Liderança faz parte do nosso problema atual e não da solução. Com esse conceito, o professor do MIT, Peter Senge, abriu sua palestra no Fórum Mundial de Liderança e Alta Performance.
Longe de sugerir alguma polêmica, o especialista em gestão explicou seu ponto de vista: “... em um momento de crise, todo mundo fica esperando que alguém faça alguma coisa e, em geral, chamamos isso de liderança”.
Em sua explanação, o pesquisador ponderou que a maioria confunde liderança com “chefiança”. “Quando alguém usa a palavra liderança, em geral, está se referindo aos chefes”, ressaltou.
Para Senge, a crise representa um momento singular, uma oportunidade para que as empresas e pessoas repensem os conceitos e as premissas que as impedem de ver o quadro real. Ao perguntar à plateia qual a natureza do atual panorama global, ouviu respostas como "crise de responsabilidade", "crise de valores", "crise de confiança" e "ganância". Mas observou: "A raiz é financeira".
Para mostrar como, frequentemente, pontos de vista comumente aceitos estão equivocados, o especialista propôs um exercício simples: desenhou um bolo com quatro camadas e incitou a audiência a definir entre as esferas principais da sociedade – natural, social, econômica e financeira – quais compunham as bases.
O consenso foi de que a natural seria a base. A social comporia a segunda camada, como alicerce para a econômica e a financeira. Na avaliação de Senge, no entanto, a montagem do bolo estava completamente errada. “Não é como o mundo funciona. A base é o bem-estar econômico. Essa é a realidade observada”, afirmou o pesquisador.
Portanto, a crise é um momento único: “Existe uma abertura e as pessoas estão começando a pensar de um modo que nunca haviam pensado antes”. E o professor complementa: “Quando alguém fala de ganância, fala de ganância do outro, mas e a própria? Raramente dizemos que nós criamos um sistema que estimula a ganância, que fazemos parte dele e que queríamos ter ganhado dinheiro com aqueles investimentos”.
Nessa situação de caos econômico, as empresas vão se diferenciar pela forma como lidarão com o problema. O professor do MIT explicou um ponto fundamental para entender como o pensamento convencional pode ser perigoso em situações de crise: “Em estado de medo, nós concentramos nossa atenção automaticamente e, ao fazê-lo, a nossa consciência periférica, assim como nossa visão periférica, desaparece, e entramos num baixo estado de consciência. É a maneira de nos focarmos na ameaça.” Na opinião de Senge, muitas empresas estão aterrorizadas e, assim, estão reagindo sem pensar - ou não estão pensando mais perifericamente.
Peter Senge citou as demissões como uma forma de reação típica das empresas aterrorizadas. “No passado, muita gente declarava que as pessoas eram o ativo mais importante e, hoje, o capital humano caiu para terceiro ou quarto lugar nas prioridades dessas mesmas companhias”, exemplificou.
O especialista acredita que os períodos de crise são extremamente úteis, pois trazem à tona os valores mais profundos de uma organização. Desse modo, enquanto a maioria das empresas amarga a retração, muitas, por outro lado, vão melhorar significativamente sua participação de mercado. “A razão é que sabem onde querem chegar e enxergam a necessidade fundamental de equilibrar o curto prazo com o longo prazo.”
Alegria é o motor da performance
O professor do MIT, Peter Senge, apresentou na primeira parte de sua palestra um estudo realizado durante 10 anos por uma equipe da Hewlett-Packard sobre performance no trabalho.
E o resultado pode até parecer surpreendente para muitos, mas o pesquisador explicou que as conclusões apenas corroboram os ensinamentos do estatístico e consultor W. Edward Deming, que defendia o bem-estar social como principal fator para uma empresa de sucesso.
Segundo Senge, o professor Deming dizia que o principal requerimento para se alcançar qualquer meta, incluindo a qualidade, é alegria no trabalho. “Existe um mito que nos EUA se vive uma boa vida. Todo mundo quer ir para os EUA, ter três ou quatro automóveis e comprar cada vez mais. Isso é mito. Mas ninguém fala sobre o nível de satisfação. Mas a verdade é que trocamos o bem-estar social pelo bem-estar material”, resumiu.
E o relatório da HP apontou como o ingrediente principal na questão da performance: a alegria. “Para entender a performance, siga a Alegria”, o título do estudo, remete aos conceitos aprendidos ao longo de uma década. E o pesquisadores descobriram que grandes performances sustentáveis têm um padrão, um feeling e são sociais em sua natureza.
Todos os exemplos de um alto desempenho sustentável só acontecem quando você cria um nível mais alto de bem-estar social. “As pessoas sempre dizem que trabalham por dinheiro, mas é correto? O Dr. Deming dizia que essa é a primeira razão pela qual uma organização não tem alto desempenho, pois acreditam que as pessoas não têm alegria no trabalho. Todas as pessoas querem alegria no trabalho, querem ser reconhecidas e ter orgulho do que fazem”, resumiu Senge.
O alto desempenho gerado por medo é de curtíssimo prazo. E todo alto desempenho sustentável é gerado por bem-estar social. O pesquisador do MIT citou também um estudo realizado nos anos 1980 sobre empresas que sobrevivem muito tempo.
As estatísticas mostram que, em toda a história, as indústrias sobrevivem em média de 30 a 40 anos mesmo tendo cenário favorável: dinheiro, talentos e produtos vencedores. No entanto, um pequeno grupo de companhias existe há muito tempo, algumas com mais de dois séculos de história.
Para Peter Senge, são empresas sabem continuamente aprender e se moldar a um mundo em rápida mutação. O professor chamou essa característica de aprendizado organizacional. Segundo o especialista, a razão de a maioria das organizações não sobreviverem se deve ao sistema de administração falho, que não soube usar o espírito coletivo e inteligência das pessoas.
“Todas as pessoas nascem com a alegria de aprender, com curiosidade, uma natureza afetuosa. A destruição, segundo Deming, começa na escola quando temos prêmios e troféus para melhor desempenho. É um sistema de recompensas para que está em cima e pressão para os que estão em baixo”, explicou Senge.
As companhias de vida longa, por outro lado, vêem a si mesmas como uma comunidade humana viva, ao invés de uma maquina de produzir lucro. O pesquisador do MIT completou ainda que um sistema de administração que não consegue gerar bem-estar social consequentemente falha em sustentar altos níveis de performance.
Materia publicada no JCMDIATICA.blogspot.com
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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