Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

A responsabilidade da liderança climática_. /// HSM online

A ausência de um líder legítimo para a questão climática é amplamente percebida no contexto político mundial. Veja a razão.


Visto no cenário mundial como nação que em médio prazo atingirá o patamar de economia desenvolvida, o Brasil atravessou a recente crise financeira global praticamente incólume. Soube utilizar oportunamente suas reservas financeiras, reduziu a carga tributária para estimular o consumo interno e redirecionou suas exportações. Mesmo com as graves distorções estruturais na economia como, por exemplo, o altíssimo custo do dinheiro, o consumo de bens cresceu aquecendo e movimentando o mercado.

Conseguiu assim contornar bem a crise e retomou o crescimento de forma promissora. Surpreendente quando comparado aos países ricos e desenvolvidos. Para o ano de 2010 as previsões de crescimento mais conservadoras situam-se ao redor dos 5%. O governo aponta para 5,6% e alguns bancos estrangeiros em 6,4% e isto em pleno ano eleitoral. Sinal de uma inequívoca estabilidade econômica reconhecida pela comunidade financeira internacional.


A Questão Climática
A ausência de um líder legítimo para a questão climática é amplamente percebida no contexto político mundial. Há um enorme hiato diplomático entre os países ricos, em desenvolvimento e pobres que aumentou ainda mais a partir da última Conferência do Clima.

Neste cenário de ausência, existe a necessidade de uma nação expoente que reconhecida pela maioria dos países assuma os objetivos plurais de negociar de forma eficaz a complexa questão do clima global e ao mesmo tempo nivelar os diferentes interesses em beneficio do todo.

É neste cenário complexo que o Brasil deveria buscar a articulação política e se posicionar como líder nesta questão. A tarefa é desafiante, mas o beneficio pode ser ainda muito maior. Vantagens comparativas como a crescente importância geopolítica e econômica, robustas reservas de recursos naturais, biodiversidade ainda preservada e extensão territorial já lhe garantiria um bom posicionamento.

Mesmo dotados de uma matriz energética limpa (hidréletrica, cogeração, etanol) assumimos metas agressivas para reduzir emissões até 2020 e o grande vetor-vilão, o desmatamento, agora está endereçado. Isto nos situa em uma posição diferenciada favorável frente à comunidade internacional.

Ser o líder na questão climática significa encabeçar discussões e negociações com mais de 190 países e com foco naquilo que é realmente primordial - "A criação de mecanismos para controlar e reduzir o aquecimento global e como mitigar os impactos gerados pela mudança do clima especialmente nos países mais pobres."

Estes países sofrerão com maior intensidade os impactos causados pelo aumento da temperatura: escassez de alimentos, epidemias, desaparecimento gradual da água e êxodo de populações. Tudo isso agravado pelo pouco acesso às tecnologias, altos índices de analfabetismo e relutância das nações ricas em transferir recursos financeiros para adaptação das economias destes países às mudanças do clima.


Consumo, Humanidade e Desconforto
Mas isso não é tudo. O padrão de vida cada vez mais consumista da humanidade tornou-se uma grande preocupação. Os recursos naturais hoje disponíveis podem se exaurir ao tentar suportar uma pegada ambiental tão pesada. Conforme os países em geral melhoram seus padrões socioeconômicos a demanda ambiental aumenta em muitas vezes acelerando sua depleção.

Como continuar a viver daqui em diante é uma das questões mais críticas a ser discutida. Alguns caminhos são apontados, mas quase todos são iniciativas isoladas, sem apoio homogêneo das populações. Redução do uso de energia, uso racional da água, consumir menos carne, madeira, viajar menos de avião, revisão dos processos produtivos, menos embalagens, produção mais limpa etc.

Há uma grande diversidade de programas coerentes, porém definir e estruturar políticas públicas e programas integrados juntos às sociedades ainda não aconteceu de forma homogênea. A complexidade destas ações e suas interfaces incluem importantes impactos sociais, ambientais e econômicos exigindo amplas e profundas discussões com as populações.

Sendo uma questão recente e também muito complexa, poucos países a abordaram de forma abrangente, mesmo porque a maioria deles ainda encontra-se no estágio básico da sobrevivência. Mas como já mencionado, isto é uma demanda reprimida que ao primeiro sinal de acumulo de capital, eclodirá uma violenta onda por bens de consumo.


Em vista deste contexto este é o momento de trazer o tema do consumismo e os seus impactos desfavoráveis para a agenda da discussão econômica-socioambiental internacional. Tais questões poderiam ser colocadas para a discussão de forma mais ampla e incisiva pelo líder climático. A mensagem sobre catástrofes anunciadas não é suficiente, virou lugar-comum tornando-se repetitiva e não sensibiliza. É necessário apontar saídas viáveis principalmente para garantir padrões de vida satisfatórios para todos no futuro.


“Momentum” sustentável
Em dezembro, na Dinamarca, todos esperavam por um posicionamento de liderança pelos EUA. Mas não aconteceu. Sabidamente o país “sofre” uma fortíssima pressão interna quando se trata do controle interno de suas emissões de GEE. Existe um potente e ativo lobby contrário ao estabelecimento de metas de redução das emissões, alegando um alto e negativo impacto na economia americana.

Os demais países europeus não estabelecem um consenso claro sobre as reduções das emissões e no Japão o segmento industrial duvida do atingimento às metas anunciadas.

No Brasil posições defendidas publicamente como: a manifestação da indústria da carne e de grãos em controlar a origem de sua produção; a lei aprovada pela Assembléia Legislativa Paulista que estabelece metas de redução de emissões em nível estadual; o Estado do Amazonas, Mato Grosso e Pará em reduzir e punir o desmatamento incentivando a conservação da floresta em pé; representam sinais concretos de uma sociedade que cada vez mais se envolve e se compromete com a questão da preservação do planeta.

Para complementar, a ex-ministra do meio-ambiente Marina Silva trouxe para a disputa eleitoral a questão climática. Isto fez com que todos os candidatos adotassem o tema como pauta relevante no seu futuro programa de governo. Estes sinais são interpretados como positivos pela comunidade internacional.

Além disso, parte da nossa população aguarda apenas o sinal verde, indicando quais são os instrumentos e objetivos para aderir de vez à questão do desenvolvimento sustentável. E esta parcela tende a crescer cada vez mais.

Esta iniciativa deveria partir do governo aos cidadãos, na figura de uma política educacional competente e articulada em nível nacional mobilizando os diferentes agentes sociais para agilizar a conscientização e a interlocução entre as comunidades, levando-as às ações práticas com resultados concretos.

Assumindo esta posição o país evoluiria para um estágio de desenvolvimento e crescimento muito mais equilibrado podendo gerar resultados positivos para si e para o planeta. E para nos tornarmos uma nação desenvolvida e sustentável este posicionamento é fundamental. Portanto, a liderança climática por si é um fator de vital importância.

Laércio Bruno Filho (Desenvolve Novos Negócios Socioambientais e coordena a Gestão Técnica de Programas de Sustentabilidade Empresarial e de Desenvolvimento Sustentável para Comunidades)

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