Movimento mundial incentiva a preservação das tradições alimentares regionais
31/05/2011 - 22:30
União de alimentação saudável, sustentabilidade, tradição cultural e respeito ao meio ambiente, o movimento Slow Food tem um núcleo em Batatais, o Convivium Campo Lindo e seu líder Fulvio Iermano foi uma das atrações desta terça-feira (31) da Feira do Livro de Ribeirão Preto.
O cientista político italiano (na foto, ao lado da pesquisadora cultural Eveline Bergamini, também adepta), que há dois anos mora do Brasil, explica que o movimento preza uma forma de se alimentar com ética, responsabilidade e prazer, que seja sustentável aos produtores.
O Slow Food surgiu na Europa, em 1989, como manifestação contrária ao fast food, ao ritmo frenético da vida, ao desaparecimento das tradições culinárias regionais e ao decrescente interesse das pessoas na sua alimentação. Os seus adeptos seguem o conceito de Ecogastronomia e se interessam pela procedência e pelo sabor dos alimentos e na relação de como a sua produção pode afetar o planeta. Priorizam os produtos da sua região e não concordam com a produção intensiva de alimentos ou animais.
No Brasil, o primeiro registro do movimento foi em 1991, no Rio de Janeiro, mas as ações foram modestas por um bom tempo. Dez anos depois, ainda não há um escritório oficial e nem mil sócios cadastrados, mas já existem alguns núcleos produtores bastante fortes.
Três produtos desses núcleos, chamados “Fortalezas” puderam ser degustados na palestra da Feira do Livro: o Licuri, uma castanha que veio da Bahia, o Umbu e a Castanha de Baru, produzida em Goiás.
Segundo Iermano, no Slow Food o consumidor passa a ser um co-produtor, alguém que tem responsabilidade por promover a prática diária da alimentação ética, que pensa e ajuda uma produção sustentável e saudável. “A síntese do Slow Food é bom, justo e limpo. Bom é o alimento fresco, natural que satisfaz as percepções sensoriais; limpo é produzido sem agrotóxicos e que seu consumo não prejudique animais e seres humanos; e justo é aquele alimento produzido pensando na situação do trabalhador”, explica Iermano.
Um produto que se encaixa bem dentro da filosofia, na opinião do cientista político, é o queijo da canastra. “É um patrimônio cultural imaterial brasileiro, produzido em um território com características próprias, mantendo uma tradição”, diz.
Sabores em extinção
Uma das preocupações do movimento é promover um modelo de agricultura sustentável, que preserva o meio ambiente e a identidade cultural e territorial do que chamam de “sabores”. Em um catálogo, batizado de a Arca do Gosto, são listados sabores em extinção que têm potencial de comercialização. Entre os mais de 900 extraídos de dezenas de países, apenas 24 são brasileiros (clique aqui para conhecê-los).
Buscando a preservação desses sabores, muitos projetos foram criados pela Fundação Slow Food para apoiar comunidades inteiras ou apenas um pequeno produtor. O movimento já rendeu até leis na Itália que reverteram a proibição da fabricação de queijos a partir de leite cru (in natura), o que estava extinguindo a produção artesanal em algumas regiões do País.
Convivium
O Convivium é a expressão local da filosofia Slow Food. Ele articula relações com os produtores, faz campanhas para proteger alimentos tradicionais, organiza degustações e palestras, encoraja os chefs a usar alimentos regionais e luta para levar a educação do gosto às escolas.
O Convivium Campo Lindo de Batatais tem projetos em escolas da cidade e de Ribeirão Preto, na comunidade e contato com produtores para fortalecer o que chamam de “Educação do Gosto”, criar e fortalecer as comunidades do alimento e defender a biodiversidade. Mais informações sobre o convivium pode ser encontrada no blog http://conviviumcampolindo.blogspot.com .
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
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