Andrea Vialli - O Estado de S. Paulo
Comunidades tradicionais da Amazônia que trabalham com madeira de áreas de manejo controlado e produtos como óleos, castanhas e artesanato estão buscando a certificação florestal para conquistar consumidores. No País já há oito comunidades que usam em seus produtos a certificação FSC (Conselho de Manejo Florestal, na sigla em inglês), o selo verde mais conhecido no exterior.
No caso dos produtos amazônicos, especialmente a madeira, a certificação funciona como uma garantia de origem. “É uma maneira de mostrar para o consumidor que o produto foi feito sem promover o desmatamento ilegal, respeitando o conhecimento das comunidades tradicionais”, diz Patrícia Cota Gomes, coordenadora de certificação comunitária do Imaflora, entidade que realiza a certificação FSC no Brasil.
Segundo ela, embora ainda seja pequeno o número de comunidades certificadas, o interesse é crescente. O Brasil hoje possui a maior floresta certificada do mundo, com cerca de 4,7 milhões de hectares – sendo 2,5 milhões de hectares na Amazônia.
Um dos termômetros do crescimento do mercado para produtos com certificação florestal é a feira de negócios Brasil Certificado, que começa hoje, em São Paulo, e é aberta ao público. Realizada desde 2004, a feira apresenta produtores de madeira, celulose e papel, produtos não madeireiros (alimentos, cosméticos e essências) e este ano deverá trazer empresas do setor agroindustrial que possuem o selo Rainforest Alliance, para práticas agrícolas com menor impacto ambiental. A última edição do evento, em 2008, atraiu 3 mil visitantes e 39 expositores. Este ano serão 60 expositores.
Estratégia. A Cooperfloresta, cooperativa de produtores extrativistas do Acre, é uma das associações que reúne comunidades tradicionais e que conseguiu ampliar seu espaço no mercado graças à certificação florestal. O grupo, com sede em Rio Branco, agrupa e comercializa a produção de 88 famílias de produtores de madeira, organizados em 4 comunidades.
A madeira vem de planos de manejo, que, no Acre, são delimitados pelo governo do Estado. As propriedades passam por um zoneamento econômico e ecológico e por um plano de manejo, que determina a quantidade de madeira que poderá ser extraída sem prejuízo à regeneração da floresta. Depois, é feito o licenciamento ambiental.
“Atualmente, o manejo florestal é importante para a sobrevivência econômica das comunidades. E também para a manutenção da floresta em pé”, explica Evandro Araújo, superintendente da Cooperfloresta. Sua trajetória é semelhante à de muitos acreanos. Filho de seringueiros, Araújo desistiu da atividade por causa da falta de rentabilidade. Fez um curso de técnico florestal e hoje cuida da administração da Cooperfloresta. “Os desafios para uma comunidade que se certifica é ter acesso a mercados que paguem mais pela madeira explorada de forma sustentável. No Brasil, ainda são pequenos nichos que valorizam a origem do produto”, diz Araújo.
Apesar das dificuldades, os negócios vão bem. No ano passado, a Cooperfloresta conseguiu fechar contrato com uma empresa de Xapuri (AC) que produz e exporta pisos de madeira e aceitou pagar 75% a mais pela madeira certificada. A parceria permitiu à cooperativa produzir 6.340 metros cúbicos de madeira com selo verde, 165% a mais do que em 2008, quando a produção foi de 2.500 m³. “Cada cooperado recebeu R$ 5,2 mil de renda líquida, o que fez mais comunidades se interessarem pela certificação. Hoje a exploração controlada de madeira já representa 43% da renda das famílias, atrás apenas da castanha.”
Este ano, a Cooperfloresta pretende incluir 136 famílias de extrativistas no manejo florestal, o que, na prática, significa a extração de 13 mil m³ de madeira. Com isso, o faturamento da cooperativa deve triplicar.
Artesanato. No Pará, a certificação FSC também mudou a rotina da TucumArte, cooperativa de mulheres que trabalham com artesanato de tucumã, palmeira nativa da Amazônia. A comunidade de Urucureá, distante quatro horas de barco de Santarém, hoje consegue vender as cestas de tucumã para grandes lojas de decoração de São Paulo e do Rio.
“A certificação valorizou o produto e trouxe mais organização para a comunidade”, conta Rosângela Tapajós, gerente de vendas da TucumArte. As 32 mulheres que trabalham na cooperativa produzem 600 peças por mês, o que garante uma renda mensal média de R$ 300.
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