Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Geotermia: energia sob nossos pés

Lester Brown
Data: 06/09/2010
O calor concentrado nos quase dez quilômetros superiores da crosta terrestre contém 50 mil vezes a energia combinada das reservas mundiais de petróleo e gás. Mas são aproveitados apenas cerca de 10.700 megawatts da geotermia. Em parte pelo predomínio do petróleo, do gás e do carvão, que oferecem combustível barato se são omitidos os custos da mudança climática e da contaminação do ar, se investe pouco no desenvolvimento de fontes geotérmicas.

Na última década, este tipo de energia cresceu apenas 3% ao ano. Quase a metade da capacidade de geração está nos Estados Unidos e nas Filipinas, e a restante quase toda pertence a Indonésia, México, Itália e Japão. Apenas 24 países convertem energia geotérmica em eletricidade. El Salvador, Islândia e Filipinas obtêm, respectivamente, 26%, 25% e 18% de sua eletricidade de centrais geotérmicas. O potencial elétrico, de calefação e calor industrial é vasto.


Boa parte da riqueza geotérmica se encontra no Cinturão de Fogo do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia, México, Estados Unidos, Canadá, Rússia, China, Japão, Filipinas, Indonésia e Austrália), no africano Grande Vale do Rift (Quênia e Etiópia) e no Mediterrâneo oriental. Para além da geração elétrica, cerca de cem mil megawatts geotérmicos são consumidos diretamente, não sendo transformados em eletricidade, para calefação doméstica, invernadas e caldeiras industriais: os banhos termais no Japão, as casas na Islândia e as invernadas da Rússia.

Uma equipe interdisciplinar de 13 cientistas e engenheiros, reunidos em 2006 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), avaliou o potencial de geração elétrica geotérmica nos Estados Unidos. Apoiada nas técnicas mais avançadas usadas pelas empresas de petróleo e gás, a equipe estimou que é possível controlar a energia geotérmica em escala maciça. O método consiste em perfurar a crosta de rochas quentes e nelas injetar água, que em seguida é extraída superaquecida para alimentar uma turbina a vapor.

Segundo a equipe do MIT, com esta tecnologia os Estados Unidos obteriam suficiente energia geotérmica para atender duas mil vezes suas necessidades elétricas. Embora ainda seja cara, esta técnica pode ser usada quase que em qualquer parte para transformar o calor geotérmico em eletricidade. A Austrália é líder em plantas-piloto que a utilizam, seguida de Alemanha e França. Para que os Estados Unidos aproveitem plenamente este potencial, os cientistas do MIT estimaram que o governo teria que investir, nos próximos anos, US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, aproximadamente o custo de uma central elétrica movida a carvão.

Enquanto esta técnica se universaliza, ocorrem investimentos promovendo tecnologias existentes. Durante muitos anos, a energia geotérmica norte-americana esteve relegada ao projeto dos gêiseres do norte da cidade de São Francisco. Trata-se do maior complexo geotérmico do mundo, com capacidade de geração de 850 megawatts. No país, são gerados mais de três mil megawatts e estão em construção 152 unidades em 13 Estados, que praticamente triplicarão sua capacidade geotérmica.

A Indonésia chamou a atenção em 2008 quando anunciou um plano para desenvolver uma capacidade geotérmica de 6.900 megawatts. As Filipinas também planejam vários projetos. Na África, o Quênia é o líder. Agora pode gerar cem megawatts e prevê mais 1.200 para 2015. Isto quase duplicará sua capacidade atual de geração elétrica de 1.300 megawatts, considerando a soma de todas as fontes. O Japão, com capacidade total de 535 megawatts, foi um dos primeiros líderes. Agora, após quase três décadas de inatividade, este país muito conhecido por seus milhares de banhos termais, está voltando a construir centrais geotérmicas.

A Alemanha tem cinco pequenas usinas deste tipo, e cerca de 150 em estudo. “As fontes geotérmicas podem atender cerca de 600 vezes as necessidades de eletricidade deste país”, disse Werner Bussmann, diretor da Associação Geotérmica Alemã. Atualmente são muito usadas as bombas para calefação e refrigeração e o fazem com um consumo de eletricidade entre 25% e 50% menor do que os sistemas convencionais. Esta técnica aproveita a notável estabilidade de temperatura que tem a crosta terrestre próxima à superfície e a usa como fonte de calor no inverno, quando a temperatura do ar é baixa, e como fonte de refrigeração no verão, quando o ar está muito quente.

Islândia e França estão na vanguarda do uso direto do calor terrestre. Na Alemanha, 178 mil bombas funcionam em prédios residenciais e comerciais, e a cada ano 25 mil novas são instaladas. Se os quatro países mais povoados do Cinturão do Fogo – Estados Unidos, Japão, China e Indonésia – investissem seriamente no desenvolvimento deste recurso, poderiam facilmente convertê-lo em uma das principais fontes de energia do mundo.
* Lester Brown é fundador e presidente do Earth Policy Institute. Este artigo é uma adaptação de um capítulo de seu livro “Plano B 4.0: Mobilizing to Save Civilization”, disponível no site http://www.earthpolicy.org/index.php?/books/pb4.

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