A Sustentabilidade e a Responsabilidade Social Corporativa (CSR) são discutidas com cada vez mais freqüência e de forma mais crítica pelo público. Kasper Rorsted, chairman do Conselho de Administração da Henkel, explica porque nunca foi tão importante entender a sustentabilidade e a CSR como oportunidades e utilizá-las como um fator de sucesso.
Sr. Rorsted, o senhor pode nos dar um exemplo concreto de como sua empresa combina responsabilidade social e ecológica com sucesso no negócio?
Nossa ambição é aliar performance de produto com responsabilidade em relação às pessoas e ao meio ambiente, e desta forma estabelecer um novo padrão de qualidade. Para que isto seja alcançado, a Henkel definiu cinco áreas de foco: energia e clima, água e efluentes, materiais e resíduos, saúde e segurança, e progresso social. Além de aumentar nossa margem, cada novo produto deve também contribuir com o desenvolvimento sustentável em pelo menos uma dessas áreas de foco. Por exemplo, nós desenvolvemos nossos detergentes de lavanderia ainda mais para que eles ofereçam um bom desempenho até mesmo a temperaturas baixas e dosagens pequenas. Isto possibilita que os consumidores economizem energia, ao mesmo tempo em que obtêm os mesmos resultados de limpeza. Mais de 2/3 dos ingredientes das formulações de produto de nossos sabões, xampus e sabonetes líquidos são baseados atualmente em matérias-primas renováveis. Em nosso negócio de adesivos industriais, nós oferecemos soluções de sistema que ajudam a reduzir os custos com energia, água e eliminação de lixo em muitos processo os. E nós desenvolvemos novas tecnologias para a proteção contra corrosão que funcionam sem o uso de fosfatos e evitam os resíduos de metal pesado.
Sua empresa conquistou o Prêmio Alemão de Sustentabilidade e também recentemente foi incluída no Índice Dow Jones de Sustentabilidade Mundial. O que isto significa?
O Índice Dow Jones de Sustentabilidade Mundial (DJSI) lista as empresas que operam de acordo com os princípios de desenvolvimento sustentável. Nos últimos dez anos, a SAM Indexes GmbH tem realizado uma avaliação anual de empresas com base em critérios econômicos, ecológicos e sociais. A Henkel recentemente foi escolhida mais uma vez como líder em sustentabilidade no setor de Produtos Domésticos Não Duráveis. Somente 10% das 2.500 maiores empresas do mundo entram para o DJSI.
Aparte de todos esses sucessos, onde o senhor acredita que haja maior necessidade de ação, em relação ao desenvolvimento sustentável – em sua própria empresa e talvez por todo o setor?
Nós devemos promover o consumo inovador e sustentável. Os números da população estão aumentando em todo o mundo, e o padrão médio de vida e o consumo correspondente também estão crescendo. Como resultado, mais e mais recursos são consumidos e as emissões estão aumentando. Por isso, devemos desenvolver produtos e soluções ainda melhores, ao mesmo tempo em que facilitamos para os consumidores em todo o mundo, tomar decisões responsáveis de compra e utilizar os produtos de forma sustentável. Normalmente, a pegada ecológica de muitos bens de consumo depende em grande parte do uso eficiente dos produtos pelos consumidores. Os detergentes de lavanderia são um bom exemplo. Economizar energia ao lavar roupas a temperaturas mais baixas pode ser uma contribuição importante e para a proteção climática. No entanto, devemos comunicar essas ofertas de maneira ainda mais clara para os consumidores. “Traduzir” os benefícios sustentáveis em conceitos de comunicação claramente entendidos e críveis ajuda a envolver os consumidores na abordagem dos desafios que o desenvolvimento sustentável impõe à sociedade como um todo.
Este princípio de sustentabilidade é aplicado aos seus funcionários também? Se sim, de que forma?
Sim, absolutamente. Como uma empresa familiar, a Henkel foca no crescimento lucrativo em longo prazo. Para poder alcançar isto, precisamos de bons funcionários, e investimos constantemente em seu treinamento e educação continuada. Uma das razões pela qual fazemos isto é que preferimos preencher as vagas gerenciais com nossos próprios funcionários. Somente na Alemanha, nós investimos um total de €10 milhões em cerca de 19 mil atividades de treinamento para nossos funcionários no ano passado.
Com que profundidade a sustentabilidade é discutida em seu treinamento ocupacional para jovens, para que os funcionários internalizem esta meta logo no início?
Nós tentamos incutir a ética de sustentabilidade nas mentes de nossos trainees desde o início. Quando eles começam seu treinamento, todos eles recebem uma introdução sobre desenvolvimento sustentável. Desta foram, eles ficam familiarizados com os aspectos práticos do assunto em seu trabalho diário na empresa. Os assistentes do laboratório de química aprendem como lidar com produtos químicos de forma responsável. Os trainees comerciais que trabalham nos departamentos de compra aprendem sobre o quê esperamos de nossos fornecedores em relação à sustentabilidade. Estes são somente dois exemplos entre muitos. Além disso, nós realizamos workshops sobre práticas de negócios sustentáveis. Um aspecto especialmente importante e é a sustentabilidade dos nossos próprios métodos de treinamento. A Henkel oferece um treinamento bem abrangente que vai muito além das exigências do currículo oficial de treinamento. Por exemplo, nós focamos intensivamente em competências pessoais como a habilidade para trabalhar em uma equipe, a flexibilidade e a criatividade. A Henkel também proporciona oportunidades regulares para que os trainees ampliem seus horizontes, por exemplo, organizando visitas a museus ou ao teatro.
Em sua opinião, o que mudou na atitude em relação à sustentabilidade nas empresas alemãs, como resultado da crise econômica?
Aquelas que ainda consideram que CSR e sustentabilidade envolvem doações, patrocínios e projetos que não têm nada a ver com suas próprias atividades de negócios, podem ter reduzido seu envolvimento ao longo da crise. Mas aquelas que – como a Henkel – veem a sustentabilidade como uma responsabilidade que abarca toda a cadeia de valor, estão colhendo agora as vantagens econômicas. Em nosso caso, os aumentos em eficiência dos últimos dez anos resultaram em economias de cerca de €200 milhões, através somente da redução na demanda de energia. Para a Henkel, a sustentabilidade é um fator de sucesso em longo prazo e um estimulador de inovações. A crise econômica não mudou esta visão.
E como o senhor interpreta isso em termos concretos na Henkel? A sua definição de sustentabilidade em 2009 é diferente da de 2008?
Não. Nós adotamos uma perspectiva em longo prazo em relação ao desenvolvimento sustentável, que sempre fez parte de nossa filosofia e ações corporativas. A difícil situação econômica atual não mudará isto. E mais, nosso objetivo de combinar performance de produto com responsabilidade em relação às pessoas e ao meio ambiente funciona como um incentivo à inovação. Isto ajuda nos momentos de crise, principalmente onde podemos oferecer um valor agregado claro aos clientes e consumidores.
Em sua opinião, o que os governos podem fazer para estimular o desenvolvimento sustentável – na Alemanha e no mundo inteiro? O senhor pode nos dar alguns exemplos que já possam ter influenciado a sua empresa?
É importante e que os governos não enviem somente as mensagens corretas, mas também concordem em relação a metas concretas, por exemplo, a respeito da proteção climática. Precisamos de um compromisso global claro e de termos de referência para que todos nós possamos identificar quais contribuições devemos fazer. O termo “todos” implica governos, empresas e consumidores. Um bom exemplo é o desafio de fazer com que nosso consumo seja mais sustentável. O foco não está necessariamente no desenvolvimento de produtos ecológicos, mas sim na oferta e uso de soluções mais inteligentes. Se milhões de residências economizassem energia, através de lavagens a temperaturas baixas, isto traria uma importante e contribuição para a proteção climática. Obviamente, é preciso que haja detergentes de lavanderia de alta performance e máquinas de lavar roupa projetadas de maneira adequada para que isto seja possível. Para que esta abordagem tenha um amplo alcance, precisamos desenvolver um entendimento comum das prioridades: quais categorias de produto nós devemos focar primeiro, e quais os diferentes papéis de cada um. Pois, só poderemos criar as condições e o financiamento do progresso social e ecológico necessário através da interação inteligente entre todos participantes e instrumentos sociais.
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