Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Nobre crê que o Brasil pode ser um modelo de sustentabilidade /// Jornal do Comercio

Pesquisador do Inpe alerta que sistema de desenvolvimento econômico está levando o planeta ao colapso
Maurício Macedo
Nobre desafiou os jovens da Ufrgs a romper com o padrão atual. 

O modelo de desenvolvimento econômico mundial vem fazendo com que o planeta se encaminhe para um colapso. O alerta foi reforçado ontem por Carlos Nobre, doutor em Meteorologia, em visita à Capital.

A perspectiva trágica se deve às alterações enfrentadas pelo clima que vêm gerando elevação na temperatura da Terra, o chamado aquecimento global. As mudanças climáticas foram o tema da aula magna proferida pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

Apresentando projeções traçadas pelo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU - do qual é um dos autores -, Nobre falou sobre a interferência no clima causada pela humanidade, ação sem precedentes na história recente. "Esta era geológica de influência humana já foi batizada de Antropoceno", informa.

O especialista destaca que a conjunção do crescimento populacional, do desmatamento e do excessivo volume de gases despejados na atmosfera tem causado um impacto de proporções globais. "É preciso refletir sobre o que disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon: estamos com o pé no acelerador rumo ao precipício."

Deixando de lado o pessimismo, Nobre ressaltou que o Brasil tem a chance de se tornar protagonista de um novo modelo de desenvolvimento sustentável. "É uma oportunidade única de liderarmos uma trajetória de sustentabilidade. Sendo assim, poderemos ser o primeiro país tropical desenvolvido do mundo", salienta.

Ele comemorou a mudança radical na posição do governo brasileiro com relação às questões climáticas.

"Deixamos para trás a postura terceiro-mundista de quem não tem nada a ver com isso. Alguns analistas chamam isso de efeito Marina Silva (ex-ministra do Meio Ambiente)", disse, arrancando risos da plateia.

Lembrou que as metas de redução das emissões de gases transformadas em lei no Brasil - 25% até 2030 - são mais ambiciosas do que as dos Estados Unidos. Depois disso, ressaltou "nosso potencial ambiental". "Somos o país com a maior biodiversidade da Terra. Temos 46% da nossa matriz energética em fontes renováveis. O maior potencial do planeta em energia eólica, obtida através da força do vento."

Segundo ele, a questão é: como aproveitar tudo isso na construção de um processo de industrialização diferenciado? "Nosso projeto atual se baseia em modelos implantados por outros países em séculos anteriores, algo que está ultrapassado", avalia.

Nobre ainda lançou um desafio ao público que lotou o Salão de Atos da Ufrgs. "Vocês têm todas as condições de buscar um novo paradigma de desenvolvimento através do uso racional dos abundantes recursos naturais de que dispomos. Só os jovens têm essa condição de se libertar desse modelo que é nocivo ao planeta", conclamou.

Por fim, aproveitou para reforçar o alerta. "Se os filhos de vocês chegarem a enfrentar o mesmo grau de degradação que temos hoje, podem ter certeza de que não teremos mais alternativas. Precisaremos partir para um plano B."

Nenhum comentário:

Postar um comentário


Informação & Conhecimento