Enquanto a área plantada de café permanece estacionada em 1,1 milhão de hectares, a de florestas chegou a 1,4 milhão
18 de julho de 2010
Eduardo Kattah - O Estado de S.Paulo
O agrônomo Alexandre Aad, de 64 anos, diz que sente um "aperto" ao caminhar pela área remanescente de sua lavoura de café no município de Viçosa, na Zona da Mata mineira. Cafeicultor desde o início dos anos 1970, Aad chegou a ostentar o título de maior produtor da região, com cerca de 1,2 milhão de mudas, um número significativo quando se fala em cafeicultura de montanha.
De 2007 para cá, porém, o produtor iniciou um processo de substituição, trocando a cultura tradicional pelo eucalipto. Atualmente, do total de 393 hectares que possui, em apenas 30 ele ainda planta café. Mas por pouco tempo.
"Este é o último ano que eu colho. Vou ficar zerado de café", comenta o produtor, anunciando a adesão total ao eucalipto.
A opção de Aad simboliza um silencioso processo de substituição que já chama a atenção para os entraves da produção cafeeira em regiões acidentadas, como o sul mineiro e a Zona da Mata. Enquanto a cafeicultura de montanha perde competitividade por causa dos elevados custos de produção, as diversas aplicações e a economia em curva ascendente nos últimos anos levaram o plantio de florestas de eucalipto ao patamar de uma das mais promissoras alternativas do agronegócio mineiro, que avança a passos largos.
Embora a recessão global tenha freado essa expansão no ano passado, a área de florestas plantadas em Minas já atingiu uma marca histórica, superando a mais tradicional cultura mineira. O plantio de coníferas (pinus) e eucalipto, principalmente, já atinge uma área de cerca de 1,5 milhão de hectares no Estado, contra 1,1 milhão de hectares do café, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura do Estado e os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O eucalipto vem se consolidando como uma espécie de "poupança verde" para os pequenos produtores rurais e promissor investimento diante da demanda internacional por celulose e da procura crescente pelo carvão vegetal que abastece o mercado siderúrgico no âmbito doméstico. Demanda reforçada ainda pela indústria moveleira, pela utilização da lenha para produção de energia, além do aperto da fiscalização à utilização de matas nativas.
"Em Minas vem surgindo o fazendeiro florestal", observa o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Faemg), Roberto Simões.
Compartilhamento. Embora a substituição seja uma realidade em determinadas regiões, ela está associada a culturas específicas. A expansão do eucalipto no Estado está mais relacionada à diversificação do plantio e à utilização de áreas degradadas de pastagens para o plantio de florestas.
De acordo com o superintendente da Associação Mineira de Silvicultura (AMS), Antonio Tarcizo de Andrade, trata-se de um processo de compartilhamento. "Os produtores estão plantando em áreas degradadas para agregar valor à propriedade. É mais um meio de ganhar dinheiro", diz Andrade, ressaltando que o metro cúbico de uma "floresta em pé", pronta para o corte, é atualmente é avaliado entre R$ 45 e R$ 50.
Nos últimos anos, a área plantada de eucalipto vinha crescendo, em média, 200 mil hectares/ano. Em 2009 foram 130 mil hectares a mais.
Ainda assim, para atender o consumo do produto no Estado, a área plantada deveria ser 40% maior, observa Andrade. "Só tem crescido e tem de crescer mais".
Lenha. Minas tem o maior pólo siderúrgico do País e lidera a produção de ferro gusa, matéria-prima do aço. Além disso, de acordo com a AMS, 34% do fator energético do Estado estão relacionados à utilização da lenha como combustível para as caldeiras industriais. A expectativa da associação é que em 2010, o crescimento médio da área plantada de florestas, de 200 mil hectares, seja retomado.
Enquanto a área plantada de café tem permanecido estacionada em 1,1 milhão de hectares, a de florestas chegou a 1,4 milhão em 2008. O pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Sérgio Parreiras, ressalta que já existem no mercado espécies de eucalipto para as diversas regiões do Estado.
"São várias espécies cultivadas, que estão se adaptando a qualquer ambiente. Desde regiões mais altas até beira de água. Existe material genético para diversas finalidades.
Desemprego. Em sua fazenda mecanizada de 600 hectares no sul de Minas, Renato Brito iniciou há três anos a plantação de eucalipto para reduzir os custos com a produção de café. A madeira da floresta de 30 hectares servirá para alimentar a caldeira que distribuiu energia para as máquinas de secagem dos grãos. Para secar sua produção, Brito utiliza cerca de 2 mil metros de lenha por ano e em 2010 espera já se tornar autossuficiente. "Esse plantio do eucalipto é justamente para baixar o meu custo de produção", destaca.
Entre os produtores que não contam com a mecanização, os custos com a mão de obra têm sido o argumento para a substituição. Após 30 anos "insistindo" com a cafeicultura, Antonio de Pádua Nacif decidiu "ficar livre de mão de obra". "Na nossa região, de 50% a 70% do custo de produção é mão de obra", disse, observando que esse porcentual nas áreas mecanizadas varia de 10 a 15%. "Diversas pessoas estão deixando o café e adotando o eucalipto. Está havendo uma tendência de substituição". O reflexo imediato é o desemprego.
No auge da atividade de café, o agrônomo Alexandre Aad contava com cerca de 300 empregados. "Hoje ainda tenho quase 100. A partir do ano que vem terei dois", afirma. "O aperto que me dá no coração é saber que vou desempregar".
A principal justificativa dos produtores da Zona da Mata é que os custos com empregados subiram muito acima da alta do preço do café no mercado internacional. Para Aad, é mais interessante vender madeira para o pólo moveleiro de Ubá, cidade vizinha. "Com uma fazenda altamente tecnificada para os padrões da agricultura de montanha, meu custo de mão de obra representava de 59% a 61%".
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