Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Consumo consciente ainda não é hábito para os brasileiros /// Gazeta do Povo - RPC

Pesquisa mostra que apenas 4% dos consumidores têm comportamento considerado sustentável
Publicado em 16/05/2010
Alexandre Costa Nascimento - Colaborou Fernanda Maranhão

Fale conoscoRSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letraDe gasolina amiga da natureza a cosméticos que ajudam na preservação da Amazônia. De banco sustentável a fabricante de cigarros com responsabilidade social. Praticamente onipresente há cerca de uma década em embalagens, propagandas e produtos, o discurso das empresas comprometidas com a sustentabilidade socioambiental só não conquistou um espaço fundamental: a cabeça dos consumidores.

A pesquisa “O Observador – Barômetro Brasil 2010”, desenvolvida pela Cetelem, braço financeiro do grupo BNP Paribas no Brasil, mostra que apenas 4% dos consumidores brasileiros incorporaram as práticas do chamado consumo consciente.

Saiba mais

Veja o perfil dos consumidores brasileirosO Teste de Consumo Consciente (TCC), metodologia criada pelo Instituto Akatu – instituição focada na mudança de comportamento do consumidor – considera o cumprimento de 13 comportamentos simples, como apagar as luzes ao sair de um local ou fechar a torneira ao escovar os dentes; quanto mais desses hábitos são seguidos, maior o nível de comprometimento do consumidor.
A boa notícia é que a grande maioria dos brasileiros – 65% dos entrevistados – é “iniciante”, e adota entre 3 e 7 desses comportamentos sustentáveis. Por outro lado, 11% são “indiferentes” sobre o impacto de seu comportamento de consumo em relação ao meio ambiente, com a prática de, no máximo, dois hábitos sustentáveis.

Elas e eles

O estudo aponta que o nível de escolaridade está diretamente relacionado ao grau de comprometimento do consumidor; quanto mais instruídos, maior o nível de consciência. Já as mulheres são mais comprometidas do que os homens. Nos outros grupos de consumo, no entanto, não há diferença significante entre os gêneros.

Também nota-se uma variação pelo critério de divisão socioeconômica. A população das classes D e E é maioria nos grupos de “indiferentes” e “iniciantes”, enquanto as classes A e B são as mais comprometidas e conscientes. A classe C, por sua vez, aparece com resultados muito próximos às classes A e B.

Pela divisão geográfica, as regiões Nordeste e o Sul apresentam com maior índice de consumidores indiferentes, enquanto o Sudeste concentra o maior índice de comprometidos.

O chefe de cozinha Anderson Batista Silva pertence à minoria de brasileiros que refletem sobre as consequências de seus hábitos de consumo. Sempre que desocupa qualquer ambiente, ele se certifica de que desligou, além das luzes, o ar condicionado, o ventilador e a televisão. “Não faço apenas pela economia de dinheiro, mas também porque gastando menos usamos melhor essa energia em outros setores da sociedade”, explica.

Na cozinha, seu ambiente de trabalho, ele garante que sempre que monta cardápios ou faz anotações para compras, usa o verso das folhas já utilizadas para economizar papel. Além disso, fecha a torneira enquanto ensaboa a louça para economizar água e lê os rótulos para identificar se o produto agride o meio ambiente, optando por comprar aqueles que geram menor impacto. “O essencial é que cada um faça sua parte”, estimula.

Já a estudante de Direito Maria Fernanda Dozza Messagi pertence à categoria de “iniciantes”. Ela separa o lixo para reciclagem, faz questão de pedir nota fiscal em todas as suas compras, mas, por outro lado, “escorrega” quando o assunto é o planejamento dos gastos e os cuidados com o consumo de energia. Além disso, Maria Fernanda revela que não lê os rótulos e não prioriza a compra de produtos ditos sustentáveis. Mesmo assim, ela acredita que está fazendo a sua parte. “Se todas as pessoas tomassem algum tipo de atitude, por menor que seja, os problemas seriam muito menores”, argumenta.


A estudante de psicologia Rafaela Miranda Dutra, no entanto, é daquele tipo de consumidor que não se importa em deixar a torneira aberta enquanto escova os dentes ou em deixar a televisão ligada mesmo se não estiver assistindo. A justificativa da “consumidora inconsciente” está na “falta de tempo” e na “preguiça”. “Eu não faço porque se só eu fizer não vai adiantar nada”, justifica Fernanda, que afirma ainda que não se importa com o futuro do meio ambiente.

Valores
Ao avaliar os hábitos de consumo dos brasileiros, o Instituto Akatu detectou três sistemas de valores diretamente relacionados à prática do chamado consumo consciente. Em primeiro lugar aparece o “ambientalismo”, pautado na crença de que a a questão ambiental é urgente e de que é preciso priorizar o reequilíbrio entre o homem e a natureza.

Em segundo está a chamada “simplicidade voluntária”, que valoriza um estilo de vida mais simples, pautado no bem estar e que não depende tanto do consumo de bens e produtos. E, por último, aparece o “pós-materialismo”, que se caracteriza pela valorização de conceitos intangíveis, como a a realização pessoal, a inclusão e o reconhecimento social em detrimento das necessidades materiais.

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