Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
Usinas solares no Marrocos deverão fornecer 15% da energia da Europa
No meio de um deserto de terra pedregosa surge, como um oásis, um imenso complexo de metal e vidro, escaldado pelo Sol: a usina termossolar de Ain Beni Mathar. Um concentrado de tecnologias nesta região do nordeste do Marrocos, que por muito tempo permaneceu à parte do desenvolvimento do país.
Alinhadas sobre 88 hectares, 62 fileiras de 300 metros de concentradores solares focalizam a luz sobre tubos de óleo calorífero, levado a quase 400 graus Celsius. O calor é transferido para um circuito de água, para aumentar o rendimento de uma turbina a vapor acionada pela combustão de gás natural. O Sol contribui com 20 megawatts (MW) para a potência de 472 MW dessa unidade híbrida, uma das primeiras do tipo no mundo. Reportagem de Pierre Le Hir – Enviado especial do Le Monde a Ain Beni Mathar, Oujda (Marrocos).
Construída e operada pela empresa espanhola Abengoa, a instalação foi inaugurada em maio de 2010. “Ela fornece hoje 13% do consumo elétrico do país”, diz um engenheiro. “E permitiu a criação de 60 empregos diretos e de 200 empregos indiretos, 90% dos quais são ocupados por marroquinos”. A usina de Ain Beni Mathar é a ilustração das novas metas energéticas estabelecidas pelo Marrocos, preocupado em explorar melhor seus recursos renováveis. A começar pelo Sol e pelo vento, do qual ele dispõe em abundância.
Ao mesmo tempo, o país quer servir de “cabeça de ponte” para o projeto europeu Desertec, que visa fornecer ao Velho Continente 15% de sua eletricidade a partir de usinas solares e eólicas espalhadas pelo Saara. Tendo, como corolário, o projeto Medgrid (ex-Transgreen), que deve realizar a interconexão elétrica entre as duas margens do Mediterrâneo. “Nosso potencial é considerável”, explica a ministra das Minas, Energias, Água e Meio Ambiente, Amina Benkhadra. “Podemos ao mesmo tempo atender nossa demanda energética e permitir à Europa que atinja sua meta de 20% de energia renovável . Todos saem ganhando”.
O reino acaba de ser escolhido pelo consórcio Desertec para a construção de uma primeira usina solar de 500 MW, cuja maior parte da produção será exportada para a Alemanha.
Quase 50 mil empregos
Longe de serem somente uma moda, essas tecnologias verdes, no centro do Congresso da Energia que ocorreu no dia 31 de maio em Oujda, sob a presidência do rei Mohammed 6º, respondem a uma necessidade econômica e política. O reino, quase totalmente desprovido de jazidas fósseis, importa 97% de sua energia.
Para o gás natural, ele recebe royalties em espécie sobre a passagem do gasoduto Magreb-Europa, mas ele compra da Arábia Saudita e do Iraque seu petróleo, cuja conta pesa nas contas públicas. A questão é “garantir nosso abastecimento”, afirma Benkhadra. Mais ainda pelo fato de que a demanda será três vezes maior daqui a vinte anos.
Então um ambicioso programa solar foi lançado. Até o final da década serão construídas, em cinco pontos, enormes usinas termossolares (com um componente fotovoltaico), com uma potência total de 2.000 MW. A primeira, com capacidade de 500 MW, deve entrar em funcionamento em 2015 em Ouarzazate.
Quatro consórcios administrados por empresas espanholas, italianas, sauditas e egípcias, foram selecionados para a primeira fase. As empresas francesas, afirma a ministra, não atenderam às exigências da licitação, que incluía capacidades de armazenamento de energia.
Um parque eólico, também de 2.0000 MW, será espalhado por todo o território. Em 2020, a energia solar, a eólica, mas também a hidráulica deverão representar , cada uma com um terço, 42% da potência elétrica instalada, cobrindo 25% da demanda em eletricidade do país.
Essa grande obra tem um custo: mais de 6 bilhões de euros para a energia solar, quase 2,5 bilhões para a eólica. O arranjo financeiro requer muitos investimentos estrangeiros, uma vez que as empresas aceitas custearão a construção das instalações, cujos kilowatts-hora serão revendidos para a Agência Nacional de Eletricidade marroquina, com tarifas garantidas por 25 anos.
“Esses projetos devem exercer um papel estrutural para as regiões, contribuindo para seu desenvolvimento industrial e técnico”, ressalta Mustapha Bakkoury, presidente da Agência Marroquina de Energia Solar. São esperados quase 50 mil novos empregos qualificados, na área de energia.
O Marrocos também tem feito contatos bilaterais com a França, a Espanha, a Itália e Portugal, pela União para o Mediterrâneo e seu Plano Solar. No início de maio, o ministro francês da Indústria, Eric Besson, anunciou que uma experiência-piloto de exportação de eletricidade do Marrocos para a França – por meio da linha submarina de 1.400 MW que liga o Marrocos e a Espanha – , será conduzida no outono de 2011.
Uma forma de testar, no plano não somente técnico, mas também jurídico e diplomático, o futuro mercado transmediterrâneo dos elétrons verdes.
Tradução: Lana Lim
Reportagem [Le Maroc, "tête de pont" du chantier vert] do Le Monde, no UOL Notícias.
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