Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Por que o fracasso da cúpula do clima poderia anunciar a catástrofe global: 3,5º C

IHU UNISINOS
O mundo se encaminha para a próxima importante Conferência sobre a Mudança Climática, em Cancún, no final do ano, para enfrentar um aquecimento global de 3º C no próximo século, e isso sugere uma série de análises científicas. O fracasso da última Conferência sobre a Mudança Climática, realizada em dezembro do ano passado em Copenhague, significa que os cortes nas emissões de carbono prometidos pela comunidade internacional não serão suficientes para manter o aquecimento dentro de limites seguros.

A reportagem é de Michael McCarthy, publicado no The Independent e reproduzida pelo sítio espanhol Globalízate, 19-09-2010. A tradução é do Cepat.

Duas análises do Acordo de Copenhague e suas promessas, feitas pelo Dr. Sivan Kartha, do Stockholm Environment Institute, e o sítio Climate Action Tracke, sugerem que com os cortes atualmente prometidos em Copenhague, o mundo terá se aquecido até 3.5º C em 2100. Provavelmente, esse crescimento terá efeitos desastrosos sobre a produção agrícola, a disponibilidade de água, os ecossistemas naturais e o crescimento do nível do mar no mundo, produzindo dezenas de milhões de refugiados.


Há um mês, em seu relatório anual sobre o estado do clima, publicado conjuntamente pelo UK Met Office’s Hadley Centre e a America’s National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), se enumeram 10 indicadores diferentes relativos a um planeta em aquecimento, sete deles de crescimento – desde a temperatura do ar na terra até a umidade no mar – e outros três de redução: o gelo do Mar Ártico, as geleiras e a cobertura da neve na primavera. “A evidência científica de que nosso mundo está se aquecendo é inequívoca”, disseram na NOAA.

Cancun, ou “COP 16”, como é conhecido oficialmente o evento, voltará a ver ministros e altos funcionários de 200 países abordar com escrúpulos as políticas do aquecimento global, mas ninguém acredita que poderão fechar uma fenda em contínuo alargamento nas defesas do mundo contra temperaturas que crescem perigosamente: a “brecha gigatônica”.

Uma gigatonelada é um bilhão de toneladas de carbono, mas os cortes das emissões atualmente prometidos pelos países do mundo no Acordo de Copenhague – o acordo do último minuto posto como remendo depois da Conferência na capital dinamarquesa para que não viesse abaixo –, significará que para 2020, quando as emissões globais deveriam estar em uma firme tendência de queda, estarão várias gigatoneladas acima do necessário para limitar o aquecimento aos graus necessários acima do nível pré-industrial. Há um amplo consenso de que é o máximo que a sociedade humana pode suportar sem consequências graves.

Entretanto, a comunidade internacional não parece estar mais próxima do consenso sobre a necessidade de novas reduções no carbono e na reunião de Cancún, que acontecerá de 29 de novembro a 10 de dezembro, no melhor das hipóteses se farão apenas alguns progressos em questões secundárias.

Hoje [19 de setembro], o Ministro da Mudança Climática da coalizão, o liberal democrata Chris Huhne, viajará a Berlim para discutir com seus homólogos alemão e francês, Norbert Röttgen e Jean-Louis Borloo, o fortalecimento do objetivo climático da União Europeia de 20% a 30%, antes da reunião de Cancún.

Huhne disse ao The Independent: “Há um duro trabalho por baixo para manter e fortalecer o nível de compromisso encarnado no Acordo de Copenhague, e para reconstruir a credibilidade da Convenção Marco das Nações Unidas para o processo de Mudança Climática”.

“Na União Europeia, ainda temos que finalizar as nossas posições antes da COP 16, mas creio que há uma possibilidade real de que as negociações possam dar importantes passos adiante em Cancún, em particular para implementar partes do que se acordou em Copenhague e também para trabalhar pelo acordo global de que o mundo necessita”.

E acrescentou: “O Reino Unido opina – e meus homólogos francês e alemão compartilham dessa opinião – que a UE deveria elevar suas ambições e que temos motivos econômicos de sobra pra isso”.

“Reduzir as emissões em 30% até 2020 permitiria mudar os investimentos para novas tecnologias limpas, gerando empregos e crescimento das cadeias de abastecimento em nossas economias. O grande risco da Europa é acordar muito tarde para estas oportunidades e perder diante de outros grandes blocos que já estão fixando a vista nas cotas de mercado”.

É difícil exagerar o nefasto impacto que o fracasso de Copenhague teve tanto para o próprio processo de negociação sobre a mudança climática como sobre a crença dos implicados no sentido de que poderia ser possível um acordo efetivo sobre o clima.

Há um ano, muitos ambientalistas, cientistas e políticos acreditavam realmente que a reunião da Dinamarca poderia produzir um acordo vinculante que reduzisse globalmente o CO2 em cerca de 25%-40% até 2020, que é o que o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) calculou ser necessário para manter o aquecimento abaixo de C.

Hoje, esses otimistas desapareceram. A reunião dinamarquesa naufragou pelo desacordo entre os países desenvolvidos e os que estão em desenvolvimento sobre quem tinha que fazer quanto e quando para reduzir as emissões; o principal ponto de desacordo foi o Protocolo de Kyoto, tratado ainda em vigor, pelo qual os países desenvolvidos deverão fazer muito e os países em desenvolvimento nem tanto.

O Tratado de Kyoto termina no final de 2012 e os países em desenvolvimento, liderados pela China e Índia, queriam que fosse renovado, ao passo que os países desenvolvidos, incluindo a Grã-Bretanha e o resto dos países da UE, queriam um tratado totalmente novo pelo qual se compartilharia a carga de reduzir o carbono.

Em dezembro passado, em Copenhague, os líderes mundiais improvisaram um acordo que acabou por esvaziar qualquer objetivo de emissões de carbono vinculante (mesmo que pela primeira vez se renunciou que havia que manter-se abaixo de C). Em vez do tratado legalmente vinculante que se esperava, os países foram convidados a “registrar” objetivos voluntários, dizendo em quanto achavam que poderiam reduzir seu CO2 até 2020.

A Grã-Bretanha faz parte do objetivo da UR de um corte de 20% em relação a 1990, que é possível que se eleve para 30% antes de Cancún. (O objetivo da Grã-Bretanha como país é um dos mais altos: reduzir o CO2 em 34% até 2020.) Outros objetivos incluem 25% para Japão, Austrália entre 5% e 25%, Estados Unidos 17% tomando como base os dados de 2005; mesmo que a legislação para consegui-lo esteja firmemente instalada no Senado. Entre os países em desenvolvimento, a China prometeu reduzir a intensidade energética de sua economia de 40% para 45% até 2020.

Diversas análises destas promessas sugerem que conduzem a cortes totais de CO2 global de entre 11% e 19% até 2020, em vez dos 25%-40% que o IPCC considera necessário. Isto também se pode expressar em volumes reais de CO2, de que o mundo está emitindo anualmente aproximadamente 45 gigatoneladas: 45 bilhões de toneladas de carbono.

Caso o mundo continuar com estes níveis de emissões, acredita-se que as emissões aumentarão entre 51 e 55 gigatoneladas até 2020. Lord Stern of Brentford, autor de um relatório decisivo sobre a economia da mudança climática, calculou que se, ao contrário, o CO2 global puder ser reduzido para 44 gigatoneladas até 2020, estaríamos num caminho de confiança para permanecer abaixo de um crescimento de carbono. Entretanto, há análises que sugerem que o Acordo de Copenhague deixará a cifra em 48-49 bilhões de toneladas: a brecha gigatônica que Cancún não vai conseguir fechar.

O que a Conferência pode fazer é criar acordos em torno da arquitetura de novos e importantes fundos para o clima que ajudem os países em desenvolvimento com respeito ao acordo da Dinamarca: um fundo de “início rápido” de 30 bilhões de dólares em dinheiro novo para os anos 2010-2012, um fundo de 100 bilhões de dólares repartido anualmente até 2020.

Se não houver novos fracassos, é possível que ao menos a reunião consiga restaurar a fé no processo do clima da ONU. “Ninguém pensa que Cancún será um momento big-bang”, afirma Keith Allott, diretor para a mudança climática do World Wide Fund for Nature. “Do que o mundo precisa é colocar novamente algumas rodas no caminho do clima”.

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