Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Educação para o Desenvolvimento Sustentável: Sonhamos e praticamos! /// Ecodebate

 artigo de Eloy Casagrande


[EcoDebate] Durante o intervalo para o café, entre as palestras de especialistas na maior conferência internacional realizada no sul do Brasil sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentavel (EDS-2010), escuto atentamente o comentário: — Eu vim para esta conferência porque queria entender afinal o que é esta tal de “sustentabilidade”. As palavras eram do agricultor que me confessou que estava preocupado com a quantidade de agrotóxico que ele usava no cultivo de 4 mil hectares de soja, no sudoeste do Paraná. Sua preocupação com a perda de nutrientes do solo e a contaminação de nascentes era verdadeira, explicando que tinha dois filhos, um de 17 anos e outro de 13, e que não sabia como a terra poderia ainda ser produtiva para garantir-lhes o futuro. Dizia também que todos os agricultores ao seu redor faziam o mesmo e que algo tinha de mudar.

Para mim, o fato dele ter se deslocado de sua cidade, deixando seus afazeres na fazenda e vir a Curitiba participar por três dias da Conferência (18-20 de maio na FIEP-PR), a mesma atingia seu objetivo. O Centro Regional Integrado de Educação para o Desenvolvimento Sustentável – CRIE_Curitiba, criado com a chancela da Universidade das Nações Unidas (UNU), em 2007, e as três grandes universidades do Paraná (UFPR, UTFPR e PUCPR) associadas ao Sistema FIEP Senai/Sesi, poderiam comemorar o sucesso de seus esforços em reunir quase 800 pessoas para o evento.

Foram jornadas de reflexão, de desejo de mudanças, de demonstração de ações concretas e de esperança. Professores, pesquisadores, estudantes, membros de organizações não governamentais, empresários, discutiam novas formas de educar, de se implantar um modelo de educação transformadora (nas palavras da palestra magna do professor Enrique Leff ), de se encontrar soluções para estimular um consumo sustentável, para reduzir emissões de CO2 e os impactos das mudanças climáticas, da viabilidade de edificações mais ecológicas, de modelos de mobilidade menos agressoras ao meio ambiente, de programas para se proteger a biodiversidade e multiplicar as boas ações sustentáveis.

Os 120 membros dos “Centros Regionais de Expertise em Educação para o Desenvolvimento Sustentável – (Regional Centre of Expertise – RCE-EDS)”, representando 43 países, e toda equipe da UNU, também organizadora da conferência, saindo da mesma com a sensação de que se pode fazer ainda melhor, envolver mais pessoas e tranformar o mundo através da solidariedade sustentável.

Das cerca de 200 experiências discutidas em mesas temáticas interativas e em seminários, podemos destacar desde a palestra do Presidente do Comitê Brasileiro do Pacto Global (ONU), o empresário Vitor Seravalli, falando da ética empresarial e responsabilidade social das empresas (representando também a visão da FIEP e de todo o pessoal de apoio ao evento) e da Dra. Mary Allegretti nos mostrando como a Amazônia pode ser desenvolvida sem ser destruída. Nas mesas temática, discutiu-se projetos como do professor do México que compõe músicas no estilo “mariachi”, levando mensagens ecológicas as comunidades através das rádios locais; do RCE da região Oeste de Portugal, que trabalha nas escolas com Análise de Fluxos de Materiais (MFA), mostrando aos estudantes quais são os impactos que a fabricação dos produtos da cadeia alimentar podem causar ao meio ambiente; do portal do RCE Saskatchewan (que ainda estamos aprendendendo a pronunciar!), uma pequena província do Canadá que desenvolve com escolas locais um “inventory map” das iniciativas sustentáveis da região; do RCE de KwaZulu Natal, uma das maiores províncias da África do Sul, com quase 9 milhões de habitantes e que implanta cursos de treinamento em educação para o desenvolvimento sustentável para professores; de ferramentas como o Mapa Vede da UFPR, que auxilia na percepção do impacto ambiental das cidades e que poderá servir para checarmos o quanto Curitiba é mesmo “sustentável”; do projeto do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que servirá de exemplo de construção sustentável e de gestão socioambiental universitária.

A lista das experiências é longa e algumas foram gravadas em depoimentos à câmera dos estudantes do primeiro ano do ensino médio do Colégio Medianeira, convidados para realizar um documentário sobre o evento sob a ótica deles, a geração futura. Deles ouvi outra declaração de esperança que me faz acreditar que estamos no caminho certo: — Professor, nós queríamos te dizer que não viemos aqui somente para fazer o filme, mas também para aprender e estamos muito felizes pelo convite, está é uma aula diferente! Destacando que também tivemos mais de 70 estudantes universitários voluntários para trabalhar na conferência. Se tivermos agricultores que querem mudar, empresários e políticos que praticam a ética, professores com entusiasmo para ensinar a sustentabilidade e estudantes que querem construir um mundo melhor, nossa receita está pronta para concretizarmos o sonho de termos um Planeta que ainda abrigue muitas gerações e toda espécie que faz parte da teia da vida.

Prof. Dr. Eloy Casagrande Jr,. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, membro do CRIE_Curitiba e do comitê organizador da Conferência EDS-2010.

EcoDebate, 25/05/2010

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