Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Alta superior a 70% no preço da carne leva supermercados a negociar com fazendeiros /// Correio Braziliense

Victor Martins

Publicação: 09/05/2010 08:40

Nos últimos nove anos, o preço do churrasco passou a amargar a boca dos brasileiros. Entre 2002 e 2010, a inflação das maminhas, picanhas e costelas disparou mais de 70%. No bolso do consumidor, o corte da carne saltou de R$ 10 para R$ 17 o quilo. Alta expressiva foi patrocinada pela forte concentração no setor frigorífico, dominado por grandes grupos. Agora, esse oligopólio passa a ter um contraponto. Redes varejistas de supermercado estão indo ao campo, comprando rebanhos e fazendo parcerias com pequenos e médios produtores de gado. Resultado: os frigoríficos precisam disputar espaço e preço nas prateleiras com essas novas marcas de carne.

Os efeitos dessa tendência no varejo já começam a ser sentidas pelo consumidor em forma de preços menores e de promoções. Mas, como ainda é uma produção recente, a carne dos grandes abatedouros continua majoritária nos açougues. “Os frigoríficos estão com a faca e o queijo na mão. O pequeno pecuarista tem pouco poder de barganha. Quem pode fazer alguma coisa, tanto do ponto de vista de preço quanto do ambiental, são as redes varejistas”, afirma Daniela Lerda, coordenadora da Unidade de Conhecimento Aplicado do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

Até 2006, os preços da proteína de gado vinham em desaceleração. Mas, em 2007, quando começou a onda de fusões e aquisições de abatedouros e frigoríficos, o custo desse alimento disparou. Alguns produtos chegaram até a superar 20% de alta. O varejo então passou a tentar reduzir a dependência em relação a esse mercado extremamente concentrado. A rede Walmart lançou o Clube de Produtores. Em vez de comprar somente dos frigoríficos, o grupo foi ao campo e fechou parcerias com pequenos pecuaristas e associações. Com a compra direta, reduziu os próprios custos e aumentou a renda do produtor. “Hoje, representa uma quantidade expressiva da carne que comercializamos”, afirma Yuri Feres, gerente de Sustentabilidade do Walmart, sem querer dizer qual é a participação da marca própria nesse segmento.


Redução de custo
Atualmente, 6 mil pequenos produtores fornecem para a rede diversos alimentos, entre eles, carne vermelha. “Esse projeto tem um impacto grande em desenvolvimento social, já que oferecemos treinamento e toda a produção é baseada em práticas sustentáveis para evitar prejuízos ao meio ambiente”, destaca Feres. “Isso não é filantropia. A vantagem é que nós conseguimos trazer produtos mais frescos, com qualidade superior e a preços menores. Tudo isso ajuda a reduzir a dependência de grandes fornecedores, mas o foco principal é o consumidor”, diz.

O grupo Pão de Açúcar também seguiu na mesma linha: produção própria com impactos ambientais reduzidos. Hoje, mantém contratos com 40 fazendas e todos os animais recebem material genético selecionado. No momento, 43 mil vacas estão inseminadas. “E vamos comprar todos os nascimentos”, explica Vágner Giomo, gerente de Desenvolvimento e Formação Técnica de Carne do grupo. “A gente remunera pela qualidade e pelo volume”, emenda.

O produtor rural Marcelo Pimenta é um dos pecuaristas que tem acordo com o Pão de Açúcar. Para ele, as vantagens vieram em forma de modernização da fazenda, redução de custos da ração e ganhos na venda dos bois. “Não sou uma mega-fazenda e por isso não consigo atrair um grande frigorífico. Minha produção não é interessante para eles. Quando vendo para um, o preço é menor e ainda tenho de aumentar a gordura do boi, o que é muito caro”, relatou o pecuarista, que tem uma fazenda em Bela Vista de Goiás.

Para 2011, o Pão de Açúcar pretende inseminar 55 mil vacas e, a cada ano, ampliar o rebanho em 10 mil animais. Com essa parceria com as fazendas, criou a marca Taeq, que tem entre 5% e 7% de todas as vendas de carne em 17 lojas. “A gente programa as unidades que vão inaugurar e projeta a demanda delas para essa carne. Depois, quanto mais o cliente for comprando desse produto e se fidelizando, mais nós vamos expandindo as inseminação”, diz Fabiana Farah, consultora técnica de Carnes e Aves do Pão de Açúcar.

1 - Atestado
A certificação da carne visa a reconhecer a origem do boi e a comprovar que a criação e o abate ocorreram de acordo com práticas de pequeno impacto ambiental. No caso do Brasil, ainda indica onde os animais foram criados, para evitar a pecuária em áreas de preservação e protegidas, como em algumas regiões da Amazônia. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) realiza um estudo para tentar implementar um programa de certificação entre os seus filiados. O objetivo é pressionar os fornecedores a venderem somente carne socioambientalmente corretas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Informação & Conhecimento