II Bienal Brasileira de Design - Curitiba
Uma canoa que por décadas serviu à atividade de pesca dos índios pataxós; restos de madeira que ficariam no relento até se desintegrar; e uma floresta plantada especialmente para a produção de móveis, sem exigir desmatamento. Esses são algumas das propostas dos designers brasileiros para diminuir a pegada ecológica, evitando o desperdício e a degradação ambiental, a partir do reaproveitamento de matéria-prima descartada.
O designer gaúcho, radicado em São Paulo, Hugo França, encontrou em Trancoso (BA) a solução para canoas que já não serviam mais para a atividade de pesca dos pataxós continuassem úteis, mesmo que para outros públicos. "Uma canoa dessas, feitas a partir da madeira de pequi, é citada entre as peças mais resistentes, pois esta madeira dura até 1.200 anos e demora até 200 anos para que a árvore fique adulta", conta o designer que teve uma de suas peças leiloadas na Sotheby's em Londres. A originalidade da transformação encanta, mas Hugo França lembra que a contar pelo tempo de vida da madeira, as peças que hoje são charmosas chaise-longues, poltronas, cadeiras e mesas, já existiam, pelo menos no que se refere à matéria-prima, antes mesmo do Brasil ser descoberto.
Madeira certificada - Do Amazonas vêm peças originais como o cabide mancebo, a mesa muirapiranga, o biombo encontro das águas e até jóias e peças de decoração. Elas foram produzidas pelo Núcleo de Design e Meio Ambiente (DETEC/CDER), da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI), a partir de madeiras certificadas de floresta natural, segundo o curador da Bienal, Fábio Magalhães.
No caso das jóias, a designer Iuçana Mouco associa a machetaria à ourivesaria (ouro 18K) com incrustação de pedras brasileiras, como o cristal de quartzo, a bases de madeira como a Preciosa (Aniba canelilla), o Amarelo Cetim (Euxylophora paraensis), o Muirapiranga (Brosimum paraense) e o Rouxinho (Peltogyne paradoxa).
Cestaria sustentável - Outro exemplo de design sustentável exposto na II Bienal vem de Pernambuco, do projeto de pesquisa e extensão Imaginário Pernambucano. A proposta é tornar a atividade artesanal um meio de vida sustentável para comunidades produtoras de artesanato. O projeto conta com o apoio de professores, técnicos e estudantes que, em parceria com instituições públicas e privadas, desenvolvem ações de design associadas ao desenvolvimento sustentável. A cestaria de cana-brava, por exemplo, está representada na Bienal com peças produzidas a partir de uma espécie de bambu. O projeto é formado por um grupo de artesãos da comunidade de Ponta de Pedras. Eles utilizam a técnica do trançado em fibra de cana-brava para confeccionar produtos artesanais.
A matéria-prima é uma espécie de bambu encontrado em abundância na região e, utilizado pelos pescadores para a confecção do covo, armadilha de pesca de origem indígena. A parceria entre o Imaginário e o grupo de artesãos resultou na melhoria do processo de beneficiamento, no desenvolvimento de novos produtos e na implementação do Centro de Produção Artesanal Romualdo Maranhão.
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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