Grupo Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) quer que nações ricas assumam maior responsabilidade pelo aquecimento global
Bruno Boghossian - O Estado de S.Paulo
Os países emergentes estudam levar à próxima Conferência do Clima uma proposta única de redução das emissões de gases de efeito estufa. O texto deverá estabelecer critérios que permitam o desenvolvimento sustentável e cobrar que as nações ricas assumam mais responsabilidade pelo aquecimento global.
Durante um encontro realizado ontem no Rio, ministros do grupo Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China) anunciaram a realização de estudos técnicos nos próximos meses para elaborar os parâmetros que serão levados à cúpula da ONU, marcada para novembro e dezembro em Cancún, no México.
"Estamos dialogando para estabelecer posições convergentes, mas ainda precisamos avaliar o impacto das propostas de redução da emissão de gases nas economias domésticas", disse a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
As autoridades cobram a adoção de metas diferenciadas de redução das emissões para cada nação, mas ainda não chegaram a um acordo em relação aos critérios que serão usados para estabelecer esses limites.
Segundo a proposta, cada país teria direito a emitir um volume máximo de gases de efeito estufa, para tentar evitar um aumento significativo da temperatura do planeta. Para impedir um aquecimento de mais de 2°C em relação ao período pré-industrial, o Brasil defende o uso de parâmetros históricos, em que os países desenvolvidos estariam sujeitos a restrições maiores. A Índia sugere a adoção de metas de emissão per capita, em que as nações mais populosas teriam direito a limites mais altos.
"Há um longo caminho até que cheguemos a um paradigma comum. De qualquer maneira, um acordo que evite o crescimento dos países emergentes não seria um acordo equitativo", avaliou o ministro indiano Jairam Ramesh. "Não podemos aceitar acordos que estreitem o espaço de desenvolvimento para nossos países", acrescentou.
Representantes das quatro nações se encontrarão novamente em outubro, em Pequim, para acertar os pontos do documento, que será proposto aos países em desenvolvimento do chamado G-77 e levado a Cancún. Os ministros reunidos no Rio, no entanto, reconhecem que as diferenças entre as nações do grupo pode dificultar um acordo.
Plano modesto. Sob a defesa do direito ao desenvolvimento dos países pobres, o Basic pode apresentar em Cancún propostas modestas, mas que evitem impasse semelhante ao da COP-15, no ano passado (mais informações nesta página). "Temos expectativas mais humildes em relação a Cancún, mas que sejam eficazes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas", disse o vice-presidente da comissão chinesa para o desenvolvimento, Xie Zhenhua.
PARA ENTENDER
Nações não têm metas
A 15.ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15) terminou em dezembro passado sem metas concretas de redução dos gases-estufa. O acordo firmado é uma declaração política de intenções. O Brasil se comprometeu com um corte voluntário de 36% a 39% das emissões de gases-estufa até 2020.
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário