Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Agricultores e grandes poluidores americanos abraçam causa verde >>> Avoided Deforestation Partners >>> UOL




Algumas das maiores organizações agrícolas americanas estão por trás do relatório “Fazendas Aqui, Florestas lá” – que gerou polêmica ao afirmar que o combate ao desmatamento em países tropicais elevaria os ganhos da agricultura nos EUA ao reduzir a competição internacional.

O relatório foi publicado pela coalizão Avoided Deforestation Partners (Parcerios pelo Desmatamento Evitado) e pela União Nacional de Fazendeiros dos EUA, principal sindicato rural do país, mas a Associação Americana de Produtos Florestais e Papéis, a União de Trabalhadores de Usina siderúrgica e a Associação de Plantadores de Milho de Ohio também estiveram pessoalmente envolvidas em divulgar o relatório, que foi rechaçado pelas principais ONGs ambientalistas dos EUA e do Brasil.

“Eu nunca havia visto o setor agrícola tão engajado no lobby sobre legislação ambiental”, diz Alexia Kelly, pesquisadora do programa de Clima e Energia do World Resources Institute, em Washington. “No Senado, eles estiveram envolvidos muito ativamente para garantir que seus interesses estarão representados na legislação”.

O propósito do relatório é influenciar nas votações de uma nova lei sobre mudanças climáticas que deve estabelecer pela primeira vez metas de redução de gases de efeito estufa para as principais indústrias americanas, em especial petroquímicas, serviços públicos e grandes fábricas.

Um dos dispositivos do projeto de lei apresentado pelos senadores John Kerry (D-MA) e Joseph Lieberman permite um mecanismo de compensação em que as empresas poluidoras poderiam comprar créditos de carbono em vez de efetivamente reduzir suas emissões. Uma das maneiras de obter esses créditos seria investir em projetos contra o desmatamento em florestas tropicais.

É aí que entra o Brasil, por possuir a Amazônia, maior floresta restante no mundo. Se aprovada, a nova legislação americana promete modificar completamente a lógica de exploração e ocupação da nossa floresta.

Os reis da poluição
“Esse é na verdade um dos lobbies mais ativo nessa lei, muitos grupos interessados e trabalhando duro para que essa provisão permaneça na lei”, avalia Alexia Kelly. O grupo Avoided Deforestation Partners tem sido um dos mais ativos no lobby pela proteção de florestas.

Além de grandes ONGs ambientalistas, a coalizão reúne algumas das empresas que mais poluem nos EUA (segundo país mais poluente no mundo) como a Duke Energy, PG&E, El Paso Gas e American Electric Power, maior produtora de energia elétrica a carvão do país.

Um dos objetivos do grupo é permitir que os acordos sejam feitos diretamente com governos estaduais ou com proprietários privados em outros países – no Brasil, por exemplo, uma empresa americana poderia negociar diretamente com o governo do Amazonas ou Pará.

“Essas empresas estão interessadas em garantir créditos para poder compensar a redução de emissões que são obrigadas a fazer. E a expectativa é que esses créditos sejam o mais barato possível”, diz Alexia Kelly.

Especialistas dizem que evitar desmatamento é a maneira mais barata de obter créditos de carbono, os quais podem ser usados para que as empresas atinjam suas metas de redução de emissão de CO2. Atualmente, o Brasil já é o quarto maior poluidor do planeta por causa desse tipo de poluição causada pelo desmatamento. A diretora para meio ambiente e segurança da AEP chegou a explicar em entrevista à Revista Time em 2008 a lógica por trás do negócio. “Temos que comparar as compensações com proteção florestal com outros projetos como energias renováveis e temos que tomar a melhor decisão financeira”.

A American Electric Power já possui projetos de conservação de florestas, inclusive na Amazônia.

Segundo o jornalista Mark Shcapiro, que tem investigado o mercado de créditos de carbono no Brasil, o objetivo é garantir acesso aos créditos de carbono enquanto ainda são baratos. Além disso, quando os créditos se tornarem mais procurados e os preços aumentarem, empresas que já possuem projetos podem até acabar lucrando ao vendê-los no mercado como commodities.

Com a aprovação da nova lei americana, a expectativa é que o mercado de créditos de carbono salte de 300 milhões de dólares atualmente para 2 trilhões em uma década. Segundo a consultoria New Carbon Finance, especializada em análises do mercado de carbono, em 2020 os créditos de carbono devem ser uma das commodities mais vendidas no mundo.

“Esse não é um Mercado abstrato, é bem real. Tem muitas pessoas lotando a Amazônia em busca desses créditos”, diz Schapiro “Hoje em dia no Brasil há vendedores de carbono negociando contratos para obter esses créditos que depois vão ser vendidos pata empresas americanas. Muitos moradores da floresta nos disseram que foram procurados para negociar um acordo sobre os créditos de carbono das suas terras e não sabiam o que responder”.

Schapiro pesquisou alguns dos projetos-modelo atualmente existentes na Amazônia brasileira, em especial no estado do Amazonas, para seu filme Carbin Hunters. Exibido pela rede pública Americana PBS. Para ele, na prática tais projetos de proteção florestal são “imensamente complicados”.

“As pessoas moram na floresta, precisa dela para sua sobrevivência. E de repente o seu acesso a essa floresta fica restrito, o que pode até parecer bom no papel, mas na rpática elças não podem mais cortar árvores, e não são madeireiros ilegais, são moradores que vivem dos recursos da floresta”.

O documentário mostra, por exemplo, um morador que passou a ser acossado pela polícia ambiental após a vinda de um projeto com patrocínio multinacional, não podendo nem mesmo obter madeira para forrar o teto da sua casa.

“O problema é que esse mecanismo de compensação não reduz de fato as emissões. E corre o risco de perpetuar tecnologias sujas, já que as empresas podem por exemplo abrir uma nova planta de energia a carvão e depois apenas ‘compensar’ essa poluição”, avalia Chris Lang, editor do site REDD Monitor, que cobre notícias sobre o mercado de carbono.

Mas na visão da Avoided Deforestation Partners, o mecanismo pode ser a melhor saída. É assim que o vídeo que acompanha o relatório "Fazendas aqui, florestas lá” vaticina: Agora você já sabe. Nenhuma nova tecnologia é necessária. Nenhum novo sistema precisa ser inventado. Florestas tropicais. A solução barata para o aquecimento global".

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