Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

GSB divulga resolução para a América Latina /// agencia Fapesp

30/3/2010

Por Fábio Reynol
Agência FAPESP – Os membros da convenção latino-americana do projeto Global Sustainable Bionergy (GSB), realizada na sede da FAPESP, entre os dias 23 e 25 de março, divulgaram nesta segunda-feira (29/3) a resolução elaborada como resultado do encontro.

O documento destaca que o continente latino-americano tem potencial para suprir as demandas locais e mundiais de biocombustíveis sem comprometer a sua produção agrícola e o seu ecossistema.

A resolução aponta que a produção de biocombustível da América Latina também tem se revelado uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social do continente ao se apoiar em três pilares: população, planeta e lucros.

São citados pelo documento dois casos de desenvolvimento econômico e ambiental sustentável já realizados no continente: a produção argentina de biodiesel e o etanol brasileiro oriundo da cana-de-açúcar.

O biocombustível brasileiro contempla, de acordo com o documento, os objetivos traçados pelo GSB, uma vez que o etanol já substitui 30% da gasolina consumida no país e representa 16% do suprimento total de energia primária brasileira, a ponto de se configurar a segunda fonte mais importante de energia do país à frente da hidroeletricidade e das fontes tradicionais de biomassa.

“O Brasil tem uma posição muito especial – tanto no grupo envolvido com o Projeto GSB como no mundo – no debate internacional sobre biocombustíveis, já que é o único país que realizou a substituição em larga escala da gasolina por biocombustíveis”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP e membro do comitê de organização do GSB.

De acordo com a resolução, o clima favorável, a disponibilidade de terras e a diversidade das matérias-primas disponíveis são fatores que favorecem a expansão continental dos biocombustíveis de maneira sustentável. O documento também ressalta a criação de postos de trabalho no campo para atuar nessa indústria.

As novas tecnologias motivadas pelo desenvolvimento da bioenergia poderão guiar, segundo o texto, políticas públicas voltadas à sustentabilidade e ainda promover um diálogo entre ciência, governo e sociedade.

Segundo o presidente do comitê diretor do Projeto GSB, Lee Lynd, professor de biologia do Dartmouth College (Estados Unidos), os estudos realizados até o momento deixam claro que a cana-de-açúcar – cuja produção para bioenergia é dominada pelo Brasil – é o melhor dos insumos de primeira geração disponíveis para uso em biocombustíveis. “A cana-de-açúcar é também claramente competitiva em termos econômicos”, disse.

A primeira convenção do GSB ocorreu em fevereiro na cidade de Delft, na Holanda. A segunda foi realizada entre os dias 17 e 19 de março em Stellenbosch, na África do Sul.

Após a convenção latino-americana realizada na FAPESP, estão programados ainda dois encontros: em junho na Universidade Tecnológica da Malásia, na cidade de Skudai, e em setembro, nos Estados Unidos, na Universidade de Minneapolis.

“Em seguida, na segunda fase, vamos organizar o projeto de pesquisa propriamente dito, que fundamentará o oferecimento de respostas para o desafio inicial levantado pelo projeto GSB, a respeito da possibilidade de substituição de 25% da energia que move o transporte no mundo por biocombustíveis sem prejudicar o meio ambiente, a sociedade e a produção de alimentos”, explicou Brito Cruz.

As apresentações realizadas na convenção do GSB e mais informações sobre o projeto estão em: www.fapesp.br/gsb.



Resolution deliberated at the Latin American Global Sustainable Biofuels Convention

Latin America produces bioenergy in ways that meet sustainability criteria much better than most if not all presently available alternatives. The region has potential to expand bioenergy generation without compromising food production, the environment and biodiversity. The realization of this potential will require determination and diligence in knowledge creation, its application, and regulation. Latin America stands ready to work with the global community to understand and further improve bioenergy systems and to expand the application of such systems in ways that address pressing human needs.

Latin America has proved potential to fulfill an important role in providing biofuel for local as well as world demand. Biofuel production started as an energy security matter and progressed into a sustainable and profitable industry. Latin America regards the issue as an opportunity for economic and social development based on three pillars: people, planet and profit. Local feedstock diversity exists and presently sugarcane is perceived as a major feedstock for sustainable ethanol production. Land resources are available without compromising food security and ecosystems.

Latin America has implemented a biorefinery model with increasingly integrated feedstock crop systems, co-products and large reduction of green house gases emission. There are at least two successful cases where bioenergy has proved sustainable and enabled development. These are the biodiesel production in Argentina and sugarcane ethanol in Brazil. The Brazilian case is remarkable and relevant to the GSB Project objectives: 16% of the Total Primary Energy Supply in the country comes from sugarcane and sugarcane ethanol substitutes more than 30% of the gasoline, making sugarcane the second most important energy source in the country, following oil and ahead of hydroelectricity and traditional biomass. Legislation is in place, and increasingly effective, that establishes an environmentally sound agro-ecological zoning.

Latin America has land, favorable climate, diverse feedstock options and technology that has been deployed regionally and could be expanded continentally in a sustainable manner. The Biofuel industry is regarded as an opportunity for rural development and job creation. The development of new technologies may be a driver to raise public awareness on sustainability issues promoting new life styles and a dialogue between science, government and society.

Government support is needed to normalize common policies, such as certification for sustainability and blends. Economical conversions technologies need to be developed that are responsive to a variety of feedstocks, scales, and other local circumstances. An agenda for research and human resource development is needed in the face of a changing social and technological reality, more specifically new technologies to improve each link in the supply chain and flexible production of complimentary co-products and broader sustainability. Reduction of commercial barriers and development of international certification standards would foster emergence of an open market, with benefits for the region and the world.


Resolução aprovada na Convenção Latino-Americana sobre Biocombustíveis Sustentáveis

A América Latina produz bioenergia de formas que satisfazem o critério de sustentabilidade muito melhor do que muitas senão todas as alternativas energéticas atualmente disponíveis. A região tem potencial para expandir a geração de bioenergia sem comprometer a produção de alimentos, o meio ambiente e a biodiversidade. A realização desse potencial requererá determinação e diligência na criação de conhecimento e em sua aplicação e regulação. A América Latina está pronta para trabalhar com a comunidade global para entender e aperfeiçoar ainda mais os sistemas de bioenergia e ampliar a aplicação dos mesmos de modos que atendam as prementes necessidades humanas.

A América Latina demonstrou potencial para desempenhar um importante papel no fornecimento de biocombustíveis tanto para a demanda local quanto mundial. A produção de biocombustíveis começou como matéria de segurança energética e progrediu rumo a uma indústria sustentável e lucrativa. A América Latina vê o assunto como uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social baseado em três pilares: povo, planeta e proveito. Existe diversidade local de matérias-primas e, presentemente, a cana-de-açúcar é percebida como a principal matéria-prima para a produção sustentável de etanol. Recursos em terras estão disponíveis sem comprometer a segurança alimentar e os ecossistemas.

A América Latina desenvolveu um modelo de biorrefinaria com sistemas crescentemente integrados de cultivos de matérias-primas agrícolas, coprodutos e ampla redução de emissão de gases de efeito estufa. Existem, no mínimo, dois casos bem-sucedidos em que a bioenergia se mostrou sustentável e possibilitou o desenvolvimento. São eles a produção de biodiesel na Argentina e de etanol de cana-de-açúcar no Brasil. O caso brasileiro é notável e relevante para os objetivos do Global Sustainable Bioenergy Project (GSB): 16% do suprimento energético primário total do país vêm da cana-de-açúcar e o etanol de cana-de-açúcar substitui mais de 30% da gasolina, fazendo da cana-de-açúcar a segunda fonte de energia mais importante do país, atrás do petróleo e à frente da hidroeletricidade e da biomassa tradicional. Existe legislação estabelecida, e crescentemente efetiva, que estabelece um zoneamento agroecológico ambientalmente sólido.

A América Latina possui terras, clima favorável, diversidade de opções de matérias-primas e tecnologia que foram estabelecidas regionalmente e podem ser expandidas continentalmente de forma sustentável. A indústria de biocombustíveis é vista como uma oportunidade para o desenvolvimento rural e a criação de empregos. O desenvolvimento de novas tecnologias pode ser um vetor para ampliar a consciência pública sobre temas de sustentabilidade, promovendo novos estilos de vida e um diálogo entre ciência, governo e sociedade.

O apoio governamental é necessário para normatizar políticas comuns, como as certificações de sustentabilidade e de composição. Tecnologias de conversão econômica precisam ser desenvolvidas para responder à diversidade de matérias-primas, escalas e outras circunstâncias locais.

Uma agenda para a pesquisa e o desenvolvimento de recursos humanos é necessária em face de uma realidade social e tecnológica em mudança – mais especificamente, novas tecnologias para aperfeiçoar cada elo da cadeia produtiva, a produção flexível de coprodutos complementares e ampla sustentabilidade. A redução das barreiras comerciais e o desenvolvimento de padrões internacionais de certificação levariam à emergência de um mercado aberto, com benefícios para a região e o mundo.

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