primeira ICID teve um enorme impacto, tanto no âmbito nacional quanto no internacional. “Os trabalhos exibidos durante a primeira ICID foram levados para a Rio 92, assim como a declaração de Fortaleza, com recomendações de políticas públicas para as regiões áridas e semiáridas. Muitos participantes do evento, oriundos da África e da Ásia, também chegaram à Rio 92 como negociadores”, destaca Antônio Rocha Magalhães, coordenador executivo da Conferência. A primeira edição da ICID também serviu como fator decisivo para a criação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
Vários estudos e publicações que servirão como subsídios para o encontro de 2010 foram derivados dos debates que entraram em pauta na primeira ICID. Entre a primeira e a segunda edição da Conferência, três convenções foram aprovadas e entraram em operação: a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD); a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e o Protocolo de Kyoto; e a Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade (UNCBD). Todas elas contribuem, em sinergia, para fortalecer o combate à desertificação e preservar a biodiversidade presente nas regiões áridas e semiáridas em todo o planeta. A expectativa é de que a ICID 2010 tenha o mesmo impacto como conferência preparatória em eventos dessa natureza, como a Rio+20.
Texto de Cadija Tissiani, do MMA, publicado pelo EcoDebate, 21/07/2010
Manejar para mitigar >>> Agencia Fapesp
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7/21/2010 05:23:00 AM
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10:10. redução de GEE,
agricultura,
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arco do desmatamento,
Esalq,
manejo sustentavel,
Pantanal; Pecuária Organica
21/7/2010
Agência FAPESP – Evitar o desmatamento continua sendo a melhor estratégia para minimizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em regiões como o Estado de Mato Grosso, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado. Mas o manejo agrícola e o uso adequado do solo também podem contribuir consideravelmente para um futuro com menos emissões.
As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos que, utilizando um modelo biogeoquímico, fizeram uma estimativa dos impactos das emissões de GEE até 2050 em diferentes cenários de desmatamento e de usos do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso.
O estudo, realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade de Brown (Estados Unidos), será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O autor principal do estudo, Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena-USP, é coordenador do Projeto Temático “Impacto ambiental da expansão da agricultura no sudoeste da Amazônia”, apoiado pela FAPESP. Seu filho Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq-USP – o outro brasileiro envolvido no estudo –, concluiu em março o projeto “Modelagem da dinâmica da matéria orgânica do solo na zona de expansão agrícola do sudoeste da Amazônia: base para pesquisas em mudanças climáticas globais”, apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
De acordo com Pellegrino Cerri, o estudo surgiu de uma cooperação entre o grupo brasileiro e o norte-americano e é fruto direto do doutorado de Gillian Galford, primeira autora do artigo e aluna do Departamento de Geologia da Universidade de Brown.
O professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq explica que o desmatamento da vegetação nativa causa uma grande emissão de GEE. Mas, após o desflorestamento, também há emissões, que podem ser maiores ou menores dependendo do uso que for dado ao solo.
“Essas áreas originalmente cobertas por vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens, ou diretamente em áreas agrícolas. Ou podem servir primeiro à pecuária e depois à agricultura. A ideia do trabalho era estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conversão do uso do solo”, disse à Agência FAPESP.
Três GEE foram considerados no trabalho: dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso. Todas as unidades foram expressas em unidades de CO2 equivalente. Com uma abordagem integrada, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE de ecossistemas naturais e de ecossistemas agrícolas após o desmatamento em cenários futuros já utilizados na literatura. As estimativas foram feitas com um modelo biogeoquímico conhecido como Modelo de Ecossistemas Terrestres (TEM, na sigla em inglês).
“Estimamos que as emissões em Mato Grosso possam variar de 2,8 a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substancial – de 24% a 49% – das emissões futuras estimadas no estado. Assim, tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra terão papéis importantes para a cadeia de emissão de GEE. Os dois aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas”, disse.
Segundo Pellegrino Cerri, para validar os dados que seriam obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores partiram de cenários atuais em direção ao passado: foram feitas simulações em retrospectiva de cenários já conhecidos de emissões de GEE. Esse procedimento foi aliado a um extenso trabalho de campo.
“Com isso, pudemos comparar os resultados estimados pelo modelo com as nossas observações de campo. A validação dos dados foi feita com uma avaliação baseada em 12 testes estatísticos. Constatando o bom funcionamento do modelo, pudemos utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro”, explicou.
Após a conversão do uso do solo, se a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com a forma como as práticas agrícolas forem conduzidas. Uma das diferenças mais marcantes pode ser notada entre as produções que utilizam o preparo convencional do solo e as que usam a técnica de plantio direto.
“A técnica de plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não-mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas mudanças, as emissões de GEE são substancialmente menores”, disse.
Um dos problemas do preparo convencional do solo, segundo Pellegrino Cerri, é o uso excessivo de aração e gradagem: procedimentos que revolvem o solo com máquinas, invertendo suas camadas superficiais. Essas técnicas, importadas há muito tempo de países de clima temperado, não precisam ser utilizadas em excesso em regiões tropicais.
“Quando o solo é intensamente revolvido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decomposição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto, isso não ocorre. Em vez de usar o arado e a grade em toda a área plantada, o procedimento consiste em fazer um pequeno sulco apenas no local onde a semente é depositada. Como o solo não é revolvido as emissões se reduzem”, disse.
Remoção e rotação
O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e outros restos vegetais que não são aproveitados na colheita. Esses restos, no entanto, têm grandes porcentagens de carbono em sua composição que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção.
“Quando deixamos a palha no campo, ela vai sendo lentamente utilizada pelos microrganismos, transmitindo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes para o solo. É preciso lembrar que todo o carbono presente nessa palha – equivalente a cerca de 50% de sua composição – foi um dia dióxido de carbono que estava na atmosfera e foi sequestrado pela planta durante a fotossíntese”, disse o professor da Esalq.
A rotação de culturas é o terceiro aspecto que, ausente no preparo convencional do solo, poderia contribuir para reduzir emissões de GEE. Além da questão fitossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a doenças e, portanto, geram maior necessidade de uso de agrotóxicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo.
“Quando as culturas são alternadas periodicamente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo diferente tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, eles vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver uma rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodiversidade local”, explicou.
O artigo Estimating greenhouse gas emissions from land-cover and land-use change: Future scenarios of deforestation and agricultural management (doi: 10.1073/pnas.1000780107), de Carlos Clemente Cerri e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org.
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Evitar o desmatamento continua sendo a melhor estratégia para minimizar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em regiões como o Estado de Mato Grosso, onde a fronteira agrícola avança sobre o Cerrado. Mas o manejo agrícola e o uso adequado do solo também podem contribuir consideravelmente para um futuro com menos emissões.
As conclusões são de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e norte-americanos que, utilizando um modelo biogeoquímico, fizeram uma estimativa dos impactos das emissões de GEE até 2050 em diferentes cenários de desmatamento e de usos do solo na fronteira agrícola de Mato Grosso.
O estudo, realizado por cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade de Brown (Estados Unidos), será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
O autor principal do estudo, Carlos Clemente Cerri, pesquisador do Cena-USP, é coordenador do Projeto Temático “Impacto ambiental da expansão da agricultura no sudoeste da Amazônia”, apoiado pela FAPESP. Seu filho Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Esalq-USP – o outro brasileiro envolvido no estudo –, concluiu em março o projeto “Modelagem da dinâmica da matéria orgânica do solo na zona de expansão agrícola do sudoeste da Amazônia: base para pesquisas em mudanças climáticas globais”, apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
De acordo com Pellegrino Cerri, o estudo surgiu de uma cooperação entre o grupo brasileiro e o norte-americano e é fruto direto do doutorado de Gillian Galford, primeira autora do artigo e aluna do Departamento de Geologia da Universidade de Brown.
O professor do Departamento de Ciência do Solo da Esalq explica que o desmatamento da vegetação nativa causa uma grande emissão de GEE. Mas, após o desflorestamento, também há emissões, que podem ser maiores ou menores dependendo do uso que for dado ao solo.
“Essas áreas originalmente cobertas por vegetação nativa podem ser convertidas em pastagens, ou diretamente em áreas agrícolas. Ou podem servir primeiro à pecuária e depois à agricultura. A ideia do trabalho era estimar as emissões de GEE considerando cenários com diferentes tipos de conversão do uso do solo”, disse à Agência FAPESP.
Três GEE foram considerados no trabalho: dióxido de carbono (CO2), metano e óxido nitroso. Todas as unidades foram expressas em unidades de CO2 equivalente. Com uma abordagem integrada, os cientistas estimaram a dinâmica dos GEE de ecossistemas naturais e de ecossistemas agrícolas após o desmatamento em cenários futuros já utilizados na literatura. As estimativas foram feitas com um modelo biogeoquímico conhecido como Modelo de Ecossistemas Terrestres (TEM, na sigla em inglês).
“Estimamos que as emissões em Mato Grosso possam variar de 2,8 a 15,9 petagramas de CO2-equivalente até 2050. O desmatamento é a maior fonte de GEE nesse período, mas os usos posteriores da terra correspondem a uma parcela substancial – de 24% a 49% – das emissões futuras estimadas no estado. Assim, tanto o desmatamento como o futuro manejo do uso da terra terão papéis importantes para a cadeia de emissão de GEE. Os dois aspectos devem ser considerados na hora de traçar estratégias e políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas”, disse.
Segundo Pellegrino Cerri, para validar os dados que seriam obtidos com o modelo TEM, os pesquisadores partiram de cenários atuais em direção ao passado: foram feitas simulações em retrospectiva de cenários já conhecidos de emissões de GEE. Esse procedimento foi aliado a um extenso trabalho de campo.
“Com isso, pudemos comparar os resultados estimados pelo modelo com as nossas observações de campo. A validação dos dados foi feita com uma avaliação baseada em 12 testes estatísticos. Constatando o bom funcionamento do modelo, pudemos utilizá-lo para estimar as emissões de GEE no futuro”, explicou.
Após a conversão do uso do solo, se a área for utilizada para agricultura, as emissões de GEE podem variar muito de acordo com a forma como as práticas agrícolas forem conduzidas. Uma das diferenças mais marcantes pode ser notada entre as produções que utilizam o preparo convencional do solo e as que usam a técnica de plantio direto.
“A técnica de plantio direto muda completamente a concepção da prática agrícola com base em um tripé: a não-mobilização do solo em área total, a manutenção da palha na superfície do solo e a rotação de culturas. Com essas mudanças, as emissões de GEE são substancialmente menores”, disse.
Um dos problemas do preparo convencional do solo, segundo Pellegrino Cerri, é o uso excessivo de aração e gradagem: procedimentos que revolvem o solo com máquinas, invertendo suas camadas superficiais. Essas técnicas, importadas há muito tempo de países de clima temperado, não precisam ser utilizadas em excesso em regiões tropicais.
“Quando o solo é intensamente revolvido, ele é oxigenado e a matéria orgânica fresca fica exposta. Isso acelera a decomposição desse material pelos microrganismos do solo e provoca muitas emissões de GEE. No plantio direto, isso não ocorre. Em vez de usar o arado e a grade em toda a área plantada, o procedimento consiste em fazer um pequeno sulco apenas no local onde a semente é depositada. Como o solo não é revolvido as emissões se reduzem”, disse.
Remoção e rotação
O segundo aspecto da técnica agrícola convencional é a remoção da palha e outros restos vegetais que não são aproveitados na colheita. Esses restos, no entanto, têm grandes porcentagens de carbono em sua composição que, em vez de poluir a atmosfera, podem enriquecer o solo e beneficiar a produção.
“Quando deixamos a palha no campo, ela vai sendo lentamente utilizada pelos microrganismos, transmitindo carbono, nitrogênio, fósforo e outros nutrientes para o solo. É preciso lembrar que todo o carbono presente nessa palha – equivalente a cerca de 50% de sua composição – foi um dia dióxido de carbono que estava na atmosfera e foi sequestrado pela planta durante a fotossíntese”, disse o professor da Esalq.
A rotação de culturas é o terceiro aspecto que, ausente no preparo convencional do solo, poderia contribuir para reduzir emissões de GEE. Além da questão fitossanitária envolvida – as monoculturas são mais suscetíveis a doenças e, portanto, geram maior necessidade de uso de agrotóxicos – a rotação de culturas proporciona o acúmulo de diferentes tipos de palha sobre o solo.
“Quando as culturas são alternadas periodicamente, os restos orgânicos que ficam no solo também variam. Cada microrganismo diferente tem preferência por determinado tipo de material orgânico. Se os restos orgânicos forem sempre provenientes das mesmas plantas, eles vão atender um grupo específico de microrganismos. Se houver uma rotação de culturas, a superposição de palhas de vários tipos também aumentará a biodiversidade local”, explicou.
O artigo Estimating greenhouse gas emissions from land-cover and land-use change: Future scenarios of deforestation and agricultural management (doi: 10.1073/pnas.1000780107), de Carlos Clemente Cerri e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da PNAS em www.pnas.org.
O valor estratégico do selo "Made In Brazil"
por Laércio Bruno Filho
Na economia de baixo-carbono os produtos brasileiros já arrancam com uma enorme vantagem comparativa sobre seus concorrentes. Veja a razão. No final do ano passado, o Brasil anunciou metas para reduzir as emissões dos gases efeito estufa (gee) entre 36% e 39 %, tendo como base as emissões apontadas no inventario nacional a ser concluído em 2010, até o ano limite de 2020. Semanas atrás o governo divulgou noticia de que em breve haverá o desdobramento pragmático destas metas sendo que alguns setores da economia receberão tetos para emissão de gee.Ou seja, já se vislumbra o controle nacional das emissões de carbono via estabelecimento de limites setoriais. Primeiros os setores da economia e depois empresas deverão receber limites de emissões a serem cumpridos.
Naturalmente todo este cenário pressupõe a operacionalização de um sofisticado e inovador mecanismo de mercado dotado de instrumentos econômicos, jurídicos e tributários que proporcione, sobretudo, parâmetros confiáveis e seguros para as operações mercantis que ocorrerão. Tanto para compradores nacionais quanto internacionais.
Será o Mercado Voluntário Brasileiro com operações comerciais de créditos de carbono “intra” e “entre” as empresas nacionais e multinacionais. É esperado que haja uma dinâmica de negócios similar ao sistema europeu,o EU- ETS, de forma a agilizar o cumprimento das metas e motivar o aspecto econômico-financeiro de mercado.
Sistema Europeu
No sistema europeu as nações recebem cotas de emissões que são desdobradas em metas entre alguns segmentos da economia como produção de cimento, geração de energia ou o setor de transportes, apenas para citar alguns. Quando estes limites pré-estabelecidos não são cumpridos, há a possibilidade de complementá-las com a aquisição de créditos de carbono para a compensação do limite excedido.
Na prática, as corporações que ultrapassam seus limites de emissão podem adquirir créditos de carbono gerados em outros países, como o Brasil, Índia ou China, e assim cumprirem suas metas. Outra possibilidade são empresas que em posição “superavitária” em relação às suas metas, podem ofertar seu excedente de carbono ao mercado.
Importante enfatizar que este mecanismo favorece o planeta, reduzindo sim as emissões globais dos gee e gera divisas aos países geradores dos créditos de carbono. O Brasil já exportou quase U$ 500 milhões em créditos de carbono.
Economia de baixo carbono
Já está se falando hoje, que os países estabelecerão barreiras alfandegárias protecionistas relacionadas às emissões de carbono. Mecanismos de gestão e controle passarão a avaliar a intensidade de carbono emitido durante os processos produtivos dos bens. Sobretudo o quesito ambiental será o mais exigido por conta dos resultados nefastos que provoca no clima e por consequência os prejuízos generalizados as economias.
Indicadores que controlam a quantidade de toneladas de carbono emitidas por tonelada produzida passarão a ser os “Indicadores Críticos de Performance”.
Quanto maior for a quantidade de carbono emitida por tonelada produzida mais sobretaxado será o bem produzido.
A “pegada ambiental” representará um indicador de competitividade. Pegada ambiental significa o impacto negativo imposto à biodiversidade para se produzir determinado produto ou serviço. Quanto mais “pesada” a pegada ambiental, menor valor e menos competitividade terá o item produzido.
Mais carbono emitido, mais valor destruído. Na economia de baixo carbono a quantidade de emissões de gee se tornará fator crítico para o sucesso das empresas, setores e países.
Porque será mandatório
Viver em uma sociedade de baixo-carbono já está se tornando uma exigência nos países mais desenvolvidos. Europa e Escandinávia discutem como sobretaxar suas emissões e as respectivas populações diariamente são provocadas por campanhas de conscientização fazendo alusão ao tema. E a tendência é que este comportamento estenda-se por todo o planeta.
Hoje a maioria da comunidade científica e parte da sociedade converge para a opinião de que catástrofes climáticas são decorrentes das ações do homem e, portanto ele é o responsável pelo aquecimento do planeta. É corrente encontrar afirmações de que quanto maior o aquecimento global, piores serão as conseqüências climáticas. E ninguém em sã consciência deseja contribuir para isto.
Além disso, os países ricos não desejam continuar reféns dos combustíveis fósseis e seus derivados, cujos produtores encontram-se majoritamente localizado em regiões politicamente instáveis, com alto risco de cartelização e pressão constante para elevação de preço. Os países desenvolvidos procuram ser menos carbono-intensivos penalizando o uso do combustível fóssil e promovendo energias alternativas, mais limpas.
Vantagem comparativa
No Brasil, a matriz energética de origem hidrológica é limpa e renovável em sua maior parte. As emissões de gases de efeito estufa decorrentes para produção de energia são baixas quando comparadas a maioria dos outros países.
Adicione-se a questão da matriz energética o modelo do etanol brasileiro. Parte significativa da frota nacional opera com um combustível renovável, que emite pouco carbono, considerado o balanço entre produção e uso. Além disso, existe a co-geração de energia que é gerada pela queima do bagaço e responde por 12,6 % de toda a energia gerada no país (balanço energético 2009).
A questão das florestas vem complementar. A extensa área florestal representa um gigantesco sumidouro de dióxido de carbono além de estocar bilhões de toneladas de carbono em suas árvores. No contexto global, o Brasil está classificado como o quarto grande emissor de gases de efeito estufa, mas isto acontece por conta do desmatamento e queimadas para produção agropecuária. E há de se convir que controlar emissões por desmatamento e queimada não é tão crítico quanto controlar emissões para geração de energia, como nos países europeus e asiáticos.
Na Ásia, Europa e América do Norte, a geração da energia é primordialmente baseada no combustível fóssil. Estabelecer controle sobre as emissões de carbono significa impacto direto no crescimento econômico e entre outros aspectos, no conforto do cidadão, pois boa parte da energia gerada serve para aquecer residências e prédios durante os invernos. Daí a polêmica em como controlar as emissões e em que patamares as reduções seriam aceitáveis. Sob este contexto a gestão do carbono tomou proporções muito maiores e mais complexas para estes países.
Competitividade Intrínseca
É nesta conjuntura global que os produtos brasileiros competem e já partem com um grande diferencial competitivo original, intrínseco. Feitos os cálculos apresentam baixa intensidade de carbono, podendo reduzir ainda mais com as metas assumidas pelo governo. Vale lembrar que hoje o principal direcionador de valor, no mundo todo, ainda é preço, uma vez que a questão da qualidade está praticamente nivelada.
Mas isto está começando a mudar. Os aspectos socioambientais estão ganhando espaço e cada vez mais serão considerados como os “verdadeiros diferenciais” no momento da escolha e aquisição de um determinado item pelo cidadão-consumidor.
É o momento de se pensar num grande inventário da biodiversidade em nível internacional. Reconhecido e chancelado pela comunidade cientifica, classificando a competitividade dos países pela pegada ambiental gerada na produção de seu PIB e pela preservação de seus estoques de recursos naturais.
Agora é o momento adequado para criação do selo “Made in Brazil”.
Amazônia: Segundo novo estudo, tempestade em 2005 causou a morte de meio bilhão de árvores >>> American Geophysical Union // IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.//Ecodebate
Uma única, enorme e violenta tempestade que varreu toda a floresta Amazônica em 2005 causou a morte de meio bilhão de árvores, diz novo estudo. Esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro da Amazônia devido às mudanças climáticas, matando um número maior de árvores e liberando mais carbono na atmosfera.
Enquanto as tempestades têm sido reconhecidas como uma causa da perda de árvores da Amazônia, este estudo é o primeiro a produzir uma contagem real de árvores. E os prejuízos são muito maiores do que previstos anteriormente, dizem os autores do estudo. Isto sugere que as tempestades podem desempenhar um papel mais importante na dinâmica da floresta amazônica do que se achava.
Uma pesquisa anterior havia atribuído um pico na mortalidade de árvores em 2005 a apenas uma grave seca que afetou partes da floresta. O novo estudo diz que uma única linha de instabilidade (uma longa linha de tempestades severas, do tipo raios e chuvas fortes associadas) teve um papel importante na perda de árvores. Esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro da Amazônia devido às mudanças climáticas, matando um número maior de árvores e liberando mais carbono na atmosfera.
Tempestades tropicais têm sido suspeitas de causar devastação na Amazônia, mas esta é a primeira vez que pesquisadores calcularam quantas árvores uma só tempestade pode matar, diz Jeffrey Chambers, ecólogo florestal da Universidade de Tulane, em New Orleans, e um dos autores do estudo. O texto foi publicado no Geophysical Research Letters do jornal da American Geophysical Union (AGU).
Em 2005, houve um aumento na mortalidade de árvores na Amazônia. Os estudos precedentes por um co-autor deste novo trabalho, Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou o segundo maior aumento registrado desde 1989 para a região de Manaus. Também em 2005, grandes partes da floresta Amazônica viveram uma das mais severas secas no século passado. Um estudo publicado na revista Science em 2009 apontou a seca como único agente do aumento da mortalidade de árvores em toda a Bacia Amazônica. Mas uma área grande perto de Manaus, com perda significativa de árvores, não foi afetada pela seca.
“Nós não podemos atribuir [o aumento] da mortalidade de árvores em algumas partes da bacia à seca, apenas. Temos evidências sólidas de que houve uma forte tempestade que matou muitas árvores em uma grande parte da Amazônia”, diz Chambers.
De 16 a 18 de janeiro de 2005, uma linha de instabilidade de 1.000 quilômetros de comprimento e 200 km de largura atravessou a Bacia Amazônica inteira, de sudoeste para nordeste, causando várias mortes nas cidades de Manaus, Santarém e Manacaparu . A tempestade, junto com fortes ventos de velocidades de até 145 km/h, arrancou ou partiu ao meio as árvores que estavam em seu caminho. Em muitos casos, as árvores atingidas derrubaram alguns de seus vizinhos quando elas caíram.
Os pesquisadores usaram uma combinação de imagens de satélite Landsat, contagem em campo da mortalidade de árvores e modelagem para determinar o número de árvores mortas pelo furacão. Ao vincular dados de satélite com observações de campo, os pesquisadores foram capazes de levar em conta pequenas destruições de árvores (menos de 10 árvores) que, de outra forma, não poderiam ser detectadas através de imagens de satélite.
Olhando Manaus pelas imagens de satélite de antes e depois da tempestade, os pesquisadores detectaram mudanças na refletividade da floresta e suspeitam que esse seja um indicativo de perda de árvores. Partes intocadas de floresta aparecem como cobertura verde, fechada, nas imagens de satélite. Quando as árvores morrem e caem, uma clareira se abre expondo a madeira, vegetação morta, lixo e de superfície. O chamado “sinal woody” dura apenas cerca de um ano na Amazônia, o tempo que leva para a vegetação crescer e cobrir a madeira exposta e o solo. Assim, o sinal é um bom indicador de mortes recentes de árvores.
Depois de ver as imagens de satélite, pesquisadores estabeleceram cinco extensões de campo em uma das áreas afetadas, contando o número de árvores que haviam sido mortas pela tempestade – pesquisadores podem geralmente dizer o que matou uma árvore apenas olhando para ela.
“Se uma árvore morre de uma seca, ela geralmente morre de pé. São muito diferentes das árvores que morrem arrancadas por uma tempestade”, diz Chambers.
Nas parcelas mais afetadas, próximas aos centros de grandes descargas de pressão, até 80% das árvores tinham sido mortas pela tempestade.
Ao comparar os dados do campo com as imagens de satélite, os pesquisadores determinaram que era possível identificar nas imagens de satélite as áreas de perda de árvores, e calcularam que a tempestade causou a morte de 300 mil a 500 mil árvores na área de Manaus. O número de árvores mortas pelo furacão de 2005 equivale a 30% do desmatamento anual, no mesmo ano para a região de Manaus, que experimenta taxas relativamente baixas de desmatamento.
“Nós sabemos que a tempestade foi intensa e foi por toda a bacia”, diz Chambers. “Para quantificar o impacto potencial à escala da bacia, assumimos que toda a área impactada pela tempestade tinha um nível de mortalidade de árvores como a mortalidade observada em Manaus.”
Os pesquisadores estimam que entre 441 e 663 milhões de árvores foram destruídas em toda a bacia. Isso representa uma perda equivalente a 23% da média anual estimada de acúmulo de carbono na floresta amazônica.
As linhas de instabilidade que se deslocam do sudoeste ao nordeste da floresta, como a de janeiro de 2005, são relativamente raras e pouco estudadas, diz Robinson Negrón Juárez, cientista atmosférico da Universidade de Tulane, em New Orleans, e principal autor do estudo. Tempestades que são igualmente destrutivas, mas avançam na direção oposta (desde a costa nordeste da América do Sul para o interior do continente)e podem ocorrer até quatro vezes por mês. Elas também podem gerar descargas de grande pressão floresta, embora seja raro que um desses dois tipos de tempestades possam atravessar toda a Amazônia.
“Precisamos começar a medir a perturbação florestal causada por dois tipos de linhas de instabilidade, não só por aquelas que vêm do sul”, diz Negrón Juárez. “Nós precisamos dos dados para estimar a perda de biomassa total destes eventos naturais, que nunca foi quantificado.”
Chambers diz que autores de estudos anteriores sobre a mortalidade de árvores na Amazônia, colheram cuidadosamente a quantidade de árvores mortas, mas as informações sobre o que as matou é muitas vezes inexistente ou não relatadas.
“Quando coletamos dados no campo, é muito importante a realização de estudos para a verificação da causa da mortalidade das árvores”, diz Chambers, que vem estudando a ecologia da floresta e ciclo do carbono na Amazônia desde 1993. “Com as alterações climáticas, algumas previsões dizem que as tempestades vão aumentar em intensidade. Se começarmos a ver os aumentos da mortalidade de árvores, precisamos ser capazes de dizer o que está causando suas mortes”.
Este trabalho foi financiado pela NASA e da Universidade de Tulane. Link original: http://www.agu.org/news/press/pr_archives/2010/2010-17.shtml
]
Informe da American Geophysical Union, socializada pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
EcoDebate, 14/07/2010
Enquanto as tempestades têm sido reconhecidas como uma causa da perda de árvores da Amazônia, este estudo é o primeiro a produzir uma contagem real de árvores. E os prejuízos são muito maiores do que previstos anteriormente, dizem os autores do estudo. Isto sugere que as tempestades podem desempenhar um papel mais importante na dinâmica da floresta amazônica do que se achava.
Uma pesquisa anterior havia atribuído um pico na mortalidade de árvores em 2005 a apenas uma grave seca que afetou partes da floresta. O novo estudo diz que uma única linha de instabilidade (uma longa linha de tempestades severas, do tipo raios e chuvas fortes associadas) teve um papel importante na perda de árvores. Esse tipo de tempestade pode se tornar mais freqüente no futuro da Amazônia devido às mudanças climáticas, matando um número maior de árvores e liberando mais carbono na atmosfera.
Tempestades tropicais têm sido suspeitas de causar devastação na Amazônia, mas esta é a primeira vez que pesquisadores calcularam quantas árvores uma só tempestade pode matar, diz Jeffrey Chambers, ecólogo florestal da Universidade de Tulane, em New Orleans, e um dos autores do estudo. O texto foi publicado no Geophysical Research Letters do jornal da American Geophysical Union (AGU).
Em 2005, houve um aumento na mortalidade de árvores na Amazônia. Os estudos precedentes por um co-autor deste novo trabalho, Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou o segundo maior aumento registrado desde 1989 para a região de Manaus. Também em 2005, grandes partes da floresta Amazônica viveram uma das mais severas secas no século passado. Um estudo publicado na revista Science em 2009 apontou a seca como único agente do aumento da mortalidade de árvores em toda a Bacia Amazônica. Mas uma área grande perto de Manaus, com perda significativa de árvores, não foi afetada pela seca.
“Nós não podemos atribuir [o aumento] da mortalidade de árvores em algumas partes da bacia à seca, apenas. Temos evidências sólidas de que houve uma forte tempestade que matou muitas árvores em uma grande parte da Amazônia”, diz Chambers.
De 16 a 18 de janeiro de 2005, uma linha de instabilidade de 1.000 quilômetros de comprimento e 200 km de largura atravessou a Bacia Amazônica inteira, de sudoeste para nordeste, causando várias mortes nas cidades de Manaus, Santarém e Manacaparu . A tempestade, junto com fortes ventos de velocidades de até 145 km/h, arrancou ou partiu ao meio as árvores que estavam em seu caminho. Em muitos casos, as árvores atingidas derrubaram alguns de seus vizinhos quando elas caíram.
Os pesquisadores usaram uma combinação de imagens de satélite Landsat, contagem em campo da mortalidade de árvores e modelagem para determinar o número de árvores mortas pelo furacão. Ao vincular dados de satélite com observações de campo, os pesquisadores foram capazes de levar em conta pequenas destruições de árvores (menos de 10 árvores) que, de outra forma, não poderiam ser detectadas através de imagens de satélite.
Olhando Manaus pelas imagens de satélite de antes e depois da tempestade, os pesquisadores detectaram mudanças na refletividade da floresta e suspeitam que esse seja um indicativo de perda de árvores. Partes intocadas de floresta aparecem como cobertura verde, fechada, nas imagens de satélite. Quando as árvores morrem e caem, uma clareira se abre expondo a madeira, vegetação morta, lixo e de superfície. O chamado “sinal woody” dura apenas cerca de um ano na Amazônia, o tempo que leva para a vegetação crescer e cobrir a madeira exposta e o solo. Assim, o sinal é um bom indicador de mortes recentes de árvores.
Depois de ver as imagens de satélite, pesquisadores estabeleceram cinco extensões de campo em uma das áreas afetadas, contando o número de árvores que haviam sido mortas pela tempestade – pesquisadores podem geralmente dizer o que matou uma árvore apenas olhando para ela.
“Se uma árvore morre de uma seca, ela geralmente morre de pé. São muito diferentes das árvores que morrem arrancadas por uma tempestade”, diz Chambers.
Nas parcelas mais afetadas, próximas aos centros de grandes descargas de pressão, até 80% das árvores tinham sido mortas pela tempestade.
Ao comparar os dados do campo com as imagens de satélite, os pesquisadores determinaram que era possível identificar nas imagens de satélite as áreas de perda de árvores, e calcularam que a tempestade causou a morte de 300 mil a 500 mil árvores na área de Manaus. O número de árvores mortas pelo furacão de 2005 equivale a 30% do desmatamento anual, no mesmo ano para a região de Manaus, que experimenta taxas relativamente baixas de desmatamento.
“Nós sabemos que a tempestade foi intensa e foi por toda a bacia”, diz Chambers. “Para quantificar o impacto potencial à escala da bacia, assumimos que toda a área impactada pela tempestade tinha um nível de mortalidade de árvores como a mortalidade observada em Manaus.”
Os pesquisadores estimam que entre 441 e 663 milhões de árvores foram destruídas em toda a bacia. Isso representa uma perda equivalente a 23% da média anual estimada de acúmulo de carbono na floresta amazônica.
As linhas de instabilidade que se deslocam do sudoeste ao nordeste da floresta, como a de janeiro de 2005, são relativamente raras e pouco estudadas, diz Robinson Negrón Juárez, cientista atmosférico da Universidade de Tulane, em New Orleans, e principal autor do estudo. Tempestades que são igualmente destrutivas, mas avançam na direção oposta (desde a costa nordeste da América do Sul para o interior do continente)e podem ocorrer até quatro vezes por mês. Elas também podem gerar descargas de grande pressão floresta, embora seja raro que um desses dois tipos de tempestades possam atravessar toda a Amazônia.
“Precisamos começar a medir a perturbação florestal causada por dois tipos de linhas de instabilidade, não só por aquelas que vêm do sul”, diz Negrón Juárez. “Nós precisamos dos dados para estimar a perda de biomassa total destes eventos naturais, que nunca foi quantificado.”
Chambers diz que autores de estudos anteriores sobre a mortalidade de árvores na Amazônia, colheram cuidadosamente a quantidade de árvores mortas, mas as informações sobre o que as matou é muitas vezes inexistente ou não relatadas.
“Quando coletamos dados no campo, é muito importante a realização de estudos para a verificação da causa da mortalidade das árvores”, diz Chambers, que vem estudando a ecologia da floresta e ciclo do carbono na Amazônia desde 1993. “Com as alterações climáticas, algumas previsões dizem que as tempestades vão aumentar em intensidade. Se começarmos a ver os aumentos da mortalidade de árvores, precisamos ser capazes de dizer o que está causando suas mortes”.
Este trabalho foi financiado pela NASA e da Universidade de Tulane. Link original: http://www.agu.org/news/press/pr_archives/2010/2010-17.shtml
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Informe da American Geophysical Union, socializada pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
EcoDebate, 14/07/2010
Florestas tropicais são maiores "máquinas" de absorver CO2 >>> Folha SP
Bioma responde por um terço da fotossíntese feita no planeta
As florestas tropicais, como a Amazônia, são as máquinas de fotossíntese mais eficientes do planeta. Um novo estudo internacional mostra que elas absorvem um terço de todo o gás carbônico que é retirado da atmosfera pelas plantas a cada ano.
Pela primeira vez, cientistas calcularam a absorção global de CO2 pela vegetação terrestre: são 123 bilhões de toneladas do gás por ano.
"É o dobro da quantidade de CO2 que os oceanos absorvem", diz Christian Beer, do Instituto Max Planck para Bioquímica, na Alemanha. Ele é coautor do estudo, publicado na revista "Science".
Selvas tropicais respondem por 34% da captura. As savanas, por 26%, apesar de ocuparem o dobro da área.
Um outro estudo, publicado na mesma edição da "Science", mostrou que a temperatura influencia pouco na quantidade de carbono exalado pelas plantas quando elas respiram.
Havia temores de que o aquecimento global pudesse acelerar as taxas de respiração, fazendo com que florestas se convertessem de "ralos" em fontes do gás -agravando mais o problema.
Juntos, esses dados devem ajudar a melhorar os modelos climáticos, que dependem do conhecimento preciso do fluxo de carbono entre plantas, atmosfera, oceanos e fontes humanas do gás.
O trabalho de Beer também ressalta a importância das florestas secundárias na Amazônia como "ralos" para o CO2 em excesso despejado no ar por seres humanos.
Isso porque, apesar de absorverem muito carbono por fotossíntese, as florestas tropicais devolvem outro tanto ao ar quando respiram.
Florestas em regeneração, por outro lado, fixam muito mais carbono do que exalam.
O estudo usou dados de uma rede internacional, a Fluxnet, que reúne centenas de torres que servem como postos de observação pelo mundo, analisando os fluxos de CO2 na vegetação ao redor.
No Brasil há quase uma dezena de torres de fluxo, a maior parte delas instaladas na Amazônia.
"Mas ainda sabemos pouco, por exemplo, sobre pontos de transição abrupta ligados ao clima, como florestas em savanização", diz o biólogo Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. "E ainda existem ambientes pouco mapeados, como pântanos e brejos."
(Folha de SP, 9/7)
As florestas tropicais, como a Amazônia, são as máquinas de fotossíntese mais eficientes do planeta. Um novo estudo internacional mostra que elas absorvem um terço de todo o gás carbônico que é retirado da atmosfera pelas plantas a cada ano.
Pela primeira vez, cientistas calcularam a absorção global de CO2 pela vegetação terrestre: são 123 bilhões de toneladas do gás por ano.
"É o dobro da quantidade de CO2 que os oceanos absorvem", diz Christian Beer, do Instituto Max Planck para Bioquímica, na Alemanha. Ele é coautor do estudo, publicado na revista "Science".
Selvas tropicais respondem por 34% da captura. As savanas, por 26%, apesar de ocuparem o dobro da área.
Um outro estudo, publicado na mesma edição da "Science", mostrou que a temperatura influencia pouco na quantidade de carbono exalado pelas plantas quando elas respiram.
Havia temores de que o aquecimento global pudesse acelerar as taxas de respiração, fazendo com que florestas se convertessem de "ralos" em fontes do gás -agravando mais o problema.
Juntos, esses dados devem ajudar a melhorar os modelos climáticos, que dependem do conhecimento preciso do fluxo de carbono entre plantas, atmosfera, oceanos e fontes humanas do gás.
O trabalho de Beer também ressalta a importância das florestas secundárias na Amazônia como "ralos" para o CO2 em excesso despejado no ar por seres humanos.
Isso porque, apesar de absorverem muito carbono por fotossíntese, as florestas tropicais devolvem outro tanto ao ar quando respiram.
Florestas em regeneração, por outro lado, fixam muito mais carbono do que exalam.
O estudo usou dados de uma rede internacional, a Fluxnet, que reúne centenas de torres que servem como postos de observação pelo mundo, analisando os fluxos de CO2 na vegetação ao redor.
No Brasil há quase uma dezena de torres de fluxo, a maior parte delas instaladas na Amazônia.
"Mas ainda sabemos pouco, por exemplo, sobre pontos de transição abrupta ligados ao clima, como florestas em savanização", diz o biólogo Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. "E ainda existem ambientes pouco mapeados, como pântanos e brejos."
(Folha de SP, 9/7)
Inpe abre centro na Amazônia >>> Agencia Fapesp
2/7/2010
Agência FAPESP – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) inaugurou nesta quinta-feira (1º/7) as instalações de seu Centro Regional da Amazônia (CRA), que fará parte do Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em Belém (PA).
O CRA-Inpe, que vinha operando desde 2009 nas instalações da unidade Amazônia Oriental da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), capacitará técnicos de outros países no monitoramento de florestas tropicais por satélite, trabalho que o instituto realiza há 20 anos na região.
A capacitação internacional será possível graças a um acordo entre o Inpe, a Agência Brasileira de Cooperação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e a Agência de Cooperação Internacional do Japão.
Além da formalização do acordo, a cerimônia de inauguração da sede do CRA contou com o lançamento da parceria entre o Inpe e o Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês), da França, que permitirá a distribuição de imagens do satélite SPOT (Satélite para observação da terra, na sigla em francês) para pesquisas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil
Mais informações: http://www.inpe.br/
Agência FAPESP – O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) inaugurou nesta quinta-feira (1º/7) as instalações de seu Centro Regional da Amazônia (CRA), que fará parte do Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, em Belém (PA).
O CRA-Inpe, que vinha operando desde 2009 nas instalações da unidade Amazônia Oriental da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), capacitará técnicos de outros países no monitoramento de florestas tropicais por satélite, trabalho que o instituto realiza há 20 anos na região.
A capacitação internacional será possível graças a um acordo entre o Inpe, a Agência Brasileira de Cooperação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e a Agência de Cooperação Internacional do Japão.
Além da formalização do acordo, a cerimônia de inauguração da sede do CRA contou com o lançamento da parceria entre o Inpe e o Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD, na sigla em francês), da França, que permitirá a distribuição de imagens do satélite SPOT (Satélite para observação da terra, na sigla em francês) para pesquisas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil
Mais informações: http://www.inpe.br/
Vulnerabilidades na mira >>> FAPESP

16/6/2010
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Caso siga o padrão de expansão apresentado na última década, a mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo terá o dobro do tamanho em 2030, com aumento dos riscos de enchentes e deslizamentos. A maior parte da expansão urbana deverá ocorrer exatamente nas áreas mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas e a maior parte dos impactos será sofrida pelos mais pobres.Essas são algumas das conclusões do relatório Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo, apresentado nesta terça-feira (15/6) na capital paulista em um debate promovido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo jornal Folha de S. Paulo.
O estudo, que faz projeções climáticas para os próximos 20 anos e cenários futuros entre 2070 e 2100, formou a primeira base para a produção de mapas qualitativos de riscos de deslizamentos, enchentes e riscos sobre a saúde na região, indicando espacialmente as vulnerabilidades frente aos efeitos do aquecimento global.
Os dados do relatório mostram que uma elevação média na temperatura da região metropolitana de 2 ºC a 3 ºC poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas na capital paulista. Segundo a projeção, o número de dias e noites quentes deverá aumentar, com diminuição no número de dias e noites frios. Mais de 20% da área total da expansão urbana da região metropolitana estará vulnerável em 2030. Cerca de 11% das novas ocupações poderão ser feitas em áreas de risco de deslizamento.
Participaram do estudo pesquisadores do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do Inpe, do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O relatório foi apresentado por Carlos Afonso Nobre, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Inpe, que participou, em seguida, de debate sobre o estudo com o vereador Gilberto Natalini, o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge, e o ex-secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas e Biodiversidade, Fábio Feldmann.
De acordo com Nobre, o estudo é o primeiro resultado de uma linha de projetos interdisciplinares que tem apoio do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), do qual é coordenador, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas e da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima).
O estudo seguiu um formato inovador. Depois de uma primeira consulta com especialistas e gestores sobre o conceito de vulnerabilidade, foram realizados em 2009 dois painéis que reuniram equipe técnica, gestores e especialistas do Brasil e do exterior para discutir as vulnerabilidade das duas principais megacidades brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro – às mudanças climáticas globais. O painel paulista foi realizado na FAPESP.
“A cidade de São Paulo já está apresentando mudanças climáticas gigantescas nos últimos 50 anos. Além dos impactos da mudança climática global, a cidade também tem uma modificação suplementar “, disse Nobre.
Medições no bairro da Saúde, por exemplo, mostraram aumento de 2,1 ºC desde a década de 1930. As chuvas aumentaram em mais de 20%, chegando a 295 milímetros, e a diminuição da umidade relativa do ar chegou a 7%. O fenômeno das ilhas de calor também foi marcante na capital paulista: foram registradas diferenças de até 7 ºC entre áreas do centro e da periferia.
“Se em 1930 as chuvas muito intensas, de 50 milímetros, eram eventos que ocorriam anualmente, agora elas acontecem quatro vezes por ano em média”, disse Nobre.
Para construir os cenários, os pesquisadores aplicaram um modelo de projeção de mancha urbana associado ao modelo conhecido como Hand, que permitiu identificar as possíveis áreas que teriam ocupação urbana no futuro e qual o risco potencial, caso o padrão de uso e ocupação do solo atual se perpetue sem nenhuma alteração e controle.
“A vulnerabilidade tem três componentes principais: chuva, declividade e uso do solo. Se uma região de média declividade for coberta por vegetação, o risco é pequeno. Mas se essa mesma região é ocupada por uma favela, ou um lixão, com drenagem muito precária, o risco pode ser altíssimo”, disse Nobre.
Segundo o relatório, hoje cerca de 30% da população da região metropolitana de São Paulo, ou aproximadamente 2,7 milhões de pessoas, vive em comunidades, cortiços e habitações precárias, muitas vezes ilegais.
Concentrações significativas de áreas de risco de escorregamentos estão presentes na Zona Sul da capital paulista (Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira, Cidade Dutra, Jardim Ângela, Capão Redondo e Campo Limpo). Nessa região, estão concentradas mais de 50% das favelas em São Paulo.
Nas demais regiões, as áreas de risco localizam-se na Zona Oeste (Butantã e Jaguaré), na Zona Norte (Perus, Pirituba, Jaraguá, Brasilândia, Freguesia do Ó e Tremembé) e na Zona Leste (Sapopemba, São Mateus, Aricanduva, Vila Formosa, Vila Prudente e Itaquera).
Não repetir erros
O estudo dividiu as vulnerabilidades em diversas categorias, definindo os principais cenários de risco, como enchentes e inundações, enxurradas com alto potencial de arraste, alagamentos em diferentes pontos, lixo lançado nos cursos d’água, escorregamentos de massa em encostas e eventos pluviométricos mais severos. O trabalho avaliou também os diversos impactos das mudanças climáticas sobre a saúde humana.
“Os impactos das enchentes e inundações, por exemplo, deverão atingir habitações, atividades industriais, comerciais e o sistema de transporte urbano e rodoviário, com contribuição da expansão das vias em áreas de várzea para atender ao crescimento da demanda de tráfego”, disse Nobre.
Os impactos sobre a saúde incluem aumento de incidência de alergias – como rinite e asma – e da intensidade e duração dos sintomas por causa da poluição atmosférica. “Utilizando modelos com dois parâmetros – poluição e temperatura –, observou-se que esses fatores explicam 80% dos casos dos picos de internações por doenças das vias respiratórias inferiores”, afirmou.
Segundo Nobre, embora não tenha sido seu objetivo principal, o relatório também aponta medidas de adaptação que as cidades da região metropolitana terão que buscar.
"Uma das recomendações mais importantes é não repetir os erros do passado quanto aos padrões de expansão urbana", disse Nobre. De acordo com o estudo, será preciso aumentar os investimentos em pesquisas voltadas para modelagem do clima, assim como na elaboração de modelos hidrológicos que permitam ações preventivas. Haverá ainda necessidade de investir em transportes coletivos e de criar áreas de proteção ambiental nas áreas de várzeas de rios.
Segundo Natalini, a votação da Lei de Mudanças Climáticas de São Paulo demonstra que a Câmara Municipal da cidade está empenhada em discutir o tema e em contribuir para as adaptações necessárias na cidade. “O problema é muito grave e o desafio de São Paulo é imenso, porque a cidade, em geral, não teve qualquer planejamento durante sua fase de maior expansão”, disse.
Jorge afirmou que, embora o tema das mudanças climáticas venha sendo mais comentado atualmente, é necessário agora encarar de frente o tema das adaptações. “A cidade de São Paulo está descobrindo que essa não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica e social. Estamos começando a perceber agora que as mudanças climáticas precisam ser tratadas como um tema transversal, em todas as esferas de governo, e horizontal, em todas as secretarias”, disse.
Feldmann destacou a qualidade científica do trabalho e a capacidade de articulação institucional demonstrada na realização do estudo. “Um dos principais méritos do estudo é sinalizar para o cidadão com a noção de que ele é um protagonista do processo. A emissão de gases de efeito estufa, por exemplo, depende do seu comportamento”, afirmou.
•O sumário executivo do estudo Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo pode ser lido em: www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/megacidades.pdf
Relatório indica normas em mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil relacionadas à energia /// Ecodebate
admin
Com relação à produção legislativa no que se refere à conservação, uso racional de energia e eficiência energética, verificou-se a existência de inúmeros programas de governo e a criação de diversas estruturas institucionais, como comissões, comitês, grupos executivos e coordenadores. No entanto, tais normas carecem de efetividade na aplicação, muito em função da falta de um tratamento sistêmico e organizado do tema.
O trabalho “Diagnóstico da legislação: identificação das normas com incidência em mitigação e adaptação às mudanças climáticas – Energia“, de autoria de Paula Lavratti, Coordenadora Técnica do Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, e Vanêsca Buzelato Prestes, Coordenadora-Geral, apresenta dados do Brasil sobre o tema. Após apresentar a relação entre energia e as mudanças climáticas, relaciona as normas com incidência em mitigação e/ou adaptação.
O primeiro dado destacado pelo estudo é que o uso de combustíveis fósseis constitui a maior causa do aumento da concentração de CO2 na atmosfera terrestre, com 56,6% das emissões desse gás de efeito estufa – GEEs, o que o converte na principal causa do aquecimento global e das mudanças observadas no clima da Terra. Além disso, com a queima de tais combustíveis, são liberados outros dois gases com potencial de aquecimento global superior ao CO2: o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
Para agravar a situação, não somente o consumo, mas também a extração, processamento, transporte e distribuição de combustíveis fósseis ocasionam a emissão de gases de efeito estufa, revela a pesquisa. E como sua utilização permeia grande parte das nossas atividades, “tamanha dependência faz com que o combate às mudanças climáticas seja tão desafiador e implique mudanças profundas no nosso modo de vida”.
No Brasil, país objeto da pesquisa, o setor de energia ocupa a segunda posição, logo após o desmatamento/ mudança no uso da terra, revelam as autoras, resultado de uma matriz elétrica baseada majoritariamente na utilização de energias renováveis, em especial hidrelétricas.
Com relação à produção legislativa no que se refere à conservação, uso racional de energia e eficiência energética, verificou-se a existência de inúmeros programas de governo e a criação de diversas estruturas institucionais, como comissões, comitês, grupos executivos e coordenadores. No entanto, tais normas, afirmam as autoras, carecem de efetividade na aplicação, muito em função da falta de um tratamento sistêmico e organizado do tema. Além disso, lamentam que a Lei de Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia não faça nenhuma referência à obrigatoriedade de etiquetagem como medida de informação ao consumidor final acerca do cumprimento dos níveis de eficiência energética que venham a ser estabelecidos.
O Diagnóstico ressalta a importância das chamadas fontes renováveis alternativas ou não convencionais, a exemplo da eólica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa e solar: “a diversificação da matriz energética, especialmente mediante a introdução de fontes limpas, assegura a produção de energia e contribui para a segurança energética do país, consistindo, portanto, em uma medida de adaptação às mudanças climáticas”. Acerca do tema, esclarece o estudo que o marco normativo brasileiro em matéria de renováveis é dado pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, concebido com base em fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa.
Já o Plano Nacional sobre Mudança do Clima faz extensa referência ao efeito mitigador da utilização dos biocombustíveis, “inclusive com estimativas de redução de emissões relacionadas à demanda e à oferta de biocombustíveis líquidos para o período 2008/2017″, informa o relatório. No entanto, as autoras destacam que o tema não é isento a críticas, fundadas, basicamente, na ameaça à segurança alimentar, em função da possível substituição de áreas dedicadas ao cultivo de alimentos por biomassa energética; e na possibilidade de desmatamento de novas áreas para a expansão do cultivo da cana-de-açúcar e outros cultivos energéticos.
A primeira tentativa de ser regular de forma expressa a mitigações das emissões de gases de efeito estufa em âmbito federal – Instrução Normativa – IN IBAMA n.º 7, de 13.04.2010, que exige programa de mitigação das emissões de CO2 no licenciamento ambiental de termelétricas – foi objeto de questionamento judicial, sob o argumento de que tal normatização somente poderia ser feita por lei. Não obstante, ressalta o estudo que “uma vez que já são conhecidos os efeitos dos gases de efeito estufa em relação às mudanças climáticas, ou seja, o impacto negativo existe e é sabido, torna-se perfeitamente plausível – como expressão da aplicação dos princípios de prevenção e precaução e de acordo com a própria natureza do licenciamento ambiental – a imposição de medidas corretivas ou mitigadoras, visando à eliminação ou redução desses efeitos”. A Política sobre Mudanças Climáticas do Estado de São Paulo já determina, de forma expressa, a necessidade de incorporação da finalidade climática no licenciamento ambiental.
Uma outra constatação importante do relatório é sobre as importância dos dispositivos que estabelecem que aquisição de materiais e equipamentos ou a contratação de obras e serviços adotem especificações que atendam aos requisitos inerentes à eficiência energética, já que os governos federal, estaduais e municipais são grandes consumidores, havendo estimativas de que as compras governamentais movimentem recursos na ordem de 10% do PIB brasileiro.
O relatório na íntegra pode ser acessado no endereço:
http://www.planetaverde.org/mudancasclimaticas/index.php?ling=por&cont=pesquisa&codpais=1
* Colaboração de Adriana Vargas, Coordenadora de Comunicação do Projeto Direito e Mudanças Climáticas nos Países Amazônicos, para o EcoDebate, 09/06/2010
Geógrafa defende conhecimento do potencial da floresta para crescimento do país /// Agência Brasil
Lisiane Wandscheer
Para a geógrafa, o Brasil tem um potencial de natureza imenso, mas não sabe aproveitá-lo a exemplo do que sempre foi feito na Amazônia.
“É fundamental que a ciência, a tecnologia e a inovação ajudem a revigorar os conhecimentos tradicionais da Região Amazônica. A economia da floresta por si é diversificada, tem extrativismo de plantas, de pesca e remédios essenciais para a saúde pública”, cita.
A geógrafa salienta que para haver a potencialização da economia da natureza é preciso aplicação de grandes investimentos, mobilização dos cientistas e empresários e políticas públicas com um planejamento integrado que respeitem a diversidade.
“Estas políticas públicas precisam estar articuladas. Hoje temos o Plano Amazônia Sustentável e ao mesmo tempo o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] que nada tem a ver com sustentabilidade e prevê hidrelétricas e transporte. Precisamos de energia e transporte sim, mas com um planejamento integrado”, destaca.
Bertha alerta também para os riscos de se financiar apenas a preservação e prejudicar o futuro econômico e ambiental do país. “O financiamento deve ser feito para o aproveitamento da natureza sem a destruição do seu potencial natural. Se financiarmos para manter preservado estaremos perdendo a chance de desenvolver, gerar empregos e riqueza para o país”, destaca.
No início da manhã, o ministro de Ciência e Tecnologia e secretário geral da conferência, Sérgio Rezende, fez a abertura das atividades e destacou que o grande desafio do país é fazer com que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação entrem definitivamente na agenda empresarial.
“O Brasil, só a partir da Lei 11.196, da Inovação Tecnológica, regulamentada em 2005, pode subvencionar a pesquisa nas empresas. Na medida que os resultados aparecem as empresas percebem que também é possível no Brasil fazer com que a inovação melhore o rendimento e a competitividade delas”, afirma.
Edição: Lílian Beraldo
''A lentidão da negociação do clima é irresponsável'' IHU/Unisinos - El País
Christiana Figueres acaba de assumir uma missão aparentemente condenada ao fracasso. Essa diplomata, nascida na Costa Rica há 56 anos, deve retomar a negociação mundial contra as mudanças climáticas, intocada desde o fiasco da Cúpula de Copenhague, em dezembro passado.
Figueres, que participa da negociação desde 1995, substitui Yvo de Boer, que renunciou à secretaria da ONU para as Mudanças Climáticas. A Costa Rica, um país em desenvolvimento que se comprometeu a compensar todas as suas emissões de CO2, pode ser útil para superar a desconfiança entre ricos e pobres. Assim que foi designada, deixou seu cargo de assessora da Endesa [empresa energética espanhola] na América Latina.
A reportagem é de Rafael Méndez, publicada no jornal El País, 23-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Sua tarefa parece condenada ao fracasso.
É uma tarefa complicada, mas, ao mesmo tempo, é o desafio mais inspirador que a humanidade tem. Nem mais nem menos, está em jogo o padrão econômico do mundo nos próximos 20, 30 ou 40 anos. Por isso, a negociação é complicada e vai avançando pausada e mesuradamente. Tenho muita confiança que vai seguir em frente, e é natural que às vezes haja passos de gigante e às vezes passos mais lentos, mas vamos na direção correta.
O passo de Copenhague foi um passo lento ou um passo atrás?
Foi um passo grande para os países, mas um passo pequeno para o planeta. Os países se puseram de acordo em pilares muito importantes que vamos usar para construir o regime de mudanças climáticas, mas o nível de ambição foi insuficiente para garantir a sobrevivência das populações mais vulneráveis.
A negociação não está muito lenta e não corre o risco de cansar o mundo por ficar dando voltas sobre a mesma coisa?
Não estamos dando voltas, mas avançando. É verdade que, do ponto de vista da ciência e, principalmente, do ponto de vista doloroso dos habitantes das pequenas ilhas e da África, vamos muito devagar. A lentidão na negociação contra as mudanças climáticas é irresponsável. Mas essa velocidade é consequência das realidades políticas e econômicas do mundo.
Essa realidade é incompatível com o corte de emissões?
Estamos muito longe de um acordo com o nível suficiente de ambição. O acordo de Copenhague fixa que é preciso limitar em dois graus o aumento da temperatura. Por sua vez, os compromissos de redução de emissões que os 70 países colocaram sobre a mesa implicariam em um aumento de temperatura entre 3 e 3,9 graus, o que é inaceitável e muito perigoso. E esses dois graus, inclusive, não são suficientes para muitas pequenas ilhas.
Além da falta de ambição, em Copenhague viu-se que o sistema de negociação, com a possibilidade de veto por qualquer um dos 192 países e com negociações a porta fechada, não funciona.
O procedimento foi inaceitável e não pode voltar a acontecer. Precisamos de transparência e que todos os países se sintam incluídos. Ali, 25 chefes de Estado chegaram a um acordo, mas o resto dos países nunca foi consultado. A Venezuela e a Bolívia não se sentiram representadas. É normal que, no final de uma negociação assim, reúna-se um grupo de países, mas devem representar todas.
China, Índia, Brasil e EUA fecharam o pacto por sua própria conta.
As negociações entre os mais poderosos são inevitáveis e não deve surpreender. O que é inaceitável é que não consultaram o acordo ao qual chegaram.
A China não aceitará limitar suas emissões.
Os países em desenvolvimento estão firmes porque sua primeira obrigação é lutar contra a pobreza. Por sua vez, têm o desafio de escolher um desenvolvimento verde. Não estão em uma situação fácil, e sua postura é muito compreensível. Sua preocupação é que um acordo limite seu desenvolvimento econômico e é lógica.
Então, a Cúpula do México, em novembro, se apresenta muito obscura.
Não, sou muito otimista. É uma oportunidade de ouro para que os países comprovem a credibilidade das promessas feitas em Copenhague.
E chegar a um acordo?
Não se trata de alcançar um acordo neste ano, mas sim de recuperar a confiança e retomar o projeto do regime de mudanças climáticas para ter um pacto em 2011.
Em 2012, acaba o primeiro período do Protocolo de Kyoto, e não haverá tempo para se criar um novo tratado. Já está tudo decidido para planos voluntários?
Ainda não está sobre a mesa. Alguns pedirão compromissos voluntários, e outros vinculantes. É muito cedo.
Enquanto a negociação se estanca, cresce o ceticismo sobre a influência humana nas mudanças climáticas.
Os efeitos e as consequências nocivas não vão diminuir, mas aumentarão. E esses efeitos irão chamar mais a atenção do que o filme de Al Gore.
Figueres, que participa da negociação desde 1995, substitui Yvo de Boer, que renunciou à secretaria da ONU para as Mudanças Climáticas. A Costa Rica, um país em desenvolvimento que se comprometeu a compensar todas as suas emissões de CO2, pode ser útil para superar a desconfiança entre ricos e pobres. Assim que foi designada, deixou seu cargo de assessora da Endesa [empresa energética espanhola] na América Latina.
A reportagem é de Rafael Méndez, publicada no jornal El País, 23-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Sua tarefa parece condenada ao fracasso.
É uma tarefa complicada, mas, ao mesmo tempo, é o desafio mais inspirador que a humanidade tem. Nem mais nem menos, está em jogo o padrão econômico do mundo nos próximos 20, 30 ou 40 anos. Por isso, a negociação é complicada e vai avançando pausada e mesuradamente. Tenho muita confiança que vai seguir em frente, e é natural que às vezes haja passos de gigante e às vezes passos mais lentos, mas vamos na direção correta.
O passo de Copenhague foi um passo lento ou um passo atrás?
Foi um passo grande para os países, mas um passo pequeno para o planeta. Os países se puseram de acordo em pilares muito importantes que vamos usar para construir o regime de mudanças climáticas, mas o nível de ambição foi insuficiente para garantir a sobrevivência das populações mais vulneráveis.
A negociação não está muito lenta e não corre o risco de cansar o mundo por ficar dando voltas sobre a mesma coisa?
Não estamos dando voltas, mas avançando. É verdade que, do ponto de vista da ciência e, principalmente, do ponto de vista doloroso dos habitantes das pequenas ilhas e da África, vamos muito devagar. A lentidão na negociação contra as mudanças climáticas é irresponsável. Mas essa velocidade é consequência das realidades políticas e econômicas do mundo.
Essa realidade é incompatível com o corte de emissões?
Estamos muito longe de um acordo com o nível suficiente de ambição. O acordo de Copenhague fixa que é preciso limitar em dois graus o aumento da temperatura. Por sua vez, os compromissos de redução de emissões que os 70 países colocaram sobre a mesa implicariam em um aumento de temperatura entre 3 e 3,9 graus, o que é inaceitável e muito perigoso. E esses dois graus, inclusive, não são suficientes para muitas pequenas ilhas.
Além da falta de ambição, em Copenhague viu-se que o sistema de negociação, com a possibilidade de veto por qualquer um dos 192 países e com negociações a porta fechada, não funciona.
O procedimento foi inaceitável e não pode voltar a acontecer. Precisamos de transparência e que todos os países se sintam incluídos. Ali, 25 chefes de Estado chegaram a um acordo, mas o resto dos países nunca foi consultado. A Venezuela e a Bolívia não se sentiram representadas. É normal que, no final de uma negociação assim, reúna-se um grupo de países, mas devem representar todas.
China, Índia, Brasil e EUA fecharam o pacto por sua própria conta.
As negociações entre os mais poderosos são inevitáveis e não deve surpreender. O que é inaceitável é que não consultaram o acordo ao qual chegaram.
A China não aceitará limitar suas emissões.
Os países em desenvolvimento estão firmes porque sua primeira obrigação é lutar contra a pobreza. Por sua vez, têm o desafio de escolher um desenvolvimento verde. Não estão em uma situação fácil, e sua postura é muito compreensível. Sua preocupação é que um acordo limite seu desenvolvimento econômico e é lógica.
Então, a Cúpula do México, em novembro, se apresenta muito obscura.
Não, sou muito otimista. É uma oportunidade de ouro para que os países comprovem a credibilidade das promessas feitas em Copenhague.
E chegar a um acordo?
Não se trata de alcançar um acordo neste ano, mas sim de recuperar a confiança e retomar o projeto do regime de mudanças climáticas para ter um pacto em 2011.
Em 2012, acaba o primeiro período do Protocolo de Kyoto, e não haverá tempo para se criar um novo tratado. Já está tudo decidido para planos voluntários?
Ainda não está sobre a mesa. Alguns pedirão compromissos voluntários, e outros vinculantes. É muito cedo.
Enquanto a negociação se estanca, cresce o ceticismo sobre a influência humana nas mudanças climáticas.
Os efeitos e as consequências nocivas não vão diminuir, mas aumentarão. E esses efeitos irão chamar mais a atenção do que o filme de Al Gore.
'É preciso manter otimismo', diz criador do conceito de biodiversidade /// Estadão.com.br
Em palestra em São Paulo, Thomas Lovejoy apresentou estudos sobre declínio da biodiversidade do mundo
22 de maio de 2010
16h 16
No Dia Internacional da Biodiversidade, em palestra no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a mensagem que o ambientalista americano Thomas Lovejoy, diretor do Instituto John Henz e consultor do Banco Mundial para sustentabilidade, tinha para passar à plateia não era muito animadora: os recentes estudos mostram um declínio da biodiversidade do mundo, com mais espécies ameaçadas e mais possíveis pontos críticos. Mas Lovejoy acredita que é preciso manter o otimismo. "Precisamos encarar esses resultados não com pessimismo, mas como oportunidades ótimas para melhorar, estudar ainda mais a biodiversidade, criar soluções para a saúde e para a economia, e encontrar uma forma de explorar a biodiversidade de forma sustentável", afirma. O pesquisador é grande entusiasta dos sistemas de pagamentos por serviços ambientais e mecanismos de compensação de carbono, como as Reduções de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redds).
Lovejoy foi o chefe responsável pela revisão da terceira edição do estudo Global Biodiversity Outlook (GBO) e aproveitou a passagem pelo Brasil, para as comemorações do Dia da Biodiversidade planejadas pelo programa Biota da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para apresentar os resultados do documento, que está sendo lançado em português pelo Ministério do Meio Ambiente na tarde deste sábado, durante as atividades especiais do Viva a Mata no Parque do Ibirapuera. O estudo cruza dados de relatórios como o Living Planet Index e o Red List Index, ambos sobre a diversidade de espécies biológicas no mundo, e apresenta a situação presente, os possíveis cenários do futuro e algumas estratégias para reduzir a perda de biodiversidade.
"A primeira constatação é que o alvo da Convenção da Biodiversidade para 2010, de alcançar uma redução significativa da taxa de perda de biodiversidade no mundo, não foi cumprido pelos países", afirma Lovejoy. A maior parte dos indicadores utilizados no cruzamento de dados mostra quadros negativos. O Living Planet Index aponta para 30% de perda de biodiversidade entre 1970 e 2008, especialmente em áreas tropicais, onde essa redução pode chegar a 60%. A análise do Red List Index, feita pela União Internacional de Conservação da Natureza, entidade responsável por divulgar a lista das espécies ameaçadas de extinção, fala que todos os grupos de espécies, nesse espaço de tempo, caminharam para mais próximo da extinção, com especial atenção para os anfíbios, como grupo mais ameaçado, e para as barreiras de corais, o grupo que apresentou uma taxa mais rápida de aumento da ameaça.
"O cenário, então, mostra a maior parte dos quadros negativos. Mas existem dados otimistas: as áreas protegidas aumentaram", diz Lovejoy. De 1970 a 2008, as áreas de proteção terrestres no mundo saltaram de 4 milhões de quilômetros quadrados para 14 milhões de quilômetros quadrados. As áreas marinhas protegidas também aumentaram.
Mas isso ainda não é um número representativo, pois, de acordo com o alvo de biodiversidade a ser atingido em 2010, pelo menos 10% de cada região biologicamente relevante no mundo deveria estar dentro de uma área protegida. Porém apenas 56% das chamadas 'eco regiões' terrestres e 18% das marinhas alcançaram esta meta.
"E a Amazônia foi um dos locais que aumentou o número de áreas de reserva." A floresta amazônica também mostrou queda de 74% na taxa de desmatamento de 2003 para 2009. Porém a região ainda é considerada no relatório como um dos 'tipping points', locais em que, desrespeitadas as condições de aumento de temperatura e acúmulo de gases-estufa na atmosfera, o limite de recuperação pode ser atingido e não seja possível voltar atrás para restaurar a biodiversidade local. A perda cumulativa de floresta ainda é preocupante, pois a projeção futura indica que o desmatamento chegue a mais de 20% da área da floresta original, o que poderia alterar o ciclo de chuvas na América do Sul e acelerar a savanização da Amazônia. "Para impedir isso, três passos serão necessários: manter o desmatamento em menos de 20% da área original, minimizar o uso de incêndios para abrir a mata e manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 graus Celsius."
Este último ponto também é crucial para as barreiras de corais. O aumento da temperatura do mar influenciará na relação entre os corais e as algas marinhas. O aumento da acidificação oceânica também contribui para isso, pois prejudica a calcificação dos corais. "Os indicadores mostram que, se nada mudar, no futuro mais de metade dos hábitats marinhos não serão propícios para a formação dos corais", informa Lovejoy. Ele defende que se a temperatura média global passar os 2 graus Celsius e as concentrações de CO2 na atmosfera alcançarem as 450 partes por milhão (ppm), o limite estabelecido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), esses ecossistemas não sobreviverão. Por isso, é preciso manter a concentração de CO2 em 350 ppm, ainda menor do que a taxa atual, de 390.
Otimismo
De acordo com Lovejoy, esses não são motivos para parar de estudar a biodiversidade e encontrar maneiras de proteger a representatividade dos ecossistemas. Segundo o pesquisador, em outros momentos da vida na Terra, a concentração de CO2 na atmosfera também chegou a níveis altíssimos e foi justamente a biodiversidade que ajudou a reverter a situação, principalmente quando passaram a existir as espécies de fauna e de flora terrestre. "A biodiversidade é a chave para reverter a concentração de CO2 na atmosfera hoje também", indica.
Isso seria possível aprendendo a usar a biodiversidade de forma sustentável, seja para fins científicos, seja para gerar renda para comunidades que habitam em reservas ambientais. A ideia de um mecanismo de Redd também é importante. "Francamente não enxergo uma solução para esta questão sem mecanismos de compensação envolvidos hoje." Para Lovejoy, o Brasil vai despontar como liderança desse processo e também apresentará diversas oportunidades interessantes para a conservação biológica, principalmente com os pagamentos por serviços ambientais em reservas extrativistas amazônicas. "Não significa privatizar a natureza, mas fazer o melhor que pudermos", diz. "Isso vai permitir restaurar os ecossistemas e, com o aumento da biodiversidade, voltar aos limites seguros de concentração de gases na atmosfera."
22 de maio de 2010
16h 16
Fernanda Fava - Especial para o Planeta
No Dia Internacional da Biodiversidade, em palestra no Palácio dos Bandeirantes em São Paulo, a mensagem que o ambientalista americano Thomas Lovejoy, diretor do Instituto John Henz e consultor do Banco Mundial para sustentabilidade, tinha para passar à plateia não era muito animadora: os recentes estudos mostram um declínio da biodiversidade do mundo, com mais espécies ameaçadas e mais possíveis pontos críticos. Mas Lovejoy acredita que é preciso manter o otimismo. "Precisamos encarar esses resultados não com pessimismo, mas como oportunidades ótimas para melhorar, estudar ainda mais a biodiversidade, criar soluções para a saúde e para a economia, e encontrar uma forma de explorar a biodiversidade de forma sustentável", afirma. O pesquisador é grande entusiasta dos sistemas de pagamentos por serviços ambientais e mecanismos de compensação de carbono, como as Reduções de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redds).
Lovejoy foi o chefe responsável pela revisão da terceira edição do estudo Global Biodiversity Outlook (GBO) e aproveitou a passagem pelo Brasil, para as comemorações do Dia da Biodiversidade planejadas pelo programa Biota da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para apresentar os resultados do documento, que está sendo lançado em português pelo Ministério do Meio Ambiente na tarde deste sábado, durante as atividades especiais do Viva a Mata no Parque do Ibirapuera. O estudo cruza dados de relatórios como o Living Planet Index e o Red List Index, ambos sobre a diversidade de espécies biológicas no mundo, e apresenta a situação presente, os possíveis cenários do futuro e algumas estratégias para reduzir a perda de biodiversidade.
"A primeira constatação é que o alvo da Convenção da Biodiversidade para 2010, de alcançar uma redução significativa da taxa de perda de biodiversidade no mundo, não foi cumprido pelos países", afirma Lovejoy. A maior parte dos indicadores utilizados no cruzamento de dados mostra quadros negativos. O Living Planet Index aponta para 30% de perda de biodiversidade entre 1970 e 2008, especialmente em áreas tropicais, onde essa redução pode chegar a 60%. A análise do Red List Index, feita pela União Internacional de Conservação da Natureza, entidade responsável por divulgar a lista das espécies ameaçadas de extinção, fala que todos os grupos de espécies, nesse espaço de tempo, caminharam para mais próximo da extinção, com especial atenção para os anfíbios, como grupo mais ameaçado, e para as barreiras de corais, o grupo que apresentou uma taxa mais rápida de aumento da ameaça.
"O cenário, então, mostra a maior parte dos quadros negativos. Mas existem dados otimistas: as áreas protegidas aumentaram", diz Lovejoy. De 1970 a 2008, as áreas de proteção terrestres no mundo saltaram de 4 milhões de quilômetros quadrados para 14 milhões de quilômetros quadrados. As áreas marinhas protegidas também aumentaram.
Mas isso ainda não é um número representativo, pois, de acordo com o alvo de biodiversidade a ser atingido em 2010, pelo menos 10% de cada região biologicamente relevante no mundo deveria estar dentro de uma área protegida. Porém apenas 56% das chamadas 'eco regiões' terrestres e 18% das marinhas alcançaram esta meta.
"E a Amazônia foi um dos locais que aumentou o número de áreas de reserva." A floresta amazônica também mostrou queda de 74% na taxa de desmatamento de 2003 para 2009. Porém a região ainda é considerada no relatório como um dos 'tipping points', locais em que, desrespeitadas as condições de aumento de temperatura e acúmulo de gases-estufa na atmosfera, o limite de recuperação pode ser atingido e não seja possível voltar atrás para restaurar a biodiversidade local. A perda cumulativa de floresta ainda é preocupante, pois a projeção futura indica que o desmatamento chegue a mais de 20% da área da floresta original, o que poderia alterar o ciclo de chuvas na América do Sul e acelerar a savanização da Amazônia. "Para impedir isso, três passos serão necessários: manter o desmatamento em menos de 20% da área original, minimizar o uso de incêndios para abrir a mata e manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2 graus Celsius."
Este último ponto também é crucial para as barreiras de corais. O aumento da temperatura do mar influenciará na relação entre os corais e as algas marinhas. O aumento da acidificação oceânica também contribui para isso, pois prejudica a calcificação dos corais. "Os indicadores mostram que, se nada mudar, no futuro mais de metade dos hábitats marinhos não serão propícios para a formação dos corais", informa Lovejoy. Ele defende que se a temperatura média global passar os 2 graus Celsius e as concentrações de CO2 na atmosfera alcançarem as 450 partes por milhão (ppm), o limite estabelecido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), esses ecossistemas não sobreviverão. Por isso, é preciso manter a concentração de CO2 em 350 ppm, ainda menor do que a taxa atual, de 390.
Otimismo
De acordo com Lovejoy, esses não são motivos para parar de estudar a biodiversidade e encontrar maneiras de proteger a representatividade dos ecossistemas. Segundo o pesquisador, em outros momentos da vida na Terra, a concentração de CO2 na atmosfera também chegou a níveis altíssimos e foi justamente a biodiversidade que ajudou a reverter a situação, principalmente quando passaram a existir as espécies de fauna e de flora terrestre. "A biodiversidade é a chave para reverter a concentração de CO2 na atmosfera hoje também", indica.
Isso seria possível aprendendo a usar a biodiversidade de forma sustentável, seja para fins científicos, seja para gerar renda para comunidades que habitam em reservas ambientais. A ideia de um mecanismo de Redd também é importante. "Francamente não enxergo uma solução para esta questão sem mecanismos de compensação envolvidos hoje." Para Lovejoy, o Brasil vai despontar como liderança desse processo e também apresentará diversas oportunidades interessantes para a conservação biológica, principalmente com os pagamentos por serviços ambientais em reservas extrativistas amazônicas. "Não significa privatizar a natureza, mas fazer o melhor que pudermos", diz. "Isso vai permitir restaurar os ecossistemas e, com o aumento da biodiversidade, voltar aos limites seguros de concentração de gases na atmosfera."
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