A Alcoa, a CPFL, a Natura, a Philips, a Vale e o WalMart lançaram nesta quinta-feira (5/8), na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, com a presença da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e das secretárias Maria Cecília Brito, de Biodiversidade e Florestas, e Samyra Crespo, de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental.
Esse grupo de empresas, liderado pelo Instituto Ethos e com apoio da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVCes), da Conservação Internacional (CI), do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) e da União para o Biocomércio Ético (UEBT, na sigla em inglês), visa abrir espaço para a construção conjunta de uma agenda positiva sobre a conservação e o uso sustentável da biodiversidade brasileira.
Embora fundamental para os negócios, para a economia e para a sociedade, o tema ainda não entrou na agenda dos executivos e dos governos. E só está ganhando alguma repercussão porque, em outubro próximo, na cidade de Nagoia, no Japão, a Organização das Nações Unidas (ONU) vai realizar a 10ª. Conferência das Partes sobre Biodiversidade, em que assuntos como patrimônio genético, preservação das espécies e ocupação de áreas com florestas serão discutidos.
Da biodiversidade depende a qualidade dos serviços ambientais que sustentam a vida humana neste planeta. Conservá-la e estabelecer regras para seu uso sustentável são tarefas imprescindíveis para a própria continuidade dos negócios. O que acontecerá se a água escassear ainda mais? E se o acesso aos recursos naturais for reduzido?
O mundo tornou-se mais consciente a respeito do tema quando, a partir do fim do ano passado, o economista Pavan Sukhdev começou a publicar os resultados de um grande estudo que mediu o valor econômico da biodiversidade e dos ecossistemas. Chamado A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, o estudo de Sukhdev revelou alguns dados alarmantes:
• Atualmente, mais de 60% de todos os ecossistemas do planeta estão ameaçados;
• Desse total, 35% são mangues e 40% florestas;
• A demanda por recursos naturais excede em 35% a capacidade do planeta Terra;
• Caso o ritmo atual dessa demanda seja mantido, em 2030 serão necessárias duas Terras para atendê-la;
• Em 2000 e 2005, a devastação de florestas na América do Sul foi de 4,3 milhões de hectares;
• Do total de hectares devastados, 3,5 milhões foram registrados no Brasil;
• O prejuízo anual com o desmatamento para a economia global é de US$ 2,5 trilhões a US$ 4,5 trilhões – o equivalente a jogar no lixo todo o PIB do Japão, o segundo maior do mundo.
Cerca de 25% da diversidade biológica do mundo estão no Brasil. Por isso, somos o primeiro país do mundo em biodiversidade. E também por isso a ONU definiu o Brasil, em janeiro deste ano, como o país-chave para a COP 10, a Conferência das Partes sobre Biodiversidade, que se realizará em Nagoia.
É imperativo, portanto, que o governo brasileiro faça sua “lição de casa” e, do mesmo modo que fez em relação à Conferência do Clima de Copenhague, em dezembro de 2009, leve uma posição negociada com a sociedade a respeito do uso sustentável da biodiversidade. Como as empresas tiveram influência decisiva, no ano passado, na adoção, por parte do governo federal, de metas de redução de carbono, que se transformaram na Lei de Mudanças do Clima, elas querem repetir o feito com a biodiversidade. Desejam contribuir para que o governo brasileiro tome a dianteira no tema também desta vez, com uma posição clara e avançada.
Durante o evento de quinta feira, foi lançada uma minuta para discussão da Carta Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, trazendo algumas propostas do meio empresarial, como a de assumir os compromissos voluntários de:
• incorporar nas estratégias de negócio os princípios da Convenção da Diversidade Biológica (CDB);
• assegurar que as cadeias produtivas façam o mesmo; e
• contribuir para a preservação das comunidades indígenas e tradicionais
Por outro lado, a carta propõe ao governo brasileiro, entre outras coisas:
• estabelecer metas claras e objetivas sobre biodiversidade a serem atingidas até 2020; e
• articular com outros países cooperação global para a valoração dos serviços dos ecossistemas, com o propósito de promover mecanismos econômicos para a conservação e restauração da biodiversidade.
O Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade promoverá painéis de discussão entre líderes empresariais, formadores de opinião e membros da sociedade civil para a redação definitiva da carta, que será entregue em setembro ao governo brasileiro e a todos os candidatos à presidência nas eleições deste ano.
Por Cristina Spera (Instituto Ethos)
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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