Dezenas de trabalhadores rurais participaram de uma interessante metodologia pelos caminhos do conhecimento no campo, promovido pela Embrapa Algodão Agricultores tiveram a oportunidade de aprender mais sobre a cultura do algodão, com explicações de técnicos do Projeto Dom Hélder Câmara do Sertão Central
1/8/2010
Técnicos, agricultores e ambientalistas realizam encontro no campo para debater o processo agroecológico
Quixadá - Uma prática cada vez mais comum nos campos sertanejos. Técnicos, agricultores e ecologistas reunidos em busca da sustentabilidade responsável e ecologicamente correta. Mais 150 trabalhadores rurais de comunidades colonizadoras espalhadas pelo Município de Quixadá acabam de passar por essa experiência, um Dia de Campo, no Assentamento Palmares, distante 20km do Centro desta cidade.
Uma troca de experiências muito proveitosa para quem quer preservar o planeta e para quem depende de suas riquezas naturais para sobreviver. São quase sete bilhões de vidas humanas na Terra e mais 350 mil nascem a cada dia. É preciso comer, calçar, vestir, e nada do que se consume vem das prateleiras dos supermercados e, sim, do campo.
É o produtor rural quem assume esse risco. A temperatura da Terra nunca foi tão alta devido ao petróleo e ao efeito estufa. Esse aquecimento está alterando tudo: a relação das pragas, o desenvolvimento dos vegetais e ocasionando uma maior evaporação do ar. Embora tenha aparência de uma aula de ciências, essas eram as boas vindas no dia de campo.
Atentos, os lavadores do Palmares e assentamentos Câmara, Campo Alegre, Lagoa do Mato e Maraquetá assistiam às explanações do chefe geral da Embrapa Algodão, engenheiro agrônomo e doutor em fisiologia da produção, Napoleão Beltrão, e percebiam naquele momento a imensa responsabilidade depositada nas suas mãos. O planeta precisa de socorro. Um dos remédios é a agroecologia, um sistema de produção agrícola alternativa, que busca a sustentabilidade da agricultura familiar com práticas que permitam produzir sem depender de insumos industriais como os agrotóxicos. "O planeta exige cada vez mais mecanismos de proteção ambiental. A agroecologia consorciada é uma das alternativas para salvar o nosso habitat", continuava o técnico em suas considerações para o primeiro grupo de 50 agricultores assentados.
Tinha apenas 10 minutos para alerta-los do importante papel desempenhado por eles. Afinal, a agricultura familiar é responsável por 70% da produção alimentar do nosso País. Naquele momento, outro importante insumo para a humanidade era destacado, o algodão. A pluma vegetal veste quase metade da população do planeta. "É o nosso boi vegetal", completava o especialista.
Produtores
Atualmente, os maiores produtores de algodão do mundo são os Estados Unidos, China, Índia, Paquistão, Uzbequistão, Brasil, Turquia e Austrália. A produção mundial gira em torno de 19 milhões de toneladas de fibras, numa área de 33 milhões de hectares. Na década de 1980, o Brasil e o Ceará se destacavam nesse cenário. Mas veio a praga do bicudo e, com ela, a cotonicultura foi praticamente dizimada. "Com novas técnicas e conceitos, essa cultura está sendo resgatada", explica o representante da Ematerce, Valdir Silva.
Consórcio
O plantio consorciado com outras culturas, principalmente alimentares, começa a se fortalecer. O novo modelo proposto por meio das políticas públicas voltadas ao homem do campo demonstra viabilidade.
Mas é preciso ter consciência e obedecer às técnicas. Uma delas é o manejo do solo. Nada como a utilização de tração animal para reduzir a agressividade na terra. Foi a proposta da representante do Esplar, Paula Bezerra. A outra consiste no controle das pragas. É possível convier com o bicudo e outras pragas com o manejo ecológico, explicava o técnico pesquisador da Embrapa, Fábio Aquino. Hoje, essas técnicas são conhecidas e dominadas.
O agricultor Euzimar Avelino plantou meio hectare do algodão especial na sua lavoura, onde as quatro estações do Dia de Campo foram montadas. Na última delas, ele mesmo fez questão de mostrar para os vizinhos as vantagens a serem conquistadas com a proposta estimulada pelo supervisor do Projeto Dom Hélder Câmara, Flavo Gonçalves e sua equipe.
De consórcio Euzimar já havia ouvido falar. Tinha o sonho de comprar uma moto. Não imaginava um dia realizar o desejo através de outro consórcio, o agroecológico de algodão. Aguarda a primeira colheita dentro de 60 dias.
Não há consenso quanto a invenção da metodologia do Dia de Campo, mas o processo consiste na divisão de um determinado tema em "estações", titulo bíblico sugerido para melhor compreensão dos agricultores acerca das etapas de informação voltadas à assistência técnica ou qualquer outra área.
PRODUÇÃO
Projeto Algodão em Consórcios foi implantado em 100 assentamentos do semiárido nordestino
Quixadá - O Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos teve início em outubro de 2008. Financiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Fundo das Nações Unidas para o Meio Ambiente (GEF) e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura, o projeto surgiu com o objetivo de expandir a cultura do algodão em consórcio com culturas alimentares em 100 assentamentos e comunidades do semiárido nordestino, ao longo de três anos.
Na proposta básica está a agricultura familiar, a agroecologia, o melhoramento da produção de alimentos como o feijão, gergelim e o milho, o beneficiamento do meio ambiente e o cuidando do solo, da água e da biodiversidade.
O processo inclui ainda a comercialização da pluma agroecológica no mercado nacional e internacional e a torta do algodão como alimento animal no mercado local. Representando, assim, uma resposta às crises ambiental, econômica, energética e alimentar.
Esse projeto foi implantado em cinco territórios do sertão nordestino: Sertão dos Inhamuns e Sertão Central (CE), Sertão do Cariri (PB), do Pajeú (PE) e do Apodi (RN).
Coordenação
A coordenação geral é do Projeto Dom Hélder Câmara, responsável pela articulação de uma extensa rede associativa e sindical. Trabalha em mais de 300 assentamentos e comunidades rurais, beneficiando diretamente 15 mil famílias. A coordenação técnica é da Embrapa Algodão, sediada em Campina Grande (PB), e do Esplar, uma ONG cearense que tem mais de 15 anos de experiência com algodão em consórcio.
No ano passado, foram implantados cerca de 30 hectares de algodão, consorciado com outros cultivos como milho, feijão e gergelim em cada um dos cinco territórios. Neste ano, os consórcios ficaram concentrados em uma comunidade de referência por território.
A partir da experiência consolidada pelo Projeto Dom Hélder Câmara e PDHC a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Agrário (SDA) convidou o PDHC e a Embrapa Algodão de Campina Grande/Paraíba para serem parceiros na difusão do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos junto aos órgãos do Governo do Estado, especialmente a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce).
Enquete
Oportunidade
Napoleão de Macedo
Chefe geral da Embrapa Algodão
"Não é preciso estar informado. É preciso conhecer o que se faz. Aprender é o melhor caminho para preservar."
Flávio Gonçalves
Supervisor do Projeto Dom Hélder
"Participar de uma lição dessas em um dia no campo é o sonho que todo ambientalista deseja participar."
Francisco Euzimar Avelino
Agricultor do Ass. Palmares
"Um dia como este ninguém deve perder. É bom para o bolso e para a alma também. É uma oportunidade."
MAIS INFORMAÇÕES
Projeto Dom Helder Câmara
Rua Francisco Alves, 84 - Ilha do Leite - Recife (PE) - (81) 3301.1355
http://www.projetodomhelder.gov.br/
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
Sou engenheiro agronomo, resido no município de Mombaça, Sertão Central, precisamente no povoado Jerimum, onde existem grandes ocorrências de caatinga desprotegida e aínda com práticas rudimentares de broca e queima e ausência de controle de produtividade e gerência de produção agricola e gostaria de como obter informações acerca dos serviços do Projeto Dom Helder relacionados com práticas de agroecologia e preservação do bioma caatinga na minha região.
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