Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Legislação pode acabar com TI Verde de fachada /// Computerworld

Política Nacional de Resíduos Sólidos levará empresas a tratarem sustentabilidade seriamente e não somente como elemento de marketing.

Por Daniela Braun, para a Computerworld

05 de maio de 2010

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, iniciativa do Ministério do Meio Ambiente, pode transformar a política de sustentabilidade das empresas de tecnologia do País. O projeto de lei, que tramita no Senado Federal, obriga o gerador do resíduo a dar a destinação final adequada, com critérios ambientalmete corretos.

A nova legislação nacional também deve limpar o mercado brasileiro do ‘marketing verde de fachada’, mais conhecido como ‘greenwash’, alerta o diretor de operações da HP para o Mercosul, Kami Saidi , que é responsável pela sustentabilidade ambiental da companhia. “Há empresas que vendem a ideia de sustentabilidade, mas não aplicam os processos corretos”, critica.

Na visão de Saidi, com as novas regras do governo, a separação entre o marketing e a prática sustentável deve ficar mais visível ao consumidor. “O fato de você plantar uma árvore para cada produto vendido não é sustentável. Você pode estar fazendo bem à natureza, mas tem de contar ao cliente o que está fazendo com o seu produto”.

O Greenpeace está na cola das empresas que não cumprem metas de redução de componentes tóxicos em seus equipamentos. Além de divulgar seu ‘ranking verde’ atualizado, a organização não-governamental chega a cobrar pessoalmente que as empresas sigam suas metas.

Com uma regulamentação, observam os especialistas, o grande ativista do mercado brasileiro será o consumidor. Além de questionar o destino ambiental da próxima máquina que adquirir para sua casa ou empresa, também será responsável pelo descarte adequado de seus eletrônicos. Redondo, da Itautec, acrescenta que grande parte dos clientes já tem colocado características ambientais entre as exigências para a aquisição de novos produtos, entrando em conformidade com características ambientais internacionais. “E não custa mais caro”, garante o executivo. O ciclo sustentável ideal, segundo ele, não deve afetar o bolso do cliente.

Campanhas de incentivo junto ao consumidor são fundamentais para que o ciclo de reciclagem ganhe força no Brasil, afirma o diretor de diretor de pós-venda da Nokia do Brasil, Luiz Xavier. “Hoje, apenas 3% dos aparelhos são destinados pelo consumidor para reciclagem. A empresa vai fazer o papel dela, mas o usuário também precisa ter um pouco de conscientização sobre a escolha e o descarte destes produtos”, completa Ricardo, da Umicore. “Um pequeno gesto faz com que a gente faça a coisa certa”, finaliza.

Para o sociólogo e cientista político Sergio Abranches, a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos deve ocorrer a curto prazo e alinhar o Brasil a regulamentações ambientais já existentes há anos em países da Europa e nos Estados Unidos.

Autor do blog Ecopolítica e comentarias da rádio CBN, Abranches lança em agosto um livro com o título provisório de “Depois de Copenhague” (Editora Civilização Brasileira /Record), analisando a situação ambiental do mundo a partir do debate da Conferência de Copenhague, realizado em dezembro de 2009.

Em entrevista à Computerworld, Abranches destaca que as novas regras também vão acabar com a ‘fachada verde’ adotada por muitas empresas apenas como estratégia de marketing. Segundo ele, a adoção de políticas sustentáveis sérias tende a trazer economia, não representar custos, além de atrair o consumidor brasileiro sempre em busca de um diferencial.

Com uma legislação apropriada, o descarte correto de eletroeletrônicos deve transcender estratégias de marketing?

Chegamos ao limite da possibilidade de qualquer empresa fazer ‘greenwash’ porque o consumidor também está mais exigente. Além disso, é impossível termos uma disparidade de regras ambientais em diferentes países – a maior parte das empresas de eletroeletrônicos é transnacional e o consumidor lá fora também cobra uma postura desta empresas.

Há ainda uma parcela considerável de consumidores corporativos que também é pressionada por exigências de mercado e compliance com mecanismos globais. isso não fi ca mais da porta para dentro. É preciso fazer cálculos de sustentabilidade e prestar contas ao mercado. Por este motivo, acabou a fase do marketing e passamos para a obrigação. Toda a gestão de uma empresa deve ser sustentável.

O fabricante que reajustar os preços de seus produtos por conta da adequação ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos está sendo sustentável?O

Há uma especificidade no mercado brasileiro que envolve a cultura da transferência de preço diante de qualquer custo extra que a empresa tenha de absorver. Temos uma tolerância peculiar a preços mais altos neste sentido.Nos setores mais competitivos, a empresa que praticar este reajuste pode perder mercado – assim como ocorre no exterior. Acho que o consumidor não tem de ‘pagar um prêmio’ porque a empresa é sustentável. este não é um ‘serviço’ que você tem de comprar.

Por outro lado, quando a empresa faz um trabalho realmente sério de redução de pegadas – emissões de carbono, lixo eletrônico e uso de componentes tóxicos em produtos – vai observar ganhos em economia de energia e reaproveitamento de materiais, por exemplo. e mesmo que a empresa passe a usar um material não tóxico, que seja mais caro, o consumo deve ser menor. na maioria dos casos, a ‘iniciativa verde’ significa redução de custos, quando se trata da visão integral do ciclo de vida do produto.

Qual é a sua opinião sobre políticas de incentivo fiscal para empresas que possuem programas de reciclagem, como créditos em IPI (Imposto sobre produtos industrializados), por exemplo?

A questão é que toda a estrutura de incentivos fiscais no Brasil está errada. Temos incentivos para o uso de combustível fóssil, quando o correto é que eles sejam direcionados a empresas que investem em energia renovável. no Brasil, o incentivo faz sentido em questões fundamentais como esta, mas acabamos gerando uma política do ’desconto’.

O consumidor brasileiro já é mais consciente em relação a produtos ‘verdes’? Ele vai forçar as empresas a adotarem boas práticas de sustentabilidade?

o Brasil tem um comportamento de consumo variável. Assim como nos Estados Unidos, há um processo vertiginoso de renovação de status – um consumidor da classe D no supermercado mira sempre o produto da classe A. É uma sociedade que também está disposta a comprar qualidade, mas tem um orçamento limitado.

Pesquisas indicam que o consumidor com maior renda é mais consciente quanto à escolha de produtos sustentáveis, mas você encontra consumidores das classes c e D que também gostariam de comprar estes produtos. se o item for mais caro, somente a faixa de alta renda vai optar por ele. se o preço for o mesmo, os consumidores vão optar pelo ‘verde’ que também é sinônimo de status, sofisticação e distinção na sociedade.

Agora que foi aprovado na Câmara dos Deputados, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pode ser regulamentado ainda este ano?

Acho que a legislação vai ser aprovada em curto prazo porque não há muito o que contestar. ela passou agora – após 19 anos em tramitação – porque a maior parte dos setores que oferecia resistência já faz reciclagem. os bancos, por exemplo, tinham problemas com o descarte de ATMs e hoje o destarte já é auditado pelas empresas. no setor corporativo, a questão dos resíduos sólidos já está incorporada. só que entramos em fase eleitoral este ano, o que torna o processo lento. Acredito que logo no início da nova legislatura teremos a regulamentação.

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