Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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Mais poluente, termelétrica ganha peso na matriz energética

Estudo do Ipea prevê que nos próximos três anos a participação das usinas à base de combustíveis fósseis deve passar dos atuais 17,7% para 23,1%


 “Estamos em posição de vanguarda com relação a outros países, o que não significa, contudo, que estejamos no padrão ideal no aspecto da geração de energia”
 
Gesmar Rosa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea
Com a construção de 122 novas usinas, as termelétricas à base de combustíveis fósseis devem aumentar sua participação na matriz de energia elétrica brasileira de 17,7% para 23,1% nos próximos três anos. Enquanto isso, a participação das hidrelétricas deve cair de 72,5% para 64,4%, mesmo com a construção de 311 novas usinas. Como resultado, a matriz brasileira, frequentemente elogiada por explorar fontes renováveis, deve aumentar sua dependência de recursos não-renováveis e mais poluentes, como petróleo e gás. Os dados constam de estudo divulgado nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O Brasil tem atualmente a matriz energética com menor nível de emissão de gases de efeito estufa entre os países industrializados. As fontes renováveis representam 45,9% da oferta de energia interna do Brasil, uma média muito superior à do resto do planeta, de apenas 12,9%. Isso faz com que o consumo médio no país seja de 1,34 tonelada equivalente de petróleo por ano (tep), muito abaixo dos países desenvolvidos, que é de 4,69 tep, e também abaixo do consumo mundial, 1,78 tep. Mas a previsão é de que o consumo de fontes fósseis no país aumente dos atuais 1,34 tep para 1,49 tep, seguindo tendência mundial apontada pela Agência Internacional de Energia. “Estamos em posição de vanguarda com relação a outros países, o que não significa, contudo, que estejamos no padrão ideal no aspecto da geração de energia”, diz Gesmar Rosa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

Energia eólica — O que pode ajudar a frear a dependência do petróleo são as energias alternativas. O número de usinas eólicas no Brasil deve dobrar nos próximos quatro anos, das atuais 45 para 86, fazendo a participação da energia gerada pelos ventos saltar de 0,7% para 2,1% do total da matriz de energia elétrica do país, quase a mesma participação da energia nuclear, que, se concretizada a construção de Angra 3, aumentaria de 1,8% para 2,3%.

Segundo o Ipea, o crescimento da energia eólica se baseia em incentivos dados pelo governo para este tipo de energia. “Antigamente, se dizia que a energia eólica não valia a pena por seu alto custo. Hoje, isso não é mais verdade: os equipamentos não só se baratearam como se tornaram mais eficientes, sendo possível produzir energia de ventos relativamente lentos”, diz o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Antenor Lopes. “No Brasil, já existe uma corrida em busca dessa energia em lugares como a Bahia e a região sul do País”, acrescenta.

Energia solar - Se aprovado o Projeto de Lei 630/2003, que atualmente está na Câmara dos Deputados, o setor de energia eólica deve ganhar um impulso extra: um fundo especial para pesquisa e produção. Este fundo também beneficiaria a energia solar, que apresenta atualmente uma participação irrisória, não chegando a 0,1% da matriz. O Ipea atribui seu baixo desempenho ao alto custo e ao estágio inicial de desenvolvimento da tecnologia. “Considera-se somente o fator econômico direto como um impeditivo para o setor, mas devem-se averiguar também suas vantagens em termos ambientais e, em longo prazo, de geração de empregos”, argumenta Lopes.

Bagaço e capim — No futuro, espera-se que o equilíbrio brasileiro, a despeito da crescente dependência de combustíveis fósseis, se mantenha graças a três fontes promissoras: as termelétricas à base de bagaço de cana, o capim elefante e a energia eólica. Quanto ao capim elefante, diz Lopes, ele ainda não é significativo na matriz energética, mas apresenta grande potencial e deve começar a aparecer nas estatísticas nos próximos anos. “Ele é muito parecido com a cana-de-açúcar, possui um teor energético muito elevado e tem ainda a vantagem de ter uma produtividade por área muito maior que a da cana”, defende.

(fonte: Veja - Ciencia)

Brasil é dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo industrializado e se encontra em posição privilegiada

Parque Eólico Osório O combate às mudanças climáticas cria um cenário para o desenvolvimento sustentável no Brasil. Ao combinar crescimento e o uso racional dos recursos naturais para enfrentar o aquecimento global, o País pode tornar-se uma das principais potências verdes do século 21.

Enquanto a maioria das nações desenvolvidas e países emergentes depende fortemente da queima de combustíveis fósseis, o Brasil é dono de uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo industrializado e se encontra em posição privilegiada para sair na frente na transição para uma economia de baixo carbono.

Para isso, porém, tem a missão dupla de superar obstáculos no combate ao desmatamento enquanto busca caminhos para um crescimento econômico sustentável.

“Temos o desafio de reduzir emissões e ao mesmo tempo garantir que a população mais pobre tenha um aumento na qualidade de vida. Não podemos abrir mão disso”, afirmou o secretário-geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa.

O plano estabelece uma série de iniciativas integradas voltadas para a redução de emissões nos principais setores da economia brasileira, além de oferecer alternativas para o desenvolvimento sustentável. As medidas vão desde o aumento do uso de etanol na próxima década à substituição de geladeiras ineficientes e a duplicação da área de floresta plantada no País. O documento chamou a atenção da comunidade internacional por estabelecer, pela primeira vez, metas domésticas de redução do desmatamento na Amazônia. Segundo o último inventário do Ministério da Ciência e Tecnologia, cerca de 75% das emissões brasileiras são resultado de processos de mudança do uso do solo, o que inclui desmatamento, incêndios florestais e degradação da vegetação nativa.

Discursando na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2009, em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a ampliação das metas, propondo uma redução de 80% do desmatamento até 2020, por consequência evitando a emissão de 4,8 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. "O que representa mais do que a soma dos compromissos de todos os países desenvolvidos juntos", disse.

O plano constitui uma das principais ferramentas para que o Brasil alcance os compromissos voluntários de redução de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9%, apresentados pelos negociadores brasileiros na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, realizada em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro de 2009. O cumprimento dessas metas passará pela intensificação e aperfeiçoamento do trabalho de monitoramento e fiscalização da floresta e de outros biomas nacionais, somado à regularização fundiária e incentivo a atividades sustentáveis. O conjunto dessas medidas compõe o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que já tem apresentado resultados históricos na proteção do ambiente.

Em 2009, o Brasil registrou a menor taxa de desmatamento dos últimos 20 anos, estimada em cerca de 7 mil quilômetros quadrados, o que deve refletir positivamente no balanço de emissões de gases do efeito estufa. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a queda do desmatamento na Amazônia entre 2004 e 2008 fez com que o País evitasse a emissão de 2 bilhões de toneladas de CO2 – volume maior do que um ano inteiro de emissões dos grandes poluidores, como o Japão.

O esforço de combate ao desmatamento ilegal começa a mais de 700 km de altura, na órbita terrestre, quando os satélites Terra e Aqua enviam, a cada dois dias, imagens da Amazônia ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos. Uma equipe de cartógrafos faz o georreferenciamento das imagens, o que permite aos pesquisadores mapear os pontos do território onde desmatamento está avançando ou locais onde surgem novos focos de derrubadas.

O sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) consegue identificar com rapidez as atividades de desflorestamento e degradação em áreas acima de 25 hectares e alertar os agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a tempo para a estruturação de ações de fiscalização. “Usamos a tecnologia para reduzir a impunidade”, disse o pesquisador Dalton Valeriano, há seis anos responsável pelo programa do Inpe para o monitoramento por satélite da Amazônia brasileira. “Antes disso, a fiscalização do Ibama funcionava à base de denúncias. Eles precisavam esperar o telefone tocar para poder agir e agora as imagens dos satélites funcionam como um suporte à fiscalização", afirmou.

As informações do Deter aumentam as chances de sucesso das operações do Ibama, que projetou para 2009 mais de 300 ações de fiscalização – 50% maior que o número de ações realizadas no ano anterior. Na mira dos satélites e dos fiscais, estão as derrubadas e queimadas para transformar a floresta em áreas de pasto para a pecuária.

“Hoje existem cerca de 80 milhões de cabeças de gado na região amazônica. Grande parte do desmatamento é resultado disso”, disse o coordenador de fiscalização do Ibama, Bruno Barbosa. De acordo com relatório da organização não governamental (ONG) Greenpeace, a expansão da pecuária na Amazônia teria sido responsável por 80% do desmatamento registrado na região entre 1996 e 2006.

Um exemplo é a Operação Boi Pirata II, estruturada a partir dos sucessivos alertas do Deter para o aumento do desflorestamento no leste do Pará. As imagens de satélite haviam registrado, até agosto, o corte de uma área de cerca de 300 km2 de floresta, concentrados na região de Novo Progresso – primeiro lugar no ranking dos municípios que mais desmatam no País.

A partir daí, a fiscalização apertou o cerco aos desmatadores na região da BR-163 e abriu processos para a retirada de mais de 20 mil cabeças de gado da Floresta Nacional do Jamanxim, resultando no embargo de 35 mil hectares de terra, aplicação de mais de R$ 120 milhões em multas e na apreensão de motosserras e maquinário. “Nossa tática é a dissuasão. Se um cara perde 500 mil reais em bois apreendidos, os vizinhos são desestimulados a desmatar. Isso tem influenciado o comportamento de toda a região”, afirmou Batista.

O cerco ao gado ilegal também foi reforçado pela atuação do Ministério Público (MP) e de instituições da sociedade civil, que denunciaram a ligação entre o desmatamento e o crescimento da indústria da pecuária na Amazônia. Como resultado, grandes empresas de varejo – como Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart – passaram a vender apenas produtos que comprovadamente não estejam ligados ao desmatamento ilegal. Mais recentemente, os quatro maiores frigoríficos do País também assumiram compromisso público para suspender a compra de carne sem origem especificada, cadastrar as fazendas fornecedoras e monitorar o desmatamento ao longo da cadeia produtiva.

O movimento dos pecuaristas segue os passos da indústria da soja, que entrou em acordo com o governo federal e ambientalistas para deixar de comprar o grão plantado em áreas desmatadas da Amazônia depois de julho de 2006. O compromisso, que inclui o monitoramento por satélite e sobrevoos sobre a região, foi renovado até julho de 2010.

Além da preocupação com a expansão da pecuária e da soja na região amazônica, o governo também agiu para impedir a derrubada da floresta para o cultivo de cana-de-açúcar. O projeto de zoneamento agroecológio da cana apresentado em setembro de 2009, também previsto pelo Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, proíbe a produção e a instalação de usinas nas áreas de vegetação nativa na Amazônia, Pantanal e na Bacia do Alto Paraguai.

As novas regras passam a privilegiar o plantio em áreas de baixa declividade para permitir a substituição das queimadas pela colheita mecânica – o que também resultará na redução de emissões. “Com esse plano, nosso etanol será 100% verde”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante o lançamento do zoneamento.

Manejo sustentável
A tarefa de proteger a Amazônia traduz-se em uma equação complexa, que soma o trabalho de monitoramento e fiscalização à necessidade de desenvolvimento de uma região onde vivem 25 milhões de pessoas. Para manter a floresta em pé, o Plano Nacional sobre Mudanças do Clima também inclui o estímulo a iniciativas que ofereçam alternativas sustentáveis para quem depende da natureza para sobreviver.

“Precisamos criar condições para que as pessoas que vivem lá tenham renda e não entreguem tudo para madeireiras e fazendeiros. Destruir a floresta não pode ser um bom negócio”, disse a secretária nacional de mudanças climáticas, Suzana Kahn. Essa é uma lição que está na ponta da língua das famílias que vivem nas 29 comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, localizada a 80 km ao leste de Santarém, no Pará. Há quatro anos, elas estão envolvidas em um projeto de manejo sustentável que transformou a realidade local, aumentou a renda e a qualidade de vida das comunidades.

Moradores das comunidades passaram por uma série de cursos e workshops para aprender técnicas de manejo sustentável que possibilitam que a área seja explorada com mínimo de impacto durante um período de 30 anos. “Se o manejo é feito de forma correta, você tem madeira por muitos anos. Seus filhos e netos vão poder se beneficiar da floresta”, disse Jeremias Gonçalves Batista, 23 anos, morador da comunidade de Pedreira e um dos coordenadores do projeto.

O trabalho tem trazido benefícios duplos para a floresta e para os moradores das comunidades. A cada ano, eles organizam leilões para vender a madeira extraída de maneira sustentável. Apenas em 2009, conseguiram arrecadar R$ 3,9 milhões pela comercialização de cerca de 20 mil metros cúbicos em toras para madeireiras da região.

“Tinha gente que era muito carente, não tinha como ter uma renda. Hoje em dia todo mundo vive bem”, afirmou a manejadora Cláudia Peres de Souza, 25 anos, que iniciou a construção de uma casa própria depois de começar a trabalhar no Ambé.

De acordo com Sérgio Pimentel, presidente da cooperativa responsável pelo projeto, a renda dos associados mais do que dobrou nos últimos quatro anos. Ele testemunhou a chegada da soja aos limites da floresta, bem visível nos campos a poucos metros da BR-163, mas também viu sua vida se transformar por valorizar a mata em que vive.

Antes da chegada da cooperativa, Pimentel dependia do roçado para viver com a mulher e os quatro filhos na comunidade de Tauari, às margens do Tapajós. O que sobrava da colheita de mandioca era transformado em farinha para ser vendida e garantir o açúcar, café e roupas para a família pelos próximos seis meses.

Pimentel conta que, hoje, com o trabalho de manejo, ele chega a receber mais de R$ 1 mil por mês – praticamente a mesma quantia obtida com a venda de 25 sacas de farinha no fim de uma safra inteira. Protegendo a floresta, ele conseguiu construir uma casa de alvenaria, comprar a primeira geladeira e um computador para a filha de 12 anos, que quer ser engenheira florestal. “Hoje a gente mostra que é possível trabalhar e viver melhor sem destruir”, disse Pimentel.

Parte dos recursos arrecadados nos leilões também é investida de acordo com a necessidade das comunidades e já propiciaram, por exemplo, a reforma de uma estrada que liga as vilas mais isoladas à rodovia principal. Está nos planos da cooperativa a construção de um telecentro com internet para auxiliar na educação dos filhos dos manejadores e um viveiro que fornecerá mudas para recuperação de áreas degradadas. O sucesso dos projetos de manejo na Flona do Tapajós já corre o mundo e recentemente tem atraído visitantes ilustres como o Príncipe Charles e o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, que vieram ver como funcionam as iniciativas que contribuem para manter a floresta em pé.

Segundo Manuella Souza, especialista do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade, o Projeto Ambé tem apresentado os resultados mais expressivos da Floresta Nacional do Tapajós, mas outras iniciativas sustentáveis já começam a surgir na região, como o ecoturismo e a produção e venda do couro ecológico, feito a partir da extração do látex. “Não adianta a gente chegar lá dentro e dizer que não pode desmatar a floresta. É preciso apresentar uma alternativa”, disse Manuella.

Energia
Além da proteção às florestas, outro foco do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima está no controle das emissões do setor energético. Dados preliminares divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente mostram que, em pouco mais de uma década, a contribuição conjunta dos setores da indústria e de energia subiu de 18% para 28% do total de emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Entre 1994 e 2007, as emissões das usinas termelétricas – consideradas fontes sujas de energia – mais que dobraram, passando de 10,8 milhões para 24 milhões de toneladas de CO2, de acordo com a pesquisa.

Apesar disso, o Brasil ainda se encontra em uma posição bastante confortável em relação ao resto do mundo. Dados recentes mostram que 45,9% da energia produzida no País vêm de fontes limpas, enquanto a média mundial é de cerca de 13%. A situação é ainda pior nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), onde a participação das renováveis está abaixo dos 7%.

“Hoje somos exemplo e essa é nossa vantagem competitiva. O esforço é para manter a alta participação de energia limpa em nossa matriz”, afirmou a coordenadora de Sustentabilidade Ambiental do Ministério de Minas e Energia, Samira Sana. Entre os principais trunfos para redução de emissões está o etanol, fruto da tecnologia nacional que já abastece os carros brasileiros há 30 anos. O Ministério de Minas e Energia calcula que, nas três décadas, a substituição da gasolina pelo álcool combustível tenha resultado na redução de 800 milhões de toneladas de CO2.

O Plano Nacional sobre Mudanças do Clima prevê um aumento médio anual de 11% na utilização do etanol, elevando a produção de 25,6 bilhões de litros em 2008 para 53,2 bilhões em 2017, reduzindo as emissões de cerca de 500 milhões de toneladas de CO2 no período. Da mesma maneira, o aproveitamento do potencial do biodiesel também faz parte do plano brasileiro para o clima. O aumento na proporção do biodiesel no diesel, obrigatória desde o início de 2008, teve o cronograma acelerado. O B4 (adição 4% de biodiesel) estava previsto apenas para 2011, mas já está movimentando motores brasileiros desde julho de 2009, enquanto o B5, inicialmente programado para 2013, deve chegar ao mercado nos primeiros meses de 2010.

Pelas contas da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o aumento do teor de biodiesel deve gerar uma economia de cerca de US$ 940 milhões ao ano, resultado da redução de importação do diesel. Em carbono, a medida significa um corte de 1 milhão de toneladas.

Outra frente de ação parte da experiência positiva do Programa de Incentivo às Fontes de Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que em 2005 abriu o mercado de geração brasileiro para as Pequenas Centrais Hidrelétricas, parques eólicos e usinas de biomassa.

Com investimentos de R$ 11 bilhões, o Proinfa contratou 144 projetos espalhados pelo Brasil com capacidade instalada para gerar 12 mil GWh/ano, o suficiente para alimentar cerca de 7,9 milhões de residências com energia limpa. Segundo a Eletrobras, o programa possibilita a redução de 3 milhões de toneladas de CO2 a cada ano, uma vez que evita a construção de termelétricas.

O Grupo Ventos do Sul aproveitou as condições do Proinfa para construir o Parque Eólico de Osório, no Rio Grande do Sul, o maior da América Latina. Com 75 turbinas, tem capacidade instalada de 150 MW, o suficiente para atender o consumo residencial de 700 mil pessoas, metade da população de Porto Alegre. Desde junho de 2006, quando entrou em operação, o parque já evitou a emissão de 450 mil toneladas de carbono, de acordo com a empresa.

O Parque Eólico de Osório representa apenas um começo dos investimentos. O potencial de geração elétrica eólica nacionalmente chega a 143 GW, cerca de 35% maior que a capacidade de produção de energia elétrica no País, que hoje é de 106 GW.

No combate às mudanças do clima, o problema do lixo também pode virar solução, a exemplo do que ocorre em aterros sanitários como o Bandeirantes e o São João, na região metropolitana de São Paulo.

O metano produzido pelas mais de 60 milhões de toneladas de material orgânico em decomposição é transformado em 370 mil MWh/ano de energia, o suficiente para alimentar uma cidade de 700 mil pessoas. O gás é sugado por tubos no subsolo até uma usina instalada nas proximidades de cada aterro. O metano movimenta uma série de geradores e se transforma em energia que é jogada na rede de distribuição.

“Com isso a gente consegue aproveitar uma energia que antes era simplesmente jogada fora, além de resolver o problema do mau cheiro”, disse Antônio Carlos Delbin, diretor técnico da Biogás, empresa responsável pela operação das usinas nos aterros.

Segundo Delbin, o aproveitamento do metano nos dois aterros resultou na redução de 3,5 milhões de toneladas de CO2 em três anos. Em 2008, parte desses créditos foi leiloada, rendendo R$ 37 milhões.

Hora do Planeta /// Ecodebate

Apagar as lâmpadas por uma hora pode ajudar a combater o aquecimento global. É o que propõe a campanha Hora do Planeta, da organização não governamental (ONG) WWF, lançada ontem (3), na capital fluminense. A ideia é convencer as pessoas a desligarem as luzes no dia 27 de março, entre as 20h30 e 21h30.


Essa é a segunda vez que a campanha é realizada no Brasil. Com divulgação na TV e na internet, a estimativa é envolver cerca de 200 cidades. Em 2009, ao lado de 40 mil cidades de 88 países, 113 cidades brasileiras participaram da campanha. Na ocasião, foram apagadas as luzes do Cristo Redentor, no Rio, do Congresso Nacional, em Brasília, e do Teatro Amazonas, em Manaus, por exemplo.

Neste ano, ainda não estão confirmados os monumentos que terão as lâmpadas desligadas. No Rio, cidade-sede da campanha, além de apagar as luzes do Cristo e da Praia de Copacabana, como em 2009, a meta é desligar os refletores do Arpoador, da Praia do Leblon e do Monumento aos Pracinhas, na zona sul, e ainda mobilizar os moradores da zona norte, apagando por uma hora as luzes da Igreja da Penha.

O objetivo da campanha é estimular a reflexão sobre os impactos do consumo de energia e sobre formas de geração de eletricidade que agridam menos o meio ambiente, afirma o presidente do Conselho Diretor da WWF, Álvaro de Souza.

“Essa não é uma campanha para poupar energia. O importante é a conscientização sobre a construção de uma matriz energética mais limpa.”

De acordo com o diretor, embora o desmatamento provocado pela construção de hidrelétricas também se reflita na emissão de gases causadores do efeito estufa, as usinas abastecidas pela queima de combustível fóssil, como ocorre na China, poluem mais. O representante da WWF lembra também que as nucleares deixam um passivo ambiental ainda sem solução para o planeta: o lixo contaminado.

“Todas as opções [de geração de energia] têm um preço. Todas têm uma pegada ecológica. A parte hidrelétrica, como no caso do Brasil, têm uma pegada mais tênue, o grande lance é o alagamento de grandes áreas para construção de lagos que, evidentemente, causam um desequilíbrio”, afirmou.

A campanha Hora do Planeta começou na Austrália em 2007 e se estendeu pelo mundo. No ano passado, ícones de destaque foram desligados nas principais capitais para chamar atenção para o avanço do aquecimento global. Entre eles, a Torre Eiffel, em Paris, o Coliseu, em Roma e a Times Square, em Nova Iorque.
Reportagem de Isabela Vieira, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 04/03/2010

ENERGIA PARA O FUTURO/// CREA-BA

Auto-suficiência em petróleo comemorada pelo governo federal não significa a solução para os problemas energéticos do País


por Sivaldo Pereira

O Brasil é considerado um dos países com maior potencial energético do mundo, tanto devido aos recursos minerais disponíveis quanto à sua localização geográfica. Mas este potencial necessita de investimentos e desenvolvimento tecnológico para se tornar efetivo. Preocupado, o Sistema Confea/Crea incluiu o tema energia nas propostas do projeto Pensar Brasil. O intuito é debater perspectivas e as possíveis contribuições da área tecnológica para o setor.

Atualmente, segundo dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2006, 77,1% da estrutura de oferta interna de energia elétrica do País provém de fonte hidráulica. Na avaliação do ex-coordenador da Câmara de Engenharia Elétrica do Crea-BA, engenheiro eletricista Roberto da Costa e Silva, o modelo baseado em hidroelétricas não é sustentável a longo prazo. “Para evitar problemas futuros, deveríamos investir no desenvolvimento de energias solar, eólica e nuclear. Temos bastante sol, vento e área suficiente para se implantarem usinas solares e eólicas, e somos produtores de material radioativo. Assim, reunimos as condições de sermos independentes”, analisa.

Dados do Ministério de Minas e Energia demonstram ainda que aproximadamente 44% da matriz energética brasileira provém de fontes renováveis. Segundo o professor e coordenador do Laboratório de Energia e Gás da Escola Politécnica (Ufba), engenheiro mecânico Ednildo Andrade Torres, a produção de petróleo – a principal fonte não renovável de energia – ainda se manterá com abundância nos próximos anos, mas, dentro de três ou quatro décadas, as reservas entrarão em declínio. Para o professor, que tem doutorado em energia térmica, o Brasil precisa planejar agora o desenvolvimento de uma matriz energética com uma visão de longo prazo, que seja diversificada, dando ênfase em fontes renováveis de energia, como a biomassa, energia eólica e solar, sem perder de vista também que seria inevitável o uso de energia nuclear no futuro. “Precisamos buscar soluções definitivas como a biomassa e fontes complementares de energia como a solar e a eólica. A longo prazo, certamente precisaremos utilizar energia nuclear. Não o que temos aí, mas algo que ainda será desenvolvido sem a geração de resíduos radioativos” aponta. Torres explica ainda que o grande problema da energia nuclear hoje são os riscos de acidentes e o problema da contaminação.

Se o Brasil reúne as condições prévias necessárias para se tornar uma potência energética no mundo, tal tendência está técnica e economicamente alinhada com as características climáticas e geológicas da Bahia. Boa parte do estado é propícia para implantação de centros produtores de uma matriz energética mais diversificada. Sítios eólicos e solares da região litorânea até o semi-árido, a maioria ainda inexplorada; produção em larga escala de biomassa a partir de plantas oleaginosas como o dendê, no Baixo-sul, ou a soja, no oeste do estado; extração de urânio na região de Caetité, que está entre as três maiores reservas do País, além do potencial hidráulico que já vem sendo explorado nas últimas décadas. “A Bahia é um grande celeiro para geração de energia, não apenas hoje, mas também para o futuro”, constata Torres. Apesar desta potencialidade, o estado também sofre dos mesmos problemas nacionais: falta mais investimento em pesquisa e tecnologia, além de um planejamento estratégico e sustentável para transformar esta potencialidade em riqueza, e a riqueza em benefícios para a população.













Vantagens e desvantagens das fontes de energia

  • Eólica e solar - São fontes limpas, com reduzido impacto ambiental. Dependem, porém, da existência de luz ou vento. Sua implantação é cara e requer grandes áreas para instalação.
  • Nuclear - Tem alto poder de concentração energética. O Brasil possui a sexta maior reserva de urânio do planeta. Desse total, 33% estão localizados na Bahia (Lagoa Real e Caetité). Requer alta tecnologia para o enriquecimento de urânio. Hoje, provoca sérios danos à saúde e ao meio ambiente em caso de acidentes. Os resíduos gerados representam um problema ambiental.
  • Biomassa - Renovável, pode ser extraída de diversas fontes vegetais, ampliando o leque de regiões potencialmente produtoras. No Brasil, há grandes possibilidades de produção em larga escala até mesmo para exportação futura. O problema é que requer grandes áreas de plantio e de investimentos privados na construção de um parque industrial e no desenvolvimento de pesquisas.
  • Hidráulica - Potencial para gerar energia elétrica em larga escala de modo renovável , utilizando-se da força das águas. Sustenta boa parte da produção da energia elétrica consumida hoje nos lares brasileiros. Requer altos investimentos na construção de hidrelétricas. Apesar de ser renovável, há limites para a instalação de usinas ao longo das bacias brasileiras.
  • Gás natural - Não é renovável. Alternativa ao petróleo em muitos países. As reservas mundiais estão em alta e poderão ser o “combustível de transição” com o declínio das reservas de petróleo no mundo.
Para dados complementares, visite o Relatório:
Análise Energética e Dados Agregados
Destaques de Energia por Fonte em 2007

Destaques de Energia e Socioeconomia em 2007
Análise Energética Brasileira – 1970 a 2007
Dados Agregados

link:
www.ipen.br/conteudo/upload/200903220937060.Relatorio_Final_BEN_2008.pdf

Informação & Conhecimento