Daniel Popov
SÃO PAULO - A produção agrícola mundial vai crescer aproximadamente 40% nos próximos 10 anos, com destaque para Brasil, que deve responder por 70% deste total. A previsão é de Roque Dechen, diretor da Escola Superior de Economia Aplicada (Esalq), para quem o setor aposta em sustentabilidade e tecnologia para manter a qualidade da matéria-prima e os altos índices de crescimento vistos nos últimos anos.Em linha com essa previsão, a Nestlé, que prevê crescer em média 5% ao ano na produção de lácteos no mundo, deve disponibilizar mais de US$ 50 milhões em microcrédito para que seus produtores invistam em sustentabilidade.
Para Roberto Dechen, que também é vice-reitor da USP (Universidade de São Paulo), a palavra de ordem no setor agrícola brasileiro é sustentabilidade. Ele falou ontem sobre o assunto durante o 2º Fórum de Criação de Valor Compartilhado realizado pela Nestlé.
"Todos temos que nos preocupar com a sustentabilidade da produção agrícola, que gera tanto a qualidade de matéria-prima, quanto segurança alimentar. Hoje isso é cobrado tanto do profissional de agronomia, quanto do estudante, exatamente para que tudo que faça seja focado na sustentabilidade. Todas as ações do plantio, a colheita e a transformação do produto têm de estar pautadas na sustentabilidade", comentou Roberto Dechen.
Dechen disse que para obter bons resultados nas produções é obrigatório aliar a sustentabilidade, que se baseia no desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades, aos avanços tecnológicos. "Estamos preocupados com o crescimento esperado no País nos próximos anos, é preciso investir muito em novas tecnologias". argumentou.
Além disso, o vice-reitor também defende a mudança na grade de ensino das atuais faculdades de agronomia, para maior preparo em relação a demanda produtiva do setor até 2020. "O estudante que ingressar em 2011 em alguma faculdade de agronomia, se formará em meio aos crescimentos do setor, e precisa preparo para enfrentar esse novo cenário", finalizou.
A aposta brasileira parece também refletir as expectativas mundiais, contou o diretor da Divisão Agrícola da Nestlé S.A., Hans Jöhr. Para ele, o tema sustentabilidade é uma tendência mundial, já que ela está atrelada a preservação do meio ambiente, melhoria na qualidade de produtos, e aumento de produção. "Isso está encravado em nosso DNA. Temos programas muito ambiciosos para os próximos anos", mencionou.
Próximos anos
Jöhr comentou ontem que a Nestlé projeta um aumento de 5% ao ano na produção de itens lácteos no mundo, que representa um incremento de aproximadamente 100 mil vacas a produção por ano.
Segundo ele, a empresa mundial realiza um total de compras superior a US$ 23 bilhões em matérias-primas, como o café, o cacau e o leite, junto aos pouco mais de 540 mil produtores parceiros da Nestlé. Deste total dois terços são oriundos de países emergentes. "Nesses países temos a nossa fonte de matérias-primas de qualidade, além de nos ajudar na interação com países onde não temos uma estrutura claramente formada", contou.
A companhia suíça afirmou que disponibiliza mais de US$ 50 milhões em microcréditos para auxiliar esses produtores, além de estudos agronômicos para otimizar e melhorar a qualidade dos produtos, e profissionais para prestar assistência técnica nas lavouras. "O desenvolvimento rural é uma preocupação da empresa desde a sua criação. A Nestlé também possuí pesquisas coletadas de dados e técnicas para obter um item de alta qualidade, para fornecer aos produtores de leite da região. E até concessão de microcrédito temos como incentivo para o uso de novas tecnologias".
No Brasil, a Nestlé lidera o ranking de captação de leite fresco, trabalhando com cerca de seis mil produtores diretos 40 mil indiretos. "Desde que está no País - há 79 anos -, a empresa atua com projetos de desenvolvimento rural, com foco principalmente na cadeia do leite", lembrou Jöhr.
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