Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Ser sustentável vende: a “maquiagem verde” em alta!

Em mais uma semana de comemoração do meio ambiente, este que nos fornece tudo sem cobrar nada, é interessante refletirmos como estão nos vendendo a “causa verde”. Como a palavra “eco” e “sustentável” está agora na mídia, seqüestrada pelas empresas para nos fazer consumir sem culpa, de consciência limpa e tranqüila! Separando os bem intencionados desta categoria, o termo usado em inglês é “greenwashing”, o que aqui podemos chamar de maquiagem ou verniz verde. Isto mesmo, consumidores, vamos ao supermercado, ao shopping ou as compras virtuais, e lá estão os produtos maquiados, pintados de verde, nos convidando a sermos ambientalmente corretos.

Um olhar menos atento, acaba acreditando que uma palha de aço usada na limpeza diária da casa, agora é ecológica, apenas por degradar-se no ambiente. Uma garrafa de plástico de um refrigerante de cor escura, agora é biodegradável por usar etanol brasileiro na sua fabricação. Latinhas de cervejas feitas a partir de um metal maleável são ecologicamente corretas por poderem ser recicladas.

O que não dizer de uma famosa mostra de ambientes de arquitetura e design de interiores, que nos convida a “morar verde”, “ao bem-estar sustentável”, que as pessoas ainda pagam para ver! A equação aqui é simples: verde + marketing e propaganda = melhoria de imagem e aumento de lucros. Todos no ramo já sabem da tendência de sermos “amigos do ambiente”. Em recente estudo conduzido entre sete países, entre eles, o Brasil, conclui-se que em média, as pessoas ouvidas estão dispostas a gastar 37% a mais em produtos verdes.

Apesar da mesma pesquisa ter concluído que há uma percepção de que produtos limpos são mais caros, 73% dos brasileiros responderam que pretendem gastar mais com eles em 2010. Vamos aos fatos, o que falta é mais informação e conhecimento por parte do consumidor do que é realmente ecológico ou sustentável.
Temos um nível raso de discussão nas escolas, que acham que basta fazer programa de separação de resíduos e transformar garrafa PET em carrinhos e aviõezinhos ser o suficiente para uma educação ambiental (sem falar na tradicional plantio de uma árvore no pátio no dia 05 de junho!). Ou mesmo nas empresas, universidades e secretárias de governo que utilizam papel reciclado nos seus impressos, acreditando que fazem a parte verde que lhes cabe!

Para reverter esta situação, talvez uma primeira medida a ser implantada, seria ensinar aos estudantes (e também professores) de todos os níveis e cursos, além de patrões e empregados, o que é Análise de Ciclo de Vida (ACV) de um produto. Trata-se de entender qual o impacto socioambiental de toda a trajetória de fabricação do mesmo, do berço ao túmulo (ou ressurreição). Quer dizer, mapear desde a extração do recurso, a produção da matéria-prima e a transformação em produto, além do transporte, uso e descarte final (ser reaproveitado ou reciclado), para assim sabermos o quanto o mesmo é ecológico ou insustentável. Em países sérios, selos e certificações que atestam cientificamente os produtos verdes se utilizam do ACV.

Este é o papel que deve assumir o governo, as universidades, as instituições reguladoras, que tem credibilidade para tal, sem a contaminação comercial. Assim, poderíamos entender que o aço e o alumínio causam um grande impacto no ambiente, desde a extração no minério de ferro e a bauxita, passando pelos os ácidos e produtos químicos usados nas suas transformações, até a enorme quantidade de energia utilizada no seu processo.

Ser sustentável, também seria as empresas darem melhores condições de coleta e reciclagem de suas latinhas para o exército de catadores que vagueiam pelas ruas e lixões das cidades brasileiras. Também compreenderíamos que longas distâncias não são sustentáveis, como querem nos convencer os fabricantes da garrafa de “plástico verde”, a base do etanol brasileiro, que viaja meio mundo para ser transformado em garrafa na Índia, para depois voltar ao Brasil, o que significa 14 mil quilômetros de emissão de carbono.

Sem contar, que “morar verde” em Curitiba ou em qualquer parte do Planeta é muito mais do que tomar chá em uma mesinha de madeira de demolição ou colocar meia dúzia de vasos de flores dentro de casa. Para termos o bem-estar sustentável e saudável, temos de abdicar um pouco do luxo em pró da simplicidade, projetar ambientes com conforto térmico-acústico e deixarmos de usar produtos de base sintética ou que usam colas cancerígenas, assim como os metais cromados, tintas tóxicas e lâmpadas de alto consumo energético.

Com informação correta, conscientização e educação, poderemos evoluir e limparmos o Planeta da eco-maquiagem.

Eloy Casagrande Jr, PhD em Eng. de Recursos Minerais e Meio Ambiente, Professor e coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR

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