Por: Redação TN / Jeremy Hance, Mongabay
Os protestos atingiram Coyhaique, a cidade onde a votação ocorreu, com mais de mil pessoas participando. Conflitos com a polícia resultaram no uso de canhões d’água e gás lacrimogêneo nos manifestantes. Alegou-se que os manifestantes estavam jogando pedras nos carros dos comissários. Dúzias de pessoas foram presas. Confrontos similares ocorreram em Santiago.
Antes da aprovação e dos conflitos violentos, a opinião pública já tinha se voltado contra o projeto, com a oposição de 61% dos chilenos. Críticos argumentaram que a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) estava incorreta e que membros da Comissão de Avaliação Ambiental de Aysén – que liberou a aprovação por 11 a 1 – tiveram conflitos de interesse. De fato, acusações formais foram apresentadas contra alguns membros.
“Nós estamos indignados que a comissão de avaliação ambiental regional tenha aprovado esse projeto destrutivo e ilegal contra a vontade da maioria dos chilenos. Nós estamos apelando ao presidente Piñera para anular essa decisão e proteger a Patagônia”, declarou Patricio Rodrigo, secretário executivo do Conselho de Defesa da Patagônia.
Contudo, o presidente Piñera sugeriu que não vai mudar de ideia a respeito das barragens. Criticando os manifestantes, ele disse: “Nós temos que dobrar nossa capacidade energética em dez anos se nós quisermos continuar crescendo em um ritmo de 6% [...] Os que pensam que se opondo a tudo, a todas as formas de energia, estão fazendo uma coisa patriótica – eu gostaria de dizê-los que eles estão profundamente enganados”.
Se o projeto avançar, três represas serão construídas no rio Pascua e duas no rio Baker no sul do Chile, uma grande região selvagem. De acordo com a ONG Rios Internacionais, que geralmente se opõe a projetos de mega-barragens como esse, os diques alagariam 5,6 mil hectares de florestas, vales de rios e terras agrícolas. Corredeiras selvagens, que atraem turistas, podem ser canalizadas. Além disso, as represas inundariam o habitat do Huemul (Hippocamelus bisulcus), um cervídeo andino que é símbolo cultural do Chile e é considerado ameaçado pela Lista Vermelha da IUCN. Uma parte do Parque Nacional Laguna San Rafael também seria submersa.
No entanto, os impactos ambientais não são só esses: para levar a energia das barragens para a capital do Chile, Santiago, o projeto deve construir uma linha de transmissão de 2,3 mil quilômetros, que cortará florestas e áreas protegidas. O custo da linha de transmissão é maior do que o dos diques.
“As represas de HidroAysén são um investimento arriscado para o Chile e ameaçariam uma região que tem importância mundial”, salientou Berklee Lowrey-Evans, do Programa América Latina do Rios Internacionais. “Muitos estudos mostraram que o Chile pode alcançar suas necessidades energéticas de maneira sustentável e segura, através do aumento dos investimentos em energias renováveis não convencionais e eficiência energética”.
Se construídas, as barragens adicionariam 2,75 gigawatts ao Chile. O governo chileno argumenta que precisa de mais energia para sua indústria de minérios e para o crescente consumo de energia. Os diques também forneceriam energia mais limpa, expõem os proponentes, em oposição às usinas de carvão, das quais três foram recentemente aprovadas no Chile.
“A coisa mais importante é que o nosso país precisa crescer, progredir, e para isso nós precisamos de energia”, destacou o ministro do interior Rodrigo Hinzpeter.
Ambientalistas garantem que o Chile tem uma mina de ouro de energia solar no deserto de Atacama.
* Traduzido por Jéssica Lipinski, Instituto Carbono Brasil.
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