Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Colhendo Sustentabilidade certifica participantes /// Governo Municipal do Embu

Projeto de hortas comunitárias forma primeira turma de agricultores familiares e aguarda aprovação de lei na Câmara que garante sua continuidade

O precioso fruto do aprendizado regado a troca de conhecimentos e espírito de coletividade foi colhido por mais de 100 participantes do Projeto Colhendo Sustentabilidade: Práticas Comunitárias de Segurança Alimentar e Agricultura Urbana. Em solenidade na manhã de 25/3 no Parque do Lago Francisco Rizzo, que contou com cerca de 150 pessoas, eles receberam os certificados e a cartilha Agricultura urbana na prática: experiência do projeto Colhendo Sustentabilidade em Embu das Artes. A publicação reúne em textos e ilustrações didáticos as técnicas de cultivo de plantas e a produção de orgânicos.

Maria Conceição Brandão Gomes, moradora do Jardim da Luz, descobriu o projeto no Dia do Trabalhador, 1º de maio do ano passado, quando em meio aos diversos serviços oferecidos no Cidadania em Ação, inscreveu-se no Colhendo Sustentabilidade. Dois dias depois estava fazendo uma das coisas que mais gosta: mexendo com terra, mudas e sementes na horta do Parque Rizzo. “Aprendi a me alimentar melhor. Meu filho, minha família passou a se alimentar melhor. Estou feliz porque além de se integrar com outras pessoas no plantio, a gente aprende que a natureza é muito importante, sem ela a gente não vive” – declarou a formanda.

O projeto que promove a segurança alimentar e o cultivo de orgânicos, sem agrotóxicos, tem ainda o propósito de gerar renda aos participantes. Eles aprenderam por exemplo a transformar o óleo de frituras em sabão, a confeccionar sacolas recicláveis e tudo o que produzem nas duas hortas do projeto, no Parque Rizzo e em Itatuba (verduras, hortaliças, temperos), vendem numa barraca de orgânicos, todas as quartas-feiras, em frente ao Parque. Todo o trabalho é conduzido por uma equipe coordenada pelo geógrafo Bruno Cavalcante, composta por Elisa Lauer, John Zappala, Cláudio de Moraes, Silvana Ribeiro e Lucas Ciola.

Baseado, entre outros conceitos, na agroecologia e na agricultura familiar por meio de hortas comunitárias, o Colhendo Sustentabilidade lançou uma semente que cresceu e, de acordo com o governo municipal, deve ser fortalecida. “O Colhendo Sustentabilidade é uma semente que já brotou, enraizou, tem um caule forte, folhas bonitas e tem algo que nós devemos fazer para fortalecer esse projeto” – declarou o prefeito Chico Brito. “Nós precisamos focar, continuar incentivando as pessoas a ter hortas comunitárias, e outras a criar a sua própria horta” – continuou.

O prefeito voltou a enfatizar a realização de uma feira de produtos orgânicos todos os domingos no Parque Rizzo. “Temos público e mesmo que seja com poucos produtos, criaremos a cultura, o hábito. Temos condições para isso. Sonho que esse projeto de nossa cidade vire referência” - concluiu.

Desafio
Contra a corrente do desenvolvimento a qualquer custo, participantes do evento defenderam a produção de alimentos aliada à proteção ambiental. “Estamos falando de segurança alimentar e não apenas de combate à fome, de garantir alimentos de qualidade que não agridam o meio ambiente. Esse é o nosso maior desafio” – afirmou o prefeito.

O secretário de Meio Ambiente, João Ramos, defendeu o tripé da sustentabilidade, que deve ser “economicamente viável, socialmente justa e ecologicamente equilibrada”. A visão é compartilhada por Leandro Dolenc, presidente da Sociedade Ecológica Amigos de Embu (Seae). “Apesar de parecer pequeno (o grupo), estamos quebrando um paradigma histórico no Brasil, revitalizando a agricultura familiar e respeitando o meio ambiente” - afirmou. “Por enquanto a gente é uma gota de orvalho, daqui a pouco será uma chuva de coisas boas” – disse a nova agricultura Conceição, projetando o crescimento das hortas comunitárias e de uma nova prática agrícola.

Câmara vota continuidade
A formatura da primeira turma de agricultores comunitários marcou o encerramento do convênio. A qualidade do projeto teve o reconhecimento do MDS que o classificou entre os 25 principais trabalhos na área de segurança alimentar no Brasil.

Tramita na Câmara Municipal um projeto de lei enviado pelo prefeito para garantir a continuidade do Colhendo Sustentabilidade. De acordo com o presidente do Legislativo Silvino Bomfim, pela importância do projeto, a matéria terá toda atenção dos vereadores e deve ser votada na próxima sessão, dia 31/3. “Vamos votar esse projeto com carinho para cuidar do meio ambiente em que vivemos. Às vezes as pessoas fazem as coisas para si mesmas. O que vocês estão fazendo é importante para o mundo” – afirmou o vereador.

O Projeto Colhendo Sustentabildade é fruto de uma parceria entre o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a Prefeitura de Embu das Artes e a Sociedade Ecológica Amigos de Embu (Seae). O financiamento do governo federal através do MDS garantiu não apenas a execução do projeto como também a melhoria de sua infraestrutura com dois microtratores, duas estufas e uma trituradeira.

A solenidade contou com as presenças do vereador Júlio Campanha; da representante da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e coordenadora do programa Guarapiranga Sustentável, Araci Kamiyama; do secretário de Meio Ambiente de Cotia, Laércio Camargo e da representante da área da prefeitura de São Lourenço, Giani Nibu. A professora Isabel Franco, do grupo Teia-USP, recebeu uma referência especial por ser a idealizadora do projeto, que traz nas origens o coletivo Estudos e Práticas em Agroecologia e o Reencantamento Humano (Eparreh), ligado à USP.

Maria Regina Teixeira

26/3/2010

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