Por: Redação TN / David Cronin, IPS
A depressão econômica que afeta a União Europeia (UE) reduziu o consumo de energia e, portanto, o custo que implicaria elevar a meta de redução das emissões de gases-estufa, segundo novas análises. A UE se comprometeu oficialmente, em 2007, a reduzir em 20%, até 2020, e tomando por base os indicadores de 1990, a quantidade de dióxido de carbono e de outros elementos contaminantes que é liberada na atmosfera, que provocam o aquecimento global, com a consequente mudança climática.
Contudo, um documento divulgado, no dia 26, pela Comissão Europeia – órgão executivo da UE – diz que elevar essa meta para 30% no mesmo período não implicaria uma carga excessiva para as economias europeias. A queda no consumo de energia causada pela recessão e a alta dos preços dos combustíveis modificou o custo previsto para cumprir a meta de 20%, de 70 bilhões de euros para 48 bilhões de euros ao ano até 2020. Se a meta de redução das emissões subir para 30%, o custo seria de 81 bilhões de euros anuais, 11 bilhões de euros mais do que o previsto originalmente para a redução de 20%.
Embora os cientistas do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) preveja que a meta de 20% não bastará para impedir um aumento catastrófico da temperatura terrestre, a UE se nega a aceitar uma meta maior de redução das emissões.
Um dos principais motivos para isso é que os representantes da indústria, que faz uso intensivo da energia – cimento, alumínio, aço e produtos químicos –, alertam que abandonariam a UE e se instalariam em outros países com normas ambientais mais flexíveis ( no terceiro mundo, por exemplo!!!). Mas as advertências não correspondem aos fatos. Em 2008, o Climate Strategies, instituto de pesquisa climática com sede na Grã-Bretanha, disse que é mais provável que fatores como taxa de câmbio, acesso às matérias-primas, educação da mão-de-obra e infraestrutura do transporte influenciem na localização de uma empresa em um país do que a política climática.
A IPS perguntou a Connie Hedegaard, comissária europeia de Ação pelo Clima, se considera isso um exagero das empresas. “Entendo que o presidente de uma indústria tem algo em mente neste instante: de onde vem o dinheiro? Creio que a Europa também deve considerar o risco da perda de empregos se formos muito ambiciosos. Por outro lado, também há um preço se ficarmos quietos”, respondeu. Hedegaard, uma política dinamarquesa que presidiu várias negociações internacionais sobre Mudança Climática em Copenhague, no ano passado, lamentou que a Europa esteja atrasada no incentivo a tecnologias projetadas para reduzir a dependência de carvão, petróleo e gás.
Embora mais de 60% da nova capacidade geradora de eletricidade na EU, no ano passado, tivesse origem em fontes renováveis, Hedegaard afirma que “a liderança europeia está em dúvida”, sobretudo diante da Ásia. Empresas da China e da Índia estão entre as dez principais produtoras de turbinas eólicas. E a maioria dos paineis voltaicos utilizados para aproveitar a energia solar é fabricada na China e em Taiwan.
Christian Kjaer, da Associação Europeia de Energia Eólica, disse que as fontes renováveis apresentam enormes possibilidades de trabalho. Mais de 190 mil pessoas já estão empregadas na área de geração de energia eólica na Europa, informou a entidade. A falta de vontade demonstrada pelos governantes do mundo no ano passado, em Copenhague para negociar um acordo sólido sobre a mudança climática, não deve impedir que a UE redobre seus esforços para reduzir as emissões, disse Kjaer. “A Europa é líder mundial em energia eólica, mas enfrenta uma competição séria diante de China, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul e Índia”, acrescentou.
A organização Amigos da Terra exortou a UE que fixe uma meta de redução de 40% de suas emissões até 2020, para impedir que a temperatura da Terra aumente dois graus acima dos níveis pré-industriais. O grupo reclama que essa meta seja legalmente vinculante e que os países que não cumprirem suas obrigações sofram sanções.
"A meta de redução de 40% não só é possível, como necessária", sustentou David Heller, especialista em Clima da Amigos da Terra. “Os governos da UE devem enfrentar os interesses criados e cobrar inequivocamente um aumento das metas”, acrescentou o ativista. A alta de dois graus na temperatura terrestre deixaria na rua 250 milhões de pessoas no Sul em desenvolvimento, levaria mais 30 milhões para a indigência e privaria três bilhões de pessoas do acesso adequado à água, afirmam especialistas. “Se continuarmos dependendo dos combustíveis fósseis, reduziremos a capacidade de desenvolvimento das nações pobres”, afirmou Rob van Drimmelen, da Aprodev, uma organização com sede em Bruxelas vinculada às igrejas protestantes. “A adoção de medidas para desvincular a economia europeia do consumo de carbono não é apenas algo inteligente, mas uma obrigação moral”, afirmou.
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