Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

''A lentidão da negociação do clima é irresponsável'' IHU/Unisinos - El País

Christiana Figueres acaba de assumir uma missão aparentemente condenada ao fracasso. Essa diplomata, nascida na Costa Rica há 56 anos, deve retomar a negociação mundial contra as mudanças climáticas, intocada desde o fiasco da Cúpula de Copenhague, em dezembro passado.

Figueres, que participa da negociação desde 1995, substitui Yvo de Boer, que renunciou à secretaria da ONU para as Mudanças Climáticas. A Costa Rica, um país em desenvolvimento que se comprometeu a compensar todas as suas emissões de CO2, pode ser útil para superar a desconfiança entre ricos e pobres. Assim que foi designada, deixou seu cargo de assessora da Endesa [empresa energética espanhola] na América Latina.

A reportagem é de Rafael Méndez, publicada no jornal El País, 23-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Sua tarefa parece condenada ao fracasso.

É uma tarefa complicada, mas, ao mesmo tempo, é o desafio mais inspirador que a humanidade tem. Nem mais nem menos, está em jogo o padrão econômico do mundo nos próximos 20, 30 ou 40 anos. Por isso, a negociação é complicada e vai avançando pausada e mesuradamente. Tenho muita confiança que vai seguir em frente, e é natural que às vezes haja passos de gigante e às vezes passos mais lentos, mas vamos na direção correta.

O passo de Copenhague foi um passo lento ou um passo atrás?

Foi um passo grande para os países, mas um passo pequeno para o planeta. Os países se puseram de acordo em pilares muito importantes que vamos usar para construir o regime de mudanças climáticas, mas o nível de ambição foi insuficiente para garantir a sobrevivência das populações mais vulneráveis.

A negociação não está muito lenta e não corre o risco de cansar o mundo por ficar dando voltas sobre a mesma coisa?

Não estamos dando voltas, mas avançando. É verdade que, do ponto de vista da ciência e, principalmente, do ponto de vista doloroso dos habitantes das pequenas ilhas e da África, vamos muito devagar. A lentidão na negociação contra as mudanças climáticas é irresponsável. Mas essa velocidade é consequência das realidades políticas e econômicas do mundo.

Essa realidade é incompatível com o corte de emissões?

Estamos muito longe de um acordo com o nível suficiente de ambição. O acordo de Copenhague fixa que é preciso limitar em dois graus o aumento da temperatura. Por sua vez, os compromissos de redução de emissões que os 70 países colocaram sobre a mesa implicariam em um aumento de temperatura entre 3 e 3,9 graus, o que é inaceitável e muito perigoso. E esses dois graus, inclusive, não são suficientes para muitas pequenas ilhas.

Além da falta de ambição, em Copenhague viu-se que o sistema de negociação, com a possibilidade de veto por qualquer um dos 192 países e com negociações a porta fechada, não funciona.

O procedimento foi inaceitável e não pode voltar a acontecer. Precisamos de transparência e que todos os países se sintam incluídos. Ali, 25 chefes de Estado chegaram a um acordo, mas o resto dos países nunca foi consultado. A Venezuela e a Bolívia não se sentiram representadas. É normal que, no final de uma negociação assim, reúna-se um grupo de países, mas devem representar todas.

China, Índia, Brasil e EUA fecharam o pacto por sua própria conta.

As negociações entre os mais poderosos são inevitáveis e não deve surpreender. O que é inaceitável é que não consultaram o acordo ao qual chegaram.

A China não aceitará limitar suas emissões.

Os países em desenvolvimento estão firmes porque sua primeira obrigação é lutar contra a pobreza. Por sua vez, têm o desafio de escolher um desenvolvimento verde. Não estão em uma situação fácil, e sua postura é muito compreensível. Sua preocupação é que um acordo limite seu desenvolvimento econômico e é lógica.

Então, a Cúpula do México, em novembro, se apresenta muito obscura.

Não, sou muito otimista. É uma oportunidade de ouro para que os países comprovem a credibilidade das promessas feitas em Copenhague.

E chegar a um acordo?
Não se trata de alcançar um acordo neste ano, mas sim de recuperar a confiança e retomar o projeto do regime de mudanças climáticas para ter um pacto em 2011.

Em 2012, acaba o primeiro período do Protocolo de Kyoto, e não haverá tempo para se criar um novo tratado. Já está tudo decidido para planos voluntários?

Ainda não está sobre a mesa. Alguns pedirão compromissos voluntários, e outros vinculantes. É muito cedo.

Enquanto a negociação se estanca, cresce o ceticismo sobre a influência humana nas mudanças climáticas.

Os efeitos e as consequências nocivas não vão diminuir, mas aumentarão. E esses efeitos irão chamar mais a atenção do que o filme de Al Gore.

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