Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Multinacionais brasileiras >>> FAPESP

15/6/2010
Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – De fevereiro de 2006 a janeiro de 2010, uma pesquisa levantou e analisou informações sobre os processos envolvidos na internacionalização de empresas brasileiras.

O trabalho, conduzido com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático, resultou em sete livros, 15 dissertações de mestrado e 23 teses de doutorado. Também aprofundou a cooperação entre grupos de pesquisa brasileiros na área e gerou subsídios para companhias nacionais interessadas em atuar no exterior.

Segundo o seu coordenador, o professor Afonso Fleury, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o projeto “Gestão empresarial para internacionalização das empresas brasileiras” (Ginebra) ajudou a impulsionar a área de pesquisa em negócios internacionais na qual o Brasil, junto com outros países emergentes, especialmente China e Índia, passa a atuar com grande destaque.

Para chegar a um bom termo, de acordo com Fleury, a pesquisa precisou desenvolver conhecimentos novos, superando obstáculos de um campo de investigação diversificado e complexo, e analisar dados fragmentados.

“Para tratar de temas dessa envergadura e complexidade projetos do tipo temático são imprescindíveis”, disse Fleury à Agência FAPESP. A abrangência da pesquisa pode ser notada nos sete subprojetos nos quais o projeto foi organizado: estratégia corporativa e estrutura organizacional; gestão do conhecimento; gestão de competências e operações; gestão de pesquisa e desenvolvimento; gestão de projetos globais; gestão socioambiental; e agenda de políticas públicas.

De acordo com Fleury, o estudo das multinacionais brasileiras tem não só de compará-las às multinacionais tradicionais, mas, principalmente, de analisá-las em relação aos demais países emergentes que formam o Bric, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China.

As empresas brasileiras enfrentam vários obstáculos para cruzar fronteiras e estabelecer filiais no exterior. Uma delas seria a falta de tradição em sair do país, mesmo quando comparadas às multinacionais de outros países emergentes. “Empresas indianas como a Tata, por exemplo, estão presentes no Reino Unido desde o século 19”, contou.

Outro obstáculo é o idioma, no qual a Índia tambem leva vantagem. O domínio da língua inglesa facilita a inserção dos indianos, os aproxima de outros países e viabiliza negócios no exterior.

No caso da China, o governo daquele país assumiu o compromisso de promover a internacionalização de sua economia já em 1979, estabelecendo um objetivo de longo prazo de ter 50 empresas entre as 500 maiores do mundo. “Atualmente, já são 30 nesse grupo”, disse Fleury.

O forte apoio do governo chinês é um peso importante nesse aspecto, de acordo com o professor da Poli. No Brasil, as políticas públicas de incentivo à internacionalização são bem mais recentes.

Até a década de 1990, as empresas brasileiras viviam isoladas da concorrência internacional. “Naquela época o processo de substituição de importações chegou ao fim e o país passou a participar cada vez mais da chamada globalização da produção. Quem não se preparou para isso, quebrou ou vendeu o negócio. As empresas que haviam desenvolvido competências organizacionais para competir na economia global começaram a se destacar”, destacou.

O processo de internacionalização era visto com desconfiança pelas áreas do governo até recentemente, segundo Fleury. “A ideia que se tinha era que empregos e investimentos seriam levados para fora do país”, afirmou.

Segundo ele, isso só teria mudado recentemente, com uma nova postura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de apoio à internacionalização, que inclui grandes aportes e a criação de grupos nos quadros do banco para articular e fomentar esses processos.

Outros países, como a China e mesmo a Espanha, têm dado um caráter mais estratégico à internacionalização de suas empresas. Na Espanha, o governo criou fóruns para as empresas que se agruparam e saíram em blocos, aumentando as chances de sucesso. “A América Latina foi invadida pelo que se chamou de armada espanhola”, destacou o professor. No caso das empresas brasileiras as decisões ainda são isoladas”, disse.

“Sair em bloco reduz as incertezas do ambiente externo e também as dificuldades enfrentadas em solo estrangeiro, como, por exemplo, a obtenção de financiamentos ou de suprimentos de acordo com padrões de qualidade do país de destino”, completou.



Inovação

O projeto Ginebra revelou modelos de negócios inovadores desenvolvidos por empresas brasileiras que dão sustentação competitiva no processo de internacionalização. É o caso da Embraer, sediada em São José dos Campos, que compete em um mercado de alta tecnologia.

Para empreender novos projetos, a Embraer conta com parceiros investidores que correm os mesmos riscos que a empresa. A inovação requer investimentos de risco, área que ainda engatinha no Brasil, segundo Fleury.

“No projeto de construção de seu primeiro jato executivo, a Embraer contou com quatro parceiros de risco. Hoje, são 11 os que apoiam seu novo modelo”, disse, salientando que o país ainda precisa se habituar a fazer esse tipo de investimento, fundamental para ganhar outros mercados.

“Hoje, inovação não diz respeito somente a uma tecnologia, mas também a uma nova proposta de negócio”, apontou o pesquisador, dizendo que se trata de uma característica da atual onda de internacionalização.

Todas essas informações foram partilhadas com empresas durante o desenvolvimento do Projeto Temático por meio de reuniões e seminários que serviram tanto para os pesquisadores coletarem dados como para as empresas receberem os resultados das pesquisas.

A troca de informações com outros grupos de pesquisa da área é destacada por Fleury. Pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas e da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais formaram uma rede de trabalho para trocar informações e estabelecer colaborações.

O grupo ainda ganhou visibilidade em instituições como o BNDES e construiu relacionamentos com entidades internacionais como a Academy of International Business (AIB) e com a European International Business Academy.

Entre os resultados dessas interações estará a realização no Rio de Janeiro, em junho, da conferência internacional de 2010 da AIB. Será a primeira realização na América Latina do evento que deverá reunir cerca de 800 pesquisadores de diversos países.

Entre os sete livros gerados com resultados do trabalho se destaca a coletânea que leva o mesmo nome do Temático: Gestão Empresarial para a Internacionalização de Empresas Brasileiras, publicada pela editora Atlas, e o Brazilian multinationals: competences for internationalization, pela Cambridge University Press.

O projeto ainda contribuiu para ampliar no Brasil os trabalhos acadêmicos em negócios internacionais. “Além de contribuir para a capacitação de novos especialistas no assunto, os estudantes que fizeram seu doutorado no âmbito do Projeto Temático montaram grupos de pesquisa em outras instituições”, comemorou Fleury.

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