Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Menos desmate e mais agricultura podem ampliar receita brasileira >>>Estadão.com.br/Planeta

Relatório estima que redução do desmatamento até 2030 aliada a aumento da produção agrícola podem aumentar receita brasileira em até R$ 545 bilhões
 Karina Ninni - estadao.com

Em estudo divulgado nesta quinta-feira, a ONG Avoided Deforestation Partners calcula que o Brasil poderia ter aumento em sua receita bruta de R$260 bilhões a R$545 bilhões com a redução do desmatamento até 2030. Segundo o levantamento, esse incremento na receita viria da combinação de aumento da produção agrícola e financiamentos de proteção florestal -- o "valor" do desmatamento evitado é convertido em créditos que podem ser vendidos no mercado de carbono.

O estudo veio à tona na esteira da pesquisa "Farms Here, Forests There: Tropical Deforestation and U.S. Competitiveness in Agriculture and Timber", produzida pela mesma instituição, que afirmava que a agricultura americana estaria sendo beneficiada pela proteção de florestas no Brasil, já que as terras preservadas não poderiam ser utilizadas para o cultivo de alimentos. A publicação foi utilizada pela bancada ruralista para apoiar a polêmica proposta de mudanças no Código Florestal Brasileiro, apresentada ao Senado há duas semanas pelo senador Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Neste novo estudo, a ONG faz uma mea culpa e afirma que os ganhos para a agricultura norte-americana não significam perdas para o Brasil. "O importante deste estudo em relação ao primeiro é que ele deixa claro que o interesse em combater o desmatamento não é apenas dos fazendeiros americanos, mas dos brasileiros também", afirma o ex-secretário do Meio Ambiente do Amazonas, Virgílio Viana, da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), que sugeriu a realização do novo levantamento à ONG. "O primeiro estudo foi utilizado de maneira equivocada pelos defensores das mudanças propostas no Código Florestal para desqualificar a defesa da floresta, caracterizando-a como um lobby dos fazendeiros americanos." O relatório atrela os ganhos de receita do País à preservação de florestas e à garantia de que nenhuma mudança na lei abra brechas para o desflorestamento.

Viana acredita que os fazendeiros podem, sim, ganhar com a redução do desmatamento. "Até porque, quanto mais áreas agricultáveis, maior a produção e a oferta e, consequentemente, menor o preço. Agora, quanto menor a área disponível para a agricultura, menor a oferta e então os preços sobem." Mas e os preços mais altos, não prejudicam o consumidor? Viana afirma que, num cenário onde a oferta de novas áreas agrícolas é reduzida, os produtores terão um estímulo à melhora da produtividade. Com isso, poderão vender alimentos a preços acessíveis. "Os americanos estão alguns degraus acima em tecnologia agrícola. Então nosso espaço para melhorar nossa produtividade com uso de tecnologia é maior que o deles."

Para o presidente da ONG Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) Rubens Gomes, qualquer tentativa de calcular o valor da manutenção da floresta em pé é prematura. "Não temos uma definição estabelecida sobre esse mercado de carbono. Acredito que qualquer tentativa de transformar em valores o nosso não-desmatamento é puro futurismo, especulação mesmo."

Segundo Gomes, o próprio Ministério do Meio Ambiente é muito cauteloso com números. "Participei de um curso sobre REDD (sigla de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, mecanismo que remunera a floresta mantida em pé) lá no Acre e, depois de algum tempo falando de dinheiro, a gente só via cifrão nos olhos dos índios e dos ribeirinhos que estavam lá. Nessas discussões monetárias, eu percebo que os valores econômicos estão sempre acima dos valores éticos", conclui.

Um comentário:

  1. http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,menos-desmate-e-mais-agricultura-podem-ampliar-receita-brasileira,575018,0.htm


    Nosso Comentário: Warwick Manfrinato, eng. Agronomo, Plant Inteligencia Ambiental Ltda, www.plantBR.com.br

    É complexo assunto e para avaliação. Rubens Gomes aponta numa direção acertada.

    Simplificar o assunto é um grande erro. Minimizar a discussão apenas ao mercado de carbono pode dar ao Brasil uma errônea impressão de que o recurso que poderia vir de países como os EUA "resolve tudo".

    A maior dificuldade é a construção da estratégia e o maior ganho desse dialogo que esta aberto nos EUA com a nova legislação é justamente isso. A abertura que o legislativo americano com esse tema não esta sendo bem compreendida pelos atores no Brasil. Não é dinheiro gratuito nem dinheiro de bandido. É uma oportunidade de uma nova abordagem para um relacionamento entre países que permite a construção de um novo paradigma de desenvolvimento para a Amazônia. Ninguém seria besta nos EUA de propor que o Brasil se mantenha sub-desenvolvido (abordagem do Dep. Alto Rebelo). Tão pouco seriam loucos de nos propor colocar uma “coleira” em nosso pescoço. Afinal, o que é?

    Existir uma grande quantidade de dinheiro americano disponível para investimento na Amazônia tem custos para o Brasil. Precisamos entender esses custos na hora de aceitar o dinheiro, mas antes, temos que auxiliar para que o recurso esteja disponível.

    Assim, GTA, governos, empresas, índios, tem que obter o acesso a esta discussão sem representação....ou seja, serem atores diretos no processo de compreensão e entendimento das implicações.

    O assunto é tão complexo que não podemos deixar nas mãos de representantes APENAS os interesses dos atores, sejam índios ou empresários.... ou seja se isso nos remete aos nossos filhos, as nossas mesas, ao que comemos e respiramos. Nossos representantes precisam participar, mas alem de legítimos, precisam ter competência de análise.

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