Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Biorreator obtém vinhaça mais limpa para adubação do solo

Por Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br
Publicado em 8/setembro/2010  Editoria : Tecnologia

Um biorreator aeróbio desenvolvido nos laboratórios do Centro de Energia Nuclear da Agricultura (Cena), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, possibilitou a degradação da vinhaça em mais de 80%, tornando o líquido apto a ser utilizado na adubação da cana-de-açúcar.



A vinhaça é um resíduo obtido após o processo de produção do etanol a partir da fermentação do mosto (o caldo proveniente da cana-de-açúcar prensada) e da destilação do vinho proveniente da cana. “O tratamento do líquido no equipamento é feito utilizando-se fungos da podridão branca. Alguns deles são classificados como comestíveis, como os pertencentes ao gênero Pleurotus”, explica o biólogo Luiz Fernando Romanholo Ferreira, que demonstrou a tecnologia em sua tese de doutorado.

De acordo com o pesquisador, o equipamento traz duas vantagens em relação aos métodos tradicionais de tratamento da vinhaça. Além de se obter um produto mais adequado para a adubação, os fungos poderão servir para a alimentação animal. “Estudos sobre tais aspectos ainda deverão ser feitos, mas ao que tudo indica, os fungos poderão ser reaproveitados para a alimentação animal”, adverte Romanholo. Ele é autor da pesquisa Biodegradação de vinhaça proveniente do processo industrial de cana-de-açúcar por fungos, apresentada na Esalq em 2009 sob orientação da professora Regina Teresa Rosim Monteiro, do Laboratório de Ecologia Aplicada do Cena. O estudo foi realizado no programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola da Esalq.

Contaminação do lençol
Romanholo explica que a vinhaça obtida no processo de produção do etanol é rica em potássio e, usada na fertirrigação, pode percolar no solo e contaminar o lençol freático quando aplicada de maneira inadequada. “Ao consumir a água contaminada, a pessoa poderá adquirir algumas doenças, como a hipercalemia, caracterizada pelo nível de potássio acima do normal na corrente sanguínea”, explica.

Os experimentos com o biorreator também possibilitaram a obtenção de um líquido com um odor mais agradável. Normalmente, a vinhaça sem tratamento possui cheiro forte e ácido e uma coloração marrom escura. Como explica o biólogo, a melanoidina contida na vinhaça é um dos principais responsáveis pela sua cor. “Os fungos atuam na descoloração e o produto obtido após a degradação no biorreator apresenta uma cor clara, amarelada”, descreve Romanholo.

Ele explica que os fungos são capazes de produzir enzimas de interesse biotecnológico, como a lacase e a manganês peroxidase, que possuem a capacidade de degradar moléculas recalcitrantes, de difícil de degradação, presentes no resíduo.

Escala piloto
As pesquisas de Romanholo possibilitaram o desenvolvimento de um biorreator (do tipo Air-lift) em escala laboratorial que tem a capacidade de tratar 7 litros de vinhaça. Para se ter uma idéia, nas usinas que produzem etanol, para cada litro de álcool são obtidos entre 8 e 18 litros de vinhaça. “Em testes laboratoriais obtivemos sucesso. Pretendemos ainda este ano desenvolver um reator em escala piloto. Para tanto, esperamo contar com a cooperação de Usinas produtoras de etanol que tenham interesse em agregar valor a este importante resíduo”, avisa o biólogo.

Nos tratamentos convencionais do líquido, segundo o pesquisador, ainda não se obteve uma vinhaça tão limpa. “Testamos, inclusive, a toxicidade após o tratamento fúngico com organismos aquáticos de diferentes níveis tróficos e os resultados foram excelentes”, garante Romanholo. Além disso, segundo ele, as qualidades da vinhaça após o tratamento biológico visam atender a uma norma estabelecida pela Cetesb. A entidade recomenda o tratamento da vinhaça antes da mesma ser lançado ao solo para a fertirrigação.

** Mais informações: (79) 8167-5511 begin_of_the_skype_highlighting (79) 8167-5511 end_of_the_skype_highlighting; email romanholobio{at}gmail.com

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